sábado, 10 de dezembro de 2022

«PREPARAI O CAMINHO DO SENHOR»

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«Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas.» Mt 3, 3

No Advento somos chamados a preparar o caminho do Senhor, a endireitar as veredas desse caminho que devemos percorrer todos os dias.

O que nos ocorre rapidamente é o Sacramento da Penitência, mas a verdade é que muitas vezes ficamos por isso mesmo, ou seja, confessamo-nos e “descansamos” na certeza do perdão de Deus.

Mas um Sacramento nunca acaba na sua celebração, antes pelo contrário, continua porque é vida de Deus em nós e como tal não se finda na absolvição, no caso do Sacramento da Penitência, mas continua no processo do propósito de emenda, que não pode ser apenas um propósito, mas uma realidade vivida no dia a dia.
A Eucaristia, por exemplo, também não acaba no “fim da Missa”, mas sim vive em nós e é vida em nós em cada dia.

E nós temos tantas “curvas” no caminho para o Senhor que precisamos de endireitar!

Pedimos perdão e recebemos o perdão de Deus.
Mas perdoamos nós?
Já perdoámos a quem nos ofendeu ou já pedimos perdão a quem nós ofendemos?
Rezamos, verdadeiramente, o Pai Nosso?

Somos Igreja, afirmamos nós, mas temos sempre em conta que «se um membro sofre, com ele sofrem todos os membros» cf 1Cor 12, 26
É que o caminho do Senhor, as suas veredas, estão cheias de membros que sofrem física, material e espiritualmente, e “endireitar” essas veredas é, sem dúvida, ajudar todos aqueles que necessitam de ajuda, seja ela qual for.

E onde depositamos nós a nossa “segurança” no caminho para o Senhor?
É na Doutrina, na Lei, nos preceitos da Igreja?
Se é, muito bem, mas é por obrigação, por imposição, ou por amor?
É que o Senhor nada impõe, “apenas” ama.
Então a nossa “segurança” tem que ser o amor de Deus em nós e é nesse amor e por esse amor que a Doutrina, a Lei, os preceitos da Igreja se tornam vida em nós, se tornam caminho do Senhor.

«Preparar o caminho do Senhor, endireitar as suas veredas», é caminho de santidade, para a santidade, pela graça de Deus.

Mas ser santo não é ser melhor do que os outros, aos olhos dos homens.
Ser santo é ser cada vez mais para os outros, no amor de Deus, fazendo a vontade de Deus.

E quem em nós prepara o «caminho do Senhor e endireita as suas veredas»?
Apenas o podemos fazer se nos deixarmos conduzir pelo Espírito Santo, porque é Ele que nos mostra tudo o que precisa ser preparado, tudo o que precisa ser endireitado.

Entregues assim ao Espírito Santo deixemos que Ele faça do nosso coração uma “manjedoura de amor», onde nasça todos os dias Jesus Cristo, nosso Salvador, porque Ele «renova todas as coisas». Ap 21, 5



Marinha Grande, 10 de Dezembro de 2022
Joaquim Mexia Alves



domingo, 4 de dezembro de 2022

AS FLORES DO MEU JESUS!

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Era um dos dias de que ela mais gostava.

Era o dia de andar pelo seu pequeno jardim apanhando as flores para colocar na igreja.
Era a missão que lhe tinham dado na sua paróquia e ela gostava muito de a cumprir.
Tratava do jardim com todo o esmero para ter sempre as flores mais bonitas para enfeitar a igreja.
Mesmo quando não tinha flores no jardim, ia à florista e escolhia com toda a minúcia as flores mais belas para colocar nos seus arranjos na igreja.

Era um momento muito bom, porque enquanto apanhava as flores e as colocava no cesto, ia cantando uns cânticos de que se lembrava, sempre com um sorriso na cara, repetindo baixinho para si mesma: São as flores para Ti, meu Jesus!

Pegou no cesto já cheio de flores, de cores da natureza, e abalou para a igreja para repor os arranjos florais que eram a sua mais querida missão.
Um arranjo frente ao altar, outro frente ao ambão e outro, (aquele em que punha mais dedicação), junto ao sacrário, que tinha de ser pequenino, porque ali o espaço não abundava, por isso escolhia sempre as flores mais belas e viçosas para aquele lugar.
Eram as flores de Jesus, como ela dizia com alegria.

Àquela hora ela sabia que não estava ninguém na igreja, pelo que podia fazer o seu trabalho sem ser incomodada.
Assim que chegou dirigiu-se ao sacrário e ali fez uma pequena oração de entrega do seu trabalho a Jesus.

Alegremente deitou “mãos à obra” e, pelas suas mãos, os arranjos de flores iam ganhando beleza e harmonia.
Para Jesus sempre o melhor, pensava ela no seu íntimo.
De vez em quando colocava-se de pé, dava uns passos atrás e apreciava o seu trabalho, para depois voltar e rearranjar aquilo que não lhe parecia tão bem.
Tinha tempo e paciência, porque como ela pensava, era um trabalho para Deus, mas também para que quem visse, se sentisse envolvido na beleza que Deus coloca nas coisas da natureza.

Findo o trabalho e depois de ter aprovado aquilo que os seus olhos viam, foi sentar-se frente ao sacrário para rezar um pouco ao “seu” Jesus das flores.
E ia-Lhe dizendo entre murmúrios: 
Sabes, Jesus, sou assim probrezita, tenho pouco para dar, mas estas flores e este jeito que Tu me deste, coloco-o assim ao Teu serviço.
Não tenho grandes estudos, sou assim simples, mas olha, o que tenho Te dou, apesar das minhas fraquezas e pecados.

Colocou a cabeça entre as mãos e ficou ali a gozar aquele momento, sozinha na igreja.

Ia jurar que alguém se tinha sentado ao seu lado e, sem se voltar para o lado, entreabrindo os olhos viu um vulto acolhedor.
Sentiu um toque no ombro e ouviu uma voz que lhe dizia: 
Minha filha, tu dás-me tudo o que tens e isso a mim me chega vindo de ti. Cada um tem a sua missão e garanto-te com todo o meu amor que isto que fazes por mim e a pensar nos outros também, é tão importante para mim como o teu irmão sacerdote que celebra, como a tua irmã religiosa que ensina, como as tuas irmãs e irmãos catequistas, como qualquer um que serve em Igreja a Deus, servindo os outros.

Rolaram-lhe duas lágrimas pela cara, mas eram lágrimas de paz, de amor, de alegria.

Ousou então abrir os olhos e percebeu que afinal estava sozinha na igreja.
Olhou para o sacrário, abriu os olhos do coração, e disse em voz alta: 
Obrigado meu Jesus. Porque Te incomodaste a falar comigo? Como Tu és bom, meu Jesus!

Ia jurar que, quando ia a sair da igreja, tinha ouvido novamente a mesma voz a dizer-lhe: 
Para Mim tu és a mais bela flor das flores que tu Me deste!





Marinha Grande, 4 de Dezembro de 2022
Joaquim Mexia Alves

sábado, 26 de novembro de 2022

O ADVENTO - A ESPERA

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“Bem podes esperar sentado”.

Estava eu a pensar no Advento e vem esta frase ao meu pensamento.

O Advento é, também, um tempo de espera, e por isso esta frase é a antítese do Advento.
E por variadíssimas razões

Esta frase faz subentender que aquele ou aquilo que se espera não vai aparecer ou acontecer.
No Advento a espera é uma certeza do que vai acontecer, porque Aquele que se espera já está entre nós e apenas temos que tomar consciência disso mesmo.

A frase leva-nos a pensar que o melhor modo de esperar é sentado, para não nos cansarmos, porque não vale a pena ir ao encontro do que se espera.
No Advento, pelo contrário, a espera não se faz sentado, nem sequer de pé.
Faz-se caminhando, procurando para encontrar O que se espera, dando a “mãos aos pastores” para ir ao encontro de Quem se espera.

E a frase leva-nos também a pensar que aquela espera é estática, ou seja, nada temos que fazer para que aquele que esperamos ou aquilo que esperamos apareça ou aconteça.
No Advento somos levados a ser activos, a purificar os nossos corações, a nossa vida, a sermos ainda mais uns para os outros, para que Aquele que esperamos seja vida em nós.

A frase pressupõe uma espera solitária, a sós, sem companhia.
No Advento a espera faz-se em Igreja, ou seja, com todos os que esperam como nós, para que, ajudando-nos uns aos outros, encontremos Aquele que se espera e nos alegremos, unidos, com esse encontro.

Na frase percebe-se que aquele que se espera está longe e pode até nem sequer chegar.
No Advento Aquele que se espera já está connosco e mais do que isso, faz caminho connosco e ensina-nos o caminho a fazer para O encontrar, Ele que está sempre disponível para se fazer encontrado.

A frase ainda revela uma certa tristeza, um certo desânimo em relação à concretização da espera.
No Advento a espera é uma constante de ânimo, de alegria serena, porque Aquele que se espera já está entre nós e nos enche de paz, de alegria, de amor.

No Advento podemos então mudar a frase:
Bem podes esperar caminhando, porque Aquele que esperas, já caminha contigo e Ele mesmo se faz encontrado contigo.




Marinha Grande, 26 de Novembro de 2022
Joaquim Mexia Alves

sábado, 12 de novembro de 2022

SER PADRE

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Abriu os olhos de madrugada e percebeu de imediato que a noite sono estava acabada.
Era Domingo, tinha Missas para celebrar, mas não tinha a mínima vontade de se levantar.
Uma vergonha, um medo, uma impotência, tomavam conta dele e naquele momento a sua vontade era desaparecer para ninguém saber dele.

E ele não tinha culpa nenhuma!
Sempre se tinha mantido fiel à sua entrega a Deus e à Igreja e, tirando as fraquezas e faltas normais de qualquer ser humano, tinha sido sempre fiel ao compromisso sagrado que tinha proferido no dia da sua ordenação.
Por causa de uns quantos colegas padres que se tinham deixado levar pelo mundo, sofria agora na pele a ignomínia que, afinal, não lhe podia ser assacada.
Que vergonha, meu Deus, que vergonha!

Deixou-se ficar deitado e pensou que o melhor era rezar na intimidade do seu quarto.

O seu primeiro pensamento e oração foi para as vítimas daquele horror que até tinha dificuldade de pensar.
Senhor Jesus, Tu que só tens amor para dar, olha por todos estes jovens que foram vítimas do terrível pecado de alguns dos teus filhos que a Ti se consagraram, e protege-os, guarda-os no teu coração.
No amor do Pai, derrama o Espírito Santo em cada um, para que Ele os ilumine, os guie e afaste deles todos os traumas que com certeza sofrem, de modo que possam viver a vida que lhes deste, em paz, amor e felicidade que só Tu podes dar.

Depois, não sem alguma repulsa, (a sua humanidade era mais forte), não pode deixar de pensar nos seus colegas padres, (até tinha dificuldade em os ver assim, nessa condição), rezou por eles também.
Senhor Jesus, Tu que és perdão e o teu amor é sempre maior que o nosso pecado, toca o coração destes teus filhos padres que se deixaram cair no pecado, para que reconheçam os seus terríveis actos, se arrependam sinceramente e façam um verdadeiro propósito de emenda.
Peço-te, Senhor Jesus, para que esse arrependimento e propósito de emenda seja real e sincero, eles mesmo se acusem e se apresentem aos tribunais da Igreja e da sociedade para serem julgados pelos seus horrorosos actos.
E, perante isso, perdoa-os, Senhor, e recebe-os como ovelhas perdidas que encontraram o seu Pastor.

Infelizmente nada se alterava na sua disposição de se levantar e enfrentar o dia, porque pensava em todos aqueles com quem se ia cruzar, e que o iriam julgar e condenar nos seus pensamentos e opiniões.
Que vergonha, meu Deus, que vergonha!

Estendeu a mão para a mesa de cabeceira e apanhou o terço que lá estava, acreditando que a Mãe do Céu havia de interceder por ele e ajudá-lo a sair daquele sofrimento mental que estava a viver.
Embora fosse Domingo, decidiu meditar nos mistérios dolorosos por achar que eram mais “apropriados” à situação que estava a viver.

Antes de começar a rezar veio ao seu coração uma pequeníssima frase: Imitar Cristo.

A oração e a agonia de Jesus no Horto das Oliveiras
Oh, Jesus, também eu rezo e me agonio ao pensar nestes terríveis actos.
Pesam-me como se fossem meus, mas percebo que talvez esteja a pensar mais em mim e no que possam dizer de mim, do que nas vítimas e na tua Igreja.
Eu rezo e agonio-me, afinal, por mim, mas Tu rezaste e agoniaste-Te por todos nós.
Tem piedade, Senhor, das vítimas, daqueles que cometeram tais actos e de todos nós.

A prisão e flagelação de Jesus Cristo
Oh, Jesus, também eu estou “preso” nestes meus pensamentos que me tolhem e não me querem deixar viver o meu sacerdócio.
Também eu me flagelo com a vergonha e o medo que neste momento vivem em mim.
Mas Tu, Senhor, foste realmente preso, tiraram-Te a liberdade e fizeram-Te sofrer física e mentalmente suplícios sem fim, e Tu o deixaste fazer por todos nós, por mim.
Tem piedade, Senhor, das vítimas, daqueles que cometeram tais actos e de todos nós.

A coroação de espinhos
Oh, Jesus, também eu parece que sinto cada olhar, cada palavra sussurrada, cada conversa que se cala na minha presença, como “espinhos” que me atravessam o pensamento e me toldam o raciocínio.
Mas Tu, Senhor, foste ferido realmente por todos os espinhos que afinal eram e são os pecados de todos nós, que Te magoam, não por Ti, mas porque sabes que quando pecamos nos afastamos de Ti e nos condenamos a nós próprios.
Tem piedade, Senhor, das vítimas, daqueles que cometeram tais actos e de todos nós.

A subida de Jesus ao Calvário carregando a Cruz
Oh, Jesus, também eu tenho o meu “calvário” para subir e a minha cruz para carregar e, diferentemente de Ti, apetece-me agora desistir de o fazer.
Mas Tu, Senhor, carregaste a tua Cruz que afinal era a soma de todas as nossas cruzes, subiste ao Calvário sem um queixume, sem vergonha, sem medo, porque o fizeste por todos nós pelo infinito amor que nos tens.
E eu até penso em desistir da minha cruz quando sei bem que Tu estás sempre disposto a carrega-la comigo.
Tem piedade, Senhor, das vítimas, daqueles que cometeram tais actos e de todos nós.

A crucificação e morte de Jesus
Oh, Jesus, também eu me parece que sou “crucificado” no “altar” da opinião pública.
Também eu parece que “morro” quando me lembro, (e como poderia eu esquecer-me?), deste horror que abala a Igreja.
Mas Tu, Senhor, entregaste-Te assim, total e completamente, para seres crucificado e morreres por cada um de nós.
E dessa tua entrega nasce também a vida, a vida eterna, que dás a todos aqueles que Te seguem deixando-se morrer em Ti para em Ti ressuscitarem.
Tem piedade, Senhor, das vítimas, daqueles que cometeram tais actos e de todos nós.

Acabou a Salve Rainha, fechou os olhos, e deixou-se ficar mais um pouco deitado, mas sentiu que a paz se ia instalando nele e que as forças anímicas iam voltando.

Abriu os olhos e perante as frestas da janela percebeu a claridade do dia.
Quis ver nessa claridade a luz que Deus lhe dava para perceber que devia oferecer tudo aquilo que sentia pelas vítimas e pelos que cometeram tais pecados.
E isso confortou-o e deu-lhe forças para se levantar, pensando que de algum modo imitava Cristo ao oferecer-se para sofrer tudo aquilo que injustamente pensassem dele.

Já com um sorriso na cara veio à sua memória uma frase que um dia tinha lido e era mais ou menos assim:
Ser Padre
é isto tão somente,
não ser de si,
mas ser de Deus,
para ser de toda a gente.




Marinha Grande, 12 de Novembro de 2022
Joaquim Mexia Alves

terça-feira, 1 de novembro de 2022

SER SANTO

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SOLENIDADE DE TODOS OS SANTOS

(Parafraseando Florbela Espanca)

SER SANTO


Ser Santo é ser mais humilde, é querer ser o menor
Dos homens! Viver como quem beija!
É ser mendigo de Deus e dar como quem seja
Pertença do Reino do Alto para além da dor!

É ter mil desejos de amor
É saber muito bem o que se deseja!
É ter cá dentro uma Luz que flameja,
É ter mãos que se dão e asas de louvor!

É ter fome, é ter sede permanente de Deus infinito!
Por elmo, a Palavra de Deus, os sacramentos, enfim...
É fazer de tudo uma oração como um só grito!

E é amar a Deus perdidamente
É ter o Corpo, o Sangue e a Vida de Cristo em mim
E testemunhá-lo com alegria a toda a gente!




Marinha Grande, 1 de Novembro de 2022
Joaquim Mexia Alves

quinta-feira, 27 de outubro de 2022

A PRESENÇA!

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Entrou na igreja com a curiosidade do costume.
Desde jovem que nada tinha a ver com a fé, nem sequer era assunto que minimamente lhe interessasse, mas gostava de visitar monumentos, sobretudo igrejas antigas, e ver as suas maravilhas.

Parou no corredor central e reparou que por cima do altar estava um “objecto” que parecia de ouro e prata e no seu interior tinha uma “rodela” branca.
Isso trazia-lhe alguma reminiscência de memória sem, contudo, conseguir identificar especificamente o que era.
Viu diversas pessoas na igreja sentadas, ajoelhadas ou de pé, mas o que lhe fez mais impressão foi o silêncio que se “sentia”, e que não era constrangedor nem incómodo, era um silêncio de … amor!
Sorriu interiormente quando pensou nesta coisa de um “silêncio de amor”.

Para não incomodar ninguém, sentou-se num banco disposto a ver dali os quadros, imagens, e outras peças de arte, que estavam na igreja, pois esse era o motivo principal da sua visita.

Passado pouco tempo percebeu que havia uma pergunta que não lhe saía da cabeça: O que é isto?
Obviamente a pergunta tinha a ver com o tal “objecto” que estava em cima do altar.
A pergunta era insistente e não lhe saía do pensamento.
Baixou a cabeça para ver se se conseguia concentrar na finalidade da sua visita, mas a única coisa que aconteceu foi que a pergunta que o “atormentava” mudou para: Quem é isto?
Caramba, pensou ele, “quem” já envolve pessoas ou pessoa, o que quererá isto dizer?

Sem perceber muito bem porquê, deu consigo de joelhos a olhar fixamente o tal “objecto” sobre o altar e para grande surpresa sua a pergunta agora era bem mais especifica: Quem és tu?
Não teve dúvidas que a pergunta era dirigida ao tal “objecto” e que era ele próprio que a fazia.

Fechou então os olhos e deixou de se incomodar com a pergunta que continuava, no entanto, bem presente na sua cabeça e curiosamente parecia-lhe, também, no coração.
Perdeu a noção do tempo e quando reabriu os olhos reparou que um sacerdote estava a retirar o tal “objecto” e a guardá-lo, (nesse momento lembrou-se do nome), no sacrário.
Estranhamente apeteceu-lhe pedir para que o deixasse um pouco mais de tempo sobre o altar.

As pessoas começaram a sair da igreja, mas ele sentado, com a cabeça entre as mãos, de olhos fechados, ia deixando passar o tempo.
Sentiu um toque no seu ombro, abriu os olhos, e viu o sacerdote que, sorrindo, lhe perguntou se estava bem e se precisava de alguma coisa.
Ouvi-o perguntar se ele se queria confessar, ao que ele admirado perguntou - confessar? - e seguidamente o sacerdote disse que talvez quisesse apenas conversar.

Disse que sim e o sacerdote sentou-se a seu lado perguntando sobre o que quereria conversar.
Naquele momento ele pensou que não tinha nada para dizer, mas a verdade é que começou a contar a sua vida, como em criança tinha sido obrigado a frequentar a catequese e tinha ido a algumas Missas, e como se tinha afastado totalmente de Deus e da Igreja, mas o que mais o espantava é que à medida que falava, a memória trazia-lhe nitidamente tudo o que tinha aprendido nessa altura e teve repentinamente a resposta à sua pergunta “quem és tu?” que surgiu muito claramente num nome, Jesus!

O sacerdote ouvia-o atentamente com uma cara que parecia estar reflectir profundamente em tudo o que ele dizia, mas ele olhando para o relógio percebeu que tinha um compromisso importante e deveria sair dali quanto antes.
Disse então ao sacerdote que tinha de ir embora mas perguntou se poderia voltar noutro dia para continuarem a conversa.
O sacerdote, com um sorriso, respondeu-lhe que sim, que ele estava sempre por ali, por isso que ele estivesse à vontade e o procurasse quando regressasse à igreja.

Uma paz muito grande envolveu-o.

Levantou-se, agradeceu, e à saída reparou que o sacerdote se tinha ido ajoelhar frente ao sacrário.

O sacerdote ajoelhado frente ao sacrário com lágrimas nos olhos rezava:
Oh, Jesus, como Tu fazes tudo tão bem.
Sabes bem que me ando a debater com estes sentimentos de dúvida, de angústia, de querer abandonar a Igreja, envergonhado com o que se passa, de já quase não acreditar nos sacramentos, e então chamaste este homem, este irmão perdido da fé, para me fazeres perceber que estás realmente aqui presente e que tocas as vidas daqueles que de Ti se aproximam.
Obrigado, Jesus, pela paz que me estás a dar, pela certeza que renasce em mim de Te querer servir servindo em Igreja, obrigado pelo amor que derramas em mim.
E perdoa-me, Senhor, por ter duvidado.
Como Tomé, só Te posso dizer: Meu Senhor e meu Deus.




Marinha Grande, 27 de Outubro de 2022
Joaquim Mexia Alves

sábado, 22 de outubro de 2022

O CAMINHO

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Caminhava rapidamente pelo caminho, cabeça levantada e os olhos fixos na meta almejada, sem se querer distrair com mais nada que não fosse a sua caminhada.

De repente uma pedra no caminho, (que não viu por levar os olhos fixos na meta a alcançar), fê-lo tropeçar e cair no chão.
Magoou-se um pouco, sujou as roupas, mas levantou-se rapidamente e prosseguiu a caminhada.

Num instante recomeçou o passo apressado e os seus olhos fixaram-se ainda mais no fim do caminho.
Pareceu-lhe ouvir umas vozes a seu lado que lhe diziam para ter cuidado, mas não quis parar nem dar atenção a essas vozes, pois só a caminhada e o atingir a meta era importante para ele.
O problema é que subitamente lhe faltou o chão e ele caiu com alguma violência num buraco do caminho que tinha alguma profundidade.
No fundo do buraco deteve-se um pouco para recuperar da queda, e depois com grande esforço, conseguiu sair do buraco e voltar ao caminho.

Esperou um pouco para perceber se estava bem e recomeçou a andar no mesmo passo apressado em que tinha vindo até então e sempre com o olhar fixo no seu destino.
Novamente lhe pareceu ouvir umas vozes que lhe diziam para se preparar, mas como tal não fazia sentido e ele achava que não precisava de ninguém, fechou os olhos para se concentrar e continuou a caminhar.

Sentiu então que algo não estava bem e, quando abriu os olhos, encontrou-se cercado por uma escuridão imensa, por umas trevas que não o deixavam ver nada, nem sequer o caminho que pisava.
Parou e disse interiormente, no meio daquelas trevas, que percebia e reconhecia agora que se devia ter preparado melhor, que devia ter trazido coisas importantes, como uma luz, pois realmente há dia e noite e sem luz é impossível caminhar.
Estava tão arrependido!

“Afundou” os olhos na escuridão e pareceu-lhe ver ao longe uma ténue claridade.
Começou a caminhar com todo o cuidado, tacteando o caminho passo a passo, e apercebeu-se que a claridade ia aumentando, de tal modo que passado mais algum tempo já estava o caminho novamente iluminado e, portanto, possível de prosseguir.

Mas não recomeçou imediatamente a caminhada.
Sentou-se no chão e decidiu reflectir sobre o caminho que tinha feito até aquele momento.

Em primeiro lugar lembrou-se do velho ditado que diz que a “pressa é má conselheira”, percebendo que é melhor caminhar com calma e seguro, do que freneticamente e sem segurança.
Recordou-se da pedra onde tinha tropeçado e imediatamente reconheceu que, não olhando para o caminho e com os olhos fixos apenas na meta, não era possível ver os obstáculos que o caminho tinha.

Reflectiu então sobre a queda no buraco reconhecendo que uma das razões era a mesma pela qual tinha tropeçado, mas também que devia ter dado ouvido às vozes que lhe diziam para ter cuidado.
Se o tivesse feito, provavelmente não teria caído no buraco.

Por fim deteve-se a pensar na escuridão, nas trevas que o tinham envolvido e foi obrigado a reconhecer que, mais uma vez, não tinha dado atenção às vozes que lhe diziam para se preparar, percebendo que para fazer o caminho é sempre preciso uma preparação para o enfrentar.

Levantou-se do chão e foi então que reparou que à sua volta estavam muitos como ele, que caminhavam o mesmo caminho e lhe estendiam os braços e diziam para caminharem todos juntos.
Ao princípio teve a reacção de pensar, como sempre, que era capaz sozinho, mas depois percebeu que caminhando com todos, todos se ajudariam a levantar se tropeçassem e caíssem, que seria bem mais fácil saírem dos buracos em que caíssem, e reparou também que muitos deles tinham luzes e que as partilhavam com os que não tinham.

Sentiu-se bem naquela companhia e partiu novamente, agora acompanhado pelos outros e no ritmo que os mais lentos tinham, para poderem ir todos unidos.

Sorriu e pensou para si mesmo: Estou no bom caminho!

Pois é, Deus chama-nos a fazer o caminho para Ele, mas quer que o façamos em paz e tranquilidade.
Deus quer que olhemos para Ele, mas também que olhemos para o mundo e para o chão que pisamos, porque é neste chão que vivemos por enquanto.
Se olharmos para o mundo em que vivemos podemos evitar muitas vezes as “pedras de tropeço” que o mundo nos apresenta.
E o caminho que Deus nos propõe, Ele mesmo nos diz que tem armadilhas do inimigo, os buracos em que de quando em vez caímos, mas que se ouvirmos a Sua voz e a voz daqueles que Ele coloca ao nosso lado, poderemos evitar esses buracos.
E, claro, há sempre momentos em que as trevas, nesta caminhada para Deus, nos querem envolver, por isso nos devemos preparar para o caminho de Deus, servindo-nos de tudo o que Ele nos deixou, sobretudo a Palavra de Deus e os Sacramentos que são a Luz que nos ilumina e vence as trevas.
Ah, e depois o caminho de Deus é um caminho individual, mas também colectivo, porque Ele serve-se dos outros que nos acompanham para nos ajudar a caminhar, como nos chama também a estar sempre prontos para ajudar aqueles que precisam de nós para caminhar.
Por isso a Igreja é o caminho seguro!

Percebamos também que se Deus é nossa “meta”, embora Ele esteja no fim à nossa espera, também está sempre, ao mesmo tempo, connosco a caminhar o caminho que Ele mesmo nos dá.

Por isso caminhemos sem medo porque a Luz já venceu as trevas!



Marinha Grande, 22 de Outubro de 2022
Joaquim Mexia Alves

segunda-feira, 17 de outubro de 2022

EM IGREJA, HUMILDEMENTE

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Seria muito mais fácil dizer que assim não pode ser, que é tudo uma vergonha e abandonar, sair, deixar de ser Igreja, do que humildemente envergonhar-me porque alguns, (uma minoria), cometeram actos inomináveis, inclassificáveis, terríveis, de uma dimensão para além de toda a condenação, e manter-me firme percebendo que a Igreja não é do homem, mas de Deus, e que o homem é pecador e muitas vezes se deixa cair no mal.

E então não devo criticar, denunciar, fazer tudo para levar a julgamento aqueles que cometeram tais actos inclassificáveis e aqueles que os acobertaram, para que enfrentem as consequências dos seus actos?

Claro que sim que devem ser levados a julgamento, não só na justiça canónica, mas também na justiça civil, para sofrerem as consequências daquilo que fizeram conscientemente, porque tais actos não podem ser, de modo nenhum, classificados de inconscientes ou passíveis de alguma desculpa seja ela qual for.

E em primeiro lugar, nós Igreja, que nos envergonhamos de tais actos embora não cometidos por nós, devemos ter sempre presente nas nossas orações e preocupações as vítimas, não só na sua vida presente, mas também em tudo aquilo que marca definitiva e indelevelmente as suas vidas também no futuro.

Mas o nosso Deus é um Deus de misericórdia, que à nossa humanidade por vezes até nos parece “exagerada”, mas a verdade é que não há pecado que, perante o arrependimento sincero e propósito de emenda, não seja perdoado
Se assim não fosse não seria Deus, porque então o seu amor teria limites, o que a própria essência de Deus nega.

Devemos também, por isso, rezar pelos prevaricadores, para que tenham consciência dos actos praticados, deles se arrependam verdadeiramente, e se apresentem perante a justiça da Igreja e da sociedade civil, humildemente aceitando as penas a que forem condenados
Rezemos para que sejam eles mesmos a apresentar-se, acusando-se a si próprios, para que a Igreja que um dia disseram querer servir, em Deus, por Deus e com Deus, se continue a mostrar isenta de culpa, que realmente não lhe pertence

E nós Igreja viva, saibamos humildemente reconhecer que alguns que connosco eram Igreja, cometeram tais actos que nos envergonham, mas que sendo nós igreja, continuamos a acreditar e a viver a Fé na Santíssima Trindade, única razão de ser da igreja.

Com serenidade aceitemos até as recriminações e até os insultos que a nós, que nos mantemos fiéis a Cristo, poderão ser feitos, rezando por aqueles que os fazem e sabendo que Deus não faltará àqueles que nEle confiam e esperam.

De coração sangrando, mas cheio de compaixão, mostremos com o nosso testemunho verdadeiro, “que uma árvore não faz a floresta”, e que Deus é infinitamente maior do que o pecado de cada um.

Só em Deus, em Igreja, encontraremos razões e forças para ultrapassar estes terríveis tempos, e só em Deus, em Igreja, encontraremos a paz e a salvação prometidas em Jesus Cristo.




Marinha Grande, 17 de Outubro de 2022
Joaquim Mexia Alves

sábado, 8 de outubro de 2022

NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO DA MARINHA GRANDE

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Por estes dias realiza-se na paróquia da Marinha Grande a Festa da Padroeira, Nossa Senhora do Rosário.
Ontem antes da Missa e Procissão pelas ruas da Marinha Grande, tirei uma fotografia à imagem de Nossa Senhora do Rosário, belamente enquadrada por flores e luzes.

Ao ver a fotografia foi-me suscitada a seguinte reflexão.

Nesta fotografia está contido todo o centro da nossa Fé Cristã.

Ao lado da imagem está o ambão, onde é proclamada a Palavra de Deus, o Verbo que é Deus.

A imagem representa Aquela, a Senhora do Rosário, em quem encarnou o Verbo, o Deus que «se fez Homem e habitou entre nós». (cf Jo 1, 14)

O Verbo viveu entre nós como Homem e entregou-se por nós «até à morte e morte de cruz», (cf Fil 2, 8), como está bem representado na fotografia pelo grande crucifixo que preside na nossa igreja matriz.

Mas o Verbo, o Deus feito Homem, disse que «ficaria sempre connosco até ao fim dos tempos», (cf Mt 28, 20), e por isso também na fotografia se vê o altar em que todos os dias, pela transubstanciação do pão e do vinho no Corpo e Sangue de Cristo, Ele está realmente e verdadeiramente connosco sempre e para sempre.

Ainda podemos reparar que a imagem de Nossa Senhora do Rosário está de lado, para que o centro seja sempre a Cruz de Cristo, a Cruz em que Ele nos deu a Sua Mãe como Mãe de todos nós. (cf Jo 25-27)

Tudo isto se quisermos ver com os “olhos de Deus” aquilo que Ele mesmo nos mostra.

Que Nossa Senhora do Rosário nos guie e por nós interceda sempre, para que unidos a Ela, caminhemos todos os dias e em cada momento, ao encontro de Jesus Cristo «fazendo tudo o que Ele nos disser». (cf Jo 2, 5)

Obrigado Mãe, obrigado Senhora do Rosário.

Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo.




Marinha Grande, 8 de Outubro de 2022 
Joaquim Mexia Alves

terça-feira, 27 de setembro de 2022

AQUI ESTAMOS SENHOR! 88

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Mais uma tarde na Tua presença, Senhor, mais um momento de graça na vida que me deste.

O que entendo eu por «Crer em Deus»?
O que significa para mim «Crer em Deus»?

Não pode ser um simples acreditar que Deus existe, porque isso não teria, digamos assim, importância na minha vida do dia a dia.
O «Crer em Deus» tem que ir mais além do que “apenas” acreditar.

Se acredito que Deus existe, tenho que acreditar que isso tem toda a importância na vida que Ele me deu, porque acreditar em Deus é também acreditar que Ele é o Senhor de tudo e assim é o Senhor da minha vida, pois Ele sendo Deus é o «Criador de todas as coisas visíveis e invisíveis».
E se Ele criou a minha vida, então a minha vida pertence-Lhe e, pertencendo-Lhe, só se realiza plenamente se ela for um reflexo da Sua vontade.
E para eu saber qual é a Sua vontade para a minha vida, tenho que ter uma relação com Ele, uma relação em que, procurando sempre conhecê-lO cada vez mais, melhor posso saber o que Ele quer de mim e para mim, ou seja, qual a Sua vontade para a vida que Ele me deu.

Então o «Crer em Deus» para além do acreditar é uma vivência, uma relação, uma procura, um encontro, uma entrega e uma dádiva.
Então o «Crer em Deus» é toda a vida que Ele me deu em todas as coisas e em todos os momentos e, sem a entrega dessa vida, o «Crer em Deus» não se torna verdadeiro.
«Crer em Deus» é assim vida e vida que se faz segundo a vontade de Deus e, se se faz segundo a vontade de Deus, recebe sempre da abundância de Deus, que não se esgota no pensamento humano, nos planos humanos, nas vivências humanas.

«Crer em Deus» é um imperativo livre para que a vida, a verdadeira vida, realmente aconteça.
E é um imperativo livre porque Ele mesmo nos criou em liberdade, mas se não Lhe entregarmos a nossa vida em amor, como pode Ele preenchê-la com a Sua abundância se Ele respeita sempre a nossa liberdade?

Então o «Crer em Deus» é um caminho na busca da verdade que é Deus e da vida que é Deus.

Obrigado, Senhor Jesus, porque Tu és o Caminho, a Verdade e a Vida.



Garcia, 26 de Setembro de 2022
Joaquim Mexia Alves

sexta-feira, 9 de setembro de 2022

PARA A GLÓRIA DE DEUS!

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Ontem confirmei uma, (chamemos-lhes informação sobre mim), que é no fundo uma “ocorrência” na minha vida, que vai marcar os anos que se vão seguir.
Desde sexta-feira passada que tinha essa quase certeza que ontem foi confirmada.
Curiosamente, ou talvez não curiosamente, tal como nessa sexta-feira, recebi a notícia com uma paz e tranquilidade enormes, diria quase com uma alegria serena, quer dizer, uma alegria em Deus.

O meu primeiro acto interior, foi louvar a Deus e agradecer-lhe por tudo quanto fez e tem feito na minha vida, sobretudo o ter-me feito encontrá-lO e amá-lO com toda a vida que ele me deu e dá, depois de O ter “abandonado” durante tantos anos.

Ando a reler o Livro de Job e encontrei nesta situação uma similitude, (passe a imodéstia da comparação), e, de cabeça levantada, não por orgulho, mas por humildade de quem caminha entregue ao Senhor da vida, dei graças ao meu Deus e ofereci-Lhe, (pobre oferecimento), a situação pelos outros, sobretudo pela conversão de quem anda longe de Deus e pela cura daqueles que trago sempre no meu coração.

E a paz, a serenidade, o amor, parece que aumentaram em mim.

E fiquei a pensar se deveria escrever sobre isto e no meu coração a resposta foi afirmativa, não como meio de chamar a atenção para mim, mas como testemunho de entrega a Deus e nEle aos outros, “aproveitando” tudo aquilo que Ele na Sua infinita bondade permite na vida que me deu.

Está tudo controlado e, se Deus quiser, a “notícia” nada afectará, para já, da minha vida.

Perdoem-me a expressão e a jactância, mas sinto-me um “escolhido” para assim continuar a servir a Deus, servindo os outros.

Tudo e sempre para a Sua maior glória!



Marinha Grande, 9 de Setembro de 2022
Joaquim Mexia Alves

domingo, 4 de setembro de 2022

DEIXAR-SE EXTASIAR!

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Sentado no meu quarto, frente ao computador, olho o écran vazio, branco, e tenho vontade de o encher de palavras, palavras de louvor, de gratidão, de amor, de entrega, neste Domingo, neste Dia do Senhor.

Lentamente deixo que a imaginação me conduza e já me vejo sentado na praia, no imenso areal, contemplando o mar, que brinca com o sol nas ondas e vem-me esta admiração com a grandeza de Deus, que não só fez o mar grande, mas lhe deu beleza e movimento perpétuo em perpétua liberdade.

Mas a minha imaginação não pára e faz-me voar nas suas asas colocando-me no cimo duma montanha, como se fosse um enorme rochedo pousado na planície e, mais uma vez, me deixo extasiar pela força de Deus, percebo que apesar de parecer impossível chegar ao cume da montanha, afinal com perseverança e entrega lá nos colocamos no alto, e assim entendo que tantas vezes Deus nos parece inalcançável e, afinal, Ele ali está sempre, não só no alto da montanha, mas subindo connosco até ao cume mais alto.

Mais uma vez me deixo transportar pela imaginação e vejo-me no meio de uma floresta, na qual passa um rio, por vezes calmo, outras vezes impetuoso.
O silêncio da floresta é impressionante, mas por vezes é interrompido pelo vozear dos animais que ali habitam, fazendo-me perceber que tudo ali pulsa vida, banhada e alimentada pelas águas daquele rio.
E Deus fez tudo isto!
E aquelas árvores não precisam da mão do Homem para crescer, aquelas águas não precisam da vontade do Homem para correr, aquela vida não precisa da inteligência do Homem para viver!
E Deus tudo isto colocou ao serviço do Homem e tantas vezes o Homem em vez de se espantar com a obra de Deus e Lhe dar graças, interfere com a sua vontade e destrói o que Deus fez tão perfeito.

Regresso ao meu quarto, frente ao computador.

Leio o que escrevi, imagino o mar, o sol, a montanha, a planície, a floresta, o rio, os animais, deixo que o amor de Deus me toque, abro um sorriso e digo alto, só para eu ouvir:
Obrigado, Senhor! Como Tu és grande e bom!




Marinha Grande, 4 de Setembro de 2022
Joaquim Mexia Alves

quarta-feira, 31 de agosto de 2022

SER IGREJA?

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A Missa tinha acabado, mas ele ficou mais um pouco sentado na igreja a pensar.

Era estranho, pensou ele, ver que muita gente que ali vinha ao Domingo para a Missa, (ele incluído), não se cumprimentavam quando chegavam, nem com um simples sorriso, a não ser aqueles que nitidamente se conheciam no dia a dia.
E era estranho, porque dizendo-se filhos de Deus, então eram todos família e as famílias quando se reúnem cumprimentam-se, até efusivamente, quanto mais não seja porque é bom estarmos juntos.

Afinal, como se ensina, a Igreja são os filhos de Deus reunidos em assembleia e, então, todos os que ali estiveram são Igreja, filhos do mesmo Pai, irmãos em Cristo, templos do Espírito Santo.
Até têm todos a mesma Mãe, que nos foi dada por seu Filho Jesus Cristo.
Então não se deveriam cumprimentar em alegria quando se reúnem?
Tudo leva a crer, pelo que está escrito, que assim era nos primeiros tempos.

Outra coisa que lhe despertou a atenção foi o momento da consagração e o momento da comunhão.
Obviamente que não são momentos de bater palmas, de rir ruidosamente, de dar vivas, sequer de fazer barulho, mas deveriam ser pelo menos momentos de grande união, momentos de grande felicidade exposta nos rostos, momentos realmente muito vividos e, apesar de em muitos assim acontecer, parecia-lhe que também muitos viviam aqueles momentos como um qualquer outro momento, ou seja, como uma rotina quase indiferente.

Veio-lhe à cabeça a imagem de um estádio de futebol cheio de gente e como os adeptos de cada equipa vibravam com o jogo.
Na altura do golo todos os da mesma equipa saltavam, gritavam, alegravam-se e até se abraçavam, mesmo aqueles que não se conheciam pessoalmente mas que se identificavam como sendo da mesma equipa.
Pareciam todos irmanados na mesma alegria!
É curioso, pensou ele, que todos eles se alegram porque um jogador mete um golo e vivem-no como se fosse de cada um, mas afinal o golo é do jogador que o meteu.

Mas a verdade é que na Missa, sendo todos celebrantes, todos “metem golo” e por isso todos são de Cristo e Cristo é de todos!
Sorriu interiormente pensando que à “equipa de Deus” lhe faltava aquele “entrosamento”, para usar termos futebolísticos!

Havia tanto para pensar, mas quedou-se nos momentos finais da celebração.
Alguns nem sequer esperavam pela bênção final e uma maioria saía apressadamente como se tivessem algo mais importante para fazer.
E mais uma vez, nem um cumprimento, nem um sorriso, a não ser aqueles que já se conheciam.
Parecia que tudo tinha acabado e que a celebração não tinha deixado “marcas”, fossem elas quais fossem.

Inevitavelmente veio outra vez ao seu pensamento o jogo de futebol e era fácil de perceber que os adeptos da equipa vencedora não queriam arredar pé do estádio, festejando a vitória, e mesmo de saída, riam, davam vivas e até colocavam os braços por cima uns dos outros, saboreando a vitória o máximo tempo possível.
Haviam de chegar a casa, ao café ou ao bar e haviam de contar entusiasmados a outros o desenrolar do jogo e a vitória tão saborosa que tinham vivido.

Lembrou-se, mais uma vez com um sorriso, que os clubes guardam as taças que ganham lá nas sedes dos clubes e, no fundo, essas taças pertencem ao clube e não aos sócios.

Mas em Igreja e sendo Igreja a “Taça” é de todos e todos “A” transportam com eles em cada momento!

Que bom seria, pensou ele, a começar por si próprio, se todos os outros pudessem perceber que cada membro da Igreja traz Cristo consigo, e, por isso mesmo, dá testemunho da alegria de O ter e conta entusiasmado a todos, (com a devida sensatez), como é saboroso, (para usar termos de Salmos), e bom, comungar Cristo e vivê-lO no dia a dia.

Como seria fantástico deixarmo-nos entusiasmar por Deus e assim unidos em Igreja sermos realmente filhos de Deus que se unem, se conhecem, se ajudam e se amam mutuamente.

Já se fazia tarde e a igreja estava vazia, por isso ajoelhou-se frente ao sacrário e disse numa oração:
Fica comigo, Senhor, porque afinal ser Igreja não é nada fácil, mas é muito bom!!!



Marinha Grande, 31 de Agosto de 2022
Joaquim Mexia Alves

terça-feira, 16 de agosto de 2022

DIÁLOGOS COM O SENHOR DEUS 23

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O que pensas tu que é a oração?
Eu, Senhor?


Sim, tu. É a ti que me dirijo e pergunto: O que pensas tu que é a oração?
Oh, Senhor, e sei lá eu responder-Te a essa pergunta! Tu é que tens de me ensinar a orar, pelo Teu amor, Senhor eu to peço.


Eu ensino-te todos os dias, meu filho, quando o Espírito Santo te impele a pensar em mim, a dirigires-te a mim, a sentires a minha presença na tua vida. Por isso pergunto-Te novamente: O que pensas tu que é a oração?
Oh, Senhor, eu penso que orar é procurar-Te com amor, é sentir-Te com amor, é falar-Te com amor. Mas eu, Senhor, embora Te procure, embora Te sinta, embora Te fale, ainda acho que não sei orar.


Então pensas tu que as palavras são mais importantes?
Que a tua postura é mais importante?
Que a tua sinceridade é mais importante?
Sei lá, Senhor, penso que tudo isso e muito mais é importante na oração.


Sabes, meu filho, o que é mais importante quando orares?
Não, Senhor. Diz-me, por favor!


O mais importante, meu filho, é o teu desejo de Mim, o teu coração aberto para mim, a tua vontade íntima de fazer a minha vontade. O resto, (que é importante também), deixa Comigo porque eu sei bem o que desejas e precisas.
Obrigado, Senhor, e atrevo-me a perguntar: Estive a orar, Senhor?


Claro, meu filho! Não está em ti esse desejo de Mim, de Me encontrares, de quereres ser nada para Eu ser tudo em ti?
Sim, Senhor, pelo menos é isso que eu desejo que assim seja, quando Te procuro e a Ti me entrego.


Então, meu filho, aí tens a oração que se faz vida em ti!
Obrigado, Senhor!




Monte Real, 16 de Agosto de 2022
Joaquim Mexia Alves

sábado, 6 de agosto de 2022

OS PADRES

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Os Padres são, hoje em dia, uma espécie de “bombos da festa”!
Tudo e toda a gente “malha” nos Padres, em letra maiúscula de propósito.

Começa, (sei lá bem onde começa?), pelos leigos, pelos paroquianos, passa pelos ditos católicos que não “vão” à Igreja e lhes dá jeito os problemas de alguns padres para não irem, (aqui com letra minúscula de propósito), pelos políticos, (é tão bom que falem dos outros e esqueçam a “porcaria” que fazem todos os dias), pelos ditos jornalistas, que de jornalistas nada têm, mas apenas de fazedores de suspeitas, de difamações, de manipulações, passa até pelos que cometem os terríveis pecados que alguns, poucos, padres cometem, porque assim ninguém olha para eles, enfim, é um nunca acabar de gente a criticar, a julgar, a condenar, os Padres, normalmente na praça pública.

Infelizmente, até na própria Igreja, mesmo aos mais altos níveis, os Padres são objecto e razão para permanentes críticas e admoestações, porque são clericalistas, porque são conservadores, porque são progressistas, porque isto, porque aquilo, esquecendo-se essa mesma hierarquia de, pelo menos de vez em quando, os presentear com o reconhecimento do trabalho feito em tanto lugar e tantas vezes em momentos e lugares tão difíceis.

Quem vive com os Padres no seu dia a dia, quem com eles colabora no intuito de servir a Deus, percebe como tantas vezes é injusta a maneira e o modo como os Padres são tratados.

Quem cuida de saber se estão cansados, se celebram mais Missas do que deviam, intercalando com funerais, baptizados, casamentos e “outras coisas mais”?

Se confessam e nada dizem, não valeu a pena a confissão. Se confessam e tentam dar conselhos e ajudar a encontrar caminho, são uns “chatos”, quando não uns convencidos que pensam saber mais do que os “confessados”!

Se nas homílias tentam dar testemunho das suas vidas servindo-se das Leituras e do Evangelho, é porque estão a falar de si próprios, se falam apenas da Palavra e A tentam explicar com mais profundidade, têm a mania que são “teólogos”, se sorriem, riem e estão bem dispostos, é porque não percebem a “dignidade” do que estão a fazer, se estão de cara séria e chamam a atenção para os erros que todos praticamos, têm a mania que são melhores do que os outros.

A lista é interminável, mesmo sem fim, e aplica-se sempre aos Padres que acabam por pagar pelos erros dos outros, padres como eles também.

Então isso quer dizer que não se deve dar atenção e conhecer e punir os actos vergonhosos de alguns padres?
Claro que não!
Tudo isso deve ser apurado até ao fim e com toda a força da lei canónica e civil, doa a quem doer, mas que envolva também todos os outros sectores da sociedade onde tal acontece também.

As outros, filhos de Deus também, mas que nEle não acreditam, é prova mais do que acabada que Deus não existe, que a Igreja é uma “fantochada”, e que tudo isso devia acabar de imediato.
No entanto, não são capazes de tomar a mesma atitude, por exemplo, perante a política, pois sabendo que há políticos corruptos, reconhecem que há bastantes que o não são.

Aqueles que se dizem cristãos católicos e se afastam da Igreja por causa do pecado gravíssimo de alguns padres, (bem poucos no universo geral), ainda não perceberam que a Igreja não são os Padres, somos nós todos reunidos em nome de Deus.

Àqueles que se sentem envergonhados pelo comportamento inaceitável e pecaminoso de certos padres, obrigado, porque são Igreja e sofrem com a Igreja que são.

O texto não teria fim porque, infelizmente, é muito vasto o assunto e exige de nós cristãos católicos muita oração pelos Padres e pelos padres que prevaricam gravemente, bem como pelas suas vítimas.

Eu, pessoalmente, dou graças a Deus pelos Padres, orgulho-me de conhecer e ser amigo de muitos deles e agradeço-lhes do fundo do coração a sua entrega, mais ainda nestes momentos tão difíceis em que seria bem mais fácil “abandonar a barca”, e sobretudo o dom de trazerem Deus nos Sacramentos ao povo que O adora e nEle sempre confia e espera.

Amemos os nossos Padres, por eles pedindo sempre e pedindo ao nosso Papa Francisco e aos nossos Bispos que os acarinhem e reconheçam a sua dedicação profunda, não os criticando tantas vezes como se fossem eles os “culpados” de tudo o que não corre tão bem na Igreja.

Só Deus sabe o seu enorme sacrifício, a sua persistência, perante tantos e tão variados ataques e incompreensões com que as suas vidas são escrutinadas, a maior parte das vezes apenas para dizer mal e interpretar falsamente os seus gestos e atitudes.

O texto é cáustico, muito, eu sei, mas dói-me profundamente que a enorme maioria de Padres que deram e dão a sua vida por Cristo, estejam num frenesim de ataques que toma sempre a “nuvem por Juno”.

A vós Padres todos que, humanamente, resistis às tentações, que reconheceis as vossas fraquezas, mas vos mantendes firmes na fé, ajudando-nos a vivê-la em Igreja por Cristo, com Cristo e em Cristo, OBRIGADO!

Rezo por vós e dou graças a Deus por todos e cada um que permanece fiel ao seu sacerdócio, tudo e só para a maior glória de Deus.



Marinha Grande, 6 de Agosto de 2022
Joaquim Mexia Alves

segunda-feira, 25 de julho de 2022

“FISIOTERAPIA ESPIRITUAL”

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Comecei hoje a fazer fisioterapia por causa das minhas costas, nada de grave, mas para tornar a vida melhor, mais agradável.

Fui aproveitando aqueles momentos sozinho para ir rezando o terço, (o terço também tem isto de bom, pois em qualquer lado se reza para dentro em surdina), e pensando, pensando, pensando…

Parece-me, então, que devo que acompanhar esta fisioterapia física com uma “fisioterapia” espiritual.

Muitas vezes a fisioterapia é precisa porque nos vamos defendendo das dores, vamos adoptando posições confortáveis em que não doa, e de tal modo o fazemos que a certa altura estamos “tortos fisicamente” e já não nos conseguimos endireitar.
Então, lá temos que passar pela fisioterapia, que é sempre desagradável, por vezes um pouco frustrante e outras vezes até ligeiramente dolorosa, para podermos recuperar, atingir novamente a plena mobilidade e o bem estar da vida saudável.

Ora, tenho para mim, que também preciso de uma “fisioterapia espiritual”, ou seja, reconhecer em mim aquilo em que me tornei rotineiro na oração, na prática dos sacramentos, aquilo em que não quis procurar melhor e mais longe as razões para a Doutrina da Igreja, para viver a fé com verdade, em vez de ficar no que já dei como adquirido e não quero mudar porque é muito mais confortável assim.
Não que a Doutrina tenha mudado, (Ela é emanada de Deus e Deus não muda, mas é sempre novo), mas como posso percebê-la e vivê-la melhor.

Na clínica tenho uma fisioterapeuta para me fazer os tratamentos e ajudar a corrigir posições.
Mas depende da minha vontade querer fazê-lo.

Na Igreja tenho o “fisioterapeuta” perfeito, Deus, e todos os outros, bispos, sacerdotes e leigos, que “formados” por Ele, me ajudam a tratar da alma, a sair da rotina que não me deixa andar, a perceber o que devo mudar para caminhar na fé em Deus, mais alegre, mais crente, mais activo, mais orante, enfim, mais vivo em Cristo.
E também depende da minha vontade querer fazê-lo e por isso mesmo me agarro a essa vontade e peço a Deus que aumente essa vontade em mim.

E, já me vou sentindo melhor, sobretudo porque leio o que escrevi e sorrio pensando como é que o nosso Deus de tudo retira sempre algo de muito bom para nós!

Obrigado, Senhor!



Monte Real, 25 de Julho de 2022
Joaquim Mexia Alves

sexta-feira, 22 de julho de 2022

AQUI ESTAMOS SENHOR! 72

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Fecho os olhos, baixo a cabeça e deixo que desponte em mim o desejo de Te sentir.
Pouco a pouco do meu coração sai o Teu nome que vou repetindo baixinho, em surdina: Jesus, Jesus, Jesus…
Afundo-me na cadeira em que estou sentado e parece que à minha volta tudo desparece ou, pelo menos, nada me incomoda ou distrai.

Parece-me que Te sentas no chão junto à cadeira em que estou e eu protesto de imediato:
Não, Senhor! Eu é que me sento a Teus pés!

Dizes-me então, ou sonho que me dizes:
Não te queres sentar comigo aqui no chão?

Saio imediatamente da cadeira e sento-me no chão junto a Ti, sentindo o frio das lajes frias da capela debaixo de mim.
Parece-me ver um sorriso de criança na Tua face, como se estivesses a achar graça a Ti e a mim sentados no chão da capela a olhar para Ti no Santíssimo Sacramento.

É então que me pedes para levantar a cabeça, olhas-me nos olhos, e perguntas-me candidamente:
Porque vens tantas vezes aqui?

Eu olho-Te espantado, (como se Tu não soubesses porquê!), e respondo-Te:
Para estar Contigo, Senhor!

Olhas-me ainda mais profundamente e perguntas:
Mas Tu acreditas que Eu estou aqui no Santíssimo Sacramento?

Sobressalto-me, assusto-me, e fico a pensar no que Te hei-de responder.
Depois penso que é melhor fingir que não ouvi para não ter que responder.

Mas Tu tocas-me na mão e insistes:
Então, não me respondes?

Como uma criança apanhada em falta, abro a boca e ouço-me dizer:
Sim, Senhor, acredito. Sim, Senhor, quero acreditar como todo o meu ser que estás aqui, que és Tu realmente presente na Hóstia Consagrada.

Sorris e dizes com ternura:
Mas não é fácil acreditar, pois não? De vez em quando parece-te duvidar, não é?

Fico sem jeito, mexo-me na posição em que estou e digo:
Oh, Senhor, não me provoques! Tu conheces-me tão bem! Sabes bem que eu acredito, que eu quero acreditar, mas também sabes que a minha humanidade é frágil, que a minha humanidade gosta de ver com os olhos do corpo e tocar com as mãos que Tu me deste.

Colocas o braço à minha volta, apertas-me junto a Ti e dizes-me ternamente:
Eu sei, Joaquim, eu sei. Mas concedo-te, concedo a todos os que quiserem, essa graça imensa de me poderes ver com os olhos do coração e tocares-me com as mãos da fé.
O que falta ao teu crer eu compenso com a minha misericórdia, com o Meu amor por ti, por todos vós.

Levanto a cabeça e com os meus olhos apenas vejo a Hóstia Consagrada, mas com o coração cheio de amor e confiança, digo:
Vejo-Te, Senhor! Sinto-Te, Senhor! Amo-Te, Senhor! Obrigado, Senhor!




Garcia, 21 de Julho de 2022
Joaquim Mexia Alves


Nota: Escrito ontem quinta feira 21, na tarde de adoração na Capela da Garcia

quarta-feira, 6 de julho de 2022

O ELOGIO DA VELHICE

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Deus concedeu-me a graça de ter 4 filhos.

Acredito que cada um deles me há-de pegar pela mão e ajudar a atravessar a estrada que se vai agora apresentando à minha vida .

Agora ainda acham graça às minhas expressões de dor que vai percorrendo todo o meu corpo mas sei e sinto que lá no fundo se vão preocupando com o pai que continua, apesar de tudo, forte e vivo.

Claro que as dores são fruto da idade, mas também muito fruto das asneiras da vida que levei e que foram muitas, (algumas forçadas, como a guerra, mas a maior parte de livre vontade), e tinham forçosamente de marcar os meus anos mais velhos

Um tal Variações cantava que “quando a cabeça não tem juízo o corpo é que paga”!

É engraçado começar a viver agora as recordações daquilo que, quando novo, achava daqueles que tendo a minha idade ou sendo mais velhos, iam dizendo e se iam queixando e como eu desvalorizava esses “queixumes” acreditando que eram para chamar a atenção.

Percebo agora que os nossos “queixumes” nestas idades, são muito mais para nós, são íntimos, do que para chamar a atenção dos outros.

Gostaríamos até de conseguir não nos queixarmos para não preocuparmos os mais novos, mas, caramba, às vezes nem são tanto as dores, são mais as incapacidades de fazer algo tão simples como calçar e descalçar as meias sem ter que “gemer” um pouco!

Mas é bom ser mais velho.

Dá-nos, por exemplo, a capacidade de nos calarmos para não provocar discussões, (embora tenhamos os nossos “repentes” pois claro), conseguirmos “adivinhar” reações, sabermos coisas que os mais novos ficam espantados, contarmos histórias que eles querem ouvir, (às vezes até lhes acrescentamos umas “coisas” para ficarem mais bonitas ou interessantes), lembrarmos sítios que já não existem ou tradições perdidas, enfim, somos quase uma “enciclopédia” de “banalidades” interessantes.

E é tão gratificante quando os mais novos nos pedem para repetir as histórias que já contámos vezes sem fim, mas que eles querem recordar, muito provavelmente para poderem contar quando chegarem à “idade das dores”.

Depois, também, as ofensas que nos fizeram ou nós fizemos, vão-se esbatendo e vamos percebendo o ridículo do incómodo que nos causamos por não perdoar ou não pedir perdão.
Começamos a perceber bem melhor o sentido de viver em paz.

A mim, sinceramente, nunca me preocupou a idade, (a não ser por causa das tais “incapacidades”), e acho até interessante ser olhado como mais velho.
Há sempre algum respeito nesses olhares.

A morte nunca me preocupou e hoje em dia muito menos, pois a Fé que vivo ou tento viver todos os dias, dá-me a certeza de que, mais tarde ou mais cedo, estarei nos braços de Deus, (depois de purificadas as minhas inúmeras faltas), no gozo do amor que nunca acaba.

E o amor talvez seja o melhor elogio à velhice!



Monte Real, 6 de Julho de 2022
Joaquim Mexia Alves


Nota: Claro que escrevo o que sinto e na generalidade, pois cada situação é diferente, sobretudo para aqueles que são abandonados pelos mais novos.

quinta-feira, 2 de junho de 2022

VEM, ESPÍRITO SANTO

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Pai, o que é o Espírito Santo?
Ó meu filho, fazes-me perguntas tão difíceis!

Mas eu queria saber, pai!
Deixa-me ver se te contigo explicar, porque tu ainda és muito novo para compreender certas coisas de Deus.

Ah, então o Espírito Santo é Deus?
Claro, meu filho, é Deus com o Pai e o Filho Jesus Cristo, mas isto é muito complicado de explicar.
É que sabes, são três pessoas numa só!

Então o Pai, o Filho e o Espírito Santo são três, mas são só Um?
Pois, meu filho, por isso é que nós não conseguimos perceber completamente o mistério de Deus.

Ó pai, se tocarmos três notas num piano em harmonia ao mesmo tempo, são três sons que ouvimos ou é apenas um?
Pois, se assim fizermos, são três sons distintos, mas nós apenas ouvimos o “resultado final” que é um som perfeito.

Se calhar, se fossem só dois sons o som final não seria tão bonito pois não?
É verdade, filho, não tinha pensado nisso. Com efeito o terceiro som, digamos assim, cria a harmonia perfeita daqueles três sons.

Talvez, pai, este terceiro som revele a beleza dos outros dois e nos faça ouvir a harmonia deles todos juntos?
Olha, meu filho, perante esta conversa e as tuas palavras apenas posso dizer:
«Bendigo-te, ó Pai, Senhor do Céu e da Terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e aos inteligentes e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, porque assim foi do teu agrado.» Lc 10, 21




Marinha Grande, 2 de Junho de 2022
Joaquim Mexia Alves

terça-feira, 31 de maio de 2022

O PASSARITO

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O passarito tinha ficado preso no intervalo ajardinado em frente da janela do meu escritório nas termas.
As paredes são altas e o passarito ainda novo não tinha forças para voar tão alto.
Tentou vários voos, mas infelizmente não conseguiu altura suficiente para sair do “buraco” em que tinha caído.
Lançava chilreios desesperados e os seus pais já lhe tinham vindo fazer companhia, mas não conseguiram tirá-lo da situação em que o pobre passarito se tinha metido.

Decidi que tinha chegado o momento de ir ajudar o pobrezito a sair daquela situação agarrando-o e colocando-o na rua de onde pudesse voar para o ninho.
Fui abrir a porta que dava para o “buraco” ajardinado, mas o passarito num derradeiro esforço conseguiu levantar e chegar à berma do alto da parede.
Ouço agora os seus chilreios, mas já são de alegria, os dele e todos os outros que se lhe juntaram.

E ao acabar de escrever tudo isto que agora se passou à minha frente, apenas vem ao meu coração um versículo bíblico: «Mas tínhamos de fazer uma festa e alegrar-nos, porque este teu irmão estava morto e reviveu; estava perdido e foi encontrado.» Lc 15, 32

Quantas vezes não estamos nós em situações em que nos deixámos cair e nos parece que delas não conseguimos sair?
Vêm outros e tentam ajudar-nos, mas nós ainda não encontrámos forças para sairmos daquela situação.
É que há situações em que por culpa nossa caímos, mas que por muito que nos que nos queiram ajudar e ajudem, o último esforço tem que ser nosso, da nossa vontade, para conseguirmos vencer a situação.

E estamos sós nessa luta derradeira para vencer esse momento?
Claro que não!
Deus está connosco e o amor do Pai e do Filho derramam o Espírito Santo em nós, que nos dá forças e asas de confiança e esperança, para voarmos em liberdade.

É muito bom e gratificante ver em tudo a mão de Deus!




Monte Real, 31 de Maio de 2022
Joaquim Mexia Alves

terça-feira, 24 de maio de 2022

A MORTE NO AMOR

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Olho a inevitabilidade da morte, sobretudo quando acontece nos mais novos do que eu, e fico a pensar que, realmente, só permanecendo em Cristo a morte tem sentido.

Claro que este sentido da morte é muito difícil, diria quase impossível de perceber aos que ficam por cá e sentem e choram a ausência dos que partiram, mas se a mais nada nos podemos “agarrar”, temos, no entanto, a certeza de que permanecendo em Cristo como Ele vivemos para sempre.

E isso mitiga a nossa dor, o nosso sofrimento?
Talvez não, porque nos é quase impossível suportar a ausência dos que amamos.

Mas eles, os que partiram permanecendo em Cristo, gosto de os ver, de os sentir como Jesus Cristo dizendo: «Se assim não fosse, como teria dito Eu que vos vou preparar um lugar?» Jo 14, 2

Não podemos saber os mistérios de Deus, mas sabemos pela fé que em tudo Ele quer apenas e só o nosso bem, a nossa salvação, e que mesmo aquilo que nos é, por vezes, quase insuportável de viver, acaba por se tornar num bem maior que conheceremos um dia, se nEle permanecermos e nEle morrermos para viver eternamente.

O amor não morre, nunca morre o verdadeiro amor e, por isso, quem vive no amor, não morre naqueles que o amam, porque o amor verdadeiro é Deus e vem de Deus e quem permanece em Deus vive no amor que se faz presente eternamente nos que estão em Deus e nos que esperam para estar em Deus na plenitude do amor.

«À ida vão a chorar … no regresso cantam de alegria» Sl 126




Monte Real, 24 de Maio de 2022
Joaquim Mexia Alves

sexta-feira, 13 de maio de 2022

DEIXAR-SE TOCAR PELO ESPÍRITO SANTO

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Não sei como se faz para tal acontecer.
Sei que é um desejo profundo que nasce dentro de nós e que nos abre à Sua presença.
É Ele, o Espírito Santo, que desperta em nós esse desejo profundo.

E então há momentos em que tudo desaparece!

Ficamos sozinhos, assim no meio dos Três, do Pai, do Filho e do Espírito Santo e tudo se transforma.
Uma alegria imensa e uma serenidade suave tomam conta de nós e tudo nos parece mais belo, mais colorido, mais vivo!
O mundo está à nossa volta, temos consciência disso, mas não nos confunde, não nos tenta, não nos incomoda, porque o momento é todo dEle.

Sentimo-nos amados, mas com um amor que não tem fim, que não tem palavras, que não tem dimensão.
Vai para além do compreensível, mas compreende-se inteiramente no momento que nos envolve.

Não vemos os outros, mas sabemos que estão à nossa volta, uns mais perto e outros mais longe, e esse amor que nos atinge faz-nos amá-los naquele momento mais do que a nós próprios, de tal modo que até nos oferecemos por eles.

É o momento em que somos um pouco divinos, não porque o sejamos, mas porque Ele nos concede a graça de sê-lo no amor que em nós derrama, para O amarmos acima de todas as coisas e nEle amarmos os outros como a nós mesmos.

Por vezes, (só percebemos depois), caem lágrimas dos nossos olhos, que são oásis num deserto que então se torna vivo.

Quanto tempo dura o momento?
Não sei!
Sei que me deixo perder nesse momento, que embora dure apenas uns instantes, vive-se como uma eternidade.

E quando vêm os tempos de secura, em que Ele está, mas não se sente, lembramo-nos sempre que a seguir “à tempestade vem a bonança”, e nasce em nós sempre e novamente o desejo profundo da presença do Espírito Santo, que nos mostra o Filho no amor do Pai.

Vem Espírito Santo!



Monte Real, 13 de Maio de 2022
Joaquim Mexia Alves


Nota: Acabado de escrever o texto, lembro-me do 13 de Maio, sorrio e interiormente penso que a nossa Mãe do Céu, em Fátima, vai continuando, ininterruptamente, a pedir o Espírito Santo para cada um de nós, como fez em Pentecostes.

sábado, 7 de maio de 2022

OS NÓMADAS

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Estive hoje na Batalha com o grupo de oração “Os Nómadas”, do qual faço parte, (embora à distância), porque reúnem à quarta feira Centro Paroquial dos Jerónimos, em Lisboa.

Hoje tivemos um encontro/peregrinação na Batalha, com celebração da Missa, com a sempre pronta disponibilidade do meu querido amigo Pe Armindo, que foi o momento alto deste encontro/peregrinação, porque sendo poucos os presentes, pudemos estar à volta do altar durante a consagração e oração eucarística, num tempo de interioridade e intimidade com Jesus Cristo, presente na Eucaristia.

“Os Nómadas” são um grupo de homens de diversas idades, mas todos irmanados na comunhão em Cristo, no amor do Pai, guiados pelo Espírito Santo, com uma profunda devoção mariana.

E é muito bom sentir esta irmandade, esta comunhão, sem receios, nem vergonhas humanas, que levam, por exemplo a, no meio da rua e frente à capelinha da Senhora do Caminho, rezarmos a oração própria deste grupo, e também, no restaurante sentados para almoçar, benzermo-nos e fazermos uma oração de graças por tudo quando Deus nos dá.

E não falámos apenas de religião, e da fé, embora bebamos uns dos outros as experiências e vivências de cada um, mas, tendo no grupo dos Irmãos Nómadas, profundos conhecedores de História, a visita ao Mosteiro de Santa Maria da Vitória, na Batalha, transforma-se em algo vivo, diria, quase presente no espaço e no tempo.

Deus fala-nos de muitos modos e um deles, sem dúvida, é através da História, mostrando-nos os erros e as verdades, que são caminho dos povos, muitas vezes afastando-se infelizmente de Deus, e outras aproximando-se e depositando em Deus a sua confiança e esperança.

As acaloradas discussões, (no bom sentido), são sempre recheadas de amizade e encontro, e onde há união e comunhão, Deus faz-se presente.

Obrigado a todos, porque hoje, sendo perto da “minha porta”, pude estar com os Irmãos Nómadas, e sobretudo, obrigado a Deus por me/nos ter proporcionado este dia de encontro com Ele, que se faz sempre presente nas vidas de cada um.



Marinha Grande, 7 de Maio de 2022
Joaquim Mexia Alves