segunda-feira, 30 de abril de 2007

ENSINAMENTO DE VIDA

Tive um fim de semana muito ocupado, mas sobretudo vivido muito intensamente.
No Sábado estive num almoço convívio com ex-combatentes da Guiné, (onde estive de 1971 a 1973), e hoje, Domingo, participei na Sé de Leiria, na celebração da Eucaristia de Ordenação de um Presbítero, o Marco, e um Diácono, o Marcelo, que pertence desde a primeira hora à nossa Comunidade Luz e Vida.
Perguntarão o que tem uma coisa a ver com a outra, e também eu perguntei isso mesmo ao meu Deus e Senhor, que sempre nos dá algum ensinamento sobre o que vai acontecendo no dia a dia das nossas vidas.
No almoço convívio, (de muitos ex-combatentes que se reúnem num blogue, Luís Graça & Camaradas da Guiné ), estavam por isso mesmo, muitos camaradas de armas, (como nos costumamos chamar), de diversas idades, proveniências e unidades militares, dos quais muitos não se conheciam ainda pessoalmente.
No entanto, o sentir, a identificação de algo comum, a unidade de uma experiência colectiva, a comunhão de todos estes sentimentos e vivências, fazia com que nos sentíssemos todos iguais, todos irmanados, todos acolhedores, todos no fundo como um só, embora tão diferentes nas nossas vidas, desde a idade, à politica e com certeza à religião.
Na Eucaristia da Ordenação do Marco e do Marcelo, estávamos também pessoas de diversas idades, diversas experiências de vida, locais diferentes, diferentes “sentires”, diferentes modos de viver a Fé, mas no entanto, todos unidos, acolhedores, sorrindo uns para os outros, querendo dar as mãos, e na diversidade, comungando a e na unidade com o Senhor Nosso Deus.
E então o que é que em eventos tão diferentes, se pode encontrar como ensinamento para a vida?
E a resposta é a própria vida, a vida que se dá, que se entrega, a vida que se recebe, a vida que se predispõe para os outros e dos outros para nós.
Com efeito, na guerra, colocamos a nossa vida nas mãos dos outros, dos que estão ao nosso lado, que nos acompanham e que às vezes apenas conhecemos ali, enquanto os outros nos entregam as suas vidas, confiando em que as vamos proteger com as nossas próprias vidas.
Só com essa entrega mútua de confiança, é possível sobreviver na guerra.
Essa vivência faz-nos identificar com todos os que estiveram na guerra, no nosso tempo, no nosso sitio, ou tempos e sítios totalmente diferentes.
Quando nos encontramos, conhecendo-nos ou não, apesar de todas as diferenças que possam existir entre cada um, abraçamo-nos, acolhemo-nos e comungamos de um mesmo sentimento: a vida que continuamos a ter.
Na vivência da Fé, na e em Igreja, a vida só tem sentido se for uma oferta permanente a Deus, e por Deus aos outros.
Só posso viver e crescer em comunhão com os outros e para os outros, senão arrisco-me a perecer na primeira dificuldade, a cair na primeira tentação.
A minha salvação só tem sentido na salvação dos outros e os outros contam com a minha entrega em oração por eles, como eu conto com a sua entrega em oração por mim.
Pode mesmo chegar-se um dia ao extremo de termos, por amor, de dar a vida pelos outros, entregando-nos confiantemente nas mãos do Criador, como ainda hoje tantos fazem, em nome de Deus, pelos seus irmãos.
E não interessa onde estamos, onde nos encontramos, no nosso país ou outro qualquer, porque nos identificamos e reconhecemos nessa entrega de amor a Deus e aos outros.
Na guerra os outros confiam que eu os protegerei e contam com as minhas capacidades, como eu conto com as deles, para chegarmos sãos e vivos ao nosso ponto de partida.
Na Igreja, os outros contam com as minhas orações, com o meu testemunho de vida, como eu conto com o deles, para crescermos juntos na Fé e alcançarmos a Salvação, que nos foi dada por Jesus Cristo Nosso Senhor.
A entrega da nossa vida, pelos outros e dos outros por nós, leva-nos a este encontro de comunhão de sermos um só com o mesmo objectivo.
A diferença está em que, na guerra a finalidade é preservarmos a nossa vida, muitas vezes aniquilando a vida do outro.
Na vivência da Fé, em Igreja, a finalidade é a salvação do outro com a entrega da nossa vida, alcançando também a nossa salvação.
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Aviso: O blogue a que faço referência é constituido pelas memórias daqueles que combateram numa guerra e com vivências de vidas muito diferentes entre si, pelo que pode ter alguns textos "chocantes" para quem não viveu estas experiências, por vezes muito traumatizantes.
Eu próprio vivia nesse tempo totalmente afastado de Deus, sem qualquer vivência da Fé que hoje anima a minha vida.

quinta-feira, 26 de abril de 2007

PRO-VOCAÇÃO

Como podes tu pensar que és capaz sozinho?
Desde que nasceste, que te ensinam a andar, a falar, a comer, a utilizares a tua vida num mundo que tantas vezes te é hostil.
Ensinam-te as letras, as histórias, as ciências, e tudo o que vais precisando para poderes fazer uso da inteligência, dos dons e talentos que estão na tua vida.
Ensinam-te aquilo que querem que faças no trabalho que hás-de ter, para fazeres render a tua vida.
Dão-te conselhos sobre como hás-de ser mãe, pai, filho ou mesmo solteiro na tua vida.
E quando fores mais velho, vais precisar que tomem conta de ti, que te façam companhia, que te ajudem naquilo que já não consegues fazer.
E afinal na tua vida espiritual, aquela que dá sentido a toda a tua vida, que esperas tu, para ouvires o teu Deus, para pedires o Seu conselho, para fazeres a Sua vontade?

terça-feira, 24 de abril de 2007

DE PESCA "SABEMOS NÓS" ??

Simão respondeu: «Mestre, trabalhámos durante toda a noite e nada apanhámos; mas, porque Tu o dizes, lançarei as redes.» Lc 5, 5

Disse-lhes Simão Pedro: «Vou pescar.» Eles responderam-lhe: «Nós também vamos contigo.» Saíram e subiram para o barco, mas naquela noite não apanharam nada. Ao romper do dia, Jesus apresentou-se na margem, mas os discípulos não sabiam que era Ele. Jesus disse-lhes, então: «Rapazes, tendes alguma coisa para comer?» Eles responderam-lhe: «Não.» Disse-lhes Ele: «Lançai a rede para o lado direito do barco e haveis de encontrar.»
Lançaram-na e, devido à grande quantidade de peixes, já não tinham forças para a arrastar. Então, o discípulo que Jesus amava disse a Pedro: «É o Senhor!» Simão Pedro, ao ouvir que era o Senhor, apertou a capa, porque estava sem mais roupa, e lançou-se à água. Jo 21, 3-7



Aqui reside a diferença: A confiança na entrega à vontade de Deus por parte dos Apóstolos, em comparação com a entrega das nossas vidas no dia a dia.
Quantas vezes no dia a dia, fazemos e repetimos as coisas que julgamos certas, correctas, e não obtemos resultados, não obtemos o que nos convém.
E teimosamente, continuamos a fazer exactamente como nós pensamos que é melhor, porque de “pesca percebemos nós”.
Não cuidamos de ouvir e seguir o que o Senhor nos diz para fazermos, porque espartilhamos as nossas vidas em duas vivências: O que é de Deus e o que não é de Deus, segundo o nosso pensamento.
E assim não deixamos que Ele nos conduza na vida em família, no trabalho, nas nossas relações pessoais, em tudo afinal, mas apenas no que diz respeito àquilo que consideramos a nossa vida “religiosa”.
Não colocamos, ou melhor não permitimos, a presença de Deus no nosso trabalho, na nossa vida diária.
O Senhor vem romper com os hábitos instalados e por isso nos diz: «Volta à pesca, mas agora faz como te digo, lança a rede para o outro lado.»
Quando então confiamos e nos entregamos à Sua vontade, a “pesca” acontece, o fruto é abundante e a vida permanece, porque servindo-se do nosso trabalho, da nossa vida entregue a Ele, o Senhor tudo pode e tudo faz, para que «tenhamos vida e vida em abundância», e essa mesma vida seja transmitida aos outros, pelo nosso testemunho.

sábado, 21 de abril de 2007

THINKING BLOGGER AWARD


Foi-me concedido este “prémio”, ou melhor, foi-nos concedido este “prémio”, (neste “foi-nos concedido”, envolvo todas/os os que aqui vêm, comentando ou não, pois são também construtores deste blogue), que nos foi dado pela bondade e amizade da Malu, d’ A Capela.
Tudo o que aqui escrevo, não é meu, mas de Alguém infinitamente maior do que eu que me inspira, e eu apenas sou pobre, muito pobre, pois não consigo transmitir tudo o que Ele faz na minha vida e diz ao meu coração.
Só tem sentido se serve aos outros, se é testemunho de Vida Nova, porque para encher o meu ego, infelizmente já tenho orgulho e vaidade que cheguem em mim.
E agora, como distinguir como me pede a Malu, 5 companheiras/os de caminho?
Fugindo, reconheço, ao que me é pedido e porque são tantos aqueles que percorro no dia a dia e me fazem pensar, meditar e até mudar, alguns muito próximos, outros mais longe, alguns muito de acordo com o que penso e vivo, outros nem tanto, mas porque todos, todos sem excepção me ajudam a construir a minha vivência diária da Fé no Pai, no Filho e no Espírito Santo, e a comungar em Igreja, com todos os que estão na Igreja ou fora dela, decidi nomear apenas um, que no fundo representa para mim todos os outros.
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E representa todos os outros, porque ali se encontra a exortação constante à imitação de Cristo, porque acolhe os pecadores, e não o pecado, acolhe os que estão “fora”, une os que estão “dentro”, exerce-se a liberdade de pensamento, mas vivesse a liberdade da obediência no amor, une-se no amor, comunga-se em Igreja.
Por isso mesmo digo que representa todos os outros, pois ali encontro um pouco de cada um. Tem sido uma fonte de meditação, de “incómodo”, de procura, de revisão de vida, de chamamento a um maior aprofundamento da Fé, da Doutrina, da vivência diária no mundo, testemunhando a Vida Nova em Cristo Ressuscitado.
Encontro o que penso, e o que me faz pensar, encontro o que vivo, e o que devia viver, encontro o que conheço, e o que preciso conhecer melhor.
O Thiago, seu autor, exerce a liberdade de pensamento, de vivência da Fé de uma maneira que me tem tocado, pois não deixando de apresentar aquilo que pensa e em que muitas vezes é critico da vivência da Fé “acomodada “, não deixa de afirmar o seu amor, a sua entrega à Fé, à Doutrina, à Igreja.
Nos seus escritos é revelada uma grande vontade de união, enquanto comunhão, mas sempre tendo em vista Aquele que nos criou e primeiro amou, e a Igreja que fundou entre nós e para nós.
A sua linguagem é acessível e não uma demonstração estéril de conhecimentos, de “palavras difíceis”, que por vezes apenas reflectem uma vontade de mostrar aos outros uma intelectualidade, que não toca, nem provoca vida.
Concordo sempre com ele? Não, nem sempre, mas mesmo naquilo em que não concordo, encontro sempre uma provocação à minha vida, à minha vivência, para saber mais, sobretudo para viver mais e melhor, o que quer dizer viver mais para os outros e com os outros, em Jesus Cristo.
Há muito que queria escrever sobre o Aliquando e foi-me dada agora essa oportunidade, que agradeço à Malu, flor de Pai, como lhe chamou o Andarilho no seu comentário.
Não sei se o Thiago, que não conheço pessoalmente vai ficar zangado comigo, mas o meu pai, (que se fosse vivo teria 108 anos), ensinou-me sempre que, para ele, uma das maiores virtudes, ou atitudes, era a gratidão, e eu estou grato ao Thiago por tudo o que me tem feito pensar e viver.
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Este “prémio” foi concedido A Capela, pelo Vou Ali e Já Venho, (já vinha de outros), e trazia com ele o pedido de indicação por cada contemplado, de outros 5 nomeados.
Peço desculpa mais uma vez, porque não o fiz, e deixo essa incumbência ao Aliquando, bem como a de colocar a imagem do "prémio" no seu blogue, se ele assim quiser aceitar.

quarta-feira, 11 de abril de 2007

CARTA ABERTA AO SENHOR PRESIDENTE DA REPÚBLICA

Exmo. Senhor Presidente da República

Li atentamente a mensagem que V. Exa. entendeu enviar à Assembleia da República, acompanhando a promulgação da chamada Lei do Aborto.
De tudo o que na mensagem se lê, é manifesto que V. Exa. entende que a Lei não serve os Portugueses, pois não acautela os direitos e deveres dos cidadãos Portugueses, não só os concebidos em gestação, mas também os seus progenitores, mulheres e homens.
E no entanto, V. Exa., promulga a lei baseado no facto de que a mesma foi aprovada na Assembleia da República por uma “ampla maioria”, pois se não li mal, é apenas essa a razão para V. Exa. a promulgar.
Mas V. Exa. não foi eleito para agradar a uma “ampla maioria”, mas para defender e salvaguardar em consciência os direitos e deveres dos Portugueses, de todos os Portugueses, e como muito bem sabemos, por tantas experiências já passadas, de que V. Exa. com certeza muito bem lembrará, nem sempre as “amplas maiorias” têm razão, e por isso mesmo o cargo do Presidente da República implica isso mesmo, o discernimento do que é bom para os Portugueses e não o que uma “ampla maioria” pensa e impõe.
Ora toda a argumentação utilizada por V. Exa. indica tudo aquilo que o comum cidadão sente e percebe:
Esta Lei não acautela os direitos dos que são concebidos em gestação, (e que por isso mesmo não se podem defender), não acautela os direitos e deveres das progenitoras, não acautela os direitos e deveres dos progenitores.
E no entanto V. Exa. promulga a Lei, indo contra os seus princípios, que estão bem expressos na sua mensagem, indo contra os princípios que sempre nortearam o povo Português.
Mas mandou V. Exa. uma mensagem!
Desculpe-me Senhor Presidente da República, com todo o respeito pelo alto cargo que V. Exa. desempenha e pela sua pessoa, mas apenas me faz lembrar o episódio que ainda agora nos foi recordado na Semana Santa:
Também Pilatos, embora convencido da inocência dO que queriam condenar, apenas se limitou a afirmar que O considerava inocente e depois lavou as mãos.
Sabe V. Exa., tão bem ou melhor do que eu, que tal mensagem não surtirá qualquer efeito junto daqueles que se encarniçam em levar avante a sua luta, muito mais politica, do que humanitária, se é que se pode apelidar de humanitária uma causa que defende o aborto.
Ao que sei, (não sou jurista), V. Exa. tinha o poder de veto nas suas mãos, devolvendo a Lei à Assembleia da República, com a referida mensagem, “exigindo” que fossem introduzidas as alterações necessárias e suficientes para preservar a vida de todos os envolvidos, os concebidos em gestação e os seus progenitores.
Se a tal “ampla maioria” quisesse manter assim a Lei, teria de a fazer votar por dois terços dos deputados da Assembleia da República e aí sim, V. Exa., teria desempenhado as suas funções até ao limite e não lhe restava então outra alternativa que não a promulgação da Lei, a não ser que quisesse proceder de acordo com a Fé, com a Doutrina, que se afirma professar.
Creia Senhor Presidente, que ao ter de ceder a essa maioria, tal não seria visto como uma “fraqueza”, mas receberia dos Portugueses compreensão por alguém que tinha lutado pelas suas convicções, convicções que reflectiam o pensar, sem margem para dúvidas da maioria dos Portugueses, muitos deles que votaram sim no referendo na convicção de que, o que V. Exa. advoga na sua mensagem, seria considerado na Lei.
Tal, como afirmo adiante, não tornava a Lei legitima, mas esgotava do ponto de vista do cargo que V. Exa. exerce, todas as possibilidades de fazer valer alguma consideração pelos valores humanitários que devem estar sempre presentes na governação de uma Nação.
Mas para além destas razões, V. Exa., (no meu entender), feriu gravemente a Fé, a Doutrina, que diz professar.
Com efeito, ao dar o seu aval, (é disto que se trata), a uma Lei que vai contra a Palavra de Deus, que vai contra a Doutrina da Igreja Católica, V. Exa., com toda a consideração e respeito que me merece, não deu verdadeiro testemunho da Fé que pretende viver e colocou-se em desacordo com a Igreja Católica em que diz comungar.
É que, Senhor Presidente, o seu compromisso como Cristão e Católico é primeiramente com Deus e por Este com os homens, e não o contrário.
Para um Cristão Católico, não é admissível nenhum compromisso que viole a Palavra de Deus.
Por Ela muitos morreram no passado e ainda morrem hoje. Por Ela muitos são perseguidos ainda nos nossos dias. Por Ela muitos abdicam de uma vida cheia de mundo, para viverem uma vida cheia de Deus.
E todos eles são recordados para sempre, como V. Exa. também seria, se tivesse procedido de acordo com o imperativo da Fé, da Doutrina.
Pessoalmente, sinto-me profundamente desiludido com e por alguém que tinha aprendido a respeitar pela força das suas convicções e também por isso mesmo e por “arrasto” com a governação deste País, cada vez mais afastada dos valores da humanidade, cada vez mais afastada das pessoas, cada vez mais afastada do sentir dos Portugueses.
Perdoe-me Senhor Presidente se em algum ponto desta carta sou injusto ou ofensivo, pois não era e não é essa a minha intenção.
Com os meus respeitosos cumprimentos
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domingo, 8 de abril de 2007

RESSUSCITOU !

O dia nascera calmo e sereno.
Sentia-se no ar uma brisa leve e suave que ao passar de mansinho colocava tudo em movimento, as folhas, as flores, o pó das estradas, a erva, os cabelos das pessoas que passeavam, podia afirmar-se até que era uma brisa semelhante a um sopro de vida, que tudo o que tocava, fazia viver.
Parecia que da terra ou do céu, um odor penetrante, mas macio, inundava a atmosfera e perfumava tudo o que existia.
Os animais, as plantas, as águas, as montanhas, as nuvens, toda a natureza e os seres humanos, pareciam sorrisos abertos, fontes de vida inesgotáveis, oásis de esperança, mares de tranquilidade.
Pairava no ar realmente, uma atmosfera de coisa nova, de alegria, de paz, de espectativa, de existência de vida.
De repente e enchendo todo o universo, todas as partes sem excepção, toda a existência, chegou com um fragor imenso, mas calmo e sereno, o Anúncio, como um grito de paz e verdade:
Ressuscitou o Senhor, Ressuscitou!!!
Quedou-se muda de espanto a criação, para logo em seguida, baixando a cabeça e abrindo o sorriso, gritar também dentro de si mesma e para fora:
Ressuscitou o Senhor, Ressuscitou!!!
Ah, que verdade imensa, que mistério de vida, o proscrito, o condenado, o humilhado, o desprezado, o derrotado, o já esquecido, ressuscitara, vencera a morte, vivia novamente para sempre na glória que tudo vencia.
Ah, que derrota profunda, para aquele que convencido que vencera, de cabeça baixa, percebia agora que a sua luta apenas se podia dedicar à criação.
Ah, que ódio amargo vivia naquele que só queria destruir, mas agora sabia que o Ressuscitado, estava com aqueles que criara, para sempre.
A Carne e o Sangue unidos na vida e oferecidos para sempre, gritavam glória ao Senhor que vencera a morte, ao Senhor do Céu e da terra, ao que veio para salvar, entregando-Se em obediência.
Tudo era novo, nada era como dantes:
Os que tinham esperado, subiam agora à visão eterna, os que esperavam, vestiam-se de esperança, os que haviam de esperar, iam nascendo na certeza da Promessa.
Como era bom e grande o mundo, abençoado pela vida de Quem derrotara a morte.
A Palavra permanecia, era proclamada todos os dias, guardada nos corações, era a esperança da vida, depois da vida acabada.
Que certeza tão profunda habitava em todos nós:
Que todos os dias Ele se entregava, que todos os dias Ele morria, que todos os dias Ele ressuscitava, que todos os dias Ele para sempre nos salvava.
Oh, que profundo e infinito amor, do Deus que tudo criou, por nós Se entregou e para nós ressuscitava.
Oh, que infinita misericórdia, do Deus tão ofendido, que com um sorriso nos abençoava.
Oh, que infinita bondade, do Deus tão abandonado, que até uma Mãe nos dava.
Oh, que infinita fidelidade, do Deus todos os dias traído, que nunca nos abandonava.
Oh, que infinita esperança, em Deus dono do tempo, que em todo o tempo para sempre, dia a dia nos acompanhava.
Oh, que alegria suprema, que gozo eterno e constante, que fogo sempre a arder, na certeza de saber, que tendo ressuscitado, subido aos Céus e vencido, Jesus Cristo é para sempre, ontem, hoje e amanhã, com o Pai e o Espírito Santo, o nosso Deus Vivo e Verdadeiro.

quinta-feira, 5 de abril de 2007

UM DE NÓS

Ali estava ele, no meio daquela multidão enfurecida, que aos berros, insistia na morte dAquele Homem. Não conseguia entender nada do que se passava!
Tinha ouvido as perguntas que o Governador romano tinha feito e as respostas dAquele Homem a quem chamavam Jesus.
Já antes tinha presenciado uma espécie de tribunal dos sumo sacerdotes, e de tudo o que tinha visto e ouvido apenas chegava à conclusão que Aquele era um Homem bom, justo, que tinha feito coisas admiráveis pelo seu semelhante e no Qual residia a paz e a tranquilidade do inocente.
Entendia até porque é que Ele não se defendia das acusações que Lhe faziam. Realmente dissesse Ele o que dissesse tudo parecia estar combinado, tudo parecia estar arranjado há muito tempo, para que o desfecho de tudo aquilo fosse a Sua morte.
Queria ir-se embora, não queria estar ali, não queria fazer parte de toda aquela farsa cruel, mas mais do que a curiosidade, mais do que querer confirmar como tudo ia acabar, havia qualquer coisa que o prendia Àquele Homem, qualquer coisa no seu coração o fazia sentir que a sua vida, de alguma maneira, Lhe estava ligada.
Decidiu ficar e foi assistindo ao cortejo de horrores, que se foram seguindo.
Flagelaram Aquele Homem, como ele nunca tinha visto fazer a ninguém e ele bem reconhecia que os tempos em que vivia, eram tempos bárbaros e cruéis, sobretudo depois da ocupação romana. Humilharam, cuspiram, troçaram, fizeram pouco dAquele Homem, sem ele conseguir entender minimamente porquê. A multidão parecia louca, parecia que algo ou alguém tinha instilado naquela gente um ódio incompreensível para com Aquele Homem chamado Jesus.
O mais estranho é que uns dias antes, aqueles que agora gritavam, crucifica-O e outras barbaridades, Lhe tinham dado vivas e hossanas, quando entrou em Jerusalém.
Carregavam agora sobre os Seus ombros uma pesada cruz de madeira, e ele pensou: Como podia Aquele Homem, depois de já ter perdido tanto sangue, depois de ter sido tão magoado, ferido e mal tratado, conseguir carregar aquela cruz pelo Calvário acima.
Por um momento deu por si a pensar que era um cobarde, porque verdadeiramente o que ele devia fazer era ir ajudar Aquele Homem, era pôr fim aquela barbárie, mas rapidamente se convenceu, que sozinho nada podia e também valha a verdade, era mais fácil nada fazer, até porque o medo era muito.
Decidiu aproximar-se para ver mais de perto, não por curiosidade mórbida, mas porque alguma coisa o impelia ao encontro dAquele Jesus. Queria olhá-Lo nos olhos, queria ter a certeza da Sua inocência, queria acreditar que nAquele Homem residia algo muito superior a todos, sobretudo àqueles que Lhe faziam tanto mal.
De repente Jesus caiu! Ele teve um sobressalto e sem pensar, tentou aproximar-se, mas os soldados não o deixaram.
Num relance Jesus levantou a cabeça e olhou para ele, directamente nos seus olhos.
Foi inundado por algo que não conseguia descrever! O olhar de uma doçura extrema, de uma ternura infinita, era o olhar de um inocente, o olhar de Alguém que Se entregava para o bem dos outros.
Não conseguia entender, tanto mais, que aquele olhar dizia ao seu coração: «Eu conheço-te, amo-te e é também por ti que me entrego».
Toda a sua vida lhe passou na mente, num relance rápido, e ele percebeu que tudo mudava, que nada mais seria como antes. Já não podia afastar-se dAquele Homem, porque no seu intimo ele sabia que Jesus não fazia parte da sua vida, Ele era a sua vida.
Continuou a segui-Lo e uma pequena ponta de inveja aflorou ao seu coração, quando viu que os soldados tinham chamado um homem para ajudar Jesus a carregar a Sua Cruz. Queria tanto ter sido ele, mas não tinha coragem para o dizer, quanto mais fazer. Aliás, algo lhe dizia que aquela Cruz em parte lhe pertencia.
Continuaram a caminhada e viu aproximarem-se de Jesus umas mulheres. Uma delas era lindíssima e irradiava uma paz imensa.
À sua volta ouviu sussurrar: «É a Mãe dEle». A serenidade, a paz, a aceitação daquela Mulher, perante o que estavam a fazer ao seu Filho, tocou-lhe profundamente o coração. Tinha de A conhecer.
Chegaram, por fim, ao cimo do monte.
Deitado sobre a Cruz, Jesus ia deixando, com uma aceitação incompreensível, que Lhe perfurassem as mãos e os pés, com grossos cravos, que O fixaram ao Madeiro. Cada martelada era uma chamada de atenção à sua vergonha, à sua cobardia.
Elevaram-No então, colocando a Cruz na vertical.
Ao olhar aos pés da Cruz, o mais perto que lhe era possível, não conseguia distinguir onde acabava a Cruz e começava o Céu. Parecia-lhe, não só à vista, mas também ao coração, que aquela Cruz unia para sempre a terra ao Céu.
Ouviu então a voz de Jesus que dizia qualquer coisa Àquela que diziam ser Sua Mãe e também a um jovem que estava ao pé dEla, aos pés da Cruz. Apenas pode distinguir as palavras, filho e mãe, mas nasceu dentro dele uma vontade imensa de correr para Ela, chamar-Lhe Mãe e dizer-Lhe: Também quero ser Teu filho.
De repente tudo escureceu, Jesus deixou cair a cabeça e morreu.
Parecia-lhe que o tempo tinha parado, mas em vez de ficar desesperado, triste, uma estranha paz, uma profunda calma, invadiu o seu ser.
No seu coração instalou-se uma certeza. Nada acaba aqui! Nesta morte vou encontrar a vida, pois ainda hei-de ver Jesus vivo!
Para que tudo se torne verdade na minha vida, pensou ele, tenho de conhecer melhor Jesus e saber o que Ele quer de mim e para mim.
Começou então a dirigir-se para Aquela Mãe, que também já sentia como sua, porque acreditou firmemente que ninguém lhe poderia dar a conhecer melhor, ninguém o poderia guiar melhor, ninguém o poderia ensinar melhor a seguir Aquele Homem chamado Jesus.
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Para meditação até à Páscoa, Dia da Ressurreição, deixo este texto que escrevi em Março de 2005.
Santa e Feliz Páscoa para todos, com um abraço em Cristo.

CAMINHO QUARESMAL

Semana Santa – Entrega de vida ao meu Senhor e meu Deus.
40º Dia – Último dia desta caminhada quaresmal.
«Mas o outro, tomando a palavra, repreendeu-o: «Nem sequer temes a Deus, tu que sofres o mesmo suplício? Quanto a nós, fez-se justiça, pois recebemos o castigo que as nossas acções mereciam; mas Ele nada praticou de condenável.» E acrescentou: «Jesus, lembra-te de mim, quando estiveres no teu Reino
Lc 23, 40-42

quarta-feira, 4 de abril de 2007

CAMINHO QUARESMAL

Semana Santa – Entrega de vida ao meu Senhor e meu Deus.
39º Dia
Hoje Senhor, é o penúltimo dia desta caminhada quaresmal, e nele quero entregar-Te a minha vida.
O meu passado, desde o ventre de minha mãe, tudo o que ele foi de bom e de mau, porque sei Senhor, que mesmo vivendo muito tempo afastado de Ti, Tu nunca Te afastaste de mim.
O meu presente, com tudo aquilo que nele colocas, com tudo aquilo que nele permites, porque o quero viver em comunhão conTigo e em Ti, nas irmãs e irmãos que vais fazendo cruzar na vida que me dás.
O meu futuro, que quero apenas seja Teu, que seja expressão da Tua vontade para mim e em mim, enquanto Tu me quiseres aqui neste mundo, Senhor.

terça-feira, 3 de abril de 2007

CAMINHO QUARESMAL

Semana Santa – Entrega de vida ao meu Senhor e meu Deus.
38º Dia
Como queres amar os outros se ainda não te amas a ti próprio? Ama o teu passado, o teu presente, o teu futuro, os teus defeitos e as tuas qualidades, a tua face, o teu corpo, as tuas emoções. Ama-te por inteiro, como obra extraordinária de Deus, porque se não te queres amar como obra linda de Deus, como queres amar a obra linda de Deus, que são os outros?

segunda-feira, 2 de abril de 2007

CAMINHO QUARESMAL

Semana Santa – Entrega de vida ao meu Senhor e meu Deus.
37º Dia
Como queres ser comunhão com e em Cristo, se ainda não perdoaste a quem te ofendeu, se ainda não pediste perdão a quem ofendeste?

domingo, 1 de abril de 2007

CAMINHO QUARESMAL

Semana Santa – Entrega de vida ao meu Senhor e meu Deus.
36º Dia
Entendo que ser baptizado é mais do que a Eucaristia Dominical, a Confissão anual, a Comunhão esporádica, ou seja, que pelo Baptismo me torno discípulo de Jesus Cristo, aceito e cumpro a missão de proclamar a Palavra, ser testemunha do Evangelho, chamar novos discípulos, numa entrega da
minha vida?