quinta-feira, 24 de junho de 2010

NAQUELE TEMPO, NESTE TEMPO

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“Naquele tempo”, escreveram assim os evangelistas que nos deram a conhecer os passos de Jesus Cristo, quando, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem, esteve entre nós ensinando e revelando o Deus de amor que nos criou, seguido por multidões que avidamente O escutavam.

“Neste tempo” poderia escrever alguém, sobre este tempo em que Jesus Cristo entre nós, não visível aos olhos humanos, mas presente na vida e no coração de cada um, nos interpela, nos chama, nos quer continuar a ensinar e a guiar no caminho da salvação.

E “neste tempo”, talvez seja assim!

«Pára um pouco, homem, quero-te falar do mundo que criei para ti e para todos.»
Desculpa, não tenho tempo! Estou muito ocupado com o meu trabalho, ajudando a construir o mundo e retirando dele todas as coisas de que necessito para a minha vida.
«Mas repara, não é melhor parares um pouco para reflectires sobre o que vais fazendo no mundo e ao mundo? É que sabes, ele não me parece melhor e mais harmonioso!»
Não há problema, temos agora que retirar do mundo tudo o que precisamos, mesmo que seja em excesso, e depois logo se vê! Os que vierem ainda terão muito com certeza. E o mundo tem tanto para dar!

«Deixa-me então falar-te da vida, do sentido da vida, da vida que Eu te dou.»
Agora não, estou muito ocupado em gerir a minha vida à minha vontade.
E depois ando também muito empenhado em criar a vida, porque não duvides, nós homens também somos capazes de criar vida!
«Mas e a alma, também consegues criar a alma?»
O que é isso de alma? É algo que se possa ver com os nossos olhos ou tocar com as nossas mãos?
Se não é, não existe, não interessa, não tem sentido porque não pode ser experimentado e provado.
«Não te entendo, homem, dei-te a vida, tu dizes-me que queres e podes criar vida e no entanto fazes leis e mais leis para destruir a vida!»

«Pelo menos, deixa-me falar-te do amor.»
Do amor? O amor é coisa passageira! Experimenta-se, e se dá resultado tudo bem, se não parte-se para outra!
«Mas ouve, espera, o amor não é uma experiência. É antes um doar-se, um dar-se a conhecer, um partilhar e viver as coisas boas e as coisas más, num projecto de vida em comum, que Eu abençôo.»
Doar-se, dar-se a conhecer, partilhar? Nem pensar. Era o que mais faltava! Isso era colocar-me à disposição do outro e ficar dependente dele. Nem pensar. O que é preciso é retirar duma relação tudo o que me interessa, e quando estiver esgotada, arranja-se outra. E o outro se quiser que faça a mesma coisa!
«Mas, homem, isso não é amor, é individualismo e egoísmo! Então e a ajuda aos outros, o amor pelos outros, aqueles que mais precisam?»
Para isso também não tenho tempo, mas de vez em quando lá dou umas moedas a algum pedinte e já faço muito!
Isto é como todas as coisas, uns nasceram do lado certo e outros do lado errado, o que se há-de fazer!
Eu não tenho culpa nenhuma que assim seja, e o que tenho custou-me muito a ganhar, é meu! Uns têm e outros não, é a vida!

«Então e Deus?»
O que é que tem Deus? Deus está lá e nós estamos cá, se é que Ele existe.
Ele trata das coisas d’Ele e nós das nossas! Agora é assim, separação total, cada um sabe de si, e depois elegemos uns de nós que tratam de tudo o que é preciso. Não precisamos que Deus interfira nas coisas dos homens.
E já Te dei muito tempo afinal, por isso vou-me embora que tenho mais que fazer!

E enquanto se afastava de Deus, o homem ia ouvindo no seu coração:
«Em verdade, em verdade te digo, mesmo que te afastes de Mim, mesmo que não me queiras, Eu amar-te-ei sempre com amor eterno, e estarei sempre à tua espera para te receber e acolher. É que sabes, sem Mim, sem o amor que Eu sou, a tua vida não tem sentido.»


Monte Real, 24 de Junho de 2010
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sexta-feira, 18 de junho de 2010

ESTRANHAMENTE SÓ!

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A Igreja Católica em Portugal não se irá intrometer nas eleições presidenciais de 2011, disse esta tarde o Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, D. Jorge Ortiga.
Em declarações aos jornalistas no final da Assembleia Plenária Extraordinária da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), D. Jorge Ortiga recordou que tem sido essa a atitude da Igreja Católica em Portugal: não se intrometer “o mínimo que seja” em qualquer questão de índole política.
“Não nos intrometemos até agora e não nos intrometeremos nesta questão”, afirmou.
Para o Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, o trabalho da Igreja Católica é “formar as consciências” para, depois, cada cidadão optar no momento do voto.
Questionado sobre campanhas em curso, até com propostas de homilias, incentivando ao envolvimento da Igreja Católica nas eleições presidenciais de 2011, D. Jorge Ortiga disse que são iniciativas de alguns católicos, no direito que têm de se manifestarem.
“O facto de alguns católicos se unirem para manifestar algum tipo desejo, isso é uma questão pessoal e um direito que se lhes assiste”, referiu.
O Presidente da Conferência Episcopal frisou, no entanto, que “não gostaria de ver o nome de ‘católico’ envolvido nestas coisas”.
Para D. Jorge Ortiga, campanhas que possam estar em curso são de iniciativa individual e não correspondem a “uma atitude da Igreja em Portugal”.

Agência Ecclesia – 17.06.10



Depois de ler esta notícia da Ecclesia sinto-me estranhamente só!
Não me sinto apenas estranhamente só, sinto-me também um anónimo, sem identificação, sem referências!

Sinto-me só, porque a minha Igreja me diz pela voz de um seu pastor que, se eu quiser colocar em prática e viver os ensinamentos do cristianismo na minha vida interior e em sociedade, tentando ajudar a construir um mundo à luz do ensinamento de Jesus Cristo, a minha Igreja não me acompanha, porque não se “intromete nessas questões”!

Julgava eu ainda, que uma das especificidades do cristianismo e da sua prática, era a comunhão em Cristo, por Cristo e com Cristo, em Igreja, no testemunho e na vivência dos valores do homem enquanto criado por Deus e para Deus, na construção dum mundo novo querido por Deus, mas afinal é-me dito que a manifestação desse desejo “é uma questão pessoal e (apenas) um direito que me assiste”!

Aliás estou tão só, que se me envolver numa campanha dessas, faço-o apenas como “iniciativa pessoal”, pois a Igreja a que pertenço afirma, pela voz desse pastor, que tal iniciativa não é “uma atitude da Igreja em Portugal”.

Mas “sinto-me” também anónimo, sem identificação, sem referências porque esse mesmo pastor “não gostaria de ver o nome de ‘católico’ envolvido nestas coisas”, o que quer dizer, que se me envolver “nessas coisas”, não poderei referenciar-me como católico, e por isso mesmo como cristão, mas apenas como um cidadão sem Deus, sem Fé.

Sim, eu sei que estou a exagerar nas considerações que faço, mas não deveria haver muito mais cuidado nas coisas que se dizem, e sobretudo não deveria haver uma reflexão bem mais profunda sobre o papel da Igreja na sociedade portuguesa?

Claro que isto não diminui em nada a minha comunhão e o meu amor pela Igreja, que é uma das matrizes imprescindíveis na minha vida.


Monte Real, 18 de Junho de 2010
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quarta-feira, 9 de junho de 2010

QUE CAJADO É ESTE, SENHOR?

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Que cajado é este,
Senhor,
que Tu me dás para caminhar?
Ampara-me quando caio,
e ajuda-me a levantar.
Mas não torna o caminho mais fácil,
não endireita as curvas,
não afasta as pedras,
não remove os obstáculos,
nem aplana as subidas,
mas torna muito mais fácil,
seguir a direito e curvar,
caminhar sobre as pedras,
sem sequer me magoar,
ultrapassar os obstáculos,
sem neles ficar retido,
escalar o monte mais íngreme,
com vontade de continuar.
E mesmo que esteja ferido,
porque alguém me quis ferir,
o Teu cajado conforta,
cura e faz sarar,
dá ânimo e nova força,
para que a alegria retorne,
e eu volte de novo a sorrir.
Que cajado é este,
Senhor,
que Tu me dás para caminhar?
Coloca-lo na minha mão,
mas dizes muito baixinho,
cheio de ternura e carinho:
«olha que este cajado,
que te dou para toda a vida,
pode estar na tua mão,
mas é extensão do coração.»
Agarro-me a ele com força,
sem ele já não sei viver,
faz parte de mim,
do meu todo,
só com ele eu posso ser.
É ele que me dá sentido,
ao caminho a percorrer,
é ele que faz em mim,
tudo o que eu não sei fazer,
é ele que me transforma,
numa vontade que é Tua,
é ele que me faz falar,
de Ti,
aos outros,
a todos,
na rua.
Que cajado é este,
Senhor
que Tu me dás para caminhar?
Um cajado que não tem fim,
que não se esgota no uso,
e não se esgota no tempo,
que pode ser frio e calor,
quer de noite, quer de dia,
a dormir ou acordado,
que transmite confiança,
e faz viver a esperança,
de saber que o tenho comigo,
sempre que eu quiser.
Que cajado é este,
Senhor,
que Tu me dás para caminhar?
Este cajado tão forte,
tão eterno e tão presente,
sei-o agora,
Senhor
porque Tu mo queres mostrar.
Vem do Teu Coração,
como fonte a jorrar!
Este cajado,
Senhor,
que a mim e a todos dás,
é a vida,
é a paz,
é o Teu eterno Amor.


Monte Real, 9 de Junho de 2010
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Um blogue que recomendo vivamente!
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quinta-feira, 3 de junho de 2010

SANTÍSSIMO CORPO E SANGUE DE CRISTO

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Fico-me assim, espantado, olhando para aquele “pedaço de Pão”, imaculado, o coração aberto, mais do que a boca escancarada.

És Tu que ali estás Senhor, mas não Te vejo com os olhos do corpo, (impedidos de Te verem), mas com o amor do coração, (que Tu lá colocaste, Senhor).

Quero ver-Te, Senhor, quero acreditar-Te, Senhor, quero adorar-Te, Senhor, mas pobre humanidade minha que me quer negar o que o espírito me diz: Tu estás ali, Senhor, vivo e presente, todo entregue, todo amor!

Deixo-me seduzir por Ti, abrem-se os meus olhos á «fracção do Pão», e o espírito vai-se fazendo, (por Tua graça), um com o corpo, e assim já é toda a minha humanidade que Te vê, que Te acredita, que Te adora.

Digo baixinho, para dentro de mim, «eu não sou digno», mas Tu respondes-me firme no amor, «és digno sim, porque sou Eu quem te dá a dignidade»!

Como posso eu, Senhor, não aceitar essa dignidade que Tu me dás para Te poder receber e seres o meu alimento de vida?

Retorno á minha frase inicial, Senhor, para perceber que para Te receber é muito mais preciso o coração aberto do que a boca escancarada!

E Tu vais guiando e dizendo ao meu pobre coração admirado: «Abre-te coração, mas para Te abrires a Mim, tens de te abrir a todos».

Que Mistério, que loucura, Aquele que é Deus, faz-se «pedaço de Pão», entrega-se como alimento e vai dizendo a cada um: «Não Me podes receber, se não receberes os outros!»

Assim tão simples, tão humilde, a colocares-Te tão igual a cada um, a fazeres-Te tão presença em cada um, porque «queres ser Um em todos, para que todos sejam um em Ti».

Queres assim, Senhor, que cada um seja sacramento para os outros, porque o Sacramento é a Tua presença viva no meio de nós.

Fico-me assim, Senhor, exaltado em adoração, perante o Teu Mistério e peço-Te humildemente: «Fica connosco, pois a noite vai caindo e o dia já está no ocaso.» Lc 24, 29



Marinha Grande, 3 de Junho de 2010

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