terça-feira, 23 de janeiro de 2024

A LIBERDADE DE DEUS

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“Depois do fracasso dos primeiros pais o mundo inteiro está às escuras sob o domínio da morte. Então Deus procura entrar de novo no mundo; bate à porta de Maria. Tem necessidade do concurso da liberdade humana: não pode remir o homem, criado livre, sem um «sim» livre à sua vontade.

Ao criar a liberdade, de certo modo Deus tornou-se dependente do homem o seu poder está ligado ao «sim» não forçado de uma pessoa humana.”

(Jesus de Nazaré – A infância de Jesus – Joseph Ratzinger – Bento XVI)


O Papa Bento XVI, no seu livro acima referido, falando do «sim» de Maria, escreve esta frase que me chamou a atenção e me fez reflectir: “Ao criar a liberdade, de certo modo Deus tornou-se dependente do homem o seu poder está ligado ao «sim» não forçado de uma pessoa humana.”

Esta frase dirige-se ao «sim» de Maria, mas, penso eu, pode e deve dirigir-se também ao nosso «sim».

Com efeito e, se bem entendo, a liberdade que Deus a todos dá, de alguma forma “condiciona” a acção de Deus em nós, isto é, sem o nosso «sim», mesmo que seja um silencioso e tímido «sim», Deus “não pode” salvar-nos.

Pode e ama-nos incondicionalmente, claro, mas o Seu amor só se torna vida em nós perante o nosso «sim», o nosso querer viver do e no Seu amor.

E sim, a misericórdia de Deus é infinita, o Seu amor e o Seu perdão, são sempre maiores do que o nosso pecado, mas para que a Sua misericórdia, o Seu amor e o Seu perdão sejam vida em nós, Deus, perante a liberdade que nos deu, “precisa” do nosso «sim».

Por isso o maior pecado, aquele que não é perdoado, é o pecado contra o Espírito Santo, porque é o Espírito Santo que nos revela a imensidade e infinitude do amor de Deus, do Seu perdão, da Sua misericórdia, e se recusamos deliberadamente o amor, a misericórdia e o perdão de Deus, então estamos a “impedi-lO” de nos salvar de nós próprios.

Curiosamente, ou talvez não, o Evangelho de hoje tem o seguinte versículo: «Quem fizer a vontade de Deus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe». (Mc 3, 35)

E fazer a vontade de Deus é, sem dúvida, na inteira liberdade que Ele nos deu, dizer «sim» ao Seu amor, à Sua misericórdia, ao Seu perdão, enfim, à Sua vontade que é salvar todos e cada um.





Marinha Grande, 23 de Janeiro de 2024
Joaquim Mexia Alves

terça-feira, 16 de janeiro de 2024

POR VEZES O SILÊNCIO FALA!

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Numa recente deslocação a Lisboa para falar sobre o Percurso Alpha numa Assembleia Diocesana do Renovamento Carismático Católico, tive a oportunidade de ouvir o ensinamento feito por um sacerdote, no qual ele citou uma frase que tinha ouvido ou lido em francês, e que era mais ou menos assim: “Não fales tanto de Deus se não te pedirem, mas vive de tal modo que to peçam.”

Fiquei com a frase no meu coração e no meu pensamento e já me servir dela duas ou três vezes em que fui chamado a falar sobre a minha vivência da fé.

Com efeito algumas vezes com a ânsia de falar de Deus, (com um certo proselitismo, talvez), acabamos por incomodar, por invadir o espaço dos outros, e as nossas palavras acabam por ter o efeito contrário ao que pretendíamos.

São Paulo avisa-nos para isso mesmo, julgo eu, quando nos diz: «Procedei com sabedoria para com os que estão fora, aproveitando as ocasiões. Que a vossa palavra seja sempre amável, temperada de sal, para que saibais responder a cada um como deveis» Cl 4, 5-6

Regressando à frase que refiro acima, quero perceber que, se realmente vivermos em Cristo, para Cristo e com Cristo, isso será notório na nossa vida e, com certeza, levará outros que assim não vivem a questionar-nos, e mesmo que não seja com perguntas específicas sobre Deus, pelo menos o porquê de assim querermos viver.

Ora essas perguntas, dúvidas, ou até sarcasmos, serão a meu ver, o “aproveitar as ocasiões”, de que nos fala São Paulo, nos versículos acima referidos.

Então já não será uma espécie de “intrusão” na privacidade de outros, mas a resposta às suas perguntas, dúvidas ou qualquer outro tipo de intervenção que nos queiram dirigir.

E isso acontecerá porque afinal vivemos de tal modo a fé que nos move e faz viver, que outros nos pedem para falar do que vivemos.

Se assim vivermos e fizermos, estaremos a entregar-nos ao Espírito Santo, para que seja Ele a colocar as palavras em nós, e não seja a nossa pretensa sabedoria a falar, por vezes, infelizmente, apenas porque nos querermos mostrar.

Ou seja, afinal se vivermos verdadeiramente a fé que nos anima, estaremos sempre a falar silenciosamente com o nosso testemunho de vida, para depois, se para tal formos chamados, colocarmos em palavras a fé que nos move e faz viver.






Monte Real, 16 de Janeiro de 2024
Joaquim Mexia Alves

quarta-feira, 10 de janeiro de 2024

O “PAI DA MENTIRA”

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«Que tens Tu a ver connosco, Jesus Nazareno? Vieste para nos perder? Sei quem Tu és: o Santo de Deus». Mc 1, 24

Ao ler o Evangelho de hoje, (9 de Janeiro), foi-me despertada a atenção para este versículo.

Não sou “obcecado” pelo diabo, antes pelo contrário, julgo que lhe dou a devida importância, mas tendo sempre em mim a certeza de que ele já foi vencido por Cristo e, como tal, devo estar sempre em comunhão com Cristo, estando sempre vigilante, deixando-me guiar pelo Espírito Santo, que sempre me dá e dará a força e sensatez necessária para resistir ao mal, assim eu queira.

Mas este versículo ficou no meu coração e no meu pensamento por o sentir nestes momentos que vivemos no mundo, na sociedade, muito mais como uma pergunta feita pelo mundo, pela humanidade, que se deixa iludir por falsas promessas de bem e prosperidade pelo “pai da mentira” que a todos quer perder e, portanto, não quer ser “incomodada” com a Verdade.

As guerras sucedem-se, o aborto é um genocídio de milhões de vidas inocentes, a confusão dos ditos géneros humanos, a desigualdade entre os homens social e materialmente, a falta de valores, enfim, todo um mundo de coisas e atitudes que tornam o Homem cada vez mais frágil e preso das garras do inimigo.

E por isso esta pergunta faz todo o sentido na visão do mal, do “pai da mentira”, pois ele sabe bem que só em Cristo, por Cristo e com Cristo a humanidade pode encontrar o caminho da salvação e da felicidade.

Por isso e cada vez mais a Igreja precisa de ser unida, precisa de se deixar guiar pelo Espírito Santo e não “dar ouvidos” ao “pai da mentira”, porque só uma Igreja unida no amor de Deus pode conduzir a humanidade ao encontro de e com Deus.

O “pai da mentira” sabe bem que já foi vencido, mas por isso mesmo continua a fazer esta pergunta e nós devemos “responder-lhe” com as nossas orações, com a nossa vivência diária da fé, na Eucaristia e nos Sacramentos, com a nossa contínua vigilância, com a nossa persistência, com a nossa entrega uns aos outros no amor de Deus que nos une em Igreja.

E se assim fizermos também saberemos que a resposta de Jesus será: «Jesus repreendeu-o, dizendo: «Cala-te e sai desse homem».» Mc 1, 25





Monte Real, 9 de Janeiro de 2023
Joaquim Mexia Alves

quinta-feira, 4 de janeiro de 2024

Celebração de Natal da Cúria Diocesana de Leiria-Fátima

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Ontem estive na celebração de Natal da Cúria Diocesana de Leiria-Fátima, no Seminário Diocesano de Leiria, que começou com a Eucaristia, celebrada pelo nosso Bispo D José Ornelas, a que se seguiu de um almoço, que reuniu com o nosso Bispo os sacerdotes e leigos que colaboram mais directamente com a Diocese de Leiria-Fátima.

Fui convidado para tal celebração por causa do trabalho que tenho feito com as pessoas que procuram junto do Tribunal Eclesiástico discernimento para eventuais processos de nulidade dos seus anteriores Matrimónios.
Fruto da minha experiência pessoal, decidi colocar ao serviço dos outros o pouco que sei, ajudando-os a perceber se existem razões para invocar a nulidade dos Matrimónios que celebraram em Igreja e que, infelizmente, pelas mais variadas razões, tiveram um fim.

Mas neste texto que agora escrevo não é desse assunto que quero falar, ou melhor, escrever, mas sim, de como é gratificante colocar as nossas experiências pessoais, os poucos ou muitos talentos que Deus nos dá, ao serviço dos outros em Igreja.

Poder-se-ia pensar que não há uma “gratificação” por esse trabalho, para além daquela que, obviamente, temos por servir a Deus em Igreja.

Mas a verdade é que sentir naqueles que ajudamos a alegria de etapas vencidas, sonhos conquistados, caminhos bem percorridos, e viver essas alegrias com eles, é gratificação maior do que qualquer outra que possamos ter.
A felicidade dos outros torna-nos felizes também.

E percebermos que o caminho que fizemos, e que por vezes foi tão difícil, às vezes até angustiante, com momentos em que, se calhar, nos deu vontade de desistir, afinal se converteu em experiências pessoais ricas, muito ricas, que colocadas ao serviço dos outros e dando resultados positivos, nos fazem viver a alegria que desponta nas suas vidas, porque assim foi a vontade de Deus.

É ajudar um pouco, permitam-me o exagero, a que a vontade de Deus se faça nas vidas daqueles que O procuram verdadeiramente, não para obterem apenas umas quaisquer benesses, mas para O viverem em verdade nas suas vidas.

O acolhimento que tentamos fazer com a maior boa vontade, (e às vezes é tão difícil ouvir histórias repetitivas e frustraçóes sentidas), sendo bom para aqueles que servimos em Igreja, é também uma cura enorme para as nossas impaciências, para as nossas atitudes, por vezes, de autoconvencimento, e assim podermos perceber que somos apenas servos inúteis, que fazemos o que nos é pedido e possível, porque é Ele que, afinal e sempre, faz tudo em todos.

Durante a homilia, o nosso Bispo lembrou-nos a história do galo que anunciava o nascer do sol, convencido que o sol nascia por causa do seu cantar, e que, por isso mesmo, começou a cantar quando muito bem lhe apetecia, até que o dono cansado de tanto cantar “fora de horas” acabou por fazer dele um cozinhado.

Também nós às vezes temos a tentação de pensar que Deus “aparece” porque O anunciamos, quando em verdade Deus existe desde sempre e sempre se faz presente, porque é sempre Deus, porque é sempre Amor, e nós apenas podemos e devemos testemunhá-lO e anunciá-lO com os poucos ou muitos talentos que Ele nos dá.

Por isso apenas nos devemos lembrar sempre das palavras de Jesus Cristo:
«Recebestes de graça, dai de graça.» Mt 10, 8






Marinha Grande, 4 de Janeiro de 2023
Joaquim Mexia Alves

segunda-feira, 1 de janeiro de 2024

MAIS UM NOVO ANO

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O ano de 2023 terminou, para mim, com a evocação de um Papa, Bento XVI, que teve grande influência na minha vida de fé, pois, para além de ter mudado muito em mim e na minha vivência diária cristã, “obrigou-me” a estudar, para melhor conhecer e crer em Deus, dando-me fundamentos, como raízes, para alicerçar a fé que em mim vivia e vive.

2024 começa agora com as minhas orações pelo "meu" Papa Francisco, “meu” porque todos os Papas eleitos pela Igreja são os “meus” Papas, e nem podia ser de outro modo.

Se alguém precisa das nossas orações, seguramente os Papas que o Espírito Santo nos dá em Igreja, delas necessitam, porque cada um deles, sendo homens como nós, estão sujeitos a tudo o que a nossa humanidade nos sujeita, e eles, como primeiros pastores, têm que ter sempre em si a graça maior de Deus para nos conduzirem, mostrando-nos o caminho que Deus quer dar à Igreja, segundo a Sua vontade.

O novo ano não é assim tão novo, mas apenas e só mais um ano e, como tal, nada nos traz de diferente, a não ser que nós queiramos ser diferentes, isto é, que queiramos amar a Deus, amando mais os outros do que a nós próprios.

E poderíamos perguntar porquê começar um novo ano falando dos Papas?

Bem, quando falo dos Papas falo da Igreja, e se falo da Igreja falo do Pai, do Filho e do Espírito Santo, falo de Deus.

À medida que os anos vão passando torna-se cada vez mais curto o tempo de O encontrar face à face, e poder apresentar-lhe a vida que vivi, e que, e ainda bem que assim é, Ele conhece bem melhor do que eu.

Espero e tenho a certeza que, no Seu amor e na Sua misericórdia, Ele julga a minha vida com muito mais bondade do que eu a julgo, e até me diz que tenho mais um ano, ou quantos Ele quiser, para me aproximar cada vez mais d’Ele, vivendo no e do Seu amor.

E é isso que eu desejo neste novo ano para mim e para todos, é que no amor do Pai, levados pelo Espírito Santo, sejamos cada vez mais unidos a Jesus Cristo, amando-nos uns aos outros como Ele nos ama em Igreja.

Bom Ano Novo para todos, cheio das bênçãos de Deus.





Marinha Grande, 1 de Janeiro de 2024
Joaquim Mexia Alves