quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

DIÁLOGOS COM O SENHOR DEUS (20)

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Então, meu filho, este ano está a acabar. O que Me queres dizer sobre ele?

Oh, Senhor, foi um ano complicado, com tantas coisas que não correram bem e sobretudo esta pandemia. Mas houve coisas muito boas, sem dúvida!

Então e nessas coisas que não correram tão bem, encontraste algo para a tua vida?

A pandemia, Senhor, fez-me reflectir na nossa fragilidade, na nossa pequenez!

Afinal um vírus, coisa tão ínfima, coloca em perigo a humanidade, o Homem, que se julga tantas vezes invencível.

Mas Eu estou sempre convosco, sabes bem!

Sim, Senhor, eu sei e acredito firmemente que sim.

E toda esta situação faz-me pensar, (e espero bem que os outros também assim pensem), em como na nossa sociedade, apesar de tantas promessas de solidariedade, afinal íamos/vamos ficando cada vez mais individualistas, egoístas, “frios” nos sentimentos, e com as distâncias obrigatórias da pandemia, percebemos agora como nos fazem falta os afectos, os abraços, os sorrisos, (agora tapados por máscaras), enfim, os toques de amor entre nós.

É verdade, meu filho, o homem só é feliz em comunidade, em comunhão de amor, coMigo e com os outros e por isso precisa sempre de gestos, atitudes e palavras.

Senhor, neste novo ano que vai começar, afasta de nós esta pandemia, mas sobretudo, afasta de nós o individualismo, o egoísmo, a indiferença, que tantas vezes fazemos sentir aos outros, principalmente àqueles que mais necessitam, quer materialmente, quer emocionalmente.

Para isso, meu filho, voltai-vos para Mim, e «tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração e encontrareis descanso para o vosso espírito. Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve.»* Enfim, meu filho, procurai em tudo fazer a Minha vontade.

Obrigado, Senhor, nas Tuas mãos entrego este novo ano, o meu e o de todos os homens.

 

Marinha Grande, 31 de Dezembro de 2020

Joaquim Mexia Alves

 

*Mt 11, 29-30

segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

O NATAL É SEMPRE QUE O HOMEM … O DEIXAR SER!!!

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Passado o Natal, (no entender de alguns), o presépio ainda lá continua, mas provavelmente passamos por ele e já nem o olhamos, quanto mais reflectirmos sobre ele, sobre o Nascimento do Salvador.

Parece que o deixamos sair do nosso coração, (onde devia ter nascido e continuar a nascer todos os dias), e partir para o Egipto, isto é, para um sítio onde não “incomode”, não nos “obrigue” a mudar nada.

Sabemos que lá está, mas não influi na nossa vida.

«E Jesus crescia em sabedoria, em estatura e em graça, diante de Deus e dos homens.» Lc 2, 52

E se o Nascimento de Jesus fosse também para cada um de nós ocasião para crescermos em “sabedoria”, conhecendo melhor as coisas de Deus, em “estatura”, da nossa fé, e em “graça”, lutando cada vez mais contra o pecado e vivendo mais e mais o amor?

«Depois desceu com eles, voltou para Nazaré e era-lhes submisso.» Lc 2, 51

Para isso será então necessário “descermos” do nosso eu, “voltarmos” a ser Igreja, e sermos submissos à vontade de Deus.

Então o Natal será sempre presente na nossa vida, o presépio será uma constante dos nossos dias, porque o Menino “regressará dos nossos egiptos” para morar entre nós, para morar em nós.

Então sim, o Natal será sempre que o Homem … o deixar ser Natal!

 


Marinha Grande, 28 de Dezembro de 2020

Joaquim Mexia Alves

quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

CONTO DE NATAL 2020

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Olhavam um para o outro com a tristeza nos olhos.

Como seria possível, com a situação de pandemia, juntar os seus dois filhos e as suas famílias no Natal, como sempre faziam todos os anos.

Vivendo longe uns dos outros, era a única noite do ano em que a família toda se juntava, pais, filhos e netos.

 

Decidiram então propor a todos que cada um tomasse a decisão de vir, (ou não), passar o Natal, na certeza de que a sala da casa, sendo grande, dava para todos estarem à distância necessária com as máscaras colocadas.

Seria muito estranho, mas ao menos, poderiam olhar-se nos olhos.

Quanto à ceia de Natal, haveria uma mesa no meio da sala, e cada um iria servir-se e voltava para o lugar marcado para cada família e afastados uns dos outros.

Quanto mais pensavam naquilo, mais achavam estranha a situação, mas ficaram felizes quando todos disseram que viriam, então, passar o Natal.

O dia 24 chegou e com ele começaram a chegar os filhos e as suas famílias, para dar vida aquele casarão enorme, que normalmente estava vazio só com eles os dois.

Foram muito emocionais as chegadas, tanto mais que os cumprimentos eram “longínquos”, para não colocar em risco quer as crianças, quer os mais velhos.

Era uma coisa muito confusa pois pareciam famílias dentro de uma família!

Quando chegou a hora da ceia e já estavam todos na sala nos lugares previamente designados para cada família, (com as crianças um pouco irrequietas, o que era normal), ele, o pai da família, pediu a todos que, depois de irem buscar a comida e quando tirassem as máscaras para comer, fizessem um momento em que todos olhariam uns para os outros e sorririam de modo a que se pudessem ver sem a barreira da máscara.

E assim foi.

Depois de se servirem, estando todos nos seus lugares, tiraram as máscaras e olharam uns para os outros, sorrindo e com algumas lágrimas incontidas correndo por algumas caras.

As crianças, claro que achavam tudo aquilo muito estranho, mas a visão dos presentes junto ao presépio, ultrapassavam a sua estranheza.

Então ele, o pai da família, pediu a todos que rezassem um Pai Nosso pela família e também por todos os que não tinham Natal.

E foi extraordinário, porque parecia que todos estavam de mãos dadas e que uma só voz fazia subir a oração ao Céu.

E o mais pequenito, que já falava, gritou de alegria: Que bom é o Natal!

 

Marinha Grande, 12 de Novembro de 2020

Joaquim Mexia Alves

NOTA: Com este Conto de Natal desejo a todos quantos por aqui passarem um Santo Natal e um Feliz Ano Novo cheio das bênçãos de Deus.

A fotografia é do presépio da nossa igreja paroquial da Marinha Grande.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

«FAZEI TUDO QUE ELE VOS DISSER!»

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Olhava embevecida para o Menino que dormia calmo e sereno sobre as palhas da manjedoura.

 O Salvador do mundo!!!

Sorria interiormente ao pensar nas surpresas de Deus, e esta era sem dúvida uma “surpresa surpreendente”!

 E veio-lhe ao pensamento uma frase pequena e que tanto peso tinha para Ela: Mãe do Salvador!

Um arrepio incómodo perturbou-a sem Ela perceber porquê, pois estava tudo bem com o Menino.

Olhou-O uma vez mais e foi então que sentiu a razão do arrepio que a tinha perturbado.

Naquele Menino, sentiu Ela, estavam todos os meninos, todos os adultos, todos os velhos que existiam e haviam de existir e percebeu que, de alguma forma, Ela era a Mãe de todos!

Estremeceu, perturbou-se mais uma vez, e perguntou em surdina ao Menino que ali estava deitado: O que quer isto dizer? Como é possível ser Mãe de todos sendo Tua Mãe?

Ouviu uma voz no seu coração que lhe dizia: Não te preocupes, Maria, a Deus nada é impossível!

Serenou, acalmou o seu coração e ficou a pensar: Como posso eu ser Mãe de todos e o que lhes hei-de dizer em cada momento?

O Menino mexeu-se e Ela parece que ouviu a sua voz dizer-lhe ao coração: Diz-lhes apenas para fazerem a Minha vontade, sempre.

Ela assentiu logo que sim, que o importante era todos fazerem o que o Menino lhes dissesse para fazerem.

Tomou-O ao colo, recostou-lhe a cabeça no seu peito e docemente adormeceu olhando aquela face tão bela.

Enquanto adormecia, um sorriso aflorou aos seus lábios, porque teve o pensamento de que um dia ainda havia de dizer a alguém: Fazei tudo o que Ele vos disser!

 

Marinha Grande, 21 de Dezembro de 2020

Joaquim Mexia Alves

sábado, 19 de dezembro de 2020

APETECE-ME ESCREVER!!!

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Sento-me frente ao computador e penso que hoje gostava de escrever sobre o que me vai no íntimo, no coração.

E penso em todas as coisas que uns e outros vão dizendo, escrevendo sobre a Igreja, sobre o Papa Francisco, sobre os Bispos ou os Padres, sejam eles “conservadores” ou “progressistas” e concluo que, pela graça de Deus, “sei” amar a “minha” Igreja em toda a sua diversidade, desde que assente em Jesus Cristo, no Papa e no Magistério, e, portanto, não é sobre isso que quero escrever.

Ah, mas então penso na misericórdia de Deus, infinita, sem limites, para os pecadores, (afinal somos todos pecadores), mas também descanso na certeza de que a misericórdia de Deus é para todos, desde que os todos, ou cada um, a queira reconhecer e aceitar.

Penso então nas celebrações, na liturgia, nas mais “formais” e nas mais “criativas”, e também descanso, na certeza de que todas aquelas que forem celebradas em comunhão com a Igreja, com a Santa Sé, com o Papa e o Magistério, são celebrações queridas por Deus, quer eu goste mais de umas ou de outras.

Depois penso ainda nos tais “assuntos fracturantes”, que dominam as notícias, e descanso também, porque sirvo-me do Catecismo, do ensinamento do Papa e do Magistério, e ajo, e sinto-me de acordo com eles, portanto, em comunhão de Igreja.

E penso em tantas outras coisas e descanso mais uma vez, porque sou intransigente comigo mesmo, ao tentar, (sim, tentar, porque nem sempre sou capaz), seguir o que me diz a Igreja da qual quero ser sempre pedra viva, e assim sendo, sigo a Verdade e a Verdade fará de mim um discípulo, embora pecador.

 

E assim, o que me resta para escrever?

Apenas uma oração que me vai vindo ao coração.

 

Obrigado Pai

que nos enviaste o Teu Filho Jesus Cristo para se fazer homem como nós excepto no pecado, para dar a vida por nós, para nos libertar do pecado e da morte eterna.

O Teu Filho, que contigo Pai, derramou em nós o Espírito Santo, que nos conduz na revelação do Vosso Amor, que faz de nós filhos de Deus muito amados.

Obrigado por fazeres de mim Igreja, (pedra pequenina, mas que não queres dispensar), e sendo Igreja, ser Teu discípulo, ser Tua testemunha, ser um pouco de Ti para os outros como os outros são um pouco de Ti para mim.

Obrigado, meu Deus, porque me parece que escrevi o que querias de mim, pelo menos para mim.

Sou Teu, independentemente da minha teimosia, do meu pecado, do meu eu, porque cada vez que por Ti chamo me estendes a mão e me dizes: “Porque temes, homem de pouca fé.”

Obrigado, meu Senhor e meu Deus!

 

 

Marinha Grande, 19 de Dezembro de 2020

Joaquim Mexia Alves

sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

DIÁLOGOS COM O DIABO (15)

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Diz ele: Não te sentes sozinho, por vezes, como se ninguém se importasse com os teus problemas?

Digo eu: Sim, é verdade, por vezes parece-me estar só no meio de tantas coisas que me incomodam e fazem ansiedade.

Diz ele: Então mas Ele não disse que estava sempre convosco, contigo?

Digo eu: Disse e é verdade, eu é que muitas vezes me afasto dEle e me deixo levar pelos meus sentimentos de descrédito.

Diz ele: Ah, então não acreditas nEle???

Digo eu: Não, eu acredito firmemente nEle, não acredito é muitas vezes em mim e no meu amor por Ele.

Diz ele: Então se acreditasses em ti e nEle, tudo Ele resolveria para teu descanso?

Digo eu: Não, Ele quer que eu faça a minha parte, que me entregue, que me deixe conduzir, que confie e espere e, então sim, segundo a Sua vontade, ultrapassarei os problemas da vida.

Diz ele: Pois, está bem! Ele que podia resolver tudo de uma penada, sem problemas, acaba por te deixar viver esses momentos que abalam a tua vida.

Digo eu: Tudo está nas minhas mãos, mas suportado por Ele se a Ele me entregar. E Ele não é nenhum  mágico para resolver tudo com toques de varinha de condão. Mágico és tu, que queres transformar o bem, o amor, no mal e no abandono. Vai-te, que me estás a tentar!

 

Monte Real, 11 de Dezembro de 2020

Joaquim Mexia Alves