sexta-feira, 29 de julho de 2011

A IGREJA - EM COMUNHÃO

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Uma das muitas graças que Deus me concedeu no meu reencontro com a Fé, com o seu amor, foi um amor forte e profundo à Igreja, a tudo o que Ela é e representa, a toda a sua história, (mesmo nos tempos em que tenha andado por caminhos mais dos homens do que de Deus), e uma obediência serena, reflectida, amorosa à sua Doutrina, à sua Tradição, ao seu Magistério.

Não me coíbo, nos sítios próprios, (Conselhos Pastorais, reuniões em Igreja, etc.), de colocar os meus pensamentos, as minhas reflexões, as minhas opiniões, o que tento sempre fazer num intuito de edificação, nunca de afrontamento e/ou muito menos de divisão.

Tento aceitar, o mais humildemente possível, as negativas ou contestações àquilo que penso e digo, e muito mais o tento perante incompreensões às minhas reflexões, porque começo a ter para mim, (talvez devido à idade), que temos sempre a tendência para julgarmos que os outros não nos entendem, quando a maior parte das vezes somos nós que não os entendemos, ou não entendemos o todo, para apenas vermos uma parte.

E leio, e estudo, e ouço, e reflicto, e sobretudo oro e entrego-me ao Espírito Santo, para que seja Ele a transformar em fruto, aquilo que eu vou tentando semear em mim.
Nem sempre assim acontece, porque a minha humanidade, tão cheia de orgulho e vaidade, fecha-me por vezes o discernimento e torna-me cego perante a luz, mas a certeza inabalável de que Ele é sempre o Caminho, a Verdade e a Vida, descansa os meus receios e confirma-me que no fim de cada momento, (se eu tiver o meu coração aberto à sua presença), será sempre Ele a conduzir-me, a guiar-me.

Tudo isto vem a propósito do que recentemente me parece vir ao de cima, numa série de acontecimentos, de artigos, de opiniões, que vêm colocar em causa sobretudo a Missa tal como Ela hoje é celebrada, a Comunhão na mão, por oposto, à Missa em latim, (usando uma terminologia simples), e à Comunhão na língua, como se fosse incompatível a existência das duas formas de celebração e comunhão

Devo dizer, que tanto uma como a outra forma me servem perfeitamente, porque o meu encontro com Deus depende sobretudo da minha abertura à sua presença, e a comunhão com e em Igreja, em ambas as formas, me garante a comunhão com Deus, por sua graça.

Não vou aqui debater, (nem tenho competência para tal), a bondade de uma forma e de outra, mas apenas tentar reflectir um pouco sobre a forma como esta discussão tem vindo a ser feita, em alguns casos.

Em primeiro lugar, reafirmo a minha total obediência ao Magistério da Igreja, que não divido em antes e depois, mas sim num todo, que é ontem, hoje e sempre, e não pode ser dissociado, porque mesmo quando os homens se arrogaram a decidir por eles próprios, nunca o Espírito Santo deixou de estar presente, suscitando santas e santos, que foram a voz, em comunhão de Igreja, que fez reflectir a hierarquia a regressar à vontade de Deus para a Igreja, para a humanidade.

Isto porque me parece, como acima escrevo, que em muitos casos me parece que esta discussão reflecte muito mais uma “luta” pelo querer de cada um, do que propriamente uma preocupação em fazer a vontade de Deus.

Esgotam-se os argumentos, explicam-se as razões, defendem-se opiniões, mas tudo por vezes me parece muito mais cheio do “eu”, na defesa do meu “clube”, (perdoem-me a expressão), do que uma verdadeira reflexão, meditação, iluminada pelo Espírito Santo, que ajude a edificar e unir, muito mais do que contestar e dividir.

Nestas últimas décadas, (e ao longo da história da Igreja), o Espírito Santo tem-nos surpreendido, mudando tantas vezes coisas que nos pareciam “certas”, ou “tradições” que nos pareciam “inabaláveis”.

Pensemos, por exemplo, na eleição de João XXIII, ou de João Paulo II, no Concílio Vaticano II, e em tantos momentos da Igreja.

Quer isto dizer que não devemos reflectir, discutir esses ou outros assuntos?
Claro que não!
Devemos reflectir, discutir, analisar, mas sobretudo fazê-lo numa atitude de serviço, de comunhão de Igreja, nos lugares e momentos certos, e não numa “luta” pública, em que aqueles que vivem afastados de Deus, afastados da Igreja, perante o nosso testemunho individualista, ainda mais se afastam, porque vêm nele apenas os homens, não conseguindo por isso “descortinar” Deus a iluminar os homens.

Claro que um tema destes dava para um livro, e não apenas para um pobre texto, que peca, sem dúvida, por defeito e omissão, mas que tem apenas a intenção de colocar por escrito aquilo que vou pensando no dia-a-dia, fruto do meu amor pela Igreja, pelo seu Magistério, pela sua Tradição, tudo consubstanciado no amor de Deus, a Deus e com Deus.

Contribuo em Igreja, com as minhas reflexões e opiniões, quando me são pedidas, ou quando acho que as devo colocar porque é o tempo e o lugar certo, e pacientemente espero e confio naqueles que Deus chamou para guiarem o seu povo, na certeza de que o Espírito Santo nos conduz e os conduz, a fazermos a vontade de Deus, sempre e em tudo.

E, mesmo que a decisão da Igreja não seja aquela que eu quero ou mais me agrade, farei então e ainda, um esforço bem maior, para aceitar e amar essa decisão, porque ao fazê-lo estou a ser pedra viva da Igreja, estou a ser amorosamente membro empenhado do Corpo Místico de Cristo.
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segunda-feira, 25 de julho de 2011

HOJE ALMOÇEI COM O JOAQUIM GASPAR!

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Hoje almocei com o Joaquim Gaspar.

E perguntam aqueles que lêem estes textos neste espaço:
E quem é o Joaquim Gaspar, e o que é que eu tenho a ver com isso???

É muito simples, mas vou complicar um pouco.
O Joaquim Gaspar é do Brejo, entre Carvide e Monte Real, e faz hoje 65 anos!
Manda-lhe a Segurança Social, por carta, que deixe de trabalhar a partir de Segunda-feira, pois fica “automaticamente” reformado.

Ah, e o Joaquim Gaspar trabalha nas Termas de Monte Real há, “apenas“, 54 anos!!!

Hoje, a meio da manhã, bateu à porta do meu gabinete, e timidamente, como é seu feitio, disse-me com um sorriso:
Depois o Sr. Mexia Alves, quando puder havia de passar ali pela “cozinha” para comer um pouco de bolo.
Senti-me apanhado na falta de memória e, claro, já sem dúvida nenhuma perguntei-lhe:
Fazes anos hoje, não é?

Com um sorriso de “criança apanhada”, (ele é assim, não há nada a fazer), disse-me:
Faço 65 anos, e a partir de Segunda-feira tenho de deixar de trabalhar aqui nas Termas, porque estou reformado. Pelo menos é o que diz a carta que recebi da Segurança Social.

Fiquei sem saber o que dizer, porque me inundou um sentimento tão grande tão profundo, que tive medo de me “largar” a chorar à frente dele!

Perguntei-lhe então, com um ar que eu pretendia de amizade e intimidade:
Quantos são, Joaquim?
E ele com aquele seu ar tímido respondeu-me:
54! Há 54 anos que aqui trabalho!

Mais velho do que eu três anos, logo me lembrei, quando em garoto, lhe “roubava” a bicicleta, “estacionada” junto ao Hotel para dar uma voltinha.
É que a bicicleta dele tinha mudanças!!!
Nada destas coisas de hoje, em que se vêm uns matulões a pedalarem que nem uns loucos, parecendo que a bicicleta está sempre no mesmo lugar.
Não, senhor, aquilo era uma caixinha com uma espécie de gatilho que tinha três mudanças, que “inté” parecia que davam mais velocidade, sem a gente perceber que afinal o motor … eram as nossas pernas!

Deixei-me ficar ali um pouco a olhar para ele, e nesse instante passaram por mim recordações imensas, que envolveram os meus pais e todos os meus irmãos, e uma grande família feliz, que vivia um sonho de amor e união, que pretendia estender a todos aqueles que com a família trabalhavam num projecto comum.

Perguntou-me então:
Almoça hoje comigo?
Respondi-lhe:
Claro que sim, Joaquim! Claro que sim!

Saiu então do meu gabinete, e ainda bem, porque eu precisava de lidar com uma emoção que avassaladoramente tomava conta de mim.

O que é que eu digo a este homem, pensava eu?
Como exprimir-lhe tudo o que vai dentro de mim?
Como explicar-lhe que ele me pertence, como eu lhe pertenço a ele?
Como afirmar-lhe que eu sou família dele, como ele é minha família?

Bem, pensei, deixa passar agora, que quando chegar o tempo ele sentirá o que tu lhe queres dizer.

E lá fomos almoçar passada mais uma hora, eu com o meu coração nas mãos, e ele com o dele também.
E falámos da “ingricola”, e dos tempos passados, e de como esta gente de hoje não sabe o que é a vida, e isto e aquilo…

E quando o almoço acabou, num restaurante de alguém que também trabalhou no Hotel e nas Termas, vieram em alta voz as recordações, a tal bicicleta, e quando os olhos destes “sessentões” se avermelharam, foi só o tempo de dizer adeus, para deixar para mais tarde a homenagem inteiramente devida, inteiramente merecida, mas sobretudo inteiramente desejada.

Pois, perguntam os leitores, e depois o que é que isso interessa?

Interessa, para que esta nossa juventude perceba os tempos em que as pessoas se encontravam, em que as pessoas se conheciam, em que um vínculo de trabalho era um vínculo de amizade, em que as pessoas se preocupavam mais uns com os outros do que com eles próprios.
Interessa, porque é sempre tempo de regressarmos à amizade, á relação entre pessoas, que não seja apenas um contrato que defende uns contra os outros, mas sim um contrato que une uns e os outros.
Interessa, para que se perceba que quando é preciso cortar nos custos de uma empresa, não se vá pelo caminho mais fácil, que é dispensar/despedir pessoas, mas sim cortar no supérfluo que apenas serve uns e deixa os outros de fora.
Interessa, para que os projectos sejam comuns, e não apenas ideias de uns em que os outros são dispensáveis, mas sim como parceiros de um bem para todos.

Neste momento, os leitores pensarão:
Este indivíduo vive noutro planeta!
E este indivíduo apenas diz:
Se houver um planeta onde se viva e trabalhe para construir um bem comum, e em que as relações de trabalho e as outras sejam alicerçadas no entendimento, na paz e no amor entre pessoas, então é nesse planeta que eu quero viver!

Por enquanto, deixo-me ficar pela recordação, guardando dentro de mim este sentimento bom, de saber que ainda há homens bons, e assim esperar que um dia, perante a indiferença, o homem perceba que é melhor amar do que desprezar.

Do meu coração ninguém tira o Joaquim Gaspar, como acredito que do coração do Joaquim Gaspar ninguém é capaz de me retirar.

Até o seu filho, homem feito agora, por aqui trabalhou também!

Hoje almocei com o Joaquim Gaspar!
Sinto-me muito mais realizado, por o ter conhecido e por ser seu amigo
É sempre bom, ser amigo de homens bons!

Que Deus o abençoe!

Graças a Deus, e por causa deste almoço, amo mais um pouco a vida!



Monte Real, 22 de Julho de 2011


Nota:
Poderão perguntar os leitores, o porquê da publicação deste texto, (que descreve uma situação real por mim vivida na passada Sexta feira), que parece sair um pouco da temática deste espaço.
Mas no fundo, este texto representa um modo de viver enformado da prática cristã, do amor próximo seja em que circunstâncias for, na família, no lazer, no trabalho.
Realmente o trabalho deve ser entendido como uma colaboração de todos para o bem comum, e sobretudo deve entender-se que no trabalho, nas empresas, o mais importante são as pessoas, e não a empresa ou o negócio em si.
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quarta-feira, 20 de julho de 2011

O TRIGO E O JOIO

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Evangelho segundo S. Mateus 13,24-43.

Naquele tempo, Jesus propôs à multidão mais esta parábola: «O Reino do Céu é comparável a um homem que semeou boa semente no seu campo. Ora, enquanto os seus homens dormiam, veio o inimigo, semeou joio no meio do trigo e afastou-se. Quando a haste cresceu e deu fruto, apareceu também o joio.
Os servos do dono da casa foram ter com ele e disseram-lhe: 'Senhor, não semeaste boa semente no teu campo? Donde vem, pois, o joio?’ 'Foi algum inimigo meu que fez isto’ respondeu ele. Disseram-lhe os servos: 'Queres que vamos arrancá-lo?’
Ele respondeu: 'Não, para que não suceda que, ao apanhardes o joio, arranqueis o trigo ao mesmo tempo. Deixai um e outro crescer juntos, até à ceifa; e, na altura da ceifa, direi aos ceifeiros: Apanhai primeiro o joio e atai-o em feixes para ser queimado; e recolhei o trigo no meu celeiro.’»
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Afastando-se, então, das multidões, Jesus foi para casa. E os seus discípulos, aproximando-se dele, disseram-lhe: «Explica-nos a parábola do joio no campo.»
Ele, respondendo, disse-lhes: «Aquele que semeia a boa semente é o Filho do Homem; o campo é o mundo; a boa semente são os filhos do Reino; o joio são os filhos do maligno; o inimigo que a semeou é o diabo; a ceifa é o fim do mundo e os ceifeiros são os anjos.
Assim, pois, como o joio é colhido e queimado no fogo, assim será no fim do mundo: o Filho do Homem enviará os seus anjos, que hão-de tirar do seu Reino todos os escandalosos e todos quantos praticam a iniquidade, e lançá-los na fornalha ardente; ali haverá choro e ranger de dentes.
Então os justos resplandecerão como o Sol, no Reino de seu Pai.
Aquele que tem ouvidos, oiça!»



Ao ouvir este Domingo o Evangelho e a homília do sacerdote que presidia à celebração, fui-me deixando conduzir a “ver” mais para além das palavras que já tão bem conhecia, desta parábola.

“Saltou-me” ao coração esta frase dos “servos do dono”: 'Queres que vamos arrancá-lo?’ Mt 13, 28

Pressurosos, queriam de imediato tratar da “pureza” do campo, e desde logo eliminar tudo o que não fosse, segundo a sua visão, o trigo que tinha sido plantado.
Mas o dono do campo, pacientemente, disse-lhes que não, que era melhor esperar, que era melhor perceber e ter a certeza daquilo que era trigo e daquilo que era joio, pois na precipitação poder-se-ia eliminar também algum trigo bom.

E isto fez-me lembrar as nossas atitudes perante os outros, perante aqueles que julgamos não serem “verdadeiros cristãos”, e por isso mesmo, tantas vezes os desprezamos e colocamos de lado, sem tentar perceber se naquele que julgamos “joio”, não poderá haver afinal “trigo”.

E se por vezes não tomamos atitudes directas de exclusão para com eles, tantas vezes os olhamos de lado, com olhar reprovador, porque aquele ou aquela viveram fora da Igreja, ou vivem esta ou aquela situação, ou fazem isto ou aquilo que para nós é condenável.

E quem nos permitiu a nós, sabermos se naquilo que nos parece “joio”, não vai ainda nascer uma bela “espiga de trigo”, fruto bom que pode ser dado a outros?

Quem nos instituiu a nós “julgadores”, “separadores” do “trigo” e do “joio”?

O Senhor diz-nos nesta parábola, «deixai um e outro crescer juntos, até à ceifa».Mt 13, 30

Este não é um “campo” de exclusão, é um “campo” de acolhimento.
Agora ainda não se consegue perceber aqueles que vão ser “trigo” e aqueles que vão ser “joio”.
Deixá-los crescer juntos, porque alguns daqueles que agora parecem “joio”, serão afinal “trigo” para ser recolhido no “celeiro do dono”.

Será o Senhor, no tempo certo, que dirá o que é “joio” e o que é “trigo”, e serão os anjos que apartarão o que for necessário apartar.

E o Senhor termina estas parábolas com este ensinamento:
«o Filho do Homem enviará os seus anjos, que hão-de tirar do seu Reino todos os escandalosos e todos quantos praticam a iniquidade, e lançá-los na fornalha ardente; ali haverá choro e ranger de dentes.
Então os justos resplandecerão como o Sol, no Reino de seu Pai. Aquele que tem ouvidos, oiça!» Mt 13, 41-43

E o final do Evangelho este Domingo, traz ao meu coração, que não são os homens pela sua inteligência, pela sua vontade que podem ou conseguem mudar a vontade de Deus, que podem ou conseguem mudar a Doutrina, que podem ou conseguem mudar a Palavra revelada.

Não são os homens pela sua inteligência, pela sua vontade que podem mudar aquilo que é mau, aquilo que é “joio”, em coisa boa, em “trigo bom”.
Por muito que argumentem com razões para “legitimar” o aborto, por exemplo, este nunca será “legítimo”, este nunca será da vontade de Deus, este será sempre “joio”.

Não tenhamos dúvidas que por muito que tentemos “torcer” a Palavra de Deus, para servir os nossos propósitos, a nossa vontade, não seremos nós que escolheremos e separaremos o “joio” do “trigo”, mas será o “dono do campo” que saberá o que deve ser recolhido no seu “celeiro” e o que deve ser lançado no fogo.

E o “dono do campo” já nos disse muito claramente, o que é o “trigo” e o que é o “joio”, para que não nos enganemos, e crescendo juntos no mesmo campo, possamos todos ser “trigo” para ser recolhido no “celeiro” do Senhor.
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quarta-feira, 13 de julho de 2011

AH, ESTAVAS AÍ, SENHOR!

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Onde estás Tu, Senhor?
Procuro-te e não Te encontro! Escondeste-te, por acaso, de mim?

Como queres Tu que eu caminhe, se não vejo a tua luz, se não me iluminas o caminho?
Não vês os meus olhos abertos, tentado perscrutar a escuridão? Não vês os meus braços estendidos, tentado detectar os obstáculos? Não vês os meus ouvidos atentos, tentando ouvir a tua voz? Não vês os meus passos incertos, que quase me fazem tombar?

Onde Te escondes, Senhor, que me deixas assim sozinho percorrer os caminhos da vida?
Tenho medo, Senhor, não percebes? Não vês a minha intranquilidade, a minha angústia?

Procuro-te em todo o lado, Senhor, sirvo-me de tudo, da minha inteligência, da minha racionalidade, de tudo o que aprendi, e nada, Senhor, não Te encontro!

Procuro-te no cimo das montanhas, no fundo dos oceanos, na brisa leve e no forte vento, no tempo e no espaço, e não Te encontro, Senhor!
Mas não estavas Tu em todo o sítio, em todas as coisas, sempre e em cada momento?
Porque não Te encontro, então, Senhor?

Tacteio a escuridão, tento afastar com as mãos as trevas que me envolvem, abro desmedidamente os olhos, grito com toda a minha força, e nada, Senhor, não Te encontro, não me respondes!

Sento-me à beira da estrada da vida, inclino-me e coloco a minha cabeça entre as mãos.
Calo-me, faço silêncio e lentamente envolvo-me com um novelo, e entro dentro de mim.
Já nada me interessa, não quero ouvir mais nada, não quero olhar mais nada, quero apenas conhecer-me, entrar no meu coração e deixar que ele me acalme, com os restos de amor que ainda nele são pobre bálsamo.

Uma calma, uma paz, uma tranquilidade tomam conta de mim.

Parece-me agora que sou todo coração. Já não são os meus olhos que vêem, nem os meus ouvidos que ouvem. Já não são as minhas mãos que se estendem, nem os meus pés que caminham. Já não é a minha cabeça que pensa, nem a minha boca que fala.
Sinto, cada vez mais, que agora sou todo e apenas coração.

Ouço então uma voz que me chama:
Joaquim, Joaquim, Joaquim, Eu estou aqui! Vive-me no teu coração!

A vida que não se encontrava, retoma cor e alegria, porque a Vida verdadeira, se faz vida na minha vida, e eu exclamo num grito imenso:
Ah, estavas aí, Senhor!
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quarta-feira, 6 de julho de 2011

EU CREIO, EU FAÇO!

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«O que quiserdes que os outros vos façam, fazei-lho vós também.» Lc 6, 31

Neste ensinamento de Jesus Cristo está contida toda uma prática de vida cristã.

Com este ensinamento, Jesus Cristo, afirma-nos que o discípulo de Cristo é aquele que faz, e não aquele que não faz, é um discípulo activo, e não um seguidor passivo.

Quantas vezes nas nossas vidas, perante as dificuldades, as provações, nós afirmamos e perguntamos: «Mas eu não roubo, não mato, não faço mal a ninguém, porque é que me acontece isto?»

Deus permite que dificuldades e provações aconteçam de quando em vez nas nossas vidas, também para nos chamar a atenção precisamente para isso, ou seja, que nós não fazemos, que não somos activos, que não colocamos a render os dons que nos são dados, quando realmente o nosso testemunho de vida deveria ser fazer o bem aos outros, isto é, dar aos outros o que gostaríamos de receber, desejar para os outros o que desejamos para nós, enfim, fazer aos outros o que queremos para nós.

É que o não fazer o mal, não significa que façamos o bem!

É que o não fazer, significa uma inactividade, significa que não colocamos a render o que Deus nos deu, em talentos e em bens, sejam eles quais forem, espirituais ou materiais.
E isso fecha-nos aos outros, porque nos leva a viver apenas para nós, como se estivéssemos de quarentena com medo de apanhar uma qualquer epidemia, que neste caso seria o mal, o pecado.

Quem vive apenas para não fazer o mal, vive com medo, vive fechado para os outros, vive só, sem confiança e sem esperança.

Como podemos nós, se vivemos apenas para não fazer o mal, cumprir o mandamento que Jesus Cristo nos deixou:
«Dou-vos um novo mandamento: que vos ameis uns aos outros; que vos ameis uns aos outros assim como Eu vos amei.» Jo 13, 34

E se vivemos apenas para “não fazer”, que frutos teremos para apresentar ao Senhor, quando Ele nos perguntar o que fizemos com tudo o que Ele nos deu?

Seremos como aquele homem da “Parábola dos talentos”:
«Veio, finalmente, o que tinha recebido um só talento: 'Senhor, disse ele, sempre te conheci como homem duro, que ceifas onde não semeaste e recolhes onde não espalhaste. Por isso, com medo, fui esconder o teu talento na terra. Aqui está o que te pertence.'» Mt 25,24-25

Se realmente cremos em Jesus Cristo, se realmente nos dispomos, (com abertura de coração e disponibilidade de vida), a segui-Lo, então temos que fazer o que Ele próprio fez e faz, então temos que fazer o que Ele nos ensina na Sua Palavra, e «fazermos aos outros, aquilo que queremos para nós».

Por isso me ocorreu o título deste texto: Eu creio, eu faço!

Segundo os especialistas da política e da economia, a crise económica que agora se sente, vai agravar-se, levando seguramente as dificuldades e provações, a muitas pessoas, a muitas famílias.
É então um tempo propício de testemunho cristão, (embora todos os tempos o sejam), em que partilhando o que Deus nos dá, com os outros, testemunharemos que a nossa fé não são só palavras, mas que elas se traduzem em atitudes e acções palpáveis.

Lembro-me então da passagem dos Actos dos Apóstolos 2, 42-47, e acredito que, se também assim vivermos a nossa fé, também nós teremos a «simpatia de todo o povo», e também «o Senhor aumentará, todos os dias, o número dos que entrarão no caminho da salvação».

Se esse nosso testemunho for verdadeiro e sincero, deixaremos de ouvir frases como, “os que vão à igreja são os piores”, porque a realidade do testemunho superará a descrença.

Mas reparemos que o testemunho deve ser verdadeiro e sincero, isto é, sem esperar outra recompensa que não seja a de fazer a vontade de Deus, e de a fazer com amor dedicado aos outros.

É que, perante as provações que muitos poderão atravessar, alguns de entre eles terão muita dificuldade em pedir e aceitar ajuda, pelo que nos é pedido também uma “dose extra” de amor, (que só pode vir de Deus), para com todo o discernimento podermos ajudar esses irmãos, sem os fazer sentirem-se humilhados, sem os fazer sentirem-se desprezados.

E mais ainda, pois podemos ser confrontados com o ter que ajudar alguém que já foi nosso “superior” em algum momento, e até nos tratou mal ou com desprezo quando o era, e então temos de combater a tentação de transformar a nossa ajuda, numa atitude de “vingança”, de modo a fazer sentir ao outro que agora estamos nós “por cima”, e “superiormente”, até com algum desprezo, lhe concedemos ajuda.

É que isso não é testemunho de caridade, de amor, é que isso não é «fazer ao outro o que quero que ele me faça», é que isso é apenas tentar mascarar o mal, com um bem.

E lembremo-nos sempre também que, a maior parte das vezes, para além da ajuda material, é ainda mais importante a ajuda sentimental, a ajuda espiritual, o acolher e amar a todos, e não apenas àqueles que vivem os nossos valores, que vivem a fé que nós vivemos.

Deus Pai revelou-se aos homens por Seu Filho Jesus Cristo, que nos ensinou a sermos filhos de Deus, templos do Espírito Santo, que nos conduz e ensina todas as coisas:
«mas o Paráclito, o Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, esse é que vos ensinará tudo, e há-de recordar-vos tudo o que Eu vos disse.» Jo 14,26

Concluída a Revelação em Jesus Cristo, hoje, pela graça do Espírito Santo, Deus continua a manifestar-se aos homens servindo-se dos seus filhos, que somos nós, congregados e chamados a vivermos o amor de Deus e a Deus, dando testemunho da Sua presença no meio de nós.

Por isso mesmo, passemos à prática verdadeiramente cristã, sempre envolvida na oração e nas celebrações em Igreja: Eu creio, eu faço!
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