sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

A "PREOCUPAÇÃO" E O "TRABALHO" DE DEUS

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Hoje de manhã, quando estava nas minhas orações matinais vieram ao meu coração, estes dois pensamentos:
Temos um Deus cuja única “preocupação” é a nossa salvação.
Temos um Deus que “trabalha” a tempo inteiro para nós.

Fiquei, logicamente, a pensar nisto.

Realmente, deixando de lado o conceito muito humano de “preocupação” e “trabalho”, a verdade é que podemos afirmar isto mesmo, ou seja, Deus “preocupa-se exclusivamente com a nossa salvação e “trabalha” exclusivamente para isso mesmo!

E como o conceito de tempo, (dias, noites, horas, minutos, etc.), não se aplica a Deus, podemos mesmo afirmar, julgo eu, que esta Sua “preocupação” e “trabalho” é constante e eterna.

E sendo assim, como é, como podemos nós não agradecer e louvar em permanência o nosso Deus, em todos os momentos da nossa vida, fazendo dela uma oferta permanente ao Senhor?
E sendo assim, como é, como podemos nós sequer pensar em prescindir deste Deus que nos ama de tal forma?

Realmente há algum amor maior do que o amor do nosso Deus, que se entrega totalmente e exclusivamente, (humanamente falando), à criatura que criou e ama eternamente?

De tal modo a Sua “preocupação” é total com o homem e a sua salvação, que não hesitou em vir ter com o próprio homem, fazendo-se igual à criatura criada, em todas as coisas, excepto no pecado.

Aliás, sendo o pecado uma rotura com o amor de Deus, o Deus feito homem nunca poderia romper consigo próprio.

Mas é fantástico, extraordinário, percebermos e reconhecermos, que o nosso Deus depois de nos ter criado se dedicou inteiramente a amar-nos, a fazer-nos conhecer o amor, a ensinar-nos o caminho da salvação.

Que posso eu temer deste mundo, se o meu Deus está comigo?

Que posso eu temer das tentações, se o meu Deus está comigo e nunca me abandona?

E aqui está outra coisa extraordinária de Deus: nunca nos abandona!

Podemos renegá-Lo, desprezá-Lo, colocá-Lo fora da nossa vida, mas Ele não deixa de se “preocupar”, de “trabalhar”, de estar connosco, amando-nos e mostrando-nos o caminho da salvação.

Não contente com tudo isto, (perdoem-se-me as expressões humanas), e como para Ele o tempo não existe, faz-se presente à vista, ao toque, e até como alimento, transubstanciando-se todos os dias na humildade, do mais humilde dos alimentos: o Pão.

E nós em vez de O procurarmos para recebermos do Seu amor e Lhe darmos o amor que coloca em nós, vamos apenas e a maior parte das vezes pedindo e pedindo, mais como queixando-nos, do que aceitando as adversidades de um caminho, que sendo difícil, nos leva à meta mais almejada que é a vida eterna na felicidade do gozo de Deus.

Realmente, se Deus nos criou por amor, se nos ama com total dedicação e entrega, (e acreditamos e sabemos que assim é), como poderá Ele não saber do que necessitamos para em cada dia, em cada momento, correspondermos ao Seu amor!

Preocupamo-nos, queixamo-nos, vivemos tristes e acabrunhados, vivemos com medo de tanta coisa, desde espíritos, superstições até horóscopos desfavoráveis, quando afinal nada disso tem qualquer valor, ou pode sequer interferir connosco, se estivermos unidos ao nosso Deus que é vivo e presente nas nossas vidas em todos os momentos.

A nossa vida deve ser então e sempre «Procurar antes o seu Reino, porque tudo o mais nos será dado por acréscimo.» Lc 12,31

Obrigado meu Deus, por cada um e eu próprio sermos a Tua preocupação e trabalho permanentes.
Obrigado por teres criado cada um e eu próprio para Ti e para vivermos e usufruirmos do Teu amor.
Coloca meu Deus, no coração de cada um e no meu coração, essa certeza inabalável de que estás sempre connosco e que “todos os cabelos da nossa cabeça estão contados por Vós”. (Mt 10,30)
Louvado sejas, meu Senhor e meu Deus.



Monte Real 29 de Janeiro de 2010
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sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

ONDE ESTÁ DEUS?

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Onde está Deus?
Perguntam tantos,
Quando vêem a terra tremer,
As águas a chover,
E os ventos a rugirem,
Contra as casas,
Contra as árvores.
Onde está Deus?
Perguntam tantos
Quando desperta a dor,
Acontece a adversidade,
Os olhos se enchem de água,
E a morte traz a saudade.
Onde está Deus?
Perguntam tantos,
Quando nos batem e ofendem,
Nos pisam e humilham,
Mesmo que façamos o bem,
Mesmo sem olhar a quem.
Onde está Deus?
Perguntam tantos,
Quando predomina a guerra,
Os homens se dão à morte
E parece que sobre a terra,
Já não há sul, já não há norte.
Onde está Deus?
Perguntam tantos,
Quando a criança tem fome,
E aos olhos suplicantes,
Parece que nada responde,
Nem mesmo por um instante.
Onde está Deus?
Perguntam tantos,
Porque têm os olhos fechados,
O coração encarcerado,
Num peito que o aperta,
Os braços sempre cruzados,
Num pensamento encerrado.
Onde está Deus?
Perguntam tantos,
Temendo que Ele os ouvisse!
E Ele sempre presente,
Em todo e cada momento,
Em cada um,
Em toda a gente.
Vai-se dando e entregando,
Assim todo e só amor,
Na tempestade
E na bonança,
No vento forte
E na brisa,
Em cada momento de dor,
Em cada morte,
Dando vida.
Sendo batido e ofendido,
Espezinhado e humilhado,
Mas dando sempre a mão
Fazendo-se sempre alcançado.
Está na guerra,
Pela paz,
E ilumina e conduz,
Cada homem sobre a terra.
Está no coração das crianças,
Em cada olhar suplicante,
A todos abraça e conforta,
Sobretudo ao homem errante.
E para O ver e sentir,
É preciso pouca coisa:
Descruzar os braços e sorrir,
Libertar o pensamento,
Deixar o seu coração voar,
Nas asas do eterno amor,
Acolher cada irmã
Abraçar cada irmão,
E amar, amar, amar….


Monte Real, 21 de Janeiro de 2010

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sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

DEUS NÃO MUDA AO SABOR DOS TEMPOS!

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Leio algumas notícias, textos e comentários, quer na comunicação social, quer em espaços na net, e apercebo-me de algo que acho extraordinário, nesta “escalada” que o homem vai fazendo, afastando-se decididamente de Deus, ou pelo menos tentando fazer um deus à sua maneira.

Não bastavam as leis iníquas ao avesso da moralidade e defesa da família, elaboradas e aprovadas à pressa por políticos que apenas buscam protagonismo pessoal e “tapar o sol com a peneira”, vêm também alguns, apelidando-se de cristãos e católicos, fazer coro com os mesmos, arvorando-se em detentores da “verdadeira” doutrina do cristianismo.

A pretexto de que Jesus Cristo veio para todos, (o que é uma verdade), e que convivia com os pecadores, (com quem havia Ele de conviver se todos somos pecadores), a pretexto de uma igualdade, (que existe enquanto filhos de Deus), ou de outro tipo de argumentos, (normalmente baseados em textos de dissidentes da Igreja), pretende-se convencer-nos que certos actos deixaram de ser pecado, (falo em linguagem cristã católica), porque feitas em nome de um pretenso amor, de uma pretensa liberdade de consciência.

Mas a verdade é que se caminharmos esse caminho, então tudo é possível, e o pecado deixa de existir, (o que é uma “reivindicação” antiga daqueles que não querem viver o «convertei-vos»), pois para tudo e para todos os actos haverá sempre um modo de o homem dar a volta, adaptando a sua consciência às atitudes que toma.

Continua a querer confundir-se os pecadores com o pecado, e se àqueles o Senhor abraça e perdoa perante o arrependimento e o propósito de emenda, (já sei que são “conceitos retrógrados”), ao pecado o Senhor não o tolera, porque aliena e escraviza o homem na sua liberdade de filhos de Deus.

Pretendem assim alguns, afirmando-se cristãos e até católicos, adaptar a Doutrina às suas ideias, às suas conveniências, para, julgam eles, poderem verdadeiramente descansar as suas consciências e, à vontade, poderem tomar as atitudes e praticar os actos que mais lhes agradam, e que a maior parte das vezes são tão difíceis de combater num caminho de conversão.

Julgam que, com discussões de frases grandiloquentes, com conceitos estudados até à exaustão, convencidos da sua enorme capacidade de raciocinar, com os seus profundos e permanentes estudos, sobretudo daqueles teólogos dissidentes da Igreja, podem levar à mudança da Doutrina, convencidos que estão da sua superioridade.

Mas estão enganados, muito enganados, porque se os políticos podem de “uma penada” mudar as leis e adaptá-las ao seu gosto e ao gosto dos seus apoiantes, já Deus não muda e não é adaptável às conveniências de cada um!

Frases como, “a Igreja tem de adaptar-se aos tempos modernos”, não têm qualquer significado, porque a Igreja não é detentora de algo que Ela mesmo tenha inventado, mas de algo que lhe foi transmitido na Revelação do próprio Deus e como tal, e se for preciso, contra tudo e contra todos, continuará a proclamar a Verdade.

Foi assim nos primeiros tempos, foi e é assim ainda hoje em dia nalguns sítios deste mundo!
Houve muitas mulheres e homens que morreram por essa Verdade e ainda hoje há com certeza muitos dispostos a morrerem também, pelo Deus Único que pode dar a vida, e que é a Verdade.

Mas porquê esta vontade, esta luta permanente de tentarem mudar a Igreja, naquilo em que Ela é mais pura e consistente e que é a Doutrina?

Julgarão por acaso que, se por um terrível erro os homens da Igreja decidissem mudar a Doutrina, (fazendo a vontade aos “tempos”), Ela mudaria só porque os homens queriam?

Ou que Deus se “adaptaria” a essa nova doutrina?

Julgarão que, se por um acaso a Doutrina fosse de acordo com a vontade dos homens, ela levaria à salvação?

Se a Doutrina mudasse de acordo com a vontade dos tempos, nada daquilo que Jesus Cristo nos veio dizer seria hoje Doutrina, mas a mesma seria estabelecida pela vontade dos homens, vogando ao sabor dos tempos e das inclinações de cada um e não constituindo mais do que isso mesmo, ou seja, a vontade dos homens.

Envolvem-se muitas vezes em discussões intermináveis, em que à frente do coração e da fé, da entrega e da oração, da procura da condução do Espírito Santo, está o seu próprio pensamento cheio de certezas, tentando convencer os outros de que sabem muito melhor interpretar a vontade de Deus, do que aqueles que, vivendo a Tradição, vão lutando pela pureza da Doutrina, não deixando nunca de considerar em cada momento a melhor e mais perfeita forma de a entender, ensinar e viver.

Não se pode então discutir?
Claro que se pode e deve discutir, mas sempre na entrega de amor que leva a obediência a ser uma realidade que liberta e dá paz.
Pode-se discutir com certeza, mas não com argumentos que pretendem levar a uma suposta superioridade na interpretação da vontade de Deus, tornando Deus perfeitamente “dispensável”, pois o homem por si mesmo sabe muito bem o que Deus quer, o que não seria mais do que viver segundo a própria vontade do homem.

Também Jesus Cristo teve discussões e sempre respondeu com a simplicidade mais desconcertante, que é exactamente o que está muitas vezes arredado dessas discussões, onde pretende imperar uma suposta superioridade intelectual.

Talvez se fossemos mais humildes, se como Jesus Cristo nos retirássemos mais vezes para rezar e se em vez de querermos interpretar a Palavra proclamada, a nosso belo prazer, A vivêssemos no Espírito Santo, nos sentíssemos mais livres, mais em paz, mais em amor e muito mais capazes do caminho de conversão e entrega por amor, que é proposto, oferecido e desejado para cada um, por Jesus Cristo Nosso Senhor e Salvador, que deu a vida por nós cumprindo a vontade do Pai.

Monte Real, 15 de Janeiro de 2010
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quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

EPIFANIA DO SENHOR

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«Ao ver a estrela, sentiram imensa alegria; e, entrando na casa, viram o menino com Maria, sua mãe. Prostrando-se, adoraram-no; e, abrindo os cofres, ofereceram-lhe presentes: ouro, incenso e mirra.» Mt 2,10-11

Ao ler toda a narração do encontro dos magos com o Menino Jesus, detenho-me em algo tão simples como isto:
«Prostrando-se, adoraram-no; e, abrindo os cofres, ofereceram-lhe presentes: ouro, incenso e mirra.»

Perante Aquele Menino e a luz que d’Ele emana, a luz que Ele próprio é, (a estrela que os guia), cheios de alegria naquela presença, “apenas” se prostraram, adoraram e ofereceram presentes!

“Esqueceram-se” de pedir, de querer receber, de querer alguma coisa para eles!

Pelo menos os Evangelhos não nos dão nenhum sinal de que o tenham feito.

Diante daquele Menino, que eles já reconheciam como Rei, «prostrando-se, adoraram-no», e como Rei que era, com poder, sem dúvida, ofereceram-Lhe dádivas que essa realeza representam, mas nada pediram para eles mesmos, ou para outros.

Quantas vezes somos nós capazes de, num encontro pessoal com Jesus Cristo, na Comunhão por exemplo, nos prostrarmos, adorarmos, nos oferecermos e nada pedirmos?

Deixo-me levar pelo coração, e mesmo que exegetas da Bíblia possam dizer que é menos correcta a minha meditação, quero perceber, ou melhor, “escutar” o que Ele me quer dizer com estes factos que assim são narrados.

Será que na presença de Cristo, tão plena de alegria e luz, nos esquecemos de nós próprios, ou será que o reconhecimento dessa presença viva no meio de nós nos faz sentir “apenas” confiança e esperança, de tal modo que em nós sentimos, sabemos que, tudo o que precisamos Ele conhece, e não deixará de nos dar o que for verdadeiramente necessário para a nossa felicidade?

Ou será que as duas atitudes são somadas e por isso mesmo, esse caminho que percorremos de coração aberto até ao nosso encontro com Ele, (Jesus Cristo faz-se sempre encontrado, nós é que não O procuramos), arrostando com passadas nem sempre bem dadas, com as dificuldades de cada momento, (como Herodes na caminhada dos magos), tem de culminar com essa certeza de que o encontro pessoal com Cristo, tem de ser um momento de entrega total, de despojamento de tudo, de confiança inabalável, de esperança já cumprida, embora ainda não.

É porque se assim for, também nós seremos “avisados” pelo amor que despontará em nós, a não continuarmos pelo mesmo caminho, mas sim pelo caminho diferente e novo, que todos aqueles que com Ele se encontram de coração aberto, são convidados a seguir.

É que então já não é uma estrela exterior que nos guia, mas a luz interior, que é a Sua presença viva em nós, que nos vai iluminando os passos a dar, a estrada a percorrer, a nossa entrega a completar.

E não “precisaremos” mais de pedir, porque então entenderemos perfeitamente o que Ele mesmo nos diz:
«Não vos inquieteis com o que haveis de comer ou beber, nem andeis ansiosos, pois as pessoas do mundo é que andam à procura de todas estas coisas; mas o vosso Pai sabe que tendes necessidade delas. Procurai, antes, o seu Reino, e o resto vos será dado por acréscimo. Não temais, pequenino rebanho, porque aprouve ao vosso Pai dar-vos o Reino.» Lc 12, 29-32

Claro que poderemos continuar a pedir, mas agora já nesta certeza de que obteremos tudo aquilo que for bom, para fazermos a Sua vontade em nós e nos outros.

Não nos afadiguemos a procurar o Menino, a procurar Jesus Cristo para pedir, para obter, para receber, mas sim a querermos que aconteça verdadeiramente nas nossas vidas o encontro pessoal com Ele, que nos levará pelo Caminho Novo, que nos dará a confiança segura, que é assente na esperança viva que se cumpre todos os dias.

E então sim, viverei eu, viverás tu, viveremos todos nós, a Epifania do Senhor, que se faz presença viva permanente nas nossas vidas.

Monte Real, 6 de Janeiro de 2010
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