quinta-feira, 31 de março de 2022

DIÁLOGOS COM O SENHOR DEUS 22

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Porque duvidas sempre ao fazeres o que te peço, servindo-me de outros?
Oh Senhor, porque sou orgulhoso, vaidoso e receio quando me pedem para falar, eu o faça para “dar nas vistas”, para ser elogiado, e então tenho medo de errar e sentir humilhação em relação aos outros, claro.

Mas, meu filho, se alguém te chama a falares em Igreja, a dar testemunho do que aprendeste, viveste e vives, não acreditas que sou Eu que te chamo a fazê-lo?
Sim, Senhor, quero acreditar nisso mesmo. Mas mesmo assim o meu ser orgulhoso tem medo de falhar, não por causa de Ti, mas por causa do que os outros diriam de mim. Perdoa, Senhor, esta minha constante fraqueza.

Não saberei Eu o que faço? Não saberei Eu como tu és e o que sentes? E, no entanto, chamo-te para o fazeres e se te chamo é porque estou contigo e te ajudo em cada um desses momentos.
Eu sei, Senhor, e depois de cada momento desses eu percebo que afinal me entreguei, me deixei conduzir, por Tua graça, claro, mas os momentos antes são tão angustiantes, Senhor.

Sabes, se não tivesses essa fraqueza, se não tivesses medo de falhar por causa dessa fraqueza, considerar-te-ias tão capaz, tão “perfeito”, que acharias não precisar de Mim, e, então sim, falharias por completo o que Eu te peço para fazer.
Reconheço isso, Senhor, e por isso mesmo me afadigo tanto na oração antes de falar, para Te pedir humildade e serviço, e que afastes de mim o orgulho e a vaidade.
Por isso Te peço, Senhor, deixa-me viver com esta fraqueza para que sempre e em todos os momentos eu perceba cada vez mais que sem Ti nada sou, nem posso.

Há fraquezas, meu filho, que ajudam a construir, que ajudam a reconhecer os limites de cada um, e, quando o próprio admite essas fraquezas, só uma coisa lhe resta, rezar e abandonar-se em Mim.
Obrigado, Senhor!



Monte Real, 31 de Março de 2022
Joaquim Mexia Alves

sábado, 26 de março de 2022

24 HORAS PARA O SENHOR

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Decorrem hoje na minha querida paróquia da Marinha Grande e em tantas outras paróquias as chamadas “24 horas para o Senhor”.

E eu fico a pensar: Só 24 horas?

E lembro-me das palavras de Jesus a Pedro e aos seus Discípulos no Getsemani: «Nem sequer pudeste vigiar uma hora comigo! Vigiai e orai, para não cairdes em tentação. O espírito está pronto, mas a carne é débil.» Mt 26, 40-41

Claro que entendo que à paróquia, neste momento, seria impossível ter adoração permanente, mas nós paroquianos não o podemos fazer em permanência?

Mas não é preciso estar em frente do Santíssimo Sacramento para adorar o Senhor, para adorar a Deus.
Podemos adorar a Deus quando Lhe entregamos as nossas vidas e tudo o que fazemos em cada dia como uma oração de entrega total a Ele.
Arrisco-me a dizer que até aquilo que fazemos mal, Lhe devemos entregar em adoração, reconhecendo que pecámos, que nos afastámos Daquele que adoramos.

Ele está sempre connosco!

Por isso a nós cabe-nos acolher a Sua presença colocando-nos inteiramente nas suas mãos e dando-lhe todas os momentos das nossas vidas, bons ou maus, porque Ele na sua infinita bondade guarda no seu coração os bons momentos e, também, no seu coração perdoa os maus momentos, saídos das nossas fraquezas.

Numa oração, façamos de cada 24 horas das nossas vidas uma entrega a Deus, em adoração.


Meu Deus e meu Senhor
Conheces a minha vida e as 24 horas de cada dia que vivo por Tua graça.
Sabes bem, meu Deus, que muitas vezes não faço o bem que quero, mas faço o mal que não quero.
No entanto, meu Deus, entrego-Te todos esses momentos, numa adoração permanente a Ti, que és o Tudo no meu nada.
Adoro-Te porque só Tu és digno da minha adoração, porque só em Ti eu encontro vida, porque só em Ti eu sou Igreja, porque só em Ti eu posso amar os meus irmãos, mesmo aqueles que não me amam ou eu ainda não amo verdadeiramente.
Recebe, meu Deus, esta minha adoração, fruto da fé que me deste e que em mim ainda é mais pequena do que um grão de mostarda.
Amen.



Prostrado, como Jesus no Getsemani, apenas posso dizer: Meu Senhor e meu Deus, que seja feita sempre em tudo e em mim a Tua vontade.




Marinha Grande, 26 de Março de 2022
Joaquim Mexia Alves

quarta-feira, 16 de março de 2022

A MINHA RESSURREIÇÃO

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Fechado quase 25 anos naquele lugar sem luz, sem sentido, sem esperança, sem vida.

A minha podridão de vida era tanta que já cheirava mal e as ataduras que me ligavam, dos vícios e prazeres mundanos, tornavam o meu caminhar cada vez mais trôpego, mais vacilante, mais sem direcção, ou melhor, na direcção do abismo inexorável para que caminhava.

Tinha uma pedra enorme do meu pecado que não me deixava sair daquele túmulo em que vivia e já nada parecia restar em mim que tivesse forças ou razões para sair daquele lugar em que eu próprio me tinha colocado.

Contudo alguns dos meus, juntos em oração ao longo do tempo com outras gentes, iam chamando Jesus Cristo, ao que soube depois.

Um dia, igual a outros tantos, ouvi através da pedra que me bloqueava o caminho uma voz que dizia: “Joaquim, vem cá para fora!”

A voz foi tão imperativa e tão amorosa e terna ao mesmo tempo, que me levantei vacilante e saí para fora, pois outros se tinham encarregado de mover a pedra que não me dava saída.

Foi então que vi Jesus Cristo, que me apertou nos seus braços e disse a quem ali estava à espera da minha libertação: “Desligai-o e deixa-o andar.”

E rezaram por mim, e envolveram-me em amor, e explicaram-me tanta coisa, mas sobretudo levaram-me a perceber e a viver o amor de Deus.

E depois … depois foi entregar-me a Ele, deixar-me tocar por Ele, procurá-lo na Confissão, alimentar-me dEle na Comunhão, falar com Ele em oração, gritar por Ele quando em tribulação, agarrar a minha cruz que estava pelo chão, e viver, viver na abundância da vida que Ele me dá e que eu partilho com os outros, em comunhão.

Ah, sim, esta foi sem dúvida a minha ressurreição!!!



Monte Real, 16 de Março de 2022
Joaquim Mexia Alves

segunda-feira, 14 de março de 2022

IRMÃS CLARISSAS DE MONTE REAL

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Passam este ano 50 anos do Mosteiro de Santa Clara e do Santíssimo Sacramento de Monte Real.

Por tal facto a comunidade das Irmãs Clarissas de Monte Real vão celebrar essa data com um programa de um dia inteiro, em que, o momento mais alto será sem dúvida a Eucaristia, presidida por Dom Francisco Senra Coelho, Arcebispo de Évora, celebração em que iniciarão a Vida Religiosa 11 jovens Postulantes, através da Tomada do Hábito.

Realmente as Irmãs Clarissas chegaram a Monte Real em 5 de Março de 1965, era eu um rapaz de 16 anos, mas lembro-me perfeitamente delas, do seu ar terno, sereno e alegre, dos seus hábitos pesados, das suas sandálias mesmo no Inverno, até porque ficaram instaladas num edifício das Termas de Monte Real, cedido pelo meu pai, mesmo em frente da Capela de Santa Rita de Cássia, ali mandada construir por meu pai, também.

Estou, então, ligado às Irmãs Clarissas de Monte Real desde essa altura, embora já nelas tivesse ouvido falar aos meus pais, por causa do Mosteiro do Louriçal.

Depois foi o Mosteiro em 1972, (estava eu por terras da Guiné), e a ligação das Irmãs Clarissas à minha família, a Monte Real, continuou, embora por esse tempo já eu estivesse ausente de Deus e da Igreja, por desvios da minha vida.

Mais tarde, bastante mais tarde, já tinha eu mais de 40 anos, vim a saber por minha mãe, que ela sempre tinha pedido à comunidade das Clarissas de Monte Real para rezarem por mim, para que eu encontrasse o caminho de Deus e me deixasse tocar pelo Seu infinito amor.

E realmente, as muitas horas passadas em adoração, (24 horas por dia), daquelas muito queridas Irmãs, em que colocavam nas suas orações por todos, este pobre de Deus perdido na vida, foram ouvidas, (não ouviria Deus tamanha entrega destas mulheres que tudo deixam para O servir em adoração e oração continuamente), e eu, frágil pecador afastado de Deus, deixei-me reencontrar por Ele, deixei-me tocar por Ele, deixei-me conduzir por Ele, (nem sempre infelizmente), abracei a Igreja e fiz-me Igreja também, e, hoje, sou feliz, tenho vida e vida com sentido, e se a devo a Deus, sem dúvida, devo-a muito também às orações das Irmãs Clarissas de Monte Real e de meus pais.

A minha divida de gratidão para com as Irmãs Clarissas de Monte Real é imensa e eu sinto-a todos dias da minha vida, cada vez que abro o meu coração à oração e me deixo tocar pelo Espírito Santo, que tudo faz para me guiar apesar de todas as minhas fraquezas.

Nas minhas orações diárias, elas estão sempre presentes e eu peço a Deus que as abençoe, proteja, guarde e conserve por muitos anos, ou melhor, para sempre, porque a sua permanente adoração ao Santíssimo Sacramento e as suas perseverantes orações tornam este mundo bem melhor e repleto de esperança na misericórdia de Deus.

A paz, a ternura, o carinho, a serenidade, a alegria que se vê no rosto e na vida das Irmãs Clarissas, é um oásis no meio das desgraças do mundo, fruto de homens que não olham a Deus, mas apenas a si próprios.

Graças a Deus, temos as Irmãs Clarissas de Monte Real que olham mais a Deus e aos outros do que a si próprias.

Poderia escrever horas a fio sobre as Irmãs Clarissas de Monte Real, mas, com as minhas orações e coração, apenas lhes digo: 
Obrigado queridas Irmãs Clarissas. Deus vos abençoe sempre e vos pague em dobro a felicidade que deram à minha vida com as vossas orações.



Monte Real, 14 de Março de 2022
Joaquim Mexia Alves

Nota: “Roubei” uma fotografia ao site das Irmãs Clarissas que me parece muito sugestiva. Irmãs Clarissas de Monte Real, “anónimas” caminhando e rezando pelos outros, rezando pelo mundo.

quinta-feira, 3 de março de 2022

QUARESMA 2022

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«Se alguém quiser vir comigo, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz todos os dias e siga-Me.»

Chegaram os dias da Quaresma.

Tenho escrito várias vezes que este tempo da Quaresma é um tempo que me toca particularmente.
Não me entristeço , (a não ser porque as minhas reflexões diárias me mostram sempre o meu ser pecador), mas parece-me vir uma paz de dentro de mim, que me leva a fechar os olhos, a abrir as mãos e a dizer, cheio de esperança: Aqui estou, Senhor!

Então, baixo-me para ir buscar a minha cruz ao chão, (onde tantas vezes a coloco porque me pesa), coloco-a aos ombros e caminho atrás de Ti, Senhor.
Por vezes a cruz pesa-me muito, mas é então que, como o Cireneu, Tu vens e com um terno olhar de amor, pegas também na minha cruz e ajudas-me a levá-la ao longo do caminho.

Por vezes tropeço e caio, mas Tu vens logo no Teu amor pressuroso dar-me a mão, puxar-me para cima, levantar-me para Ti.
Não me lembro, Senhor, de ver escrito que alguém Te tenha ajudado a levantar quando caíste no caminho do Calvário, mas Tu estás sempre ali, pronto para nos amparares a queda e nos ajudares a levantar.

É curioso, Senhor, que quanto mais deixo a minha cruz pesar-me nos ombros, mais a minha confiança em Ti aumenta.

Às vezes, quando caio, apetece-me ficar um pouco no chão, ali, sem nada fazer, esperando que a dor do pecado passe, mas Tu amorosamente dizes-me: Levanta-te! Caminha! A dor do pecado só se torna mais suave quando caminhas para Mim e Comigo.

E eu levanto-me, (ajudado por Ti), e dou um novo passo em frente, enquanto a cruz, como se fosse um guia, me revela que caminhos evitar, que, ironia, são sempre os mais fáceis de caminhar, mas que afinal não levam a lado nenhum.

Tomo a minha cruz e sigo-Te, Senhor!

Afinal nem é muito pesada, eu é que a carrego com tanta coisa inútil, com tantos pecados diários, que às vezes é quase insuportável de carregar.

Olhas-me, Senhor, e dizes-me cheio de bondade: Mas meu filho, a tua cruz és tu que a fazes! Eu “só” te ajudo a carregá-la!




Marinha Grande, 3 de Março de 2022
Joaquim Mexia Alves