sexta-feira, 29 de agosto de 2008

COMUNIDADE E TESTEMUNHO

Está aqui nas Termas de Monte Real em tratamento e exercendo a capelania da Capela das Termas, (como aliás todos os anos), o Padre José da Lapa, sacerdote que trouxe o Renovamento Carismático Católico para Portugal.
São sempre quinze dias de caminhada espiritual proporcionada àqueles que nesse tempo frequentam as Termas.
Eucaristia às 9h,30m e oração do Rosário, com exposição e adoração do Santíssimo às 17h e meditação da Palavra de Deus.
Como sempre também, o meu amigo Padre José da Lapa, "culpado" em grande parte pela minha conversão, convidou-me para falar numa das tardes, ajudando, dirigindo a meditação/reflexão sobre a Palavra de Deus.
São meditações/reflexões simples, acessíveis a todos.
Como sempre faço, umas horas antes recolhi-me em oração e pedi ao Espírito Santo que me conduzisse, que me "mostrasse" aquilo que queria dar-nos para nossa meditação.
Normalmente, depois de abrir a Biblia, fico em meditação e vou tomando pequenas notas do que me vem ao coração, e é sobre essas notas que depois desenvolvo oralmente a reflexão.
Mas desta vez, logo desde o início, dei por mim a escrever tudo o que deveria dizer, pelo que esta meditação/reflexão, ficou desde logo escrita e portanto assim foi lida, com algumas poucas intervenções "improvisadas" para explicar melhor certos pontos.
E por que ela ficou escrita, aqui vo-la deixo.
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Quando hoje tentava perceber o que o Senhor queria colocar no meu coração para servir de nossa reflexão, abri a Bíblia e o texto em que coloquei os olhos foi: 2 Cor 13,11-13.
«De resto, irmãos, sede alegres, tendei para a perfeição, confortai-vos uns aos outros, tende um mesmo sentir, vivei em paz e o Deus do amor e da paz estará convosco.
Saudai-vos mutuamente com o ósculo santo. Saúdam-vos todos os santos.
A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo estejam com todos vós!»

Julguei, pobre de mim, que não deveria ser isto que Ele queria que meditássemos e depois de mais uma oração voltei a abrir a Bíblia e então o texto foi: Act 2, 42-47.
«Eram assíduos ao ensino dos Apóstolos, à união fraterna, à fracção do pão e às orações.
Perante os inumeráveis prodígios e milagres realizados pelos Apóstolos, o temor dominava todos os espíritos.
Todos os crentes viviam unidos e possuíam tudo em comum. Vendiam terras e outros bens e distribuíam o dinheiro por todos, de acordo com as necessidades de cada um.
Como se tivessem uma só alma, frequentavam diariamente o templo, partiam o pão em suas casas e tomavam o alimento com alegria e simplicidade de coração. Louvavam a Deus e tinham a simpatia de todo o povo.
E o Senhor aumentava, todos os dias, o número dos que tinham entrado no caminho da salvação.»

Não havia então dúvidas que o Senhor nos chamava a atenção, que o Senhor queria que reflectíssemos para o modo como vivemos a fé, como vivemos o amor, como vivemos como irmãos, como vivemos em sociedade, como vivemos em comunidade.

E é bem verdade que cada vez mais, se os homens não se ajudarem mutuamente, não se ampararem mutuamente, com muita mais facilidade poderão fracassar, sucumbir, desesperar.

E esta ajuda mútua não pode ser apenas material, mas também emocional, humana, espiritual.

Percebemos, vamos percebendo que cada vez menos podemos contar com os estados para suprirem as nossas dificuldades, as nossas provações, os nossos sofrimentos, e mesmo essa ajuda dos estados é sempre muito impessoal, muito específica, limitando-se muito mais ao material do que a todo o resto que envolve o homem.

Reparemos então que o Senhor nos concede agora um campo de excelência para colocarmos em prática a fé que afirmamos professar.

Talvez os outros já não esperem nada de nós, cristãos e católicos, talvez não nos achem diferentes, talvez julguem que não somos capazes de fazer mais do que os outros.

Por isso mesmo é cada vez mais tempo de nos deixarmos envolver verdadeiramente no amor de Deus que nos transforma, que nos dá forças e coragem, para lutarmos não só por nós, mas sobretudo pelos outros.

O nosso testemunho tem de ser cada vez mais um testemunho vivo, que confirme nas atitudes, nas acções, aquilo que afirmamos acreditar e viver, que confirme o nosso compromisso com Jesus Cristo.

E esse testemunho tem de ser dado no concreto da vida, junto dos que sofrem, dos que mais precisam, seja materialmente, seja espiritualmente.
E não são os pobres "materiais" que precisam de nós, pois há muito rico em bens que é muito pobre espiritualmente.

Os jovens olham para nós e por isso mesmo temos de dar um testemunho de que a nossa fé é verdadeira, que acreditamos que o nosso Deus é um Deus vivo que está no meio de nós.

Porque somos tantas vezes tão tristes, tão desesperados, tão pessimistas?

Porque colocamos tantas vezes a nossa esperança em fórmulas de oração repetidas a um qualquer Santo ou Santa, (e não me refiro às novenas), com coisas tão sem sentido como ter de fazer 25 fotocópias disto ou daquilo, como forma de obter uma qualquer graça?

Já parámos para pensar o que é que isso diz aos jovens, o que pensam eles desse tipo de atitudes?

Quando por vezes colocamos as pessoas mais velhas em lares, arranjando desculpas que realmente não são mais do que desculpas recheadas de egoísmo da nossa parte, (embora claro haja casos de necessidade verdadeira), que testemunho damos aos jovens sobre o amor que devem ter aos seus pais, aos mais velhos?

E que esperamos nós que eles nos façam quando chegar o nosso tempo?

É Jesus quem nos diz em Lc 8, 21, quando Lhe falam da Sua família:
«Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a Palavra de Deus e a põe em prática».

Hoje o mundo não se comove com atitudes “beatas”, mas impressiona-se com um testemunho de vida desprendida, daqueles que pensam nos outros, que ajudam os outros, que se preocupam com os outros, que são enfim missionários da Palavra de Deus na prática do dia a dia, na Igreja, na família, no trabalho, no descanso, em cada momento e em qualquer lado.

Só o amor pode gerar amor, e só o amor pode levar à felicidade, meta que cada mulher, cada homem quer atingir.

Diz-se que o dinheiro ajuda à felicidade, e é verdade se dispusermos dos nossos bens em favor daqueles que mais precisam.

Como queremos nós ter a «simpatia do povo» Act 2, 47, se vivermos fechados em nós próprios, para as nossas vidas, para a vida dos que nos são mais próximos de quem gostamos, para as nossas coisas que apenas nos servem a nós?

Jesus Cristo veio ao mundo, fez-se Homem para todos e deu-nos a missão de O darmos a conhecer a todos, de O levarmos a todos.

E não nos deixou sós, ficou connosco e derramou em nós o Espírito Santo.

E é o Espírito Santo que devemos, que temos de pedir todos os dias, para que nos guie, nos conduza e nos faça cumprir a missão a que fomos chamados e dizemos acreditar.

Conduzidos pelo Espírito Santo e a Ele entregues seremos então verdadeira família de Jesus, filhos de Deus, do Deus de amor que a todos ama por igual.

Não tem sentido vivermos para a nossa salvação, apenas vivendo para a nossa própria salvação!

Tem sentido sim, e é isso a que somos chamados, procurarmos a salvação de todos para também nós nos salvarmos.

O mundo precisa de nós, do nosso testemunho de filhos de Deus, e Cristo quer precisar de nós para ajudarmos na salvação da humanidade, que é dom, que é graça, já o sabemos, mas a que temos de nos abrir, para podermos receber.

Por isso não é só entre nós cristãos empenhados, nas nossas comunidades paroquiais, que assim devemos proceder, mas em todos os momentos e lugares, sobretudo junto daqueles que mais precisam e mais longe estão da verdade do amor de Deus.

Vivamos sempre conforme aquilo que São Paulo nos diz no primeiro texto da 2 Cor 13, 11-12:
«De resto, irmãos, sede alegres, tendei para a perfeição, confortai-vos uns aos outros, tende um mesmo sentir, vivei em paz e o Deus do amor e da paz estará convosco.
Saudai-vos mutuamente com o ósculo santo. Saúdam-vos todos os santos.»

Saudemo-nos também nós agora no fim desta meditação com esse ósculo santo, testemunhado por todos os santos, e que esta saudação que agora aqui vamos dar entre nós, seja repetida no dia a dia das nossas vidas junto dos outros, sempre que o Senhor Jesus Cristo o colocar nos nossos corações.

Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

ELE ESTÁ À NOSSA ESPERA!

Era um dia férias, faz quatro dias agora, e esperava por uns irmãos da Comunidade que tinha convidado para almoçarem comigo na praia.
Caminhei em direcção ao restaurante apesar de ainda faltar muito tempo para a hora marcada e à medida que caminhava lembrei-me que mesmo ao lado do restaurante ficava a capela da praia, e logo decidi que era o melhor sitio para esperar por eles.
A verdade é que para além do mais, nestes dois curtos dias de férias a minha oração tinha sido pouca, o tempo que tinha dedicado a Quem me tinha dado as férias tinha sido muito pouco.
Assim era tempo de Lhe dizer pessoalmente, que estava um pouco envergonhado, que tinha esmorecido a minha oração, a minha intercessão por aqueles que me confiam as suas preocupações, que tinha enfim gasto tempo em nada, quando Ele era tudo e tudo podia fazer do tempo que eu gastava.
Entrei na capela e logo agradeci a primeira graça que Ele me dava:
Não estava ninguém, por isso podia estar em paz, sem interferências. Era um bocadinho egoísta, é certo, mas a verdade é que precisava daquele tempo que Ele de forma tão simples me proporcionava.
E foi um nunca acabar de orações, de pedir perdão, de pedir pelos outros e por mim também, de desfiar preocupações, dúvidas, planos e projectos, enfim a minha cabeça não me dava descanso, não Lhe dava descanso e sobretudo não permitia sequer que Ele falasse comigo, que Ele me deixasse sentir a Sua presença.
Ao fim de uns trinta minutos esgotei assunto, ou Ele o esgotou em mim e dei por mim de cabeça entre as mãos, sentado com os cotovelos nos joelhos e dizendo-Lhe cheio de vergonha, mas com o coração nas mãos:
Caramba ainda nem sequer me calei desde que aqui entrei, e ainda nem deixei que me dissesses o que queres de mim, o que me queres dizer, o que queres precisar de mim!
De mansinho, muito de mansinho, como aquela brisa, sabem, a calma foi chegando, a paz foi-se instalando, deixei de ter peso, de ter espaço, de ter tempo e Ele foi tomando conta de mim, foi-me envolvendo, foi-me aconchegando, acarinhando, abraçando, até que ficámos ali os dois, apenas os dois e mais nada, nem paredes, nem bancos, nem barulhos da rua, nem nada que perturbasse aquele momento de amor.
Não sou muito dado a momentos místicos, mas aquele momento levou-me a um estado de paz, de alegria interior, de certeza da presença de Deus em mim e comigo e sem dúvida nos outros.
Baixinho, sussurrando, disse-Lhe absolutamente convicto de que me ouvia:
Obrigado Senhor!
Ouvi-O também no meu coração dizer-me:
Vês como também no mundo se vive o Paraíso?
Pois é muito mais do que isto, muito mais, o que prometi e prometo a todos os que Me seguirem.
Ainda Lhe perguntei na minha pequenez:
Que queres de mim, Senhor?
E Ele respondeu amorosamente:
Nada! Agora neste momento não quero nada de ti!
Queria apenas que soubesses que Eu estou sempre, sempre convosco!
Um choro de criança na rua fez-me perceber que aquele momento tinha acabado, mas que era sempre possível quando nos deixamos envolver pelo Mestre, quando nos deixamos tocar pelo Seu amor.
Olhei para o relógio e o telemóvel vibrou!
Eram eles, estavam a chegar, ali mesmo à porta da capela!
O tempo que eu tinha gasto, tinha-O Ele arranjado para Se encontrar comigo e me lembrar do Seu eterno amor por nós!

Isto aconteceu comigo, agora neste tempo!
Não o inventei, mas senti-O, mas vivi-O!
Não hesites, vai à Sua procura.
Entra numa igreja, no silêncio do teu quarto, ou do sítio que escolheres e quando lá chegares reza, fala, pede, intercede, esgota todo o assunto e depois deixa que Ele tome conta de ti e preencha o teu silêncio!
Ele não falha, Ele não falta, Ele está à tua espera!

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

DÁ-LHE UMA CANA, NÃO LHE DÊS O PEIXE...

No outro dia, quando estava na Missa e durante a acção de graças, veio ao meu pensamento aquele provérbio ou ditado chinês, (segundo dizem), e que diz mais ou menos o seguinte:
«Não dês ao pobre o peixe, mas dá-lhe uma cana e ensina-o a pescar.»
Fiquei ali a pensar um pouco no que é que o Senhor me queria dizer com aquilo e depois da Missa e já em casa, e até agora, volta e meia o provérbio vem ao meu pensamento.
Nós somos os pobres que tudo pedimos a Deus e muito gostaríamos que Ele tudo nos desse sem termos nenhum trabalho, ou seja, sem conduzirmos as nossas vidas segundo a Sua vontade.
Mas Ele que nos conhece bem melhor do que nós nos conhecemos, nunca nos dá tudo o que queremos, e sobretudo não nos dá sem haver esforço do nosso lado, porque Ele sabe muito bem que se nada nos faltar, também Ele, pensaremos nós, nos deixará de fazer falta, e sem Ele não poderemos salvar-nos, não poderemos encontrar a verdadeira vida a verdadeira felicidade.
Ou seja, Deus não nos dá o peixe, mas dá-nos a cana e ensina-nos a pescar.
‘Disse-lhes Ele: «Lançai a rede para o lado direito do barco e haveis de encontrar.»’ Jo 21,6
Mas muitos de nós também, em vez de nos servirmos da cana que Ele nos dá para pescarmos, para encontrarmos o caminho das nossas vidas, deitamos fora a cana e vamos procurar outra ou outras canas, pensando nós que serão melhores e mais rápidas para encontrarmos a felicidade.
A cana que Ele nos dá chama-se amor, as canas que nós procuramos e com as quais pensamos conseguir a vida chamam-se dinheiro, egoísmo, obcecação pelo trabalho, obcecação pelo sexo, etc, etc.
É que com estas canas, parece-nos que alcançamos muito rapidamente aquilo que julgamos ser a felicidade, mas a verdade é que esses momentos são muito efémeros, podem durar mais ou menos tempo, mas acabam sempre e normalmente com grandes frustrações.
Já a cana do amor, usada com os ensinamentos do Mestre leva-nos a encontrar o verdadeiro sentido da vida e assim sendo o caminho da felicidade que encontra a plenitude na comunhão com Cristo.
O “peixe” que pescamos com a cana que Deus nos dá, é sempre um “peixe” que acrescenta algo às nossas vidas, que nos vai fazendo crescer, que se torna vida em nós e que por fim nos leva ao encontro final e eterno com Deus.
O “peixe” que pescamos com as canas que arranjamos no mundo, é sempre um “peixe” que serve no momento, mas depois se esgota, que nada acrescenta às nossas vidas a não ser momentos fugazes de prazer, que acaba por nos conduzir a uma eternidade sem Deus, e portanto a uma eternidade “morta”.
O curioso é que com a cana que Deus nos dá também podemos pescar coisas do mundo, e servirmo-nos delas para nós e para os outros, mas com as canas que o mundo nos dá nunca podemos pescar as coisas de Deus, que nos dão a verdadeira vida.
«Dá-nos Senhor, a cada um, a cana que precisamos em cada momento, para “pescarmos” com o Teu amor e no Teu amor, as nossas vidas.»