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terça-feira, 10 de dezembro de 2024

CONTO DE NATAL 2024

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Tantas vezes já tinha tentado falar com os seus pais para lhes pedir perdão por tantas coisas erradas que tinha feito e que o tinham levado a sair de casa.

Tantos problemas que tinha causado e tinham entristecido os seus pais que, no entanto, sempre lhe respondiam com todo o amor que tinham por ele.

Lembrava-se de ter saído intempestivamente de casa, dizendo que se ia embora para sempre, deixando-os mergulhados numa profunda tristeza e desalento.

Agora via tudo isso, mas naquele tempo, um qualquer mal que ele não entendia, tinha-o levado a quase odiá-los por não quererem entender, julgava ele, as suas “verdades”.

O que seria feito deles?

Sabia que viviam na mesma casa de sempre, que os anos tinham passado por eles, e alguém lhe tinha dito que viviam sem alegria.

Também ele agora, passados aqueles anos loucos em que se tinha deixado consumir pelos maus caminhos, pela droga, pela sua mania de tudo pensar saber, sentia uma enorme tristeza dentro de si que, quando reflectia conscientemente, percebia que não era só pela vida que tinha levado, mas sobretudo por aquilo que tinha feito a seus pais e por este afastamento deles que agora vivia.

De repente percebeu algo tão nítido que ficou surpreso com ele mesmo.

“Aquilo que tinha feito a seus pais”! “Tinha feito”!

Então se “tinha feito”, pensou ele, era passado e estava muito a tempo de ir ter com eles, pedir perdão e deixar que o amor que ele sabia eles lhe tinham, fazer o resto.

Mas dentro dele ainda vivia um orgulho quase incontrolado.

Ir ter com eles e pedir perdão era reconhecer que tinha errado e, se ele queria sentir a paz do perdão dentro de si, a realidade é que teria de reconhecer que afinal não era dono da verdade e tinha errado, e isso parecia-lhe uma barreira quase intransponível.

Mas ele agora estava tão bem!

Tinha vencido o vício, tinha um bom emprego, um bom apartamento, enfim, uma boa vida e, no entanto, percebia, mais uma vez, que aquela situação não o deixava ser feliz e viver em paz.

Era véspera de Natal, e ele lembrou-se de que nesse mês e nesse dia, algo de bom, de sensível, se vivia sempre em casa dos seus pais, com os preparativos e a chegada do Natal, com uma alegria calma e aconchegante.

Já não rezava há tanto tempo, pensou ele.

Tudo isso tinha afastado da sua vida e já nem se lembrava das orações que faziam em casa de seus pais.

De qualquer modo fechou os olhos, baixou a cabeça, e quase num murmúrio disse: Menino Jesus, se me amas, ajuda-me a nascer de novo.

Veio ao seu coração uma certeza inabalável: Tinha que ir a casa dos seus pais nessa noite pedir-lhes perdão e que o deixassem passar com eles a noite de Natal.

Num instante colocou algumas coisas num saco e partiu de viagem, porque já era tarde e ainda tinha muito quilómetros para fazer.

Longe, na terra de seus pais, já se celebrava a Missa do Galo e eles lá estavam, como sempre na igreja, tentando viver com alguma alegria a noite de Natal.

Mas era quase impossível, porque o seu filho longe e sem saberem onde, gerava uma tristeza muito profunda nos seus corações.

Deram as mãos no Pai Nosso e mesmo sem dizerem nada um ao outro, sabiam que nessa oração pediam ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo por aquele filho a quem tanto amavam.

Acabada a Missa saíram da igreja e caminharam apressadamente, por causa do frio, para sua casa que era ali bem perto.

Quando chegaram perto de casa, perceberam que junto à porta de entrada estava um vulto de homem, e ficaram um pouco receosos.

À medida que se aproximavam parecia-lhes que o ar se tornava mais leve, que uma qualquer melodia enchia aquela rua, que uma expectativa alegre tomava conta dos seus corações.

Foi então que reconheceram o seu filho junto à porta e, sem pensarem nem um pouco, correram para ele enquanto ele corria para eles, também.

Abraçaram-se chorando de alegria e quando ele tentava pedir-lhes perdão, eles só lhe diziam: Obrigado, obrigado por teres vindo ter connosco. Vem, entremos em casa e vivamos o Natal que fez renascer o nosso menino.

No presépio, podiam jurar que o Menino Jesus, Maria e José, sorriam embevecidos com os abraços intermináveis daquela família.




Marinha Grande, 10 de Dezembro de 2024
Joaquim Mexia Alves

Com este Conto de Natal desejo a todas as pessoas que visitarem este espaço um Santo Natal, vivido no amor e na alegria de Deus que se fez Homem para nós.

segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

CONTO DE NATAL 2023

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Sentada no cadeirão do lar onde passava os longos dias da sua velhice, sonhava acordada vendo os seus filhos entrarem pela porta daquela sala para lhe darem um beijo de Boas Festas pelo Natal.

Olhava para as suas companheiras e companheiros pensando que alguns deles, coitados, não teriam filhos que os viessem beijar e desejar bom Natal.

Verdade seja dita, pensou ela, que há muito tempo os seus filhos não a vinham visitar, mas o seu coração de mãe, cheio de amor, ia encontrando desculpas para eles não a visitarem.

Coitadas das suas “meninas” e “meninos”, com certeza atarefados nas suas vidas de trabalho, de família, já com filhas e filhos a criar e que, por isso, não teriam tempo para a visitar.

Sorriu ao lembrar-se das suas netas e netos que há tanto tempo já não via e até lhe parecia, (a sua memória já não era muito fidedigna), que talvez houvesse alguns que ainda não conhecia.

Os seus olhos doces encheram-se de lágrimas suaves quando se lembrou da sua antiga casa e do Natal, ainda com o seu homem e aquelas seis filhas e filhos que Deus lhes tinha dado ao redor da mesa, numa algazarra alegre e bem disposta.

Que saudades lhe vieram ao coração ao lembrar-se de todos esses Natais onde se percebia bem como a família ia crescendo sem parar.

Fechou os olhos e numa prece a Deus, pediu por todos eles e também, (embora com algum receio que estivesse a pedir demais), que o Menino Jesus lhe concedesse a alegria de viver esses Natais tão realmente quanto possível.

Regressou à realidade do lar e da sala onde se encontrava, respondeu qualquer coisa, sem pensar, a uma qualquer pergunta da companheira do lado, olhou para o grande calendário pendurado na parede, (também não era preciso ser tão grande, até parece que ali estava para contarem os dias que lhes faltavam para partir definitivamente!!!), e viu que era dia 24 de Dezembro pelo que, pensou ela quase num sonho, ainda havia tempo para a família a vir visitar.

A tarde chegava ao fim e ela, resignadamente, olhou para o crucifixo pendurado na parede e para o pequeno presépio colocado numa mesa de canto, e rezou baixinho:
Obrigado Jesus porque quiseste nascer para nós, quiseste ser igual a nós e até morrer por nós, para nos salvar.
Olha por todos os meus e dá-lhes tanta felicidade como me deste a mim, até mais, eu Te peço, e não deixes que nunca se sintam sós.
Perdoa por me sentir nestes momentos tão só, tão desamparada, mas olha, Jesus, coloco estes momentos na Tua Cruz, dou-tos como presentes no Teu Presépio, oferecendo-os pela conversão, felicidade e salvação de todos os meus.

Aquela oração trouxe uma paz e uma alegria serena ao seu coração e ela sorrindo, pensou: Sou tão feliz por ter Jesus comigo!

Foi nessa altura que a porta da sala se abriu e o seu filho mais velho entrou e chegando a ela beijou-a com toda a ternura dizendo-lhe: Anda, mãe, a empregada do lar já está a fazer-te uma pequena mala para vires jantar e passar a noite de Natal a nossa casa!

Ela nem sabia o que dizer e as lágrimas inundaram-lhe a cara.

À porta de casa do seu filho, depois de sair do carro, beijou-o novamente e de mão dada com ele entrou em sua casa, que afinal era a mesma casa que tinha sido sua.

Ao chegar à sala da casa, ficou completamente rendida à alegria, à saudade, a algo tão inexplicável que parecia lhe “rebentava” qualquer coisa no seu coração.

Ali, naquela sala de tantas memórias, estavam todas as suas filhas e filhos com as suas famílias, que a rodearam e cobriram de beijos e abraços.

Ia jurar que a um canto da sala estava o seu querido marido, sorrindo para ela de felicidade.

Fechou os olhos e rezou: Obrigado Jesus, porque me ouviste e agora me fazes viver novamente o Natal de sempre!





Marinha Grande, 18 de Dezembro de 2023
Joaquim Mexia Alves


Com este Conto de Natal quero desejar a todos quantos visitam este espaço, e às suas famílias, um Santo Natal e um Feliz Ano Novo, cheio das bênçãos de Deus.
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segunda-feira, 19 de dezembro de 2022

CONTO DE NATAL 2022

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Aproximava-se o Natal e a inspiração não vinha.

Desde há mais de dez anos que em cada Natal escrevia um Conto que, volta e meia, relia e se espantava como tinha tido tal inspiração.

A verdade é que, normalmente, quando se aproximava o Natal, numa qualquer madrugada acordava às seis ou sete da manhã, (o que tantas vezes lhe acontecia), e, sem perceber como ou porquê, a história para o Conto surgia no seu coração, no seu pensamento.
Depois era só escrever, mais tarde, e ao tempo que escrevia iam surgindo as frases encadeadas.

Mas este ano, nada!
O tempo estava a acabar e nem uma “luzinha” sequer de uma qualquer ideia para o seu Conto de Natal de 2022.

Percorria na memória cenas bíblicas, histórias passadas, episódios natalícios, mas nada, nenhum desses pensamentos lhe transmitia aquela “segurança” que costumava sentir quando lhe vinha ao coração e ao pensamento a trave mestra de cada Conto de Natal.

Bem, pensou ele, chegou ao fim este ciclo de Contos de Natal.

Acabaram-se as ideias, acabaram-se as razões, ou, simplesmente, haverá outro modo de escrever sobre o Natal, porque a escrita para ele, era um contínuo processo em que as palavras iam aparecendo conforme escrevia.

“Arrumou” os pensamentos na “gaveta mental” dos Contos de Natal e decidiu procurar outro modo de escrever o Natal.

Naquela madrugada de 24 de Dezembro, mais uma vez, acordou às seis da manhã.
Seria para rezar, certamente, porque o Conto de Natal já estava “arrumado” na memória.

Foi então que ouviu dentro de si uma voz que lhe dizia.
Queres um Conto de Natal, Joaquim?

Ficou em silêncio com receio que aquele momento acabasse de repente, mas no seu coração apenas dizia sim, mil vezes sim.

Novamente ouviu, ou sentiu, no seu coração aquela voz que lhe disse:
Pois bem o teu Conto de Natal este ano, Joaquim, sou Eu!

És Tu, Senhor? - Perguntou sem perceber.

Sim, Joaquim, sou Eu!
O teu Conto de Natal este ano sou Eu naqueles que sofrem.
O teu Conto de Natal este ano sou Eu naqueles que nada têm.
O teu Conto de Natal este ano sou Eu naqueles que estão doentes.
O teu Conto de Natal este ano sou Eu naqueles que estão presos.
O teu Conto de Natal este ano sou Eu naqueles que estão em guerra.
O teu Conto de Natal este ano sou Eu naqueles que estão abandonados.
O teu Conto de Natal este ano sou Eu naqueles que estão desesperados.
O teu Conto de Natal este ano sou Eu naqueles que estão sós.
O teu Conto de Natal este ano sou Eu naqueles que são perseguidos.
O teu Conto de Natal este ano sou Eu naqueles que são ofendidos.
O teu Conto de Natal este ano sou Eu naqueles que estão traumatizados.
O teu Conto de Natal este ano sou Eu naqueles que não têm esperança.
O teu Conto de Natal este ano sou Eu naqueles que não têm amor.
O teu Conto de Natal este ano sou Eu naqueles que Me afastam.
O teu Conto de Natal este ano sou Eu naqueles que não acreditam.
O teu Conto de Natal este ano sou Eu naqueles que cantam, apesar de todas as dificuldades, «glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade.»

Abriu os olhos, sorriu, e disse numa prece do seu coração:
Que lindo Conto de Natal, Senhor! Só podia ser escrito por Ti!




Marinha Grande, 19 de Novembro de 2022
Joaquim Mexia Alves 


Com este Conto de Natal desejo a todos que visitam este espaço um Santo Natal na alegria de Jesus Cristo Nosso Senhor!

segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

CONTO DE NATAL 2021

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Com este Conto de Natal desejo a todos os amigos e amigas que passarem por esta minha página um SANTO NATAL e um NOVO ANO cheio das bênçãos de Deus.
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“Os pães e os peixes”


Ali estava na sua sala, sentado, completamente só, os filhos longe, a mulher já tinha falecido e a vida madrasta tinha-o deixado apenas nos níveis de sobrevivência, sendo aquela casa o único bem que ainda possuía, não sabia por quanto tempo.

Levantou-se e foi à cozinha ver o que haveria para comer na Ceia de Natal.
Riu-se interiormente ao pensar em Ceia de Natal, ele que não tinha nada, ter qualquer refeição que se assemelhasse sequer a uma ceia, quanto mais a uma Ceia de Natal.
Abriu a caixa do pão e viu que tinha dois pãezitos, (já um pouco duros), e numa caixa no frigorifico vazio um carapau frito que já nem sabia de quando era.

Riu-se novamente, mas agora ruidosamente e disse alto sabendo que ninguém o ouviria: Agora o que me fazia falta era Jesus Cristo para abençoar estes pães e este peixe e, assim, com certeza não faltaria abundância para uma verdadeira Ceia de Natal.

Pegou nos pães e no peixe, num copo de água e foi sentar-se na sala para comer então a sua paupérrima Ceia de Natal.
Apesar da escassez e de tudo o que estava a passar, a tristeza profunda que lhe causava esta Natal sozinho e sem nada, benzeu-se e agradeceu a Deus pelo pouco que tinha porque, apesar de tudo, haveria outros que nem isso teriam com certeza.
Pegou num pão, partiu-o e, quando se preparava para o começar a comer, bateram à porta.
Pôs o pão de lado, levantou-se e foi abrir a porta.

Era um casal seu vizinho com uma caixa grande nas mãos e que lhe disseram: Ó vizinho, sabemos que está sozinho e com dificuldades. Nós também estamos sozinhos, mas graças a Deus ainda temos que nos chegue e assim lembramo-nos de nos fazermos convidados para passar o Natal em sua casa, pois sabíamos que se o convidássemos o vizinho não iria. Deixa-nos entrar?

Embora envergonhado, abriu a porta e deixou-os entrar dizendo: Mas eu não tenho nada para comer! Tenho apenas uns pãezitos e um peixe!
Eles responderam: Não se preocupe. Trazemos aqui nesta caixa um bom peru assado e recheado, com os seus acompanhamentos, que irá servir de Ceia de Natal a todos nós.
Sem palavras, com a voz embargada, agradeceu e sentaram-se à mesa.

Mas, mais uma vez, bateram à porta e ele lá se levantou para ir abrir.

Desta vez era um casal bem mais jovem, com o seu filho ainda criança, seus vizinhos também, e que lhe disseram: Sabíamos que estava sozinho, que se o convidássemos para nossa casa não iria, por isso viemos fazer-lhe companhia nesta noite de Natal. Espero que não leve a mal e nos deixe entrar.

Bem, pensou ele, se já cá estão uns porque não deixar entrar estes também.
Foram entrando e entregando umas caixas dizendo que eram bolos para adoçar a noite.
E, novamente, lá se sentaram todos à mesa.
Ele, já bem mais disposto, perguntou alto se mais alguém bateria à porta.

Ainda não tinha acabado de falar e novamente tocam à porta.

Desta vez era um vizinho, só como ele, mas que vivia bem, e lhe disse: Pensei para mim que estando sozinho e o vizinho também, faria mais sentido vir bater à sua porta, fazer-me convidado e assim fazermos companhia um ao outro. Trago aqui umas garrafas de vinho para acompanhar o que houver para comer.
Espantado, admirado, deixou-o entrar e finalmente sentaram-se à mesa, que agora se apresentava bem guarnecida com o peru e os seus acompanhamentos, diversos bolos e vinho que chegava à vontade para todos.

De repente lembrou-se do que tinha dito alto na cozinha, quando estava sozinho, de que o que precisava era de Jesus Cristo para abençoar a comida e assim haver abundância na sua mesa.
Soltou uma gargalhada e contou a todos os outros o que tinha acontecido, o que tinha dito e como via ali a multiplicação dos “pães e dos peixes” e também dos amigos.

Riram-se todos com alegria, rezaram um Pai Nosso em acção de graças e a criança disse toda contente: Hoje é mesmo Natal!!! O Menino Jesus está mesmo aqui connosco!!!
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Monte Real, 17 de Novembro de 2021
Joaquim Mexia Alves 

quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

CONTO DE NATAL 2020

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Olhavam um para o outro com a tristeza nos olhos.

Como seria possível, com a situação de pandemia, juntar os seus dois filhos e as suas famílias no Natal, como sempre faziam todos os anos.

Vivendo longe uns dos outros, era a única noite do ano em que a família toda se juntava, pais, filhos e netos.

 

Decidiram então propor a todos que cada um tomasse a decisão de vir, (ou não), passar o Natal, na certeza de que a sala da casa, sendo grande, dava para todos estarem à distância necessária com as máscaras colocadas.

Seria muito estranho, mas ao menos, poderiam olhar-se nos olhos.

Quanto à ceia de Natal, haveria uma mesa no meio da sala, e cada um iria servir-se e voltava para o lugar marcado para cada família e afastados uns dos outros.

Quanto mais pensavam naquilo, mais achavam estranha a situação, mas ficaram felizes quando todos disseram que viriam, então, passar o Natal.

O dia 24 chegou e com ele começaram a chegar os filhos e as suas famílias, para dar vida aquele casarão enorme, que normalmente estava vazio só com eles os dois.

Foram muito emocionais as chegadas, tanto mais que os cumprimentos eram “longínquos”, para não colocar em risco quer as crianças, quer os mais velhos.

Era uma coisa muito confusa pois pareciam famílias dentro de uma família!

Quando chegou a hora da ceia e já estavam todos na sala nos lugares previamente designados para cada família, (com as crianças um pouco irrequietas, o que era normal), ele, o pai da família, pediu a todos que, depois de irem buscar a comida e quando tirassem as máscaras para comer, fizessem um momento em que todos olhariam uns para os outros e sorririam de modo a que se pudessem ver sem a barreira da máscara.

E assim foi.

Depois de se servirem, estando todos nos seus lugares, tiraram as máscaras e olharam uns para os outros, sorrindo e com algumas lágrimas incontidas correndo por algumas caras.

As crianças, claro que achavam tudo aquilo muito estranho, mas a visão dos presentes junto ao presépio, ultrapassavam a sua estranheza.

Então ele, o pai da família, pediu a todos que rezassem um Pai Nosso pela família e também por todos os que não tinham Natal.

E foi extraordinário, porque parecia que todos estavam de mãos dadas e que uma só voz fazia subir a oração ao Céu.

E o mais pequenito, que já falava, gritou de alegria: Que bom é o Natal!

 

Marinha Grande, 12 de Novembro de 2020

Joaquim Mexia Alves

NOTA: Com este Conto de Natal desejo a todos quantos por aqui passarem um Santo Natal e um Feliz Ano Novo cheio das bênçãos de Deus.

A fotografia é do presépio da nossa igreja paroquial da Marinha Grande.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

CONTO DE NATAL 2019


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A noite estava fria, muito fria! Mais frio estava, no entanto, o seu coração que parecia já nada poder sentir!
Não se dava já ao trabalho de pensar no que tinha corrido mal e porque se tinha deixado empurrar para a rua deixando tudo e todos, família, amigos, enfim, uma vida que tinha tido tantas promessas e afinal em nada tinha tido sucesso.
Nem uma réstia de confiança ou de esperança faziam parte da sua vida agora e o abandono era total, pois não acreditava que ninguém sequer olhasse para ele ou se preocupasse com ele.
Ia caminhando sem alento, sem vontade, (como seria bom morrer!), e hoje ainda mais porque até o vão de escada onde costumava pernoitar tinha sido ocupado por outro mais novo e mais forte com quem ele tinha percebido nem valer a pena discutir.

Ouviu umas vozes. Pareciam-lhe cânticos e percebeu que estava à porta de uma igreja onde acontecia uma qualquer celebração.
Lembrou-se então de que era noite de Natal, mas isso não lhe interessou para nada, pois nada tinha importância na vida que agora vivia, ou melhor, que não vivia!
Pensou tão só que podia entrar e sempre estaria algum tempo resguardado do frio. Quando acabasse a celebração decidiria então onde ir, onde dormir.

Assim fez e entrou!
A igreja estava cheia e as pessoas cantavam e rezavam com alegria com entrega, achava ele.
Coitados, pensou, ainda acreditam em “contos de fadas”!
Teve a impressão de que olhavam para ele, mas como já não lhe interessava o que os outros pensavam dele, sentou-se num banco da igreja, num lugar que estava vago.
Olhou com desdém para o homem que estava a seu lado, mas foi surpreendido por um sorriso e um aceno de cabeça. Muito estranho, pensou ele.

A Missa, claro, era a Missa do Galo lembrou-se ele, que se ia desenrolando sem ele prestar qualquer atenção, a não ser quando o padre estava a pregar dizendo que o Menino Jesus tinha nascido numas palhinhas, numa manjedoura, (e ele logo pensou que era bem bom ter hoje uma manjedoura e umas palhinhas para dormir), que era amor, trazia o amor e que todos se deviam amar uns aos outros … e por aí fora, o habitual.
Riu-se por dentro pensando: Pois claro, olha como eles me amam!!!!

A certa altura todos se ajoelharam e ele, para não dar nas vistas, baixou a cabeça e deixou-se ficar em silêncio.
Sentiu-se bem naquela posição e uma estranha calma, uma quase imperceptível bondade, tomaram conta dele, de tal modo que adormeceu profundamente.
Sentiu que lhe tocavam no ombro, abriu os olhos e viu o seu vizinho de lugar de braços abertos para o abraçar dizendo: A paz de Cristo!
O homem era doido, pensou ele, pois sujo como estava quem é que o havia de o querer abraçar, mas lá se levantou e com alguma vergonha, (coisa estranha nele), lá se deixou envolver no abraço.

A Missa acabou e ele deixou-se ficar para o fim, para gozar um pouco mais do conforto daquele lugar em comparação com o frio da noite.
Quando saiu, sentou-se num canto da escadaria pensando para onde ir, onde dormir naquela noite.
Reparou então que em frente dele, de pé, estava o seu vizinho da Missa que lhe perguntou:
Quer boleia para algum lado?
Riu-se e disse-lhe com um tom um pouco irritado: Acha que tenho algum lugar para onde ir?
Então o homem retorquiu: Hoje é noite de Natal. Eu vivo sozinho, já não tenho ninguém. Tenho uma refeição que preparei à minha espera em casa, mas gostava de a partilhar consigo.
Mau, pensou ele, o que é que este quer???
Mas, curiosamente, o homem inspirava-lhe confiança e mal também não lhe havia de fazer, até porque pior do que ele estava já não podia acontecer.
Levantou-se e com cara de poucos amigos retorquiu: Está bem. Se tanto insiste.

O homem morava ali perto e num instante já estavam no aconchego da casa, mas ele sentia-se mal, sujo como estava, não estava nada à vontade.
O outro percebeu e perguntou-lhe: Quer tomar um banho quente? Somos da mesma estatura e eu arranjo-lhe umas roupas para vestir. Vai sentir-se melhor e depois ceamos.
Tudo aquilo era muito estranho, mas, como dizia o ditado, “a cavalo dado não se olha o dente”.

O seu novo amigo, que entretanto lhe tinha dito chamar-se André, (ao que ele, muito contrafeito, tinha respondido com o seu nome Pedro), entregou-lhe umas roupas lavadas, uma toalha e mostrando-lhe a casa de banho, informou que ia preparar a mesa e a ceia, para comerem quando ele estivesse pronto.
Saiu da casa de banho com uma nova disposição. Aquele banho e aquelas roupas faziam-no sentir bem melhor.
Sentou-se à mesa onde já estava o seu “novo amigo” André e ele perguntou-lhe com um sorriso se podia fazer uma oração antes de comerem.
Claro que respondeu afirmativamente, esperando que a oração não fosse muito longa porque cheirava tudo muito bem e ele trazia fome de muitos dias.

O André benzeu-se, (ele fez o mesmo por vergonha), e disse: Obrigado Jesus por Te teres feito homem como nós para nos ensinares o amor. Obrigado porque me conheces e sabes bem como me é difícil passar a noite de Natal sozinho e assim quiseste trazer o Pedro para me fazer companhia nesta noite. Abençoa-nos, protege-nos e guarda-nos no Teu amor.

Uma lágrima teimosa caiu-lhe pela cara e quando começaram a comer ele iria jurar que ouvia por toda a casa um cântico melodioso: «Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade».


Natal de 2019
Joaquim Mexia Alves

Com este Conto de Natal quero desejar a todos um Santo Natal na paz e na alegria do nosso Deus que se fez Homem para nos salvar, amando-nos até ao fim.

Nota:
Só depois de escrito o Conto reparei que há no mesmo uma "história escondida" que nos remete para um episódio bíblico.
Quem quiser descubra-o!

domingo, 16 de dezembro de 2018

CONTO DE NATAL 2018


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Sentado sozinho na sua sala, ao fim da tarde, pensava na sua família, pais, irmãos, sobrinhos, que na casa de um deles estavam reunidos para passar a noite de Natal.
Ele tinha-lhes dito com firme convicção que não celebrava coisas em que não acreditava, tais como o Natal, pois sempre tinha conduzido a sua vida pela ciência, pela lógica, e, obviamente, um filho nascer de uma mãe virgem por “obra e graça do Espírito Santo”, (esta frase fazia-o sempre rir com desdém), era coisa absolutamente impossível. 

Reconhecia que se sentia triste, só, quase como abandonado, mas em nome da sua coerência radical tinha que ser assim, para que eles percebessem o erro em que viviam.
Festa da família, sim senhor, mas não com aquela coisa do presépio e aquela crença absurda!

À medida que o dia se aproximava do fim, ele ia sentindo o barulho da rua aquietar-se, percebendo que a maioria das pessoas estava em suas casas, reunidas para os seus jantares de Natal e quase podia ouvir os risos e a excitação dos mais pequenos nas casas ao lado da sua.

Por um breve momento no seu coração desejou acreditar em toda aquela história do Natal, mas abanou a cabeça firmemente num não convicto vindo dos seus pensamentos mais racionais.

Recostou-se no sofá e lentamente adormeceu.

De repente viu-se numa espécie de deserto e ao longe, junto a umas rochas, uma gruta de onde saía uma luz estranhamente bela e suave.
Sentia-se um espectador de um filme real, pois por si iam passando pastores e rebanhos, várias pessoas, nitidamente trabalhadores humildes, (ia jurar até que tinha visto três sujeitos vestidos ricamente montados em camelos), e todos se dirigiam para aquela gruta, cantando uma melodia suave e alegre, com um sorriso nos lábios.
Aproximou-se então da gruta, para ver o que por lá se passava e viu uma cena de incrível beleza!
Numa manjedoura estava um bebé, (talvez o mais belo que já tinha visto), a seu lado uma mulher de olhar enternecido para o seu filho e a seu lado um homem imponente, mas que no entanto parecia de uma humildade que nunca tinha visto em ninguém.
E toda aquela gente se dirigia para ali e ficava a olhar para a criança dizendo coisas que ele não entendia muito bem, mas que no fundo reconheciam aquela criança como alguém muito especial.
Parecia-lhe até que uma espécie de anjos, andavam por ali, entoando cânticos muito belos.
Mesmo a dormir, percebeu que tudo aquilo era um sonho, por isso ficou muito admirado quando viu passar pela entrada da gruta os seus pais, os seus irmãos, os seus sobrinhos e toda a sua família.
Desejou então imenso estar com eles nesse momento!

De súbito acordou, pois tinham-lhe tocado no ombro e viu-se rodeado de toda a sua família que tinha entrado pela sua casa adentro.
Então o seu pai abraçou-o e disse-lhe: Mesmo que não acredites, Feliz Natal de todos nós, que com certeza não te íamos deixar sozinho neste dia.

Sentiu dentro de si um calor inexplicável, um sorriso aflorou aos seus lábios porque no seu coração ouviu uma voz muito suave que lhe dizia:
Há pouco, por um breve momento, desejaste acreditar. Esse desejo foi ouvido e por isso aqui estou, na tua família, para te dizer que a ciência e a lógica não explicam tudo, embora ajudem muito. Hoje o teu coração e o teu pensamento ficam mais ricos porque percebes agora que Eu sou Aquele que sou, inexplicável à ciência e à lógica, mas real na tua vida se tu quiseres.

Abraçou mais fortemente o seu pai e disse-lhe baixinho ao ouvido: Feliz Natal!



Marinha Grande, 26 de Novembro de 2018
Joaquim Mexia Alves
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Com este Conto de Natal quero desejar a todas as amigas e amigos que visitam este espaço um Santo Natal na alegria do Deus que se faz Homem para nós.
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terça-feira, 19 de dezembro de 2017

CONTO DE NATAL 2017

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Faltavam dois dias para o Natal.

Ao pensar nisso uma tristeza imensa tomou conta dele, porque sabia que seria já o segundo Natal sem o seu filho.
A última discussão por causa da vida de drogas sem sentido que o filho levava, tinha chegado a um tal extremo, que o filho tinha saído de casa, e ele, pai, nada tinha feito para o impedir.
Queria convencer-se de que fora melhor assim, porque o filho tinha que ser confrontado com a realidade da vida, e, se ele continuasse a sustentar-lhe aquele vício, o fim, com certeza, não estaria longe.

Mas vivia atormentado pela ausência do filho, (nunca mais o tinha visto ou falado com ele desde há cerca de dois anos), pelo medo de ter errado na sua decisão, e também porque via a sua mulher definhar em tristeza todos os dias, com a ausência total daquele seu filho único.

Absorto nos seus pensamentos, guiava como um autómato, e por isso só deu conta no último momento, daquela mulher que atravessava a rua na passadeira de peões.
Deu uma guinada repentina com o volante e foi bater com grande violência num poste de iluminação na berma da rua.
Apercebeu-se de imediato que o acidente tinha sido muito grave, sobretudo para ele, porque sentiu-se coberto do seu sangue, perdendo rapidamente a consciência.

Um estranho vazio tomou conta dele e percebeu que ouvia umas vozes, mas nada conseguia entender e também não conseguia abrir os olhos, não conseguia acordar, enfim, era mesmo um vazio imenso que ele sentia profundamente em todo o seu ser.

Neste espaço de tempo, sem tempo, (para ele), ouviu a certa altura, nitidamente, a palavra Natal, e percebeu que já conseguia abrir os olhos, que estava agora “acordado”!

Abriu então os olhos e encontrou logo à sua direita a cara sorridente da sua mulher, que lhe agarrava numa mão, e percebeu-se deitado numa cama de hospital.
Achou no entanto muito estranho aquele sorriso tão rasgado da sua mulher.
Com o seu olhar perguntava-lhe insistentemente a razão de tal sorriso, e reparou então que ela olhava para si e logo de seguida para o seu lado esquerdo.

Voltou a cabeça com alguma dificuldade, e o seu olhar encontrou o olhar do seu filho, que, com lágrimas nos olhos e inclinando-se para ele, lhe disse ao ouvido: Desculpa, pai, desculpa.

Respondeu-lhe com a voz sumida, carregada de emoção: Não te preocupes, meu filho. Que dia é hoje?

O filho olhou para ele e respondeu: É noite de Natal, pai, e estás no hospital há dois dias!

Fechou os olhos e interiormente disse com o coração: Obrigado Jesus, pela mais bela prenda de Natal que me podias dar.

Depois, apertando com mais força a mão da sua mulher, pediu ao seu filho que se inclinasse para ele, e dando-lhe um beijo terno na testa, disse: Feliz Natal, meu filho, Feliz Natal!


Marinha Grande, de 19 Dezembro de 2017
Joaquim Mexia Alves
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Nota: 
Com este Conto de Natal, quero desejar a todos quantos visitam  esta página e suas famílias, um Santo Natal e um Novo Ano cheio das bênçãos de Deus.
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terça-feira, 20 de dezembro de 2016

CONTO DE NATAL 2016

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Tinha abraçado a vocação ao sacerdócio com toda a convicção, mas agora tinha dúvidas, muitas dúvidas. E não eram, infelizmente, dúvidas sobre o sacerdócio, mas sobre o próprio Deus.

Não percebia porquê, mas agora que se aproximava o dia de Natal olhava para trás e percebia o ano terrível que tinha vivido.
A morte dos seus pais ainda relativamente novos, num acidente; aquele seu irmão, tão novo, com aquela doença incurável; aquele seu amigo de infância que ao fim de tantos anos de dificuldades, depois de nunca ter desistido de lutar, tinha acabado por “vencer na vida” e de repente, por um incêndio fortuito, tinha ficado novamente sem nada.
E o mundo? Que mundo este em que se trucidavam crianças, se decapitavam pessoas, se tratava melhor os animais do que os seres humanos, um mundo em que a barbárie, não só da violência física, mas também a violência verbal e psíquica, se tinha instalado e “dava cartas” em todo o lado.

E Deus? Deus onde parava? Por onde andava?
Sim ele sabia bem, (tinha-o estudado profundamente), que Deus nos tinha criado em liberdade total e por isso não interferia na liberdade de cada um.
Mas, caramba, há um tempo para tudo!
Então Deus podia assistir impávido e sereno à destruição do bem, à destruição da humanidade que Ele mesmo tinha criado à sua imagem e semelhança?
Tudo isto, somado a uma Igreja que a seus olhos parecia não encontrar união, mas parecia antes querer encontrar pontos de divisão, mais as conversas mantidas com tanta gente desiludida e revoltada, levantavam-lhe dúvidas, muitas dúvidas, a que ele não conseguia responder, sobretudo no seu íntimo.
Lembrava-se perfeitamente da Missa que tinha celebrado no dia anterior e como lhe tinha custado.
Na altura da consagração apeteceu-lhe deixar a patena e o cálice no altar e não proferir as palavras da consagração, mas depois lembrou-se que, mesmo que ele não acreditasse, a consagração sempre aconteceria, tal como ensinava a Igreja.

Era dia 24 de Dezembro e estava na sacristia pensando que ainda teria que celebrar à noite a Missa do Galo.
Era fim de tarde e a essa hora já não estava ninguém na igreja.
Foi colocar-se em frente ao sacrário com a cabeça entre as mãos e ali se deixou ficar, sem pensar, nem dizer nada, sem nada fazer.
Ao fim de algum tempo, cansado da posição em que estava e percebendo que o dia já estava a acabar, olhou o sacrário com um olhar ainda de esperança e disse:
Senhor Jesus Cristo, se aí estás, dá-me um sinal, qualquer coisa que me faça sair deste torpor que me afasta de Ti. Eu quero-Te, mas sinto-me cada vez mais longe de Ti.

Saiu da igreja e dirigiu-se para casa, mas em vez de seguir pela estrada normal, decidiu atravessar o pequeno pinhal que ficava entre a igreja e a casa onde vivia.
A luz do crepúsculo provocava sombras estranhas nas árvores, mas isso não lhe interessava minimamente, pois caminhava totalmente absorto nos seus pensamentos sobre Deus e sobre a sua fé.

Pareceu-lhe ouvir um ruído, um gemido, qualquer coisa, talvez um animal ferido.
Parou e pôs-se à escuta.
Ouviu então algo que lhe pareceu um choro de criança, pelo que começou à procura por entre os arbustos, tentando descobrir de onde vinha tal lamento.
Encontrou então deitada no chão da mata, envolvida num pequeno cobertor, uma criança, que chorava lancinantemente.
Aproximou-se e percebeu que, embora já não fosse um recém-nascido, era sem dúvida uma criança nascida há muito pouco tempo.
Retirou com todo o cuidado o cobertor que a envolvia e verificou que apesar das circunstâncias a criança lhe parecia estar bem de saúde.
Tocou-lhe numa mão com o seu dedo para ver a sua reacção, e logo os pequeninos dedos do bebé se agarraram, como desesperados ao seu dedo, com uma força tal que o espantou.
Colocou-o ao colo e trouxe-o para a estrada, enquanto ligava para as emergências explicando o assunto, e pedindo uma ambulância.
Sentou-se num marco na berma da estrada com a criança ao colo e mais uma vez colocou o seu dedo entre aquela pequena mão, que logo o agarrou novamente com toda a força.
Estava assim, embevecido a olhar para a cara do bebé, que entretanto tinha acalmado e dormitava no seu colo com uma expressão muita calma, quando sentiu no seu coração as seguintes palavras:
Vês, meu filho, só tens que fazer isto mesmo! Abandona-te como uma criança, agarra a minha mão com toda a tua força e perceberás que estás ao meu colo, que Eu estou contigo, e que, quaisquer que sejam as tuas dúvidas, eu sou o Senhor teu Deus que te ama, que te chama e que te guia. Hoje é noite de Natal! Quando regressares à igreja, vai junto do presépio e coloca o teu dedo nas mãos da minha imagem deitado nas palhinhas. Acredita, meu filho, que mesmo sem sentires, Eu me agarrarei ao teu dedo e não te deixarei partir, porque te amo e te quero para mim!

Ao longe já se viam as luzes da ambulância e ele iria jurar que se pareciam exactamente com as estrelas que tinha iluminado os pastores naquela Santa Noite!

O seu coração exultou de alegria e exclamou dentro de si:
Meu Senhor e meu Deus! Ó meu Menino Jesus, obrigado pelo teu presente de Natal!!!

Foi com muita relutância que deixou os bombeiros tirarem dos seus braços aquele seu “Menino Jesus”!


Marinha Grande, 19 de Dezembro de 2016
Joaquim Mexia Alves


Com este Conto de Natal, quero desejar a todos os que por aqui passam, amigos e amigas face a face ou "virtuais", um Santo Natal e um Novo Ano cheio das bênçãos de Deus.
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domingo, 20 de dezembro de 2015

CONTO DE NATAL 2015

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No frio da sua cela, só e sem alento, sentado na enxerga com a cabeça entre as mãos, pela milionésima vez pensava em tudo o que o tinha trazido até ali, àquela prisão que lhe retirava os anos jovens da sua vida.
Algumas más companhias, o álcool, os “charros”, a falta de encontrar interesses na vida que não fossem os imediatos, os prazeres rápidos e fortuitos, e aquela noite, aquela terrível noite que o tinha mandado directamente para a prisão.

E mais uma vez lhe veio a ideia, uma quase obsessão de fazer para o tempo, de recuar aos primeiros minutos daquela noite e fazer tudo diferente. Sobretudo parar o tempo antes daquele encontrão, que levou aos insultos e que num ápice lhe colocou aquela navalha na mão, que sem qualquer verdadeira razão, tinha espetado violentamente na barriga do outro jovem.
Ah, pudesse parar ali e ter oportunidade de dizer qualquer coisa como, desculpa, foi sem querer, e seguir caminho na noite.

Agora pensava assim, mas nos tempos que se seguiram a essa noite, durante o julgamento, e nos primeiros anos preso, uma raiva surda, um rancor, um quase ódio, tinham tomado conta dele. Afinal o culpado era o outro, que em vez de se afastar, em vez de ter percebido que o encontrão tinha sido sem querer, se “pôs a mandar vir” com ele, e por isso mesmo ele lhe tinha espetado a navalha na barriga. Morreu, mas a culpa era dele!

Mas os anos de prisão tinham-no amaciado. O sentir a vida tão jovem ainda, correr-lhe por entre os dedos, ali aprisionada, vivendo sem qualquer sentido, colocavam-no perante a realidade de perceber que afinal a culpa tinha sido dele e que o outro apenas tinha reagido como os jovens normalmente reagem. Era um arrependimento que pouco a pouco ia tomando conta do seu coração e curiosamente isso dava-lhe uma sensação de paz e de alívio.

Tinha havido uma audiência, (ou lá o que era), para analisar a sua possível libertação condicional, mas ele nada esperava, porque o seu comportamento anterior no julgamento, e durante os primeiros tempos na cadeia, não augurava nada de bom.

Era dia de Natal, (o que a ele dizia muito pouco ou nada), mas lembrava-se de uma ou duas conversas que tinha tido com o padre da prisão, que lhe tinha explicado de modo muito simples a história de Jesus Cristo, que tinha nascido no Natal e era Filho de Deus, segundo o padre, claro, e que tinha vindo para nos salvar com o seu sacrifício de amor.
Mal não fazia, pensou ele, e, ajoelhando-se no chão da cela, olhou para o Céu e disse: Não sei quem és e se estás aí, ou aqui, mas se me amas e se podes, ajuda-me como quiseres para que não perca totalmente a minha vida.

Levantou-se sem qualquer esperança de ser atendido no seu pedido e nesse momento um guarda chamou-o dizendo que tinha uma visita. Ficou admirado pois não esperava ninguém, mas seguiu o guarda até à sala de visitas dos presos.
Ficou ainda mais admirado e receoso quando viu que a visita afinal eram uma mulher e um homem, nos quais ele reconheceu os pais do rapaz que ele tinha morto naquela fatídica noite.
Não sabia o que fazer, mas o olhar que lhe lançaram e o aceno das mãos pedindo que fosse ter com eles, deram-lhe a necessária segurança para se aproximar, de cabeça baixa, envergonhado.
Não tinha sido nada fácil no julgamento senti-los a olhar para ele com um olhar duro que o trespassava. Mas não era esse o olhar que agora lhe devolviam.

Estás com certeza admirado de nos ver aqui? Ouviu ele dizer àqueles pais magoados e tristes.
Com uma voz quase inaudível respondeu: Sim!
Eles falaram novamente: Sabes, temos sabido da tua vida na prisão e sabemos que ultimamente te tens comportado muito bem e que até tens falado com o capelão da prisão.
É verdade, respondeu ele timidamente. Quero acreditar, mas é muito complicado, depois daquilo que fiz.
Eles disseram-lhe: Sabes, nós somos católicos acreditamos em Deus e no seu amor infinito e acreditamos também no seu perdão.
Olhou para eles admirado e eles continuaram: Sabes também que houve uma reunião para decidir a tua liberdade condicional. Nós quisemos estar presente e como nos ensinou Jesus Cristo, quisemos dizer ao juiz e às pessoas que lá estavam que te perdoávamos sinceramente e mais ainda, que tendo sabido do que se passava na prisão contigo, pedimos que te fosse concedida a liberdade condicional.

Levantou a cabeça, olhou para eles, os olhos encheram-se de lágrimas e não soube o que dizer.

Mas eles acrescentaram: Nós pedimos e foi-nos concedido que fossemos nós a trazer-te a notícia. Sais hoje em liberdade condicional e esse é o melhor perdão que te podemos dar. Quando saíres daqui do pé de nós, podes ir fazer o teu saco, pois hoje mesmo vais passar o Natal a tua casa.

Ia dizer qualquer coisa, como obrigado, (sabia lá ele bem o que dizer naquela altura), mas eles interromperam-no e disseram-lhe: Teremos depois tempo para falar, mas para já agora o que deves fazer é acreditar, verdadeiramente acreditar, que neste Natal, Jesus Cristo nasceu para te salvar.


Joaquim Mexia Alves
Marinha Grande, Dezembro de 2015


NOTA: Com este Conto de Natal desejo a todas as amigas e amigos que visitam este espaço, um Santo Natal e um Novo Ano cheio das bênçãos de Deus.
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sábado, 20 de dezembro de 2014

CONTO DE NATAL 2014

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Lá fora a escuridão permanecia, naquela cidade sem luz, destruída desde o início da guerra.
Aqui e ali, o céu era cruzado por luzes brilhantes que nada tinham a ver com as estrelas do céu, mas sim com o rasto de balas “tracejantes” disparadas a uma velocidade assustadora.
Parecia que naquela noite era ainda maior o número dos disparos, das luzes que rasgavam o céu, do barulho ensurdecedor das granadas que explodiam numa cadência infernal, mas que dada a rotina da guerra, já faziam parte da vida de cada um.

Numa casa simples, toda marcada exterior e interiormente por marcas de rajadas de balas disparadas por insistentes metralhadoras, uma pequena família, (os pais e dois filhos), acotovelavam-se, agachados no chão de uma pequena sala, para serem assim alvos menos expostos à insanidade daquela guerra.

No meio deles, colocadas no chão, estavam algumas figuras moldadas em barro, nas quais se podia distinguir, um recém-nascido deitado nuns bocaditos de palha, uma figura feminina, outra masculina, e algo que fazia lembrar, vagamente, um burro e uma vaca.

Olhavam uns para os outros, e no seu olhar transparecia um medo, quase um terror, que os irmanava e os fazia sentir ainda mais dependentes uns dos outros.
O silêncio entre eles era avassalador, e o pai insistia mesmo nesse silêncio, sobretudo quando na rua se ouviram passos pesados e apressados, que pararam junto à porta de sua casa.

O pai então olhando para todos, fez um gesto para darem as mãos, e sussurrando, o mais baixo que lhes era possível, começaram a recitar o Pai Nosso.

Quase se podia ouvir o silêncio, e, no entanto, dir-se-ia que aquela oração rezada assim era uma melodia que enchia todo aquele espaço, se tornava numa luz incompreensível que tudo transformava, e a verdade é que, quando se olharam nos olhos, o seu olhar já não reflectia o medo, o terror, mas uma paz imensa, a paz de quem sente que está protegido, e que, aconteça o que acontecer, essa protecção é maior do que todo e qualquer mal que possa bater à porta.

Inclinaram-se uns para os outros, e como num suspiro, murmuraram ao ouvido de cada um: Santo Natal, na paz e no amor do Senhor Jesus, que se faz Homem como nós!

Nesse momento a porta abriu-se com estrondo, e um homem alto, com umas barbas hirsutas, um pano envolvendo a cabeça, um olhar de fogo e uma metralhadora nas mãos, apareceu na soleira da casa.

Os quatro, sem nada combinarem entre si, disseram ao mesmo tempo: Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade!

O homem olhou, o olhar enterneceu-se num fugaz momento e, voltando-se para fora, gritou fechando a porta: Não está ninguém. A casa está vazia. Os infiéis que aqui viviam já fugiram!

Dentro da casa, olhando para fora, toda aquela família parecia ver agora nos traços das balas que rasgavam o céu, a estrela misteriosa que guia os homens ao encontro do Salvador da Humanidade.


Marinha Grande, 20 de Dezembro de 2014
Joaquim Mexia Alves


Com este Conto de Natal quero desejar a todas as amigas e amigos, bem como a todos as/os que visitam esta página, um Santo Natal, na alegria do Deus que se fez Homem para nos salvar.
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