sexta-feira, 26 de setembro de 2008

A IGREJA CATÓLICA

Vou lendo diversos blogues cristãos católicos e fico triste, muito triste.

A Igreja Católica é em alguns desses espaços muito mal tratada, é mesmo alvo de muitas criticas e ataques, alguns até de uma certa violência escrita.

E a maior parte das acusações podem resumir-se praticamente apenas numa: “abuso de poder”.

E as razões apresentadas dizem que são porque proibiu este ou aquele teólogo, porque estabeleceu determinada regra, porque não deixa as pessoas serem “livres” para fazerem o que lhes apetece, etc., etc.

Mas a acusação que mais me espanta é a de que a Igreja não interpreta verdadeiramente, não é “fiel depositária” da Doutrina de Jesus Cristo!

Mas aqueles que assim escrevem consideram-se eles próprios os detentores da “verdade” baseados em conhecimentos que não se percebe bem de onde vêm, e em interpretações da Bíblia tantas vezes feitas para darem cobertura às suas reflexões.

Não, não estou a dizer que sejam mal intencionados a maior parte deles, pelo contrário, julgo que buscam a verdade, mas infelizmente, digo eu, a sua própria verdade.

Curiosamente a autoridade doutrinária que eles recusam à Igreja de Cristo, fundada em Pedro, reconhecem-na, ou julgam-se eles detentores da mesma, fazendo afinal o mesmo de que acusam a Igreja.

Muitos deles afirmam peremptoriamente na sua escrita o que a Igreja Católica devia ou deve ser, como que intérpretes indiscutíveis da vontade de Jesus Cristo, negando aos outros, à própria Igreja, as suas interpretações, porque apenas eles não se podem enganar.

Muitas vezes a exclusão que apontam á Igreja, praticam-na eles também ao afirmarem que a Igreja é dos pobres, dos excluídos da sociedade, a maior parte das vezes apenas com uma visão material da pobreza e da exclusão, pondo de lado aqueles que estão “bem na vida”, ou que levam a vida de acordo com os valores morais comummente aceites.

E há tanto rico, que é mais “pobre” que os pobres!

E há tantos que vivem de acordo com os valores morais comummente aceites e no entanto tão afastados de Deus!

A Igreja é de todos e todos têm que nEla caber!

Jesus Cristo andou com pobres e excluídos, mas também comeu com cobradores de impostos e fariseus, que não eram nem pobres, nem excluídos da sociedade, mas pobres de Deus e “auto-excluídos” do caminho da salvação.

Não tenho dúvidas, não por qualquer revelação pessoal, mas por convicção profunda, que Jesus Cristo quando fundou a Sua Igreja em Pedro, sabia que os homens que a constituiriam seriam fracos, pecadores, que haviam de falhar muitas vezes e em muitos momentos, mas Ele também disse que: «as portas do abismo nada poderão contra ela.» Mt 16,18

E os homens falharam e continuam a falhar, mas a Igreja no seu todo, Corpo Místico de Cristo é una, santa, católica e apostólica, e enquanto tal, garante indelével da pureza da Revelação que o Pai deu aos Seus filhos, por Jesus Cristo na unidade do Espírito Santo.

Quando reflectimos na vida das Santas e Santos reparamos que por todos eles perpassam várias virtudes, uma das quais é sem dúvida a obediência por amor.

Não se venha dizer agora que foi por serem obedientes que foram “declarados” Santos, mas sim verdadeiramente porque sendo Santos tinham a graça da obediência no amor.

E com certeza que tinham a graça da obediência, porque sendo Santos, (que é afinal o que todos devíamos desejar ser), aceitavam a verdade da Palavra de Cristo, que disse: «Dar-te-ei as chaves do Reino do Céu; tudo o que ligares na terra ficará ligado no Céu e tudo o que desligares na terra será desligado no Céu.» Mt 16,19, e assim sendo acreditavam e acreditam que a Igreja detêm esse poder que lhe foi dado por Deus, e mais, acreditavam e acreditam também, que se o seu caminho, as suas reflexões, os seus procedimentos estiverem em comunhão com Cristo, então mais tarde ou mais cedo a Igreja lhes dará razão, como já aconteceu tantas vezes na história da Igreja.

Porque a eles não lhes interessava ter razão, só para terem razão, porque não eram eles que eram importantes, mas interessava-lhes sim a unidade da Igreja, (para além dos homens), que não podia, nem devia ser abalada, na convicção profunda de que se fosse da vontade de Deus, aquilo que hoje podia ser causa de divisão, passaria a ser causa de mais união, comunhão e conhecimento de Deus no tempo futuro.

E não se julgue que tanto antigamente como agora nos nossos dias, eles não tinham seguidores que queriam impor as suas reflexões, os seus ensinamentos, os seus modos de viver, mas eram então eles que em obediência de amor, pelo seu testemunho de humildade, ajudavam e exortavam os outros a serem fiéis à Igreja, a serem fiéis à Palavra de Cristo.

Eles tinham feito a parte deles, orando, meditando, reflectindo, e se a Verdade lhes assistia, “competia” agora ao Espírito Santo mostrá-la aos homens da Igreja.

«O Espírito Santo e nós próprios resolvemos não vos impor outras obrigações além destas, que são indispensáveis» Act 15,28

«E nós somos testemunhas destas coisas, juntamente com o Espírito Santo, que Deus tem concedido àqueles que lhe obedecem.» Act 5, 32

Sim, também a mim por vezes me incomodam certas atitudes que a Santa Sé toma em relação a determinadas coisas, mas acredito, quero acreditar, tenho que acreditar, que o Espírito Santo assiste continuamente à Igreja, e se por vezes os homens se sobrepõe à Sua vontade, a Sua vontade acabará por se realizar porque: «as portas do abismo nada poderão contra ela.» Mt 16,18

Assim, descanso na certeza desta verdade, e oro, oro continuamente para que os homens da Igreja estejam de coração aberto, disponíveis, fiéis e perseverantes ao Sopro do Espírito Santo, amor do Pai e do Filho derramado na humanidade.

Sei que alguns dirão que esta é uma maneira simplista de ver as coisas, mas permitam-me que vos diga que não é simplista, mas simples, porque também eu estudo, medito, reflicto, analiso e abro-me ao Espírito Santo pedindo-Lhe, exigindo-Lhe até, que me faça simples, para que o conhecimento que me é dado ter, não coloque em causa a minha Fé, mas que a fortifique, que a enraíze de tal modo que quando oro o Credo, ele seja verdade na minha boca, no meu coração, na minha vida.

Com este texto não quero dizer que a Igreja não pode ser criticada, mas pelo contrário que pode e até deve, mas numa critica construtiva em que sejamos pedras vivas na construção e não “brechas” no edifício.

Que não usemos argumentos estafados como a “opulência”, as vestes, os rituais, a própria liturgia, mas sim que oremos, que peçamos a assistência contínua do Espírito Santo à Igreja, aos homens escolhidos para nos guiarem, e que nunca deixemos de fazer chegar a esses mesmos homens as razões da nossa critica, aceitando humildemente que possamos não ter razão, ou que não tenha chegado o tempo de termos razão.

Deus ama-nos a todos nós, com todos os nossos defeitos, com os nossos pecados, que por Sua graça vamos tentado corrigir, converter, para chegarmos à graça final de vivermos puros eternamente na Sua presença.

Amemos também nós a Igreja, com todos os defeitos e pecados dos homens que a constituem, principalmente daqueles que foram chamados a servi-La no Seu Magistério, na Fé de que o Espírito Santo nunca Lhe faltará e sempre assistirá e conduzirá na correcção do que estiver errado, na procura da pureza que dEla faz «una, santa, católica e apostólica».

terça-feira, 16 de setembro de 2008

A CONVERSÃO

Há uma semana atrás, num dia que tirei para férias, estava a preguiçar de manhã na cama e como tantas vezes me acontece, comecei a rezar.

A oração levou-me a agradecer ao Senhor pela minha conversão, pela mudança da minha vida, que considero um verdadeiro milagre, maior do que um cego passar a ver ou um paralítico começar a andar.
Lembram-se de Lc 5, 17-26, o paralítico que começou a andar, mas a quem primeiro foram perdoados os pecados?

E nesta conversa íntima com Deus sobre a conversão, sobre como a conversão nunca está acabada até ao momento em que por Sua graça estivermos no gozo da Sua presença, veio ao meu coração uma imagem, uma reflexão, que comparava a conversão com uma casa.

Uma casa pode estar degradada por fora e por dentro, a fachada estragada, sem tinta ou revestimento, o interior com as paredes manchadas, sujo, desconfortável, enfim uma casa desagradável, uma casa que não interessa a ninguém, nem ao próprio dono.
Somos assim, quando vivemos afastados de Deus, numa vida sem sentido, apenas dedicada ao mundo.
Não somos úteis aos outros, nem somos bons para nós. Não somos companhia agradável para ninguém, nem a nós próprios agradamos, exactamente como a casa, que se não é agradável para os outros, também a nós incomoda.
E tal como a casa que não é tratada se vai degradar cada vez mais, também a nossa vida se irá degradar até se perder por completo.

Há também a casa que é arranjada por fora, cuja fachada está bem tratada, limpa e bonita, mas por dentro está degradada, suja e sem conforto.
Esta casa representa uma conversão exterior, apenas de gestos, de atitudes exteriores, mas que não se reflectem verdadeiramente na vida da pessoa.
É a conversão daqueles que vão à Missa por preceito, que se confessam e comungam (ao menos uma vez por ano pela Páscoa da Ressurreição), que oram muito na igreja, fazem talvez muitas novenas a muitos santos, mas na sua vida do dia a dia, nos seus afazeres, em nada reflectem a fé, a comunhão com Cristo, o amor aos irmãos.
Vivem para o exterior e apenas para o exterior, e os outros apenas lhes interessam na medida em que podem fazer juízos sobre as suas pessoas.
São como a casa. Vistos por fora são muito religiosos, (uma casa muito bonita), mas sentidos por dentro percebe-se o coração duro e egoísta, sem fé, (uma casa sem conforto onde não apetece morar).

Depois há a casa degradada por fora, mas bem arranjada por dentro, com as paredes interiores pintadas, confortável, sobretudo para quem nela vive.
É uma casa que ninguém quer visitar, pois o seu aspecto exterior não convida a entrar.
É uma conversão interior e apenas para o próprio. É a conversão daqueles que procuram só e apenas a sua salvação, não se importando com os outros, nem com a comunidade.
Vivem no seu mundo de orações e julgam que a graça de Deus é apenas para eles. Sentem-se até mais “santos” do que os outros.
Mas a verdade é que estando a casa degradada por fora, não tendo as paredes exteriores qualquer revestimento, a chuva, o sol, as intempéries, vão destruindo a fachada, e assim o interior, as paredes interiores, vão-se enchendo de humidade e vão-se deteriorando, tornando a casa a pouco e pouco inabitável.
Se a nossa vida não é em Deus para os outros, a conversão não é verdadeira, pois não vai ao encontro do mandamento do amor: «Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos.»

Há ainda a casa conservada por fora e arranjada por dentro, confortável, onde até apetece morar.
Esses são aqueles que não só exteriormente reflectem a presença de Deus nas suas vidas, mas também se entregam à mudança interior, à conversão de vida que se opera naqueles que procuram Deus com o coração e com vontade de fazer a Sua vontade.
Mas nalgumas dessas casas existe aquilo que podemos chamar os “quartos escuros”, os sítios para onde se atiram coisas do passado, recordações, coisas que já não servem no momento, mas poderão servir depois, ficando para ali desarrumadas, esperando nós que ninguém abra aquela porta, porque tudo pode cair e envergonhar-nos.
Entre essas coisas, guardam-se muitas vezes cartas antigas, fotografias, etc., apenas com o desígnio de um dia nos poderem servir para nos “defendermos” de alguém que nos magoou, mas cujo sentido real é uma espécie de vingança, de “desforra” sobre aqueles que nos ofenderam.
Esses “quartos escuros” correspondem às mágoas que tantas vezes estão nos nossos corações, por ofensas passadas e das quais tantas vezes não nos queremos libertar, não queremos perdoar, e por isso mesmo não nos deixam “crescer” na fé, não nos deixam fazer seguro caminho espiritual.
Os outros até podem não ver, como também não sabem o que está dentro dos “quartos escuros”, mas nós sabemos, nós vemos, e ficamos ali amarrados a um passado que não nos deixa viver libertos para Deus e para os outros, que não nos deixa “gozar” inteiramente a casa, pois sempre que passamos por aquele “quarto escuro” temos a consciência de que temos de o arrumar definitivamente.

Por fim há a casa bonita por fora e por dentro, sem “quartos escuros”, onde os convidados podem entrar em todas as divisões que não nos envergonhamos, pois temos a consciência de que podemos abrir as portas de par em par, pois tudo fizemos para que estivesse limpo e arrumado.
É a conversão no verdadeiro caminho, a conversão que nada deixa para trás, que vive o presente, reconciliado com o passado, preparando o futuro segundo a vontade daquEle que opera a mudança de vida.
Mas tal como a casa precisa de ser permanentemente cuidada nas pinturas, na limpeza, na arrumação, também esses sabem que a conversão é diária, em todos os momentos e lugares, em todas as circunstâncias e atitudes.
Porque é preciso vigiar sempre, por causa das inundações, das tempestades, dos tremores de terra, não vá a casa abrir rachas e ficar vulnerável á degradação que a pode levar a cair.
Assim também esses são vigilantes em oração, combatem as tentações e quando por causa de uma fraqueza momentânea caem na tentação, não esmorecem, mas rapidamente vão tratar de alcançar o perdão do Senhor que é o cimento que tapa as brechas abertas pelo pecado na aliança de amor entre o Criador e os Seus filhos, e que reconstruindo-nos, nos torna fortes para perseverarmos na fé.

Senhor faz-nos assim, abertos à graça da conversão diária, que nada deixa para trás, que tudo coloca nas Tuas mãos, para que guiados por Ti, no Teu amor, nos entreguemos à Tua vontade na liberdade de filhos de Deus que procuram a Casa do Pai.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

PRECE SENTIDA

Senhor, tenho amigos, amigas que estão tristes, desolados, preocupados, a atravessar desertos de vida, com provações, com terríveis dificuldades de vida.

Mas Senhor, do que eles mais se queixam é que não Te ouvem, não Te sentem, não se apercebem da Tua presença junto deles.

Querem amar, querem confiar, querem esperar, mas a fraqueza da nossa humanidade leva-os a duvidar, a revoltarem-se, a quase desesperarem.

Mas eu sei Senhor que Tu estás aí, junto deles, que até os carregas ao colo nas suas dificuldades, que seriam bem maiores se Tu não estivesses com eles.

Então Senhor porque não Te mostras, porque não suavizas a sua dor com o Teu ósculo de amor, porque não lhes fazes sentir a Tua presença viva neles e com eles?

Não Te peço Senhor que resolvas os seus problemas, as suas dificuldades, peço-Te que os deixes sentir que não os abandonas, que os amas ainda mais agora, e que não deixas de os guiar no caminho certo.

Só isso lhes chegará Senhor, para que fortalecidos pela graça do Teu amor, se sintam capazes de arrostar com as dificuldades, de vencer as provações.

Não Te escondas Senhor quando precisamos mais de Ti.

Não coloques mais à prova a nossa fé, porque somos fracos.

Dizes que não seremos provados acima das nossas forças.
Mas como saberemos nós Senhor até onde chegam as nossas forças?

Ouve a prece dos teus filhos que angustiados a Ti recorrem e concede-lhes a graça da conversão íntima, num encontro pessoal conTigo, que os leve à coragem dos que nada temem, porque Tu estás com eles.

Assim Senhor, as orações de petição transformar-se-ão em orações de louvor pelas provações, pelas dificuldades, e de mansinho, como sempre fazes, Tu lhes darás o alívio para as suas dores.

Porque nós queremos em Ti, Senhor, mesmo quando parece que Tu não estás connosco.

Porque nós Te amamos, mesmo quando parece que Tu não nos amas.

Porque Tu não podes deixar de nos amar, porque Tu não podes deixar de estar connosco, porque foi assim que nos criaste:
Para que amando-nos, nós amemos também, para que estando connosco sempre, nós estejamos uns com os outros também.

Por isso Senhor, unidos numa só oração, direita ao Teu Coração, nós Te pedimos:
Fala Senhor, que os teus servos escutam!