segunda-feira, 12 de julho de 2010

SENHOR, EU NÃO SOU DIGNO

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Há dias, no grupo de oração do Renovamento Carismático Católico que coordeno, meditávamos e partilhávamos a Palavra, centrados no episódio da «cura do servo do centurião» Lc 7,1-10

Depois de cada um partilhar com todos a sua reflexão pessoal sobre aquilo que mais o tocava nessa passagem bíblica, (como sempre fazemos), introduzi então alguns pormenores específicos para uma melhor compreensão e meditação de toda a riqueza desta passagem, que como toda a Palavra, nunca se esgota em tudo o que nos vai revelando.

Chamei a atenção para o facto do homem que pede ser um centurião, portanto um “inimigo” dos judeus, um ocupador da sua terra, mas apesar disso, ser com certeza um homem bom, pois a passagem diz claramente que ele tinha muita afeição pelo seu servo, (o que naquele tempo seria coisa rara), e que até tinha mandado construir a sinagoga para os judeus.

Percebemos também que este homem se sente indigno de se aproximar de Jesus e por isso pede a outros que por ele intercedam, levando-nos a pensar na importância da intercessão.

Meditámos ainda no facto de Jesus se admirar da fé daquele homem. Com efeito aquele homem dando a perceber a sua autoridade sobre aqueles que ele comanda, reconhece em Jesus Cristo uma autoridade bem maior, ou melhor, a autoridade total, pois vai muito para além das coisas do mundo, acreditando ele, centurião, que Jesus Cristo com uma só palavra pode curar o seu servo.

Detivemo-nos então na frase: «Não te incomodes, Senhor, pois não sou digno de que entres debaixo do meu tecto, pelo que nem me julguei digno de ir ter contigo. Mas diz uma só palavra e o meu servo será curado.» Lc 7,6-7

Enquanto falava sobre esta frase, veio ao meu coração, ao meu pensamento algo de muito simples, verdadeiro e extraordinário, mas que nunca tinha pensado ou percebido.

Esta frase, usada na Liturgia da Eucaristia, «Senhor, eu não sou digno que entreis em minha morada, mas dizei uma só palavra e eu serei salvo», mesmo antes de recebermos o Senhor em nós, nas nossas vidas, é repetida milhares de vezes todos os dias, nas mais diversas línguas, por esse mundo fora.

Esta frase que, (pelo menos falo por mim), tantas e tantas vezes, dizemos de forma rotineira e “banal”, nos introduz no Mistério maior de um Deus que se faz alimento para aqueles que ama, e nos irmana num só povo que, reconhecendo-se indigno, aceita a dignidade que lhe é oferecida pelo seu Senhor.

Esta frase que se confirmou na cura do servo do centurião, (pela graça de Deus, admirado da fé daquele homem), e que nós repetimos de forma ligeira e tantas vezes irreflectida, não percebendo que por essa mesma graça, o Senhor nos alcança a salvação, mesmo perante a nossa fraca fé.

Esta frase em que, como o centurião, nos devemos abandonar numa total confiança ao Senhor Nosso Deus, acreditando que tudo Lhe é possível.

E depois, depois percebermos, que esta frase que nos une como irmãos, filhos de Deus, foi proferida pelo centurião que afinal poderíamos dizer em linguagem simples de hoje, “estava fora da Igreja de então”!

Para que percebamos que não é o “pertencer à Igreja”, que não é o “ir à Missa”, que não é o “repetir Senhor, Senhor”, que nos salva, mas sim a fé em Jesus Cristo que a todos ama e chama por igual.

E para correspondermos a esse amor temos que “viver a e em Igreja”, temos que “participar e celebrar a Missa”, temos que “repetir Senhor, Senhor”, muito mais com o coração do que com a boca.

Sei que não consegui exprimir bem tudo o que senti, vivi e reflecti, (as palavras são tão vazias por vezes), mas posso afirmar que esta frase ganhou um novo sentido na minha vida, e que quero olhar para aqueles que não estão ainda em Igreja, com a bondade e o amor do olhar de Jesus Cristo, Nosso Senhor e Salvador.


Monte Real, 12 de Julho de 2010
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18 comentários:

Maria João disse...

Uma das orações que costumo fazer nesse momento é:"Obrigada pela palavra que dizes, Jesus!"

Há tanta coisa na Missa que não agradecemos ... O perdão, a benção, a Palavra,a homilia ... É como no ofertório ... Entregamos a moeda, mas não entregamos a nossa vida, inteiramente o nosso ser com coisas boas e menos boas para que possamos ser moldados pelo Espírito Santo ...

Costumo pensar que a Missa é uma descoberta constante, mas é tão fácil cair na tentação de não se prestar atenção ... Mea culpa para todos.

Obrigada por esta reflexão. Que Deus te abençoe.

um beijo muito amigo em Cristo e Maria

Utilia Ferrão disse...

Joaquim
Que linda reflexão
Este centurião além dum exemplo de fé deu-nos também uma lição na verade do que é ser cristão e católico .
Gostei muito mesmo
Obrigada um grande abraço em Cristoe
Utilia

Canela disse...

"quero olhar para aqueles que não estão ainda em Igreja, com a bondade e o amor do olhar de Jesus Cristo, Nosso Senhor e Salvador."

E olhas amigo Joaquim, estou certa que sim.

Obrigada por tão bonita reflexão!

A Paz de Cristo

Paulo disse...

São tantas as vezes (mais do que as que deviam ser) em que debitamos palavras mas as quais não as sentimos como devia ser. São inumeras as vezes em que ao recitarmos um terço, uma dezena ou uma coroa de NS, pensamos estar a fazer algo que agrada a Deus e no entanto, temos as ideias bem longe d`Ele. Por vezes, antes uma pequena oração sentida do que um rosário inteiro só para constar.

Nova Civilização disse...

Amigo Joaquim,

muito, mas muito obrigada por esta reflexão... sabe essa frase

"...Senhor, eu não sou digno que entreis em minha morada, mas dizei uma só palavra e eu serei salvo..."

é uma das que mais chegou ao meu coração, em momentos de grande dificuldade que passei... Era como se me enchesse de vida e ânimo, me fazendo lembrar também muito da minha primeira comunhão,daquele momento de entrega primeira de coração leve ...e isso me deixava, nesses momentos difíceis, animada toda vez que eu a recitava...E agora com tudo que escreveste, realmente, me deu um sentido diferente e toda uma explicação real,

obrigada, meu amigo em Cristo, foi muito bom ler essa reflexão e sentir de todo o coração que é preciso se entregar e perseverar sempre!


obrigada

abraços fraternos,

Gisele

RETIRO do ÉDEN disse...

«pela unidade das comunidades cristãs ainda divididas.
Dá-lhes serem irmãos e irmãs em Teu Amor.
Possamos nós ser um, “um em Tua mão”.»
de Irmão Roger de Taizé

Esta reflexão vem ao encontro destas palavras acima referidas...o que conta é o coração e as obras...por vezes até de pessoas que nem acreditam em DEUS mas ELE está em seus corações e as acções/obras aparecem por SUA Vontade.
Por vezes os que frequentam assiduamente a igreja, com os seus comportamentos menos católicos e cristicos, fazem pessoas duvidarem e afastam-se ao verem esses tristes exemplos.

«Possamos nós ser um, “um em Tua mão”.»
Forte abraço
Mer

joaquim disse...

Maria João

Obrigado pelo teu testemunho.

Realmente sendo a Missa de uma riqueza inestimável, tantas vezes que a Ela "vamos", mas não participamos, não A celebramos!

Um abraço amigo em Cristo

joaquim disse...

É verdade amiga Utilia

Podemos até reparar que é também um centurião que na Morte de Cristo faz uma profissão de fé:
«Este era verdadeiramente o Filho de Deus» Mt 27,54

Um abraço amigo em Cristo

joaquim disse...

Obrigado amiga Canela

Espero bem que tenhas razão, que a humildade seja um dom na minha vida, mas infelizmente não me parece assim muito...

Continuemos a caminhar!

Um abraço amigo em Cristo

joaquim disse...

É verdade Paulo!

Muitas vezes por não meditarmos nas orações que fazemos perdemos muito da riqueza que elas têm e que elas nos dão.

Um abraço amigo em Cristo

joaquim disse...

Amiga Gisele

Que bom é o Senhor que nos fala através dos outros!

Fico feliz por te ter recordado algo da tua vida tão maravilhoso como a Primeira Comunhão.

Que Deus te abençoe.

Um abraço amigo em Cristo

joaquim disse...

Obrigado amiga Mer

Sim temos que caminhar para sermos um em Cristo!

Mas que nunca seja desculpa as acções dos outros, para nos afastarmos de Deus e da Igreja.

O nosso exemplo vem de Cristo e os testemunhos dos outros, sempre nos devem ajudar a caminhar, ou porque são bons e assim os queremos imitar, ou porque são negativos, e nos ensinam também que aquele não é o caminho e nos ajudam a rezar por eles e assim sermos cada vez mais união em Igreja para Cristo.

Um abraço amigo em Cristo

teresa disse...

amigo joaquim , que partilha tão pura , e como tu mesmo dizes «as palavras são tão vazias por vezes » ..
não te digo mais nada , apenas que gostei muito do que li ..
deus te abençoe sempre ...

abraço amigo ...

joaquim disse...

Amiga Teresa, obrigado!

É verdade minha amiga que as palvras nunca chegam para dizermos tudo o que vivemos, tudo o que sentimos.

Um abraço amigo em Cristo

malu disse...

Penso que todas as palavras que 'não conseguiste' acrescentar a esta belíssima reflexão, estão lá e o nosso coração há-de lê-las, uma a uma e a seu tempo. Fazes-nos reflectir sobre a Missa e um ponto que me ocorre agora, é o daquele momento em que um tempo antes ao da Comunhão, prefessamos a nossa fé (Credo) e no qual afirmamos crer em um só Deus,
Pai todo-poderoso,
Criador do céu e da terra
De todas as coisas visíveis e invisíveis.

... (aos nossos olhos...) E assim e pela fé, que o nosso coração esteja aberto, receptivo e/ou disposto a esse encontro com Ele no momento da Comunhão.

Demos-Lhe graças por todos eles que de verdade vivemos com Ele e nEle.

E pelos teus posts também. Abreijos em Cristo e Maria.

joaquim disse...

Obrigado Malu.

A Comunhão, não só a Eucarística, mas também a comunhão de irmãos deve ser algo que forçosamente teriamos de viver profundamente todos os dias mas sobretudo na celebração da Missa.

Não há momento mais sublime para viver essa comunhão de irmãos, sermos um com todos, e sermos um com Ele, que na celebração do Mistério Pascal, que todos os dias se faz presente nas nossas igrejas.

Um abraço amigo em Cristo

Unknown disse...

sabe hoje eu não sei oque eu faço da minha vida já desisti de tudo minha mulher chora querendo ter um filho mas nos não conseguimos até parece que deusa esqueceu da gente já pensei até em suicidio ore por mim obrigado . (CELSO FERREIRA DE ARAUJO )

joaquim disse...

Caro Celso

Os planos de Deus são misteriosos para nós.
Nem sempre o que desejamos é o melhor para nós e Deus sabe isso muito bem.

Entregue essa vossa vontade de serem pais nas mãos de Deus e confie.

Muitas vezes a gravidez não acontece porque a ansiedade é muita.

Houve já muitos casos de casais que não engravidando decidiram adoptar, e logo a seguir á adopção acabaram por ter o filho que desejavam.

Claro que rezo por si e por sua mulher.

Deus vos abençoe, proteja e guarde.

Um abraço amigo em Cristo