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Senhor, desculpa, mas Tu és o melhor réu em tribunal, mas ao mesmo tempo o mais desconcertante.
Quando Te querem prender, em vez de fugires, ainda vais ter com os que Te vão prender, apresentas-Te a eles confirmando a Tua identidade, e até o fazes segunda vez, para que não haja dúvidas, facilitando o seu trabalho.
Aliás, ainda curas um dos teus captores, que tinha sido ferido pela espada, em Tua defesa.
Depois, vais sem resistência, para que Te apresentem àqueles que Te vão julgar.
Quando Te acusam de afirmares seres o Filho de Deus, em vez de negares tê-lo dito, voltas a confirmar que o disseste e, mais ainda, que és mesmo o Filho de Deus.
Seguidamente acusam-te de afirmares ser o rei dos judeus, e mais uma vez Tu confirmas que sim, que és Rei.
De tal modo a Tua resposta é desconcertante, que esse Teu julgador fica tão atrapalhado, que logo diz não encontrar nada de culpável em Ti.
Vem um novo julgador que Te faz muitas perguntas e Te pede um milagre.
Mas Tu nada respondes, e nem um pequeníssimo milagre Tu fazes, para que reconheçam o Teu poder, dando assim azo a que continuem a condenar-Te.
Regressado ao segundo julgador, pretendem trocar a Tua liberdade pela de um confesso assassino e, mais uma vez, nada argumentas, nada invocas, em Teu favor, deixando que esse seja solto em Teu lugar.
Perante a pergunta que Te é dirigida - “que é a verdade?” - nada voltas a responder, pois sabes bem que não vale a pena mostrar a Verdade que Tu és, a quem está cego à Verdade.
Por fim deixas-Te levar a uma tortura insuportável, carregas a Cruz, (que não é Tua), sobre os Teus ombros, para nela morreres, por amor, só por amor.
Sim, Senhor, és verdadeiramente “culpado”, és verdadeiramente um réu de amor, que se entrega por amor, por todos nós, até por aqueles que Te condenam.
Não precisavam, sequer, de Te perguntar se eras culpado de amar sem limites a todos por igual, porque a Tua resposta seria sem dúvida: Tu o dizes!
Marinha Grande, 18 de Abril de 2025
Joaquim Mexia Alves
Nota:
Inspirado pela homília do Padre Patrício Oliveira, meu pároco, na Quinta Feira Santa.