segunda-feira, 2 de outubro de 2023

O MEU ANJO DA GUARDA

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Bom dia querido Anjo da Guarda!
Bom dia Joaquim!

Sabes, querido Anjo da Guarda, que hoje é o teu dia?
Sei sim. E sabes tu Joaquim, quando é o teu dia para mim?

Não, querido Anjo da Guarda, diz-me lá.
O teu dia para mim, querido Joaquim, é todos os dias!

Acredito, querido Anjo da Guarda, e desde já te agradeço muito, muito, porque tens com certeza um trabalho enorme comigo.
Não te preocupes com isso, Joaquim. Faço-o por amor a ti e ao nosso Deus, que te quis colocar sob a minha proteção.

Oh meu querido Anjo da Guarda, tu tens uma paciência infinita para me aturar!!!
Sabes, querido Joaquim, tudo faço por amor e sabes bem que o amor é paciente.

Olha, meu querido Anjo da Guarda, acho que nunca te agradeci pela tua constância junto de mim, (agora não tenho dúvidas disso), em todos aqueles anos em que me afastei de Deus e te dei, com certeza, tantas tristezas.
O amor, Joaquim, o amor! Quem ama não se cansa, mesmo quando se entristece, e permanece fiel, porque sabe que o amor tudo vence.

Meu querido Anjo da Guarda ensina-me e ajuda-me a amar melhor a Deus, a ti, e a todos os outros, principalmente aqueles que eu ainda não, (por vezes), consigo amar verdadeiramente.
Meu querido Joaquim, deixa-te amar por Deus, aceita o Seu amor, vive do Seu amor e para o Seu amor e, então, irás amando com o Seu amor, que é o único e verdadeiro amor.

Um óptimo dia para ti, meu querido Anjo da Guarda, e vou tentar não te dar muito trabalho hoje.
Não te preocupes, querido Joaquim, que eu estou contigo para te proteger, te aconselhar, te guiar e te amar sempre. Por isso, levanta o coração e os braços para o Céu e diz comigo, envolvido em amor: Meu Senhor e meu Deus!




Monte Real, 2 de Outubro de 2023
Joaquim Mexia Alves

terça-feira, 26 de setembro de 2023

CONVERSAS NO CAMINHAR IV

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Provocação – A sério pensa lá em ti e no que realmente fazes ao serviço de Deus?
Reflexão – Colocas-me assim, perante mim, mas mais ainda, perante Deus. Na minha reflexão tenho que abrir o meu coração e ser verdadeiro, pelo menos naquilo que julgo sobre mim, como se me visse de fora de mim e perceber se o que me move é apenas e só servir a Deus, (e os outros em Deus, claro), ou se há algum interesse “não confessável” da minha parte.

P – Sim, pensa nisso e diz-me o que te move, o que no teu íntimo está, também, no teu serviço a Deus.
R – Primeiro acredito, apesar de tudo, que existe em mim uma verdadeira vontade de servir a Deus, servindo os outros.
Julgo que isso é indissociável da minha relação pessoal com Jesus Cristo, na minha procura constante do Espírito Santo em mim, do meu querer viver do e no amor do Pai.
Mas se isto é verdade, acredito eu, não é menos verdade que o reconhecimento por parte dos outros de uns quaisquer dons que me possam ser atribuídos, não me é desagradável, antes pelo contrário, me é agradável e alegra o meu ego.

P – E que mal vês tu nisso?
R – Não haveria mal em si, se tal fosse um reconhecimento em humildade, da minha parte, de que esses possíveis dons vêm de Deus e que são Sua graça e apenas Sua graça, sem qualquer mérito meu.

P – Significa isso que te sentes, por acaso, credor de dons de Deus por méritos da tua vida?
R – Infelizmente tenho que reconhecer que, embora não me julgue credor de quaisquer dons de Deus, no meu infame orgulho penso que tudo o que tenho vivido e feito ao serviço de Deus, merecerá da sua parte os eventuais dons com que talvez me agracie.

P – O que sentes tu quando alguém te elogia ou “reconhece” em ti eventuais dons de Deus?
R – Pois é aí que reside o problema, que reside a minha luta contra o pecado de me julgar merecedor ou mesmo digno de qualquer dom de Deus.
Em vez de humildemente reconhecer intimamente, (exteriormente é fácil dizer que reconheço que é tudo graça de Deus sem mérito meu), que é tudo graça de Deus, acabo por julgar que de algum modo esses eventuais dons serão fruto de uma entrega minha, de um qualquer caminho de santidade meu, de um qualquer reconhecimento por parte de Deus das minhas orações o da minha busca do Caminho da Verdade e a Vida.

P – Mas achas tu que Deus não deve reconhecer os seus filhos que se entregam a Ele para O servir, servindo os outros?
R – A minha resposta terá que ser, obviamente, quem sou eu para achar ou deixar de achar aquilo que Deus deve ou não reconhecer!
Mas infelizmente, (ainda sou muito humano, digamos assim), acho que sim, que Deus deveria reconhecer aqueles que a Ele se entregam para O servir servindo os outros.
Custa-me escrever o que acabei de escrever, mas tenho que ser verdadeiro nestas conversas e dizer o que deveras sinto.

P – Então e que reconhecimento seria esse da parte de Deus?
R – Pois. A verdade é que o “reconhecimento” de Deus para aqueles que a Ele se entregam há muito que está determinado, ou seja, é a promessa concretizada em Jesus Cristo da vida eterna junto de Deus.
Mas os orgulhosos como eu gostam de ser elogiados nesta vida, gostam de ser reconhecidos nesta vida, como se eu pudesse alguma vez ser um “escolhido” de Deus para guiar outros, ou “pior” ainda, como se os outros pudessem vir a Deus por causa de mim e não e apenas por sua graça.

P – Mas tu achas que Deus não escolhe alguns para serem guias de outros, para serem de alguma forma testemunhas de que o seu amor transforma o homem?
R – Claro que acredito que Deus escolhe alguns ao longo do tempo para serem suas testemunhas privilegiadas, como podemos facilmente constatar em tantos santos da Igreja e até noutros que não tendo sido reconhecidos como “santos de altar”, foram e são, no entanto, razão para muitos procurarem Deus e quererem viver a alegria da fé que neles é tão visível.
Mas esses, com certeza, não pensam como eu, ou melhor, não se alegram intimamente com os elogios que lhes são dados e nem sequer os procuram.

P – Quer dizer que tu procuras os elogios, o reconhecimento?
R – Não verdadeiramente, isto é, não os provoco directamente, talvez, mas intimamente desejo-os e, às vezes, por causa deles, sinto-me como que privilegiado por Deus, (ou gostaria que me vissem assim), como se tivesse uma relação com Ele melhor do que a dos outros, mais íntima, como se Ele me amasse mais do que aos outros!
Sou tão fraco!

P – E isso faz-te sofrer?
R – Faz e não faz! Como posso eu explicar esta dualidade que em mim vive?
Eu sei que é um caminho de perfeição e que a mesma nunca será alcançada a não ser quando, por sua graça, eu esteja junto dEle eternamente.
Mas no dia a dia é uma luta constante e pior do que isso é esta pergunta constante que faço a mim próprio se estou ou não a ser verdadeiro na minha relação com Deus.
Lembro-me de São Paulo e do “espinho” que ele dizia ter e Deus não lho tirava, mas até essa comparação me faz sentir, por um lado orgulhoso, por outro um mentiroso na verdade que quero encontrar e viver.

P – E isso não será falta de um verdadeira entrega a Deus, para que Ele te guie e te ajude a ultrapassar todos esses sentimentos?
R – Sem dúvida que é falta de entrega total e incondicional a Deus.
Mas já rezei e rezo tanto para me sentir menos dividido nestes sentimentos, já fiz tantas promessas a mim próprio de me retirar de tudo e só aceitar aquilo a que me chamem, de fechar tudo que tenho e escrevo sobre a minha vivência da fé, e no fundo os sentimentos continuam e não me deixam descansar em Deus.
E depois tenho medo de se abandonar tudo, ficar esquecido e já não se quererem servir de mim!

P – E essa não poderia ser a solução para venceres esses teus sentimentos?
R – Talvez pudesse ser!
Mas e se fosse o inimigo que instilasse tais pensamentos em mim para eu não fazer aquilo que faço?
Ou será este pensamento também um orgulho por pensar que faço alguma coisa que afasta os outros do inimigo, ou melhor, que os aproxima de Deus?

P – Pois não sei o que te responder para te ajudar.
R – Nem eu sei também!
Sei que este é um caminho difícil e que se Deus o permite é porque me quer guiar em alguma coisa importante na vida que me deu, mas a verdade é que me divide, me custa, me ocupa tanto tempo e pensamentos para procurar a verdade e encontrar o caminho e a vida que Deus quer para mim, nunca esquecendo os outros.






Marinha Grande, 26 de Setembro de 2023
Joaquim Mexia Alves

domingo, 24 de setembro de 2023

ASSEMBLEIA DIOCESANA DA DIOCESE DE LEIRIA-FÁTIMA

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Ontem passei a manhã e parte da tarde na Assembleia Diocesana da minha Diocese de Leiria-Fátima, que marcou o início do triénio 2023-2026 com o tema “Pelo Batismo somos Igreja viva.”

Houve vários grupos que debateram vários temas para pensarmos e discernirmos a Igreja dos nossos dias, alicerçada sempre na Tradição da nossa Igreja fundada por e em Cristo, no amor do Pai, guiada pelo Espírito Santo, como o nosso Bispo D. José Ornelas fez questão de frisar numa das suas intervenções.

Nos dois grupos onde estive, (e acredito nos outros também, dadas as conclusões apresentadas), o debate, a discussão, a troca de opiniões e argumentos foi viva, mas franca, aberta, tolerante e muito responsável.

Às vezes parece que já ouvimos e dissemos tudo o que é ouvido e dito, mas realmente, e se calhar, precisamos de ouvir novamente e repetidamente dizer, para entranharmos realmente o que é importante para sermos verdadeiramente Igreja de Cristo.

O nosso Bispo serviu-se da imagem da vindima para, entre muitas coisas, nos chamar a atenção para a paciência que o agricultor tem que ter desde a vindima até ao vinho, e assim percebermos que a Igreja se deve revestir também desta paciência, (chamemos-lhes divina), para que tudo seja feito pelo discernimento do Espírito Santo e não na precipitação do mundo.

Os nossos valores não são “velhos”, nem anquilosados.
São actuais, como o amor é sempre actual.
Precisamos “apenas” de os pôr em prática no mundo em que vivemos.

Não cabe neste pequeno texto analisar as conclusões relatadas de cada tema em discussão, se é que lhes podemos chamar conclusões, porque nada está concluído, a não ser a certeza de que só por Cristo, com Cristo e em Cristo, é possível caminhar em Igreja.

Retiro das referidas conclusões, para além do muito mais que elas contém, aquilo que me parece ser transversal a todas elas, e que é o acolhimento que a Igreja, ou seja, todos nós cristãos católicos, devemos ter em permanência para com todos, sejam quais forem as suas condições particulares.

E para este acolhimento todos somos necessários, pois não são precisos talentos ou conhecimentos especiais, (que poderão ser necessários depois do primeiro e tão importante acolhimento), pois o acolhimento inicial é apenas e só uma questão de amor ao próximo.

Porque depois de acolhidos e em Igreja, cada um terá que encontrar o caminho, a comunhão que a Igreja lhe propõe segundo a Palavra de Deus, segundo a Doutrina porque a Igreja se rege e guia o Povo de Deus.

Para esse acolhimento ser real e verdadeiro, temos que ter em todas as circunstâncias a capacidade de ouvir, de falar, de propor, respeitando o outro e tendo sempre a sincera vontade de querer discernir o que o Espírito Santo diz à Igreja.

Porque a Igreja não quer agradar ao mundo, mas quer ouvir o mundo, para discernir com o Espírito Santo em Igreja, como transformar o mundo pelo amor de Deus em nós.




Marinha Grande, 24 de Setembro de 2023
Joaquim Mexia Alves

terça-feira, 19 de setembro de 2023

OS FILHOS

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«O morto sentou-se e começou a falar; e Jesus entregou-o à sua mãe.»

Este versículo do Evangelho de hoje, (Lc 7, 11-17), suscitou em mim esta reflexão.

Lemos que Jesus ressuscitou o filho da viúva de Naim e lho entregou, seguramente com compaixão pelo seu sofrimento e, com certeza, porque aquele filho único era o sustento daquela mãe viúva.

Deixo-me levar pelo coração e vejo-me/vejo-nos, muitas vezes mortos espiritualmente pelas nossas fraquezas, e a nossa Mãe do Céu implorando do Seu Filho a graça de nos resgatar da morte do pecado.

Por uma “porta”, mesmo que apenas ligeiramente entreaberta, da nossa vontade de pedir perdão, Jesus vem, toca-nos e diz-nos: «Levanta-te!»

Perdoados, levantados do chão onde o pecado nos tinha prostrado, entrega-nos a Sua Mãe que, por vontade d’Ele, é nossa Mãe também.

Talvez seja por causa da dor de Sua Mãe por ver os seus filhos mortos pelo pecado, ou talvez seja, também, por saber que, entregues a Ela e se por Ela nos deixarmos guiar num sim permanente e convicto, encontraremos a salvação que Ele nos deu na Sua entrega por nós na Cruz.

Esta Mãe que Jesus nos dá, não precisa de nós para seu sustento, mas quer precisar de nós, porque nos ama, e nos quer felizes junto a Seu Filho para sempre.

Ressuscita-nos, Jesus, manda-nos levantar do torpor em que tantas vezes caímos, entrega-nos a Tua Mãe, para que no seu Sim nós digamos Sim também.




Monte Real, 19 de Setembro de 2023
Joaquim Mexia Alves

sexta-feira, 15 de setembro de 2023

NOSSA SENHORA DAS DORES (2023)

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Olho-te Mãe
nesses olhos tão profundos
onde repassa a dor.

Quero acarinhar-te
mas afinal és Tu que me beijas
e me enches de amor.

Puxas-me para Ti
sentas-me ao teu colo
afagas-me o rosto
e dizes-me com ternura:
Deixa estar assim
bem junto de mim
que Eu gosto.

Eu aninho-me mais um pouco
e repito baixinho
uma súplica constante:
Roga por nós pecadores,
Mãe,
Nossa Senhora das Dores.





Monte Real, 15 de Setembro de 2023
Joaquim Mexia Alves

segunda-feira, 11 de setembro de 2023

O PRECEITO

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«Eu pergunto-vos se é permitido ao sábado fazer bem ou fazer mal, salvar a vida ou tirá-la»



O que resta do preceito sem o amor?
O que resta do preceito sem a máxima vontade de fazer a vontade de Deus?
O que resta do preceito sem amar primeiro a Deus?
O que resta do preceito sem amar os outros como a mim mesmo?
O que resta do preceito se o mesmo se torna rotina sem fé?
O que resta do preceito sem a comunhão com os outros em Igreja?
O que resta do preceito sem a vontade de servir a Deus servindo os outros?
O que resta do preceito se não há obediência aos ensinamentos de Jesus Cristo e da Igreja?
O que resta do preceito se não houver abertura à luz do Espírito Santo?
O que resta do preceito se ele não me edifica?
O que resta do preceito se ele não me une e me faz unir?
O que resta do preceito se ele não me dá vida e faz viver?

Enfim, verdadeiramente, o que resta do preceito sem o amor?

O preceito é coisa boa se tiver tudo isto e muito mais, porque então não se fica apenas pelo preceito, mas antes se torna vida e amor de Deus em nós, para nós e para os outros.




Monte Real, 11 de Setembro de 2023
Joaquim Mexia Alves

sexta-feira, 8 de setembro de 2023

NATIVIDADE DA VIRGEM SANTA MARIA (2023)

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Estive, durante uns curtos dias de férias, na Serra da Estrela.

Lá tive oportunidade de tirar esta fotografia de Nossa Senhora, esculpida na rocha.

Neste dia da Festa da Natividade da Virgem Santa Maria, lembrei-me desta imagem e reflecti sobre o que ela pode representar e dizer sobre a nossa Mãe do Céu.

Em primeiro lugar a simplicidade do lugar onde está esta imagem, a natureza, os pastores a seus pés, (como em Belém, onde foram os primeiros a chegar), a beleza da naturalidade da cena.

A nossa Mãe do Céu é assim simples, pura como a natureza criada por Deus, recebe todos os seus filhos, dos mais humildes aos mais ricos e poderosos, (em termos humanos, claro), e o seu amor é o tão natural e profundo amor de mãe, impregnado do amor do seu Filho Jesus Cristo.

Em segundo lugar está a meio do caminho para subir a serra ou para descer da serra.

A nossa Mãe está sempre no nosso caminho para o Alto, para Deus, empurrando-nos com o seu amor, para vencermos as dificuldades da subida.

Mas também está sempre connosco quando decidimos descer das nossas certezas, das nossas sabedorias, das nossas riquezas, para humildemente procurarmos o seu Filho e d’Ele recebermos o amor que dá vida e vida em abundância.

Em terceiro lugar a imagem está esculpida na rocha.

Maria, nossa Mãe, é a rocha segura a que sempre nos podemos agarrar e confiar, para irmos ao encontro do seu Filho, na certeza de que essa rocha, que é nossa Mãe do Céu, sempre aponta a Jesus Cristo e não a si própria.

Em quarto lugar descortinamos por cima da imagem o azul do céu.

A nossa Mãe do Céu não quer ser nunca o fim em si mesma, mas sim o caminho seguro para o Céu da Salvação, que nos foi alcançada por seu Filho Jesus Cristo, pela Sua Morte e Ressurreição, por todos nós.

E poderia continuar a “descobrir” razões de reflexão na imagem, mas essas razões são tantas como tantos são os pensamentos de quem quiser ir para além da imagem e, dirigindo uma prece a Maria, entregar-se e deixar-se conduzir pelo seu sim, dizendo sim também, à vontade do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

Maria, nossa Mãe, rogai por nós.





Marinha Grande, 8 de Setembro de 2023
Joaquim Mexia Alves

terça-feira, 5 de setembro de 2023

A CRUZ E A VIDA





Ponho a minha cruz aos meus ombros
e parto apressado 
à procura da vida.

A cruz pesa-me
mas pesar-me-ia ainda mais
se eu não aceitasse a vida.

Ou será que me pesa mais a vida
porque muitas vezes 
não aceito a cruz 
em mim vivida?

E vens Tu,
Senhor,
de mansinho como sempre,
e pegas na minha cruz
enches-me a vida
com o Teu amor,
e a cruz que me pesava
torna-se leve
sem dor
torna-se toda amor
porque és Tu que me dás vida.


Serra da Estrela, 5 de Setembro de 2023
Joaquim Mexia Alves 

sábado, 2 de setembro de 2023

DIÁLOGOS COM O SENHOR 27

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- Apetece-te escrever, mas não sabes sobre quê.
- É verdade, Senhor. Mas Tu sabes bem que isso me acontece muitas vezes.

- E não achas estranho que isso aconteça?
- Talvez, Senhor! Mas Tu, que sabes muito melhor o que eu sou e o que se passa em mim, podes ajudar-me a perceber porquê?

- Não será, meu filho, um desejo de falares Comigo, um desejo de orar/conversar Comigo por escrito?
- Perguntas-me Tu, Senhor, que me conheces melhor do que eu me conheço?

- Pergunto-te para que percebas melhor esses teus desejos, que no fundo, são desejo de Mim.
- Disso, Senhor, não tenho dúvidas!

- E não tens dúvidas porquê?
- Porque cada vez mais, Senhor, Te procuro quase ansiosamente em tudo o que faço e sou, mas sinto-me tantas vezes tão afastado de Ti.

- Mas meu filho, tens que reconhecer que cada vez que Me chamas ou te diriges a Mim, Eu estou contigo e mesmo quando não o fazes Eu estou contigo também.
- Obrigado, Senhor, porque Te deixas tantas vezes sentir por mim e isso dá-me uma paz e um amor que apenas quero testemunhar em simplicidade e verdade.

- Percebeste agora porque tinhas tanto desejo de escrever?
- Sim, Senhor, percebo que precisava desta conversa escrita para Te ler e ouvir falar-me ao coração. Obrigado, Senhor!




Marinha Grande, 2 de Setembro de 2023
Joaquim Mexia Alves

quinta-feira, 24 de agosto de 2023

A CORRIDA DA FÉ

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Um destes dias vi na televisão, (naquelas passagens rápidas pelos diversos canais), uma prova de atletismo em que o último atleta vinha com um enorme atraso em relação aos outros, mas mesmo assim não desistiu de alcançar a meta.

Fiquei com aquela imagem no pensamento e reflecti sobre ela, sobre o que é poderia retirar dela para a minha vivência diária da Fé.

Muitas vezes me incomodam, (confesso que poderia dizer que quase me irritam, infelizmente), as pessoas que, apesar de fazerem formações e cursos em Igreja, permanecem num desconhecimento das “coisas” da Fé, continuando a viver “agarradas” a práticas ancestrais, a piedades ditas populares, sem darem, (julgo eu), o salto em frente para, (segundo as minhas certezas), poderem encontrar o caminho de Deus em Igreja.

Devo dizer que nada tenho contra práticas que sempre foram Tradição da Igreja, nem contra as piedades populares vividas com sinceridade e entrega.

Fiquei então a pensar nessas pessoas, cristãos como eu, e percebi, ou melhor, julgo perceber a analogia com a imagem do atleta que chega em último lugar, muito depois de os outros já terem chegado.

No fundo o que interessa é chegar à meta, (claro que o objectivo de uma prova de atletismo é vencer, mas não estou a escrever sobre essas provas), e, obviamente, dentro das regras da prova, ou seja, na mesma pista em que todos os outros correm e seguindo os mesmos regulamentos.

Ora na nossa “corrida” da Fé, a nossa “pista de corrida” é a Igreja e os nossos “regulamentos” são a Palavra de Deus e a Doutrina da Igreja.

E o que interessa nesta “corrida” da Fé é alcançar a meta, ou seja, o encontro pessoal com Cristo que nos leva à salvação.

Mas o mais interessante nesta “corrida” da Fé, é que o Cristo que queremos “alcançar”, “corre” connosco, “empurra-nos”, dá-nos a mão, e em todos os momentos da “corrida”, exorta-nos para não desistirmos.

E ainda melhor, porque Ele já “alcançou” a “meta” para nós, ou seja, já nos deu a salvação.
Nós “apenas” temos que a aceitar, vivendo a “corrida” da Fé na “pista” que é a Igreja, segundo os “regulamentos” que são a Palavra de Deus e a Doutrina da Igreja.

Assim percebe-se que aquele que vai em último, se não desistir, (como aquele atleta não desistiu), chega à “meta” também, ou seja, “alcança” a salvação como todos os outros.

Os mais “simples” fazem o seu caminho e eu muitas vezes julgo-os.
Mas não disse Jesus Cristo que o Reino dos Céus é das criancinhas e daqueles que se fazem como crianças?

Então, o que eu e todos nós que nos dizemos cristãos temos que fazer, é “correr” todos no mesmo sentido, sem nos preocuparmos em chegar primeiro, mas sim, e muito mais importante, nos ajudarmos uns aos outros a chegar à meta, nem que tenhamos de ficar para trás, para levar “aos ombros” os que mais se atrasam ou têm mais dificuldade em “correr”.

Se assim fizermos, seremos Igreja, sem dúvida, e Cristo que “corre” connosco, impulsiona-nos pelo Espírito Santo, até chegarmos aos braços de amor do Pai.





Monte Real, 24 de Agosto de 2023
Joaquim Mexia Alves

terça-feira, 22 de agosto de 2023

CONVERSAS NO CAMINHAR III

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Provocação - E a Igreja? O que é para ti a Igreja?

Reflexão - Queres que te responda com o conhecimento formal, ou queres que te responda com o coração, com o sentir, com o viver?


P - Claro que com a segunda forma, visto que a primeira já a sabemos definir com a Doutrina, com o Catecismo, com tudo que é ensinado pela própria Igreja.

R - A Igreja, de uma certa forma, é para mim, passe a imagem redutora, um ninho!
Num ninho os passaritos recém-nascidos estão protegidos, têm o calor de que necessitam, são alimentados, os pais tratam deles com todos os cuidados.
Mas depois de crescerem no ninho partem para os seus voos, primeiro incertos, (e os pais têm que os fazer regressar ao ninho), e depois mais ousados, levando-os para outras paragens, onde irão também fazer os seus ninhos. Sinto-me assim muitas vezes em Igreja e sendo Igreja.


P - Mas isso é muito redutor, porque os passaritos apenas crescem, mas digamos que em nada contribuem para o seu ninho a não ser com a sua presença nele.

R - Claro que sim, tens toda a razão. Mas eu falava-te da Igreja num sentimento de ternura, de carinho, de protecção, de mãe, enfim, mas também de envio e proclamação da Boa Nova.


P - É bonita essa imagem, sem dúvida, mas abarca toda a Igreja?

R - Claro que não. A Igreja é para mim muito mais do que isso.
É presença da paternidade de Deus, no Sacramento do Baptismo.
É presença viva de Jesus, muito especialmente no Sacramento da Eucaristia.
É presença constante do Espírito Santo, no Sacramento da Confirmação.
É presença do perdão de Deus, pelas mãos dos seus sacerdotes agindo “in persona Christi”, no Sacramento da Penitência.
É presença do poder de Deus, no Sacramento da Unção dos Doentes.
É presença do amor de Deus em tudo, mas muito especialmente no Sacramento do Matrimónio.
É presença da entrega total de Deus e a Deus, na dádiva do Sacramento da Ordem.


P - Esses são os sete Sacramentos da Igreja.

R - Sim, mas a Igreja vai para além deles. É uma comunidade que é família, família de Deus.
Se cada um daqueles que é Igreja, meditasse e vivesse de acordo com a imagem de São Paulo do Corpo Místico de Cristo, poderíamos perceber/viver a Igreja como a mais bela “organização” fundada por Deus e feita pelo Homem.
Com efeito, se o Homem vivesse o ser Igreja como pertencendo realmente ao Corpo de Cristo, como poderia o Homem não se preocupar com aqueles que sofrem e constituem o mesmo Corpo em Cristo, como nos ensina São Paulo?


P - Mas mesmo aqueles que não pertencem à Igreja, que não são baptizados ou que até rejeitam a Igreja?

R - Claro que sim! Deus não faz acepção de pessoas e as portas da Igreja estão abertas para todos como o coração de Cristo está aberto para todos.
Cristo não morreu apenas por aqueles que estão ou são Igreja. Cristo morreu pelo Homem.
Então a missão daqueles que são Igreja é chamar os que o não são a encontrarem o Cristo vivo, que deu a vida por todos e a todos quer salvar.
Ninguém pode descansar enquanto souber que alguém ainda não ouviu falar de Cristo ou que ainda não se quer encontrar com Ele.


P - Mas e se alguém não se quer encontrar com Cristo, se alguém O rejeita, mesmo?

R - Não nos compete julgar e muito menos condenar. Devemos fazer tudo o que está ao nosso alcance para chegar até esses homens, com os nossos gestos, as palavras que Deus colocar em nós, o testemunho do amor de Deus em nós.
Devemos ser portadores em nós e connosco da alegria do encontro pessoal com Cristo e como esse encontro transforma a vida, como esse encontro se transforma em vida e “vida em abundância”.


P - Mas esse é um encontro real?

R - Claro que é um encontro real!
A realidade nem sempre é mensurável, nem sempre é visível aos olhos humanos, nem sempre é palpável, mas é sempre sentida, reconhecida e vivida.
Quando desejamos e temos esse encontro pessoal com Jesus Cristo tudo se transforma, pois Ele sente-se próximo, mais, sente-se em nós, (e nos outros), tudo toma a dimensão verdadeira da criação de Deus, e assim, a nossa relação deixa de ser uma relação distante ou rotineira, para passar a ser uma relação constante, em que O sentimos em tudo, em todos e por isso, O reconhecemos no amor e na entrega.
Mais ainda, nessa relação pessoal com Cristo, abrem-se os “olhos do coração”, os “olhos do ser”, e assim podemos ver Jesus Cristo na Eucaristia e dEle nos podemos alimentar inteiramente por Sua graça.


P - E o que fazer para ter essa relação pessoal com Jesus Cristo?

R - Ah, se houvesse fórmulas, preceitos, normas, regras! Se houvesse um manual, um compêndio, um qualquer código! Mas não há!
Para além de tudo o que sabemos da perseverança na oração, da resistência à tentação e ao pecado, da vivência em Igreja, da presença viva de Jesus Cristo nos Sacramentos e na Palavra, da nossa vontade de fazer a Sua vontade, há “apenas” a nossa entrega, confiante, esperançosa e sobretudo a abertura permanente ao Espírito Santo que nos revela Jesus Cristo e o Pai se por Ele nos deixarmos iluminar e conduzir.


P - E depois?

R - Depois é um caminhar, ou mais do que um caminhar, é um viver e amar para melhor conhecer, e conhecendo melhor, amar ainda mais.
Uma relação entre pessoas torna-se cada vez mais forte à medida que as pessoas se conhecem, conhecem melhor os desejos e vontades do outro, à medida que cada vez mais dialogam de tal modo que muitas vezes no silêncio entre ambos se conseguem escutar um ao outro e perceber o que ambos querem dizer, nada dizendo.
Ora se entre nós, humanos assim é, quanto mais numa relação com Jesus Cristo, com Deus, que sendo perfeito nos quer aproximar da perfeição e por isso torna mais perfeita essa relação de tal modo que a relação em si, se torna vida para aquele que se aproxima de Cristo.
E nesta relação pessoal com Jesus Cristo, podemos dizer que “metade” do caminho está sempre feito, porque Ele nos conhece melhor do que nós nos conhecemos e, portanto, o nosso “contributo” para essa relação é sempre e cada vez mais, não darmo-nos a conhecer, mas sim querer conhecê-lO sempre e cada vez mais.


P - Parece que nos afastámos da conversa inicial que era afinal sobre a Igreja.

R - Sim, pode parecer que sim, mas a verdade é que a Igreja é o Corpo Místico de Cristo, a cabeça da Igreja é Cristo, o centro da Igreja é Cristo e só em Cristo a Igreja vive e é o que Cristo quer que Ela seja.
Assim, só nesta relação pessoal com Cristo, somos verdadeiramente Igreja, ou seja, a Igreja deixa de ser algo fora de nós ou uma questão de pertença, para passar a ser o nosso próprio ser, para passar a ser a relação de amor com Deus e com os homens, com Cristo, por Cristo e em Cristo.





Marinha Grande, 22 de Agosto de 2023
Joaquim Mexia Alves

terça-feira, 15 de agosto de 2023

ASSUNÇÃO DE NOSSA SENHORA (2023)

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Meu querido Filho, manda-me ir ter contigo.

Mas porquê, Mãe, não estás bem na terra junto dos filhos todos que te dei?

Estou, meu Filho, bem o sabes, mas queria estar mais junto de Ti, aí no Céu, para Te pedir constantemente por eles.

Mas, Mãe, sabes bem que Eu dei tudo por eles, até a minha vida.

Eu sei, meu Filho, e também eles sabem, mas nem todos, infelizmente, e mesmo aqueles que sabem, muitos não acreditam verdadeiramente.

E achas tu, minha Mãe, que estando no Céu os podes guiar melhor?

Se eles me souberem junto de Ti, percebem que, mesmo sendo humanamente frágeis como eu era, podem sempre dizer sim, e com esse sim juntarem-se a Ti no paraíso.

Queres o melhor para todos eles, não é Mãe?

Meu Filho, só Tu é que sabes o que é melhor para todos eles, mas o meu coração de mãe, que Tu tão bem conheces, é assim, quer os todos junto de Ti, porque só em Ti encontram a verdadeira vida que Tu mesmo lhes deste.

Olha, Mãe, e se quando estiveres junto de Mim Eu te enviar para os visitares e lhes falares, tu vais?

Ó, meu Filho, quando Eu disse sim ao Pai, disse-o a Ti e ao Espírito Santo e disse-o para toda a vida, naquele tempo e na eternidade, por isso o que quiseres que eu faça envia-me a fazer, e eu apenas Te responderei: «Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra».

Então, Mãe, vem!
Entrega-te nas asas dos anjos e vem para junto de Mim, por toda a eternidade sem fim!




Marinha Grande, 15 de Agosto de 2023
Joaquim Mexia Alves

domingo, 13 de agosto de 2023

SURPRESAS DE DEUS

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Hoje, por causa da ausência do nosso pároco, tinha que fazer uma Celebração da Palavra na capela de São Pedro de Moel.

Regressar a São Pedro de Moel e à sua capela, (já no Domingo passado lá estive na Celebração da Palavra), é sempre um regresso ao passado sem a ele regressar, claro, mas “revisitando-o” para me lembrar sempre de como Deus me pegou pela mão e me conduziu ao Caminho, à Verdade e à Vida.

Foi nas noites de São Pedro de Moel e não só, que gastei muito da minha vida em coisas sem importância, ou pior, em coisas que me puxavam para baixo, pensando que era vida aquilo que era apenas e só gastar, mal, a vida que Deus me deu.

Obviamente que São Pedro de Moel, o local, a terra, as suas gentes, não têm culpa nenhuma, mas sim a minha falta de querer encontrar a vida verdadeira que Deus, ainda muito a tempo, me levou a descobrir.

Por isso, como acima escrevo, são sempre momentos muito intensos quando sou chamado a celebrar a Palavra, naquela, para mim, tão bela capela.

E hoje estava nervoso, mais uma vez, muito nervoso e ansioso, talvez não tanto pela celebração em si, mas com o medo de fazer “as coisas” mal, por causa da Palavra que é o próprio Deus, que ia celebrar, mas muito mais, infelizmente acredito, por causa do meu orgulho e vaidade, com o medo de fazer “má figura”.

E ali estava eu, rezando interiormente, e não aparecia ninguém da equipa de acolhimento escalada para abrir a porta da capela e, por causa disso, os meus nervos e a minha ansiedade iam aumentando.

E eu ia repetindo baixinho em jeito de oração:
Ó Senhor, porque me fazes isto! Sabes que sou nervoso, ansioso e parece que ainda provocas mais este nervosismo, esta ansiedade.

E Ele ia-me repetindo:
Deixa de pensar em ti e entrega-te a Mim.

Entretanto o tempo de dar início à celebração passava, e nada de chave, e nada de poder entrar na capela.

Finalmente o Pe Jorge atendeu o meu telefone, (depois da celebração a que presidiu na igreja da Marinha Grande), e disse que me ia levar a chave, ao que eu retorqui que, já que vinha, então podia celebrar a Santa Missa, ao que ele de imediato anuiu, apesar dos seus múltiplos afazeres na paróquia.

E eu avisei todos os que estavam à espera que afinal esperar com paciência tinha o seu “prémio” e em vez de terem uma simples celebração da Palavra por este pobre de Cristo, iriam ter a Santa Missa presidida por um sacerdote.

E depois, depois dei graças a Deus, porque primeiro, ia celebrar com todos a Eucaristia em que Ele se faz realmente presente entre nós e para nós.

E em segundo lugar, porque já não precisava de estar nervoso e ansioso, já não precisava de pensar em mim e no meu “desempenho”, mas sim e só n’Ele que, mais uma vez, como nos diz a primeira leitura do dia, se revelava nesta “brisa suave” que só percebemos e sentimos quando a Ele nos abrimos.

Já descansado em casa, apenas posso dizer:
Obrigado, meu Jesus, porque sempre me chamas a “caminhar sobre as águas”!




Marinha Grande, 13 de Agosto de 2023
Joaquim Mexia Alves

quarta-feira, 9 de agosto de 2023

NO RESCALDO DA JMJ

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Seguiam os dois de mão dada no autocarro de volta à sua terra, ainda com um sorriso “meio tolo” nos seus rostos.

O João olhou para a Isabel com aquele olhar de quem ama um amor sempre novo e disse:
Gostei tanto de estar ali com tanta malta como nós e com o Papa!

A Isabel olhou para ele enternecida, apertou-lhe ainda mais a mão e respondeu:
Também eu, João, também eu!

Fez-se um silêncio entre os dois, apesar do barulho feito por tantos jovens naquele autocarro e deixaram-se ficar assim, de mãos dadas, olhando um para o outro com uma felicidade que não sabiam perceber … ainda.

A Isabel cortou o silêncio para dizer:
E agora? Agora o que vamos fazer?

O João olhou-a e respondeu:
Sei lá! Se calhar temos que perceber bem o que o Papa nos disse! Ele disse para não termos medo, mas isso já Jesus dizia naquele tempo, há muito tempo.

E tu tens medo?
Perguntou a Isabel.

Não sei bem, disse o João, acho que tenho algum receio do futuro, mas de Deus sinto que não tenho medo.

É como eu! Sinto que Deus nos ama, que Jesus está connosco, mas quando olho para a frente tenho um pouco de medo do que aí possa vir.

O João pensou um pouco e disse:
Sabes, eu acho que o Papa queria dizer que não devíamos ter medo de ser cristãos, de ser católicos, de ser Igreja, porque se o formos verdadeiramente, Jesus está connosco e nada de verdadeiramente importante nos há-de faltar.

A Isabel riu-se com vontade e respondeu:
Não te conhecia esses “dotes” de fé!

E acrescentou:
Estou a brincar, mas a verdade é que a mim também me tocaram aqueles dias, aquelas celebrações, sobretudo a presença de unidade, de amor, que só Deus pode fazer sentir em tanta gente.

Mais uma vez o silêncio tomou conta deles apesar do “tumulto” que tantos jovens faziam no autocarro.

E agora, João?
Perguntou a Isabel, retomando a conversa interrompida.

O João olhou para ela, apertou a mão com força e disse:
Só podemos ter duas atitudes. Ou continuamos assim, a fazer as nossas vidas tipo um poucochinho em Igreja ou assumimos a fé que nos foi dada, e vivemo-la com a força que nos vem de Deus.

A Isabel tomando coragem, respondeu-lhe:
Mal puder, quando chegarmos, vou-me confessar e recomeçar a partir daí.

O João anuiu e disse que ela não iria só porque essa era também a sua intenção.

De mãos dadas em silêncio, mais uma vez, viveram aquele momento como algo que começava verdadeiramente nas suas vidas.

Quase ao mesmo tempo, olhando um para o outro perguntaram-se:
E o todos, todos, todos?

Ah, João, temos que acolher aqueles que não vivem como nós, ou melhor, que não pensam como nós, que têm outras maneiras de sentir a vida, desde a espiritualidade até mesmo ao sexo, e acolhê-los, fazendo-os sentir que a Igreja é de todos.

Sim, Isabel, é verdade, mas temos que mostrar com as nossas vidas que Jesus chama todos, mas que depois compete a cada um aceitar o chamamento de Cristo com tudo o que esse caminho contém.

Meu querido João, a nós compete-nos tão só mostrar com as nossas vidas e o nosso proceder que Deus a todos ama por igual e a todos chama para Ele, depois cada um perante esse chamamento responde conforme a sua vontade, porque Deus nada impõe, “apenas” ensina como viver e “apenas” ama!

Sabes, Isabel, acho que o nosso amor vem de Deus e se Deus nos ama e nos faz amar um ao outro, temos que nos servir desse amor para amar também os outros e ajudá-los a encontrarem o mesmo amor com que nós amamos e que, afinal, é o amor de Deus em nós.

Deram um beijo, reclinaram-se nos assentos do autocarro e ficaram a olhar para um “nada” que afinal estava repleto de Deus.




Marinha Grande, 9 de Agosto de 2023
Joaquim Mexia Alves

domingo, 6 de agosto de 2023

A TRANSFIGURAÇÃO DO SENHOR (AINDA A JMJ)

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Muitas vezes queremos apenas ver o Cristo divinamente glorioso, divinamente belo, divinamente extraordinário, divinamente grande, divinamente luz que enche as nossas vidas.

E muitas vezes O vimos assim, quando sentimos a Sua presença viva em certos momentos das nossas vidas, de tal modo que quereríamos viver sempre nesses momentos e esquecermo-nos até de nós, como Pedro se esqueceu dele próprio no Monte da Transfiguração.

Mas Jesus convida-nos, mais do que convidar, insiste connosco para descermos do monte e, no mundo, sermos testemunhas do Seu amor para o outro.

Porque muitas vezes Ele nos aparece “transfigurado” no pedinte, no sem abrigo, no familiar “chato”, no vizinho incómodo, no idoso que abandonamos, no drogado insuportável, etc., enfim, na gente de que a gente não gosta.

E é nessas alturas que precisamos de O ver, mas muitas vezes olhamos para o lado.

E, para mim, o todos, todos, todos, do Papa Francisco significa isso mesmo, todos, todos, todos devem ser acolhidos, amados e, depois, cada um desses todos, todos, todos, deve abrir o seu coração e a sua vida a Jesus Cristo, que se quer fazer presente na sua vida, mas isso já não nos compete a nós a não ser no sentido de que não devemos deixar de testemunhar com as nossas vidas, o nosso amor, a nossa entrega, o nosso acolhimento, sem “pré-conceitos”, a certeza de que cada um deve ter, que Jesus Cristo a todos infinitamente ama por igual.

E hoje, no final desta JMJ, muitos jovens e não só, naquele recinto de amor imenso, olham uns para os outros sorrindo, (talvez um sorriso beatífico a que alguns chamariam de “vinho doce”), e não lhes apetece sair dali, mas sim ali permanecer, naquele sentimento de amor tocado pelo divino que nos faz esquecer de nós próprios, para “apenas” vivermos entre nós e connosco o amor de Deus.

E, então, é aí que o «não tenhais medo», repetido até à exaustão desde Cristo há mais de dois mil anos, se torna premente, porque Ele nos convida a descer do monte, para contarmos e testemunharmos ao outro, com as nossas palavras e os nossos gestos diários, a beleza da transfiguração que acabámos de presenciar.

E, então, o Cristo transfigurado aparece aos olhos dos nossos corações, tocados pelo Espírito Santo, na figura de todos aqueles que nos rodeiam e precisam de ser amados com o amor de Deus, que vive em nós, para nós e para o outro.

E, então, a Igreja chegará àquele momento em que, com Jesus Cristo no centro, guiada pelo Espírito Santo, no amor do Pai, o mundo dirá dela: “vede como eles se amam”.




Marinha Grande, 6 de Agosto de 2023
Joaquim Mexia Alves

quinta-feira, 3 de agosto de 2023

E DEPOIS …

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E depois há aqueles que estão contra, que arranjam toda a espécie de argumentos para estarem contra, para não quererem que outros vivam a sua fé e louvem a Deus, como nesta JMJ.

E nós que vivemos a fé cristã temos logo, humanamente falando, a tendência também para os criticarmos, (afinal como eles nos criticam a nós), para os afastarmos, (como eles nos querem afastar a nós), para os calarmos, (como eles nos querem calar a nós), para os classificarmos, (como eles nos classificam a nós), para quase os desprezarmos, (como eles nos desprezam a nós).

Mas passados esses primeiros momentos de “descontrole” muito humano, devemos regressar ao ensinamento dAquele que afirmamos seguir, e sem querer obrigá-los a viverem a mesma fé que nós, devemos antes, com o nosso testemunho de amor, de paz, de oração, pedir a Deus que olhe por eles, que toque os seus corações, porque nós não o podemos fazer sozinhos.

«Não foram os justos que Eu vim chamar ao arrependimento, mas os pecadores.» Lc 5, 32

Talvez que eu, comparando-me com os que estão contra, me ache justo, pobre de mim, mas a verdade é que sou pecador como eles e, se quero amar como Ele me ama, tenho que amar como Ele os ama, ou seja, tenho que os acolher, (pelo menos no meu coração), pedindo incessantemente que encontrem a vida que eu encontrei em Jesus Cristo.

Afinal se os “anatematizamos” estamos a dar razão às suas críticas definindo-nos como um “grupo” à parte que, por muito grande que seja como “grupo”, não deixa de estar à parte se se fecha em si mesmo.

«Não rogo só por eles, mas também por aqueles que hão-de crer em mim, por meio da sua palavra, para que todos sejam um só, como Tu, Pai, estás em mim e Eu em ti; para que assim eles estejam em Nós e o mundo creia que Tu me enviaste.» Jo 17, 20-21

Jesus Cristo chama-nos à unidade, chama-nos a proclamar o Evangelho a todos e, quando não o podemos fazer de viva-voz, talvez porque não nos queiram ouvir, podemos fazê-lo rezando por todos e, sobretudo, dando testemunho verdadeiro e real do amor de Deus em nós que tem sempre de se fazer amor para os outros.

Ser Igreja não é pertencer a uma instituição, é sim ser comunhão, ser união na diversidade, é ser oração contínua, é ser Evangelho vivo para nós e para os outros, é querer sempre que todos sejamos um com Jesus Cristo, guiados pelo Espírito Santo, no amor do Pai.

E se assim vivermos, se nos deixarmos guiar pelo Espírito Santo, vivendo no amor do Pai, tendo como centro das nossas vidas e, portanto, como centro da Igreja, Jesus Cristo, então, sem dúvida, «o Senhor aumentará, todos os dias, o número dos que entram no caminho da salvação». At 2, 47




Marinha Grande, 3 de Agosto de 2023
Joaquim Mexia Alves

terça-feira, 1 de agosto de 2023

“O AMOR NÃO ESCOLHE IDADES”

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E de repente veio ao meu pensamento esta frase popular que tantas vezes se ouve como resposta a críticas a pessoas de mais idade que não têm vergonha de afirmar o seu amor.

E, como não podia deixar de ser, nestes tempos em que vivemos a Jornada Mundial da Juventude, a “aplicação” dessa mesma frase a este extraordinário encontro a decorrer em Lisboa.

«Deus é amor» (1 Jo 4, 8), diz-nos São João, e é o amor verdadeiro, aquele amor que é todo doação, aquele amor que quer o bem do outro e se alegra com o bem do outro.

E só este amor transforma, só este amor é vida e «vida em abundância» (Jo 10, 10).

Muitas coisas se têm dito sobre a JMJ e a sua finalidade, a finalidade com que João Paulo II as criou e a única que tem sentido: o encontro com Jesus Cristo, que leva ao amor e à transformação de vida.

Se todos devemos estar abertos ao amor, então os jovens que vão descobrindo a vida, ainda mais devem estar e estão recetivos ao amor, ao amor verdadeiro, que é o amor de Deus que “formata” o nosso amor.

E os jovens são, por natureza, mais radicais, por isso mesmo, este amor de Deus que experimentamos no encontro pessoal com Jesus Cristo, será uma realidade nas suas vidas, se se deixarem tocar por Ele e, então, a sua radicalidade, a sua “temeridade” levá-los-á a testemunhar esse amor, o amor que muda o mundo, e não um qualquer “amor” do mundo que quer mudar o verdadeiro amor.

Podemos dizer e afirmar muitas coisas, criticar, opinar, etc., mas a verdade é que se estes jovens se abrirem a Jesus Cristo, o Espírito Santo se encarregará de lhe mostrar e fazer sentir o amor do Pai e, então, «darão testemunho de que o Pai enviou o seu Filho como Salvador do mundo» (1 Jo 5, 14)

Perceberão os jovens, então, e perceberemos nós também, pelo seu testemunho e não só, que «se Deus nos amou assim, também nós devemos amar-nos uns aos outros». (1 Jo 5, 11)

Seria utópico, claro, se não acreditássemos no poder de Deus e do seu amor a quem a Ele se abre e entrega, porque por muito irreal que possa parecer, a verdade é que Cristo venceu o mundo, e quer servir-se destes jovens e de todos nós para proclamarmos o Reino de Deus entre os homens.

Por isso, e servindo-nos da frase inicial, “o amor não escolhe idades”, rezemos para que o Pai e o Filho derramem abundantemente o Espírito Santo sobre estes jovens e sobre todos nós, para sentindo e vivendo o amor de Deus em nós, nele permaneçamos porque acreditamos que «quem permanece no amor permanece em Deus, e Deus nele». (1 Jo 5, 16).




Marinha Grande, 1 de Agosto de 2023
Joaquim Mexia Alves

quinta-feira, 27 de julho de 2023

JMJ

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Ei-los que chegam
jovens ainda
vestidos de esperança
caminhando por seu pé
vivendo na confiança
que anima a sua fé.

Vêm de longe
de outras terras
de outros costumes
cansados de guerras
de dúvidas e incertezas
que querem deixar para trás
trazendo no coração
um imenso desejo de paz.

Vêm à procura
do Deus que se fez Homem
encontrá-lo nas suas vidas
abandonar a secura
de oportunidades perdidas.

Ei-los que chegam
ansiosos pela luz
que lhes ilumine o caminho
que mesmo passando na cruz
os leve ao encontro do amor
ao encontro de Jesus.




Marinha Grande, 27 de Julho de 2023
Joaquim Mexia Alves


Nota: A fotografia é da Daniela Sousa, uma querida amiga e excelente fotógrafa da Marinha Grande.

A igreja é a da Marinha Grande, hoje na Missa da recepção aos muitos jovens que irão ficar connosco até rumarem a Lisboa na próxima semana. 

terça-feira, 25 de julho de 2023

O QUE É MORRER?

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O que é morrer, Senhor, quando penso em Ti, ou melhor, quando anseio por Ti na minha vida?

Sim, Senhor, o que é morrer, senão viver uma vida muito mais para além do que a vida que morreu.

Abriste no tempo uma estrada, Senhor, quando ressuscitaste dos mortos e nos mostraste a vida eterna que Tu és e que queres que todos sejamos Contigo.

E já nada, nem ninguém pode fechar essa estrada que abriste em Ti, para cada um de nós.

Então, Senhor, e mais uma vez, o que é a morte?

Um momento de vida em que a vida se torna vida para sempre.

Porque é então que a Tua vida em nós se torna no tudo e no todo da vida que em nós criaste e que só se completa totalmente quando é vida em Ti para sempre.

Então, Senhor, permite que pergunte mais uma vez o que é a morte?

É uma exaltação, um grito da alma que anseia por Ti, mais ainda, um desejo incomensurável de vida que se torna para sempre vida em Ti.

Ah, Senhor, não tenho medo da morte!

Tenho medo de não viver a vida sempre em Ti, por Ti e para Ti, porque sou fraco e pecador.

Ah, Senhor, mas nem das fraquezas da minha vida afinal tenho medo, porque sei, porque acredito, que o Teu amor é sempre maior que o meu pecado e, por isso, me abraças e dizes sempre ao meu coração: Não tenhas medo!

Obrigado, Senhor, não tenho medo porque já sei o que é a morte.

A morte é afinal vida, vida que em Ti vivida, levada pelo Espírito Santo, me aconchega nos braços do Pai para assim ser eternamente.




Marinha Grande, 25 de Julho de 2023
Joaquim Mexia Alves