sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

VIDA NOVA NUM NOVO ANO

É costume dizer-se nesta época do ano: ano novo, vida nova.
É costume também, formularem-se votos de saúde, prosperidade, felicidade, enfim, votos de que tudo corra pelo melhor sem problemas de qualquer espécie.
Pensava em tudo isto quando me preparava para formular esses mesmos votos a todos aqueles que visitam este espaço onde dou a conhecer a minha vivência quotidiana da fé, e me perguntei: E tu o que desejas neste novo ano que vai começar?
Claro que a minha primeira resposta tinha tudo a ver com os votos acima expressos, ou seja, saúde, prosperidade, felicidade, ausência de problemas, de contrariedades, etc.
Depois pensei melhor e reflectindo cheguei à conclusão que ter tudo isso numa óptica de vida no mundo, (e que é impossível de concretizar), é muito redutor, porque se esgota nesta vida mortal, não se projecta para a vida eterna a que eu acredito somos chamados.
Assim formulei então para mim os meus votos para o novo ano!
Que cada vez mais procure e me seja concedida a graça de uma relação mais intima, pessoal e profunda com Jesus Cristo, Senhor e Salvador.
Que cada vez mais me deixe conduzir, renovar, inspirar, iluminar, pelo Espírito Santo, Senhor que dá a vida.
Que cada vez mais me deixe envolver no amor do Pai, Senhor Todo Poderoso, Criador de todas as coisas.
Percebi então que estes são os melhores votos para o novo ano que se avizinha, porque se assim for, sempre estarei acompanhado pela Eternidade do Amor, na saúde e na doença, na prosperidade e na míngua, na alegria e na tristeza, na harmonia e na contrariedade e tudo será vivido na graça do dom da vida que o Senhor me concedeu.
Nada mais posso e quero para mim neste novo ano que vai começar!
Como quero para mim sempre o melhor, também o desejo a todos os outros, amigas e amigos que aqui me visitam, (os que comentam e os silenciosos), na certeza de que, na concretização destes votos só pode acontecer para cada um de vós um Novo Ano cheio de Vida Nova.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

ERA NOITE DE NATAL!

Era noite de Natal!
Estava ali sozinho na sala, sentado no sofá, envolto nos seus pensamentos.
Tinha visto ao longo dos últimos dias as pessoas na rua com um comportamento diferente, um modo de se olharem mais próximo, uns sorrisos que ao longo do ano não se costumavam ver, uma correria para as últimas compras, enfim uma maneira diversa de se relacionarem, mesmo entre aqueles que não se conheciam.
Na sua casa no entanto nada mudava, tudo ficava igual, e era assim que ele queria fosse!
Vivia sozinho e não gostava do Natal!
Aquela coisa da festa da família não lhe dizia nada, pois há muito que vivia só, sem família.
Lembrou-se de quando tinha família e logo uma irritação lhe despontou no seu coração.
A sua mulher tinha morrido há muito tempo e aquele filho único...
Agitou-se no sofá.
Aquele filho único, aquela discussão, aquela zanga, aquele cortar de relações.
Já nem se lembrava bem do que tinha dado origem a tudo aquilo, mas lembrava-se das palavras que ele lhe tinha dito e o tinham magoado, tinham ferido, tinham rasgado tão profundamente os sentimentos, que tinha ouvido distintamente a voz do seu filho dizer: Eu já não tenho pai!
Lembrava-se também de gelidamente nada ter feito para impedir a sua saída de casa.
Tinha-o deixado sozinho naquele momento tão difícil para ele.
Nunca lhe perdoaria!
Não queria saber o que era feito dele, não lhe interessava, embora por vezes viesse ao seu coração um sentimento que não sabia explicar, como que de saudades, o que era de todo impossível porque para ele aquele filho era como se não existisse.
Pôs de lado os seus pensamentos. Não valiam a pena.
Preparou-se para cear qualquer coisa, fazendo essa pequena concessão ao espírito de Natal.
Quando se levantava do sofá, ouviu um carro parar à porta de casa e o bater de uma porta.
Movido pela curiosidade aproximou-se da janela e espreitou para a rua.
O seu coração gelou!
A abrir a cancela do jardim estava o seu filho, com um embrulho nas suas mãos e um grande sorriso na cara.
Ainda hoje não sabe explicar o que aconteceu, mas a verdade é que num instante se encontrou na rua e abraçado àquele corpo, chorava convulsivamente.
O filho empurrando-o gentilmente, afastou-o um pouco e disse-lhe com voz embargada:
Perdoa-me pai, perdoa-me, porque te magoei, porque me afastei de ti, porque não fui bom filho.
Mas ele não tinha palavras, apenas o queria abraçar, apenas o queria sentir junto de si, apenas queria sentir apertado em si, dentro de si, aquela “carne da sua carne”.
No entanto, afastando-se um pouco, olhou-o profundamente nos olhos e disse-lhe:
Perdoar o quê meu filho, (que bem lhe soube aquela palavra, filho), perdoar o quê? Entra, entra, vem para dentro, deixa-me ver-te, deixa-me sentir-te, deixa-me abraçar-te.
Entraram em casa abraçados um ao outro, felizes como duas crianças em dia de aniversário e sentaram-se frente a frente no sofá.
Olhou o seu filho no fundo dos olhos e disse-lhe pesaroso:
Mas eu não tenho nada para festejar! Nem bons vinhos, nem “vitelo gordo”, nem convidados para se alegrarem connosco!
Então o filho suavemente pegou-lhe nas mãos e colocando-as no meio das suas disse-lhe numa voz repassada de amor:
A festa neste momento somos nós meu pai. Porque eu andava perdido, a vida sem ti não tinha sentido, e tu mal me viste correste para mim e me abraçaste. A festa neste momento somos nós, meu pai, porque agora junto a ti, renascemos para o amor.
Ficaram ali, sentados no sofá, olhando-se nos olhos, mãos nas mãos, sem palavras, apenas vivendo-se um ao outro.
No meio deles, sem se ver mas presente, muito presente, (onde está o amor, Ele está sempre presente), estava Jesus Menino, que sorria com um sorriso que fazia empalidecer as estrelas.
Era noite de Natal!
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Monte Real, 20 de Dezembro de 2007

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

O DESERTO


Neste Advento, mais uma vez a imagem do deserto me entrou pelo coração adentro.
João Baptista retirou-se para o deserto, e era no deserto que pregava, que ia exortando os outros ao arrependimento e ele próprio procurava o seu caminho para Deus.
Mas porquê o deserto, para além das razões que todos conhecemos, como o isolamento que leva à entrada em nós próprios, à meditação das nossas vidas, a reflectirmos no que há a mudar, o que devemos melhorar.
Fiz também um pouco de deserto em mim, para que me fosse dado descobrir algo mais que o deserto me trouxesse.
E então pensei no deserto, extensão de areia imensa, silenciosa, ali entregue a si própria.
E então vi a mudança permanente que acontece no deserto!
A areia move-se permanentemente ao sabor do vento, ora construindo dunas mais altas, ora retirando-lhes areia fazendo-as assim mais baixas.
E nada pára, tudo se move!
As dunas avançam e recuam, num movimento constante!
E depois percebi: Também são assim as nossas vidas!
Estão em constante movimento, em constante mudança!
E vi mais, vi aquelas areias que estão ao sabor do vento e por ele se deixam movimentar, conduzir, transformar, sem nunca deixarem de ser areias.
E então reparei que devem ser assim as nossas vidas, ao sabor do vento do Espírito Santo!
Devemos deixar-nos conduzir por Ele, pois Ele nunca mudará a nossa essência de homens, mas guiar-nos-á na construção das nossas vidas.
Não nos deixa estarmos parados, pois nos quer em permanente movimento para Deus.
Vai-nos conduzindo cada vez mais para cima, para o Alto em direcção a Deus, mas quando por vezes as alturas nos embriagam e julgamos já sermos alguém, já sermos porventura merecedores, Ele se encarrega de nos mover, retirando-nos altura e fazendo-nos mais baixos, para que outra vez junto ao chão onde nascemos, recomeçar a construir-nos para o Alto.
E nós somos assim como aqueles grãos de areia, só juntos, unidos em comunhão perfeita, dando-nos as mãos, poderemos elevar-nos aos Céus e sermos dunas que se elevam para o alto.
Solitários, como um só grão de areia, nada construímos, nada conseguimos fazer, a não ser ficar pelo chão ao sabor de quem passa e nos leva colados às solas dos seus sapatos muitas vezes para onde não há mais grãos de areia e então acabamos por desaparecermos sem nada termos construído, sem nenhuma finalidade, numa vida sem sentido.
Há contudo uma diferença entre nós e os grãos de areia: Eles são levados pelo vento, sem vontade própria.
De nós o Vento do Espírito Santo, espera a entrega, a disponibilidade, espera que demos o nosso contributo à construção do caminho, à construção das dunas.
Ah, entendo agora melhor o deserto!
Afinal o deserto é vida, é construção, é mudança constante, é comunhão de e onde os grãos de areia juntos constróem caminhos para o alto, levados pelo vento que os transporta, que os conduz.
Ah, então eu quero ser deserto, eu quero ser grão de areia no deserto, quero deixar-me levar pelo vento do Espírito Santo, para que Ele me conduza, me guie, para que Ele faça da minha vida uma construção útil para os outros, para mim, quero que Ele me conduza aos outros, e juntos, unidos, em comunhão, Ele se sirva de nós para construir alturas a caminho de Deus, e nos traga para baixo quando acharmos que de tão altos, já não precisamos de Deus.
Ah sim, é então no deserto que eu quero viver, neste deserto sempre em movimento, neste deserto de comunhão com os outros, neste deserto em que só juntos podemos caminhar para o Alto, neste deserto que se faz Igreja de todos, a caminho do Deus de todos.
Seria isto que o Papa Bento XVI, por outras palavras, nos queria dizer, quando falou aos nossos Bispos em Roma?

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

TESTEMUNHO 6

Por razões particulares da minha vida passada e que tocam uma intimidade que não devo e nem quero revelar, foi difícil logo no inicio da minha conversão, (que nunca está acabada), a minha relação espiritual/vivencial com a figura da Virgem Maria, Mãe de Jesus Cristo e nossa Mãe.
O descobrir a presença de Maria na minha vida, nas nossas vidas, foi outra extraordinária graça que o Senhor colocou na minha vida.
Com muita delicadeza, muito lentamente, mas insistentemente, o Senhor foi-me dando a conhecer a figura maternal de Maria, a graça de nEla confiar, a graça de a Ela recorrer, a graça de a Ela pedir a condução segura no caminho para o Seu Filho Jesus Cristo.
Começou a tocar-me profundamente Aquela Mulher, que tudo enfrenta, (e sabemos como seria difícil naquele tempo enfrentar a sociedade), para ser a Mãe do Filho de Deus.
A Sua primeira reacção, ou melhor acção, não é ficar deleitando-se com o facto de ser a escolhida, mas sim, como que num prenúncio da missão do Seu Filho, parte para servir, servir os outros que necessitam, (a sua prima Isabel, grávida de idade avançada), na continuação da sua entrega a Deus, que teria de passar sempre pela entrega aos outros.
«Pois também o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por todos.» Mc 10, 45
Discretamente, humildemente vai caminhando a descoberta do seu próprio Filho, seguindo-O em tudo e sobretudo na Sua vontade.
Não quer lugares de honra, não procura “reconhecimento” de ninguém, não se mostra, mas como diz João Baptista, vive intensamente: «Ele é que deve crescer, e eu diminuir.» Jo 3, 30
A Mãe do Céu, toca assim de um modo muito especifico o meu coração orgulhoso, vaidoso e mostra-me o caminho seguro para Jesus Cristo, nesta oração que um dia vem ao meu coração.
«Mãe ensina-me a ser nada, para que Cristo seja tudo em mim».
Em mim nasce essa certeza de que Ela intercede por nós e que o seu Filho a ouve de um modo muito especial.
Confio-Lhe a minha família, os meus filhos, a Ela recorro em todos os momentos, alegres e nas aflições e “habituo-me” a ser ouvido, correspondido, naquilo que peço, ou na confiança para atravessar as dificuldades.
Com Ela aprendo a entregar-me à oração e o Terço/Rosário passam a ser alimento diário da minha vida, tornando-se muitas vezes num respirar, que verdadeiramente anima a minha vida.
Pois, às vezes parece quase mecânico, rotineiro, mas nunca deixa de expressar uma entrega, uma confiança, uma certeza de que com Ela só há um caminho, e esse caminho é Jesus Cristo nossa Salvação.
Quando por vezes percebo que erradamente querem fazer desta Mãe de humildade, uma quase “deusa”, percebo também como Ela se “revolta”, como Ela se dói, pois Ela é em tudo, o contrário disso mesmo, Ela é “apenas” «a serva do Senhor» Lc 1, 38
Com Ela a minha Fé vai-se enraizando, vai-se fortalecendo, vai-se tornando vida, numa entrega mais esclarecida e verdadeira a Jesus Cristo.
Por vezes penso como me seria possível viver hoje se não estivesse, não vivesse alimentado desta Fé que o Senhor na Sua bondade quis despertar em mim.
É que contrariamente à ciência do mundo, (que faz parte sem dúvida das nossas vidas), a Fé vem de dentro, é semente interior que cresce dentro de nós para depois tomar conta de tudo e tudo ser visto à imagem e obra de Deus.
A ciência vem de fora, da experiência, da verificação, da interpretação dos factos visíveis, para depois se tornar “convicção” no nosso interior e muitas vezes aquilo que hoje é verdade, amanhã já não o é.
A Fé vem de dentro, do interior do nosso ser, faz parte integrante do homem, (até daqueles que dizem não acreditar), é convicção profunda, que nunca muda, porque Deus é, (não foi, nem será), e por isso acaba por iluminar a nossa existência em tudo o que dela faz parte.
E não acontece por mérito do homem, mas porque este se abre ao Criador e Ele lha dá a conhecer no seu íntimo.
Assim, tudo na minha vida pretendo e me esforço para que seja iluminado, conhecido à luz da Fé, que me dá a certeza de que nunca estou só, a certeza de que Ele está sempre comigo e comigo se “preocupa”, que quer amorosamente a minha salvação.
E assim tem sido, as dificuldades, as provações, não deixaram de o ser, mas são vividas na confiança no meu Senhor, os bons momentos, as consolações, são vividas na alegria no meu Senhor e até esta vida, aqui no meio de todos, neste mundo, é colocada confiantemente nas mãos do meu Senhor, na convicção de que: «É que, para mim, viver é Cristo e morrer, um lucro.» Fl 1,21
Um testemunho de vida nunca está acabado e este não o estará com certeza, porque a conversão é luta diária, porque a Palavra de Deus é sempre viva, porque o Espírito Santo nos diz: «Eu renovo todas as coisas.» Ap 21, 5
Amadurece no meu coração o pensamento de um livro, algo que torne mais acessível a todos, as maravilhas que o Senhor faz na vida daqueles que a Ele se abrem num encontro pessoal, intimo, olhos nos olhos, como o fez a mim e continua a fazer, algo que nos leve a pensar naquilo que escrevi no inicio deste testemunho:
«Faço-o para que aqueles que não acreditam ou já não acreditam, saibam que há sempre tempo para acreditar.
Faço-o para que aqueles que apenas praticam o preceito, a prática religiosa, possam perceber que estão a perder um manancial de graças que o Senhor derrama naqueles que para além de praticar, procuram viver a fé no seu dia a dia e em tudo.»
Termino assim, desta maneira simples, mas que diz tudo sobre a esperança que me/nos anima:«Mas não se perderá um só cabelo da vossa cabeça.» Lc 21, 18

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

TESTEMUNHO 5

Em todo este caminho de vida nova, o amor à Palavra de Deus, a sua meditação diária, a entrega ao discernimento do que o Senhor me queria dizer em todos os momentos servindo-se dEla, foi o guia seguro que me conduziu e tem conduzido no caminho que Ele abre à minha vida.
A Bíblia ganhou uma dimensão que eu não suponha Ela pudesse conter!
Educado que fui nos anos em que a Bíblia, quase não era “aconselhável” para o comum leigo, Ela não passava para mim de um conjunto de histórias, umas mais bonitas que outras e algumas delas sem grande sentido e de difícil veracidade.
Ao principio, e ainda movido pela emoção do caminho novo e a ânsia de tudo querer saber, utilizava muitas vezes apenas a cabeça para ler e interpretar a Palavra, o que me levava a interpretações literais, (que logicamente serviam sempre às mil maravilhas ao que eu pensava), e não me conduziam a uma verdadeira mudança de vida interior e exterior.
As passagens que já conhecia, passava-as sem nelas me deter, no pensamento de que, já as conhecendo, nada me podiam trazer de novo.
Encontro ainda em muitas pessoas este modo de pensar.
Mas volta e meia, ao ler certas passagens dessas mais conhecidas, havia pormenores que me saltavam à vista, ou melhor dizendo, ao coração, e ao pedir ao Espírito Santo que me desse o discernimento necessário, aparecia a Palavra viva, que se fazia vida e me questionava em tantos procedimentos do meu dia a dia.
Fui assim descobrindo a riqueza da Palavra de Deus e percebendo que afinal quando nos queixamos tanto que Ele não fala connosco, é porque não queremos escutá-Lo através da Sua Palavra.
E é escusado desculparmo-nos com uma qualquer desculpa de não sabermos “como se faz”, porque Ele próprio, (estando nós de coração aberto), vai conduzindo cada um conforme as suas necessidades, os seus conhecimentos, a sua cultura.
Um dia em que falava sobre este tema, o Senhor quis dar-me um modo de exemplificar o que eu queria dizer, o que eu queria explicar:
Numa exposição de pintura moderna, perante um quadro que “apenas” tenha várias cores, e se intitule, por exemplo, “Senhora num banco de jardim”, é muito provável que não consigamos minimamente ver o que o titulo “apregoa”.
Chamando o pintor e com as suas explicações é então muito possível que já consigamos distinguir o que ele quis “retratar”.
Assim se passa com a Palavra de Deus.
Muitas vezes não entendemos, não percebemos o que Ela nos quer dizer, e então é preciso chamar o Autor, o Espírito Santo, para que Ele nos ilumine e nos faça entender o que a Palavra, o que Deus nos quer dizer.
Mas há uma grande diferença entre as duas situações.
Enquanto aquilo que está no quadro é imutável, ou seja representa aquilo que o pintor quis “retratar”, e apenas aquilo, e depois de percebermos isso está tudo compreendido, a Palavra de Deus, iluminada pelo Espírito Santo é sempre diferente, responde sempre de maneira diversa, conforme as necessidades da minha vida a que Deus quer responder, para me guiar.
E aquilo que está no quadro é igual para todos, representa sempre o mesmo, mas a Palavra de Deus, na mesma passagem bíblica, pode ser diferente para cada um conforme a sua necessidade em cada momento.
Ou seja o quadro é “estático”, a Palavra de Deus é viva!
Este tema leva-me a falar dos dons, dos talentos, que o Senhor coloca em cada um para nos colocarmos ao Seu serviço, servindo os outros.
Passados poucos meses de estar no grupo de oração, foi-me pedido pela responsável do grupo, que fizesse um “ensinamento”, (como chamamos no Renovamento Carismático), ou seja, uma “pregação” tendo como tema a oração.
Recorri a vários livros, Catecismo, Bíblia, etc., e tudo escrevi, (confesso que um pouco convencido que estava a fazer um bom trabalho), para depois ler no grupo de oração.
Assim foi, e percebi que tinham apreciado o “trabalho”, mas que as palavras não tinham tocado os corações, por variados factores, entre eles o facto de ter lido o texto, o que, numa pregação nestas circunstâncias, (grupo de oração), lhe retira alguma vivacidade e a possibilidade dos outros intervirem.
Passou algum tempo em que não tornei a fazer ensinamentos, embora percebesse em mim algo que me impelia para isso.
Uns meses depois, pedimos à Comunidade Canção Nova, que nos ajudasse no sentido de darmos mais vida ao grupo de oração.
Assim, alguns membros da Canção Nova vinham todas as semanas ajudar-nos na oração semanal e passados uns tempos vieram ter comigo para eu fazer novo ensinamento, pois era necessário o grupo ter alguém que o fizesse semanalmente.
Apeteceu-me recusar, lembro-me que ofereci muita resistência ao “pedido”, (até porque eu era muito tímido para falar em publico), mas lá me dispus a fazê-lo.
Preparei-me, muito bem preparado, e à medida que o ia fazendo ia crescendo em mim a certeza de que tudo iria sair muito bem, que eu era inteligente, etc., e portanto não iria haver problemas e até iriam ficar espantados com as minhas capacidades.
No dia semanal da oração lá estava eu convencido que iria ser muito fácil.
Quando chegou o momento, levantei-me, rezaram por mim, e eu comecei a falar.
Disse duas ou três frases, calei-me, fiquei envergonhadíssimo e disse: Eu não sou capaz, e sentei-me.
Nessa altura o Marcelo, (recentemente ordenado sacerdote e que nessa altura era ainda membro da Canção Nova), voltou-se para mim e disse: Tu és capaz Joaquim, não desistas. Repara que ainda agora disseste uma frase linda que eu nunca tinha ouvido.
Nunca me esqueci dessa frase: “Jesus Cristo é a prova constante do amor do Pai”.
Levantei-me outra vez e falei, falei não sei o quê, mas falei o que me vinha ao coração.
Foi uma lição que não esqueci.
O Senhor mostrou-me que sozinho nada sou, nada posso, e que tudo o que faço em Seu Nome é Ele que coloca em mim e eu apenas tenho que me disponibilizar com as capacidades que Ele me deu.
A partir daí comecei a fazer os ensinamentos, não só no meu grupo, mas passado algum tempo noutros grupos e locais do país para onde me convidavam.
Mas havia uma luta interior em mim, por causa do meu orgulho, da minha vaidade.
Ao falar em publico expunha-me, e as pessoas vinham ter comigo e isso envaidecia-me, orgulhava-me, julgando eu severamente esses meus pecados.
Num retiro no Seminário da Torre d’Aguilha organizado pela Pneumavita, (passados uns anos do primeiro), e durante a adoração nocturna ao Santíssimo Sacramento, pedi ao Senhor que retirasse de mim esse “dom”, esse “talento” de fazer os ensinamentos, porque me estava a fazer pecar, porque me estava a “ocupar” numa luta constante contra os meus sentimentos de orgulho.
Dormi descansado, sabendo que Ele não deixaria de responder ao meu apelo.
No outro dia e no final do retiro o Padre Lapa perguntou se alguém queria partilhar, dar testemunho do que se tinha passado no retiro.
Depois de algumas pessoas terem falado, levantou-se um homem que disse mais ou menos isto:
Não vou falar sobre o retiro, mas tenho de testemunhar isto que me aconteceu. Sou um jogador inveterado e gasto todo o meu dinheiro no jogo. Estou no Renovamento há uns anos, já rezaram por mim, para me libertar deste vicio, estive alguns dias sem jogar, mas volto sempre ao mesmo.
Estive no principio deste ano nas termas de Monte Real e fui ao grupo de oração que havia lá mais perto.
Voltando-se para mim, disse então:
Ali o Joaquim, fez um ensinamento sobre os vícios que acontecem nas nossas vidas e nos escravizam e eu desde essa noite, já lá vão 6 meses, nunca mais joguei.
Calculam como eu fiquei, não orgulhoso, mas envergonhado, corado, sem saber onde me meter.
Percebi o “recado” de Deus!
Tinha-me respondido, não como eu queria, mas de modo a que eu percebesse que se queria estar ao Seu serviço, tinha de enfrentar as dificuldades e mais do que isso, que o inimigo se serve de coisas aparentemente boas, (libertar-me das razões do meu orgulho), para nós não utilizarmos os dons, os talentos que o Senhor nos dá para O servirmos, servindo os outros.
Levou-me a perceber que nunca sabemos quando uma palavra, um gesto, uma atitude que Deus coloca em nós, vai servir o outro, vai mudar a sua vida, vai dar-lhe paz, vai fazê-lo sentir-se amado, acolhido, vai ser o “empurrão” decisivo para uma tomada de decisão que mude a sua vida, por isso mesmo temos de estar disponíveis a sermos utilizados por Deus, servindo-nos dos dons e talentos que em nós coloca.
Entendi também algo que tenho dito muitas vezes, a muita gente:
Não digas que não és capaz! Não te escuses com desculpas de que não sabes, não tens conhecimentos, és tímido, envergonhado e por aí fora.
Deus colocou em ti talentos, a voz para cantar, a voz para falar, os ouvidos para ouvirem, os braços para trabalharem, para abraçarem, a capacidade de organizar, a criatividade para embelezar, tantas, tantas coisas, até à capacidade de limpar, e todos, todos esses dons, esses talentos, são necessários à Igreja, são necessários aos outros.
Lembremo-nos sempre que tudo o que façamos em caridade, se o fizermos em Seu Nome, será sempre Ele que fará em nós e aquilo que fizermos será para Sua Glória e para bem de todos nós.
(continua)

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

TESTEMUNHO 4

Neste caminho de vida nova, que se fez e faz de avanços e paragens, de consolações e desertos, de muitas certezas e dúvidas, o Senhor sabendo-me fraco, foi-me concedendo as graças necessárias para cimentar e aprofundar a fé, para me guiar na Sua vontade.
Uma das graças que Ele me quis conceder, (muito importante particularmente para mim), foi o despertar de um amor forte e constante à Igreja.
E quando me refiro à Igreja, refiro-me à Doutrina, ao Santo Padre, aos Bispos, aos Sacerdotes, aos Diáconos, às irmãs e irmãos, consagrados ou não, que caminham em Igreja.
Quando afirmo que é uma graça particularmente importante para mim, digo-o porque quero agora fazer uma revelação, que há alguns que me lêem já conhecem, e que constitui um testemunho que, espero eu, possa ajudar outros que vivam nas mesmas circunstâncias.
Com efeito esta minha caminhada desde 1997 é feita, como já afirmei, com a minha mulher, só que, por motivo de um anterior matrimónio meu, não nos era possível celebrar o Sacramento do Matrimónio em Igreja.
Ao fim de nove anos de um processo no Tribunal Eclesiástico, em que tudo colocámos nas mãos de Deus aceitando o veredicto qualquer que ele fosse, pudemos em 2006 celebrar o Matrimónio, que tanto desejávamos.
Mas se esta celebração foi o selo de Deus na nossa vida de casal, de família, de vida como igreja doméstica, os anos que vivemos esperando esta bênção de Deus, foram de uma riqueza espiritual extraordinária, por isso afirmava que esta graça do amor à Igreja, se revelou tão importante para nós, para mim.
Nunca em momento algum me senti excluído, me senti colocado de lado, me senti inútil à Igreja que me acolhia.
Cantei no coro da minha paróquia, colaborei em tudo o que me foi pedido, nunca recusando “emprestar” a minha voz, dando o testemunho da minha vida, falando da Palavra de Deus, da riqueza da oração permanente, sobretudo em encontros de jovens, a quem gosto muito de falar, até por causa da minha experiência de vida.
Foi-me até pedida colaboração em reuniões organizadas pela Diocese, acompanhando Sacerdotes e falando da minha experiência no acolhimento, ao que, depois de lembrar a minha situação, acedi de coração aberto e agradecido.
Tive momentos de “intensidade” espiritual maravilhosos, quando, por exemplo, perante a impossibilidade da comunhão eucarística do Pão Sagrado, me deixava envolver interiormente, numa comunhão espiritual, por essa presença amorosa de Deus, que nunca abandona os que O procuram de coração aberto.
Também nunca me excluí, ou seja, por vergonha, respeito humano, ou qualquer outro sentimento, que nos leva muitas vezes a pensarmos que somos excluídos, quando afinal somos nós mesmo que nos afastamos.
E esse amor à Igreja é vivido sempre em desejo de comunhão, porque só assim ele tem sentido.
Tive e tenho dúvidas, não concordava e não concordo com certas coisas, mas sempre colaborei e colaboro em tudo o que me é pedido e é nessa colaboração que partilho os meus pensamentos, as minhas dúvidas, e é em comunhão com todos que pretendo ajudar a construir uma Igreja mais fraterna, mais viva, mais actuante, mais alegre, numa palavra, mais cristã e católica.
Não criticava, nem critico por fora a Igreja, e se por acaso o fazia, ou faço, mercê das circunstâncias, nunca deixava, nem deixo de reafirmar a minha comunhão e a minha obediência de amor à Igreja de Jesus Cristo.
A Igreja fez e faz sempre parte das minhas orações diárias.
Outra graça maravilhosa que o Senhor quis derramar na minha vida foi o perdão, ou seja, perdoar, pedir perdão e reconhecer o Seu infinito perdão.
No inicio, era-me muito difícil conceber que Deus me perdoasse de tanto mal que tinha feito, aos outros e a mim.
Durante uns tempos esse sentimento perseguia-me, e infiltrava-se no meu coração como que dizendo: “ Faças tu o que fizeres, é tarde, pois são tantos e tão grandes os pecados que não têm perdão”.
Depois da minha primeira confissão, (passados quase 30 anos da última que tinha feito), num primeiro momento a paz foi indescritível, o sentir do amor de Deus tomava conta de mim, e durante algum tempo vivi em paz com Deus e comigo próprio.
Mas as dúvidas regressaram, e se o perdão de Deus me parecia ponto assente, o meu perdão ao meu passado, parecia-me impossível e se umas vezes, e eram tantas, o passado me regressava ao pensamento em força, era para me atormentar causando-me vergonha, ou pior ainda uma certa complacência, um certo gosto.
A luta era difícil e muitas vezes quase me impedia de crescer, de caminhar para Deus.
Um dia, durante uma adoração ao Santíssimo Sacramento pedi ao Senhor Jesus que me concedesse essa graça do perdão, não só de o receber, mas de o dar aos outros e a mim próprio.
Confesso que não me lembrei muito mais desse pedido e só passado algum tempo me apercebi, por qualquer facto que recordei do passado, que a paz estava presente nessa recordação e que o passado já não tinha qualquer efeito pernicioso em mim.
Mais, dei por mim a louvar o Senhor pelo meu passado, na convicção de que, se não o tivesse vivido, provavelmente seria agora um cristão “morno”, cumprindo estritamente a lei nos seus “mínimos”, não me apercebendo, nem vivendo a graça maravilhosa que é a presença de Deus nas nossas vidas, que é o Seu amor infinito por cada um de nós e que se faz real no dia a dia das nossas existências.
Claro que todo o outro perdão, (o dar, o pedir, o aceitar), passaram a fazer parte constante da minha vida, o que perante tantas vicissitudes porque passei, (a dada altura perdi tudo o que tinha materialmente), foi o bálsamo mais pacificador da minha vida.
A vontade de querer perdoar levava-me a rezar por aqueles que me tinham magoado, e também por aqueles que eu magoei.
Durante uns tempos essas orações pareciam-me “falsas”, ou seja, no meu coração eu pedia a Deus por eles, mas no meu intimo sentia que não “desejava” esse bem que então pedia.
Mas a graça de Deus precisa apenas da nossa abertura de coração, e assim lentamente, carinhosamente, o Senhor ia colocando no meu coração uma reconciliação, uma paz em relação a essas pessoas e a esses factos, e a vontade de rezar cada vez mais por eles, para além da certeza de que se um dia precisassem de mim, eu não lhes negaria a minha ajuda.
E assim descobri a maravilha de perdoar e pedir perdão, descobri que muitas coisas correm erradas nas nossas vidas porque nos agarramos a rancores e ressentimentos, que envenenam a nossa existência e não nos deixam viver em paz, não nos deixam sequer amarmos inteiramente aqueles que nos são próximos, porque em nós vivem sentimentos de “desamor”.
Todo este caminho levou-me à oração constante, perseverante, umas vezes mais consciente e outras vezes mais distante, mas no entanto sempre oração que lava o coração e alimenta a alma, alimenta o ser.
“Descobri” a graça da oração de louvor nas adversidades, nas provações, agradecendo a Deus por elas e oferecendo-as pelos outros mais sofredores do que eu.
Quantas vezes nestas orações de louvor o Senhor me respondia de imediato, aliviando os meus sofrimentos ou colocando em mim forças para enfrentar as provações, forças que eu desconhecia viverem em mim.
Tanto para dizer, tanto para testemunhar, tanto para agradecer ao Senhor da Vida que nunca nos abandona e nos abraça no Seu amor eterno.


(continua)

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

TESTEMUNHO 3

O tempo foi passando e a minha procura de viver o que já guardava no coração, ia-se tornando cada vez mais o “Pão Nosso de cada dia”.
Em tudo O procurava, em tudo O queria ver.
Empenhava-me não só no Grupo de Oração, na oração e meditação da Palavra diárias, mas também na paróquia, onde me colocava à disposição para o que de mim precisassem, sobretudo a voz que Deus me deu, cantando no coro.
Tentava especialmente dar testemunho da alegria, da vida que eu vivia, com o cuidado no meu proceder, no meu falar, em todos os campos da minha vida, no trabalho como no lazer.
Ele tinha que fazer parte de tudo, para em tudo tocar e abençoar, segundo a Sua vontade.
Claro que nem sempre assim acontecia, mas então tinha a certeza do Seu perdão, tinha a certeza de que Ele sempre estava à minha espera de braços abertos para me acolher.
Pedia ao Espírito Santo que continuamente guiasse a minha vida e me moldasse segundo a Sua vontade.
Falo no passado, mas que continua a ser presente!
No Renovamento Carismático Católico temos uma caminhada espiritual a que chamamos “Seminários de Vida Nova no Espírito” e que nos conduzem ao “Baptismo no Espírito Santo” ou “Efusão do Espírito Santo”.
Não vou aqui explicar exaustivamente o que é, mas quem quiser conhecer melhor pode aceder ao site da
PNEUMA e procurar,(em “Reflexões”, depois “Meditações”, depois “Pentecostes hoje – a Efusão do Espírito Santo”), o que significa e é concretamente.
Deixo no entanto as palavras e um extracto de entrevista à Zenit do Fr. Raniero Cantalamessa, Franciscano Capuchinho, que é desde 1980 o Pregador da Casa Pontifícia.

A efusão do Espírito Santo, actualização da iniciação cristã
A efusão do Espírito Santo (ou baptismo do Espírito) é uma renovação e uma actualização de toda a iniciação cristã, e não só do Baptismo. O interessado prepara-se para isso, não somente através de uma boa confissão, mas participando em encontros de catequese, nos quais é conduzido a um contacto vivo e alegre com as principais verdades e realidades da fé: o amor de Deus, o pecado, a salvação, a transformação em Cristo, a vida nova no Espírito Santo, os carismas, os frutos do Espírito Santo. E tudo num clima caracterizado por uma profunda comunhão fraterna.
Por vezes, e diferentemente, tudo acontece espontaneamente, fora de qualquer esquema, e é-se como que surpreendido pelo Espírito. (...)
É através do que precisamente se chama baptismo do Espírito que se faz a experiência do Espírito: da Sua unção na oração, do Seu poder no ministério apostólico, da Sua consolação na prova, da Sua luz nas opções. Mais do que na manifestação dos carismas, é assim que se faz a percepção do Espírito: como Espírito que transforma interiormente, que dá o gosto do louvor a Deus, que faz descobrir uma alegria nova, que abre a mente à compreensão das Escrituras, e que, sobretudo, nos ensina a proclamar Jesus como Senhor. E ainda nos dá a coragem para assumir novas e difíceis tarefas, ao serviço de Deus e do próximo.
Fr. Raniero Cantalamessa
in: "Documento de Malines I" (Posfácio à trad.portuguesa), ed. Pneuma

Entrevista à Zenit
–Como o senhor se aproximou do Renovamento?
–Pe. Cantalamessa: Não me aproximei, Alguém me tomou e me levou para dentro. Quando orava com os Salmos, pareciam escritos para mim desde antes. Logo, quando desde Convent Station, em Nova Jersey, fui ao convento dos capuchinhos de Washington, sentia-me atraído pela Igreja como por um ímã, e este era um descobrimento da oração, e era uma oração trinitária. O Padre parecia impaciente por falar-me de Jesus e Jesus queria revelar-me o Pai. Acho que o Senhor me fez aceitar, depois de muita resistência, a efusão, o batismo no Espírito, e logo vieram muitas outras coisas com o tempo. Eu leccionava História das Origens Cristãs na Universidade Católica de Milão; logo comecei a pregar até 1980, quando me converti em pregador da Casa Pontifícia.

Tudo isto para dizer que em Março de 1999, num retiro no Seminário na Torre d’Aguilha, organizado pela Pneumavita, recebi a Efusão do Espírito Santo, que confirmou e continuou a transformação que em mim o Senhor ia operando.
Mais uma vez me sirvo do que então escrevi sobre esse extraordinário momento para mim!
Quando fazia a viagem de regresso a casa, vindo do Seminário, ia aparecendo no meu coração, na minha mente todas as palavras que, mal chegando a casa, passei para o papel e aqui vos deixo.

O Dia da Minha Efusão do Espírito Santo

Estavam os Três reunidos num Só, como desde sempre, quando Deus Pai disse:
- É hora, ide!
Então, Jesus Cristo e o Espírito Santo, desceram da casa do Pai e entraram em mim.
Olharam, tornaram a olhar, franziram o sobrolho e disseram:
- Esta habitação está a precisar de, muitas obras, de melhoramentos, de uma boa remodelação, enfim, praticamente uma casa nova.
Jesus olhou para o Espírito Santo e disse:
- Abre essas janelas, esta casa está fechada há muito tempo, está bolorenta, fria e sem luz nem vida. Sopra o Teu vento para afastar todos estes maus cheiros, todas estas teias de aranhas e perfumar toda a casa com odores de nova Primavera, deixando entrar a Luz.
O Espírito Santo assim fez, e depois da casa arejada e iluminada reparou nas paredes e disse para Jesus:
- Olha para estas paredes, cheias de cores pesadas e desenhos feios e monstruosos! Podias pegar no pincel, na tinta mais branca e dar uma pintura geral, para que a casa brilhe com a Luz, vestida de branco.
Jesus assim fez e quando acabou as pinturas, a casa brilhava, cheirava bem, tinha novos ares, mas ainda com cortinados e mobílias velhas.
Então o Espírito Santo, disse novamente a Jesus:
- Porque não chamas a Tua Mãe para nos ajudar? Ele deve ter jeito para essas coisas!
Assim, Jesus chamou a Virgem Maria, que deixou os seus muitos afazeres e disse-Lhe:
- Mãe, vê o que podes fazer para mudar estes cortinados e esta mobília, porque o mais importante, já Nós fizemos.
Maria, nossa Mãe, deitou mãos à obra com o seu amor maternal e em pouco tempo toda a casa estava habitável, com calor, com luz, esperando a vinda do Pai para a inspecção final.
Veio então o Pai.
Entrou na casa, visitou-a demoradamente, conferiu que o branco era o mais branco que havia, conferiu que a luz era a mais brilhante, confirmou que a mobília e os cortinados eram novos e de material para durar, e disse:
- Sempre gostei muito desta casa, mas assim está muito melhor.
Quereis habitar nela? Perguntou.
Jesus e o Espírito Santo trocaram um sorriso cúmplice e disseram a uma só voz:
- Também gostamos muito mais assim. É uma boa casa para morar, mas antes temos de falar com o senhorio.
Olharam então para mim, com aqueles olhos de infinito amor e perguntaram-me:
- Estás disposto a manter esta casa sempre limpa, arejada, iluminada e com o branco imaculado?
Estás disposto a enchê-la de paz, amor. Tranquilidade e muita alegria?
Estás disposto a não deixar entrar nela ladrões, mentirosos, ou ideias que a corrompam?
Estás disposto, isso sim, a ter sempre a porta aberta aos que necessitam de comer, beber, descansar ou de alguma forma precisem de ti?
Estás disposto a não te servires dela para outros fins, que não sejam a nossa habitação?
Estás disposto a que, quando por qualquer motivo, sujares ou estragares alguma coisa, Nos pedires perdão e de imediato reparares o mal que fizeste?
Estás disposto, disse Jesus, a teres sempre um quarto pronto para Minha Mãe, quando Eu A convidar a Nos visitar?
Estás disposto, enfim, a receber nela os Nossos amigos e aqueles que Nós escolhermos para tu convidares?
E eu, humildemente, alegremente, dançando e louvando, respondi cantando:
- Pois se Tu és o meu Senhor Jesus, que deu a vida por mim, pois se Tu és o meu Senhor Espírito Santo, que me consolas e guias, pois se Tu és o meu Pai Criador, que muito me ama e me criou, como posso eu dizer não?
Digo sim, setenta vezes sete vezes, Sim!
Mas também tenho de Vos pedir, meu Deus, que me ajudeis sempre, que estejais sempre nesta casa, e que meu Pai e meu Deus, quando eu falhar e não Vos pedir perdão por estar distraído, me perdoeis e ajudeis na mesma!
Então o Pai, unido a Jesus Cristo e ao Espírito Santo, num só Deus, com lágrimas de alegria nos olhos, mandou dar inicio à festa do regresso deste Seu filho, tomou conta da habitação e cantando, dançou, para que a alegria fosse completa.
E eu, pequenino e humilde, só louvava, dizendo:
- Glória, glória ao Senhor Nosso Deus, que perdoou, aceitou e fez nascer de novo este Seu servo!

Festa da Ascensão
Monte Real, 16 de Março de 1999

(continua)

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

TESTEMUNHO 2

Tinha acabado o fim de semana em Fátima, que agora me parecia curto.
Longe de me sentir desamparado ou sozinho, percebia que algo muito importante tinha mudado na minha vida, ou melhor, na nossa vida, pois a minha mulher sempre viveu, tal como eu toda esta “experiência”, toda esta transformação.
A nossa casa, o nosso núcleo familiar, já não era agora apenas um lar de um casal, era uma igreja viva onde a oração era diária, (conheço agora o termo certo, uma igreja doméstica), onde se procurava viver segundo aquilo que o Senhor ia colocando nos nossos corações.
Percebemos que não podíamos ficar assim, a viver na “recordação do Tabor”, mas que tínhamos de colocar no dia a dia a alegria do encontro pessoal com Jesus Cristo, e deixar que Ele se tornasse presença constante nas nossas vidas.
(Continuarei a partir daqui a colocar este testemunho na minha pessoa, tal como o comecei, afirmando no entanto que este é um testemunho a dois, pois que se o não fosse não seria completo).
Era preciso algo que me ajudasse a viver tudo o que tinha vivido naquele fim de semana, e esse algo sabia-o porque me tinha sido dito, tinha como base um Grupo de Oração do Renovamento Carismático Católico.
E sabia-o porque no fim de semana tinha acontecido um facto “curioso”, (que agora vejo como a mão de Deus), e que foi o seguinte:
No Domingo antes de terminar a Assembleia em Fátima, o Padre Lapa falou-nos da importância de frequentarmos um Grupo de Oração, onde partilhássemos as nossas vivências, onde nos uníssemos em oração, onde ouvíssemos e meditássemos na Palavra, porque seria o “condimento” necessário a tornar sempre actual o encontro pessoal com Cristo que tínhamos vivido naqueles três dias.
Ditas estas palavras, e num gesto de fraternidade, pediu a todos os presentes no anfiteatro que não conhecessem os seus “vizinhos” dos lugares que ocupavam, se apresentassem, dizendo o nome e o lugar de proveniência.
Estávamos numa sala que leva cerca de 2.200 pessoas, mas com as coxias cheias, deveriam estar ali, pelo menos 2.500, de todos os lugares de Portugal.
Quando me apresentei ao casal que estava a meu lado, ficámos muito admirados, pois éramos de localidades vizinhas e mais do que isso, a senhora era a coordenadora do Grupo de Oração mais perto de minha casa.
Coincidências?
Lembro-me do Padre Dário Betencourt dizer numa outra Assembleia que para os cristãos não há coincidências, há “Deuscidências”!
Assim comecei a frequentar esse Grupo de Oração, todas as semanas, e foi ali que comecei a crescer na Fé, a viver Jesus Cristo vivo, a alimentar-me da Palavra, (que tinha passado a ser uma boa “obrigação” diária), a aprofundar os meus conhecimentos sobre tudo o que era a Doutrina e a prática cristã e católica.
Reconheço que a minha ânsia era muito grande e que nem sempre a prudência seria uma qualidade por mim então vivida.
Mas a verdade é que nessa ânsia de saber, sobretudo de viver, fui lendo, lendo, ouvindo, ouvindo, guardando e fortalecendo pela graça de Deus a Fé que Ele tinha colocado no meu coração.
Mas muito melhor do que agora recordo, “fala” com certeza, a carta que então, passados uns tempos escrevi ao Padre Lapa e aqui reproduzo fielmente.
.

Monte Real, 9 de Março de 1998

Caro Padre Lapa

Não posso deixar de lhe testemunhar toda a alegria, paz, tranquilidade e amor que tenho vivido neste meu novo nascimento para o Senhor, para a Fé.
Com efeito, toda a minha vida sofreu um abanão e em boa hora o sofreu, porque tudo se tornou mais nítido, sobretudo nas razões porque se vive e para que se vive.
Eu devia ser este homem que agora sou, só que tinha uma “capa” agarrada a mim, que não me deixava ver, não me deixava sentir, não me deixava viver este amor imenso que Deus tem por nós e que é a única razão de viver.
Tudo o mais deve ser feito baseado nesse amor e na vontade suprema d’Aquele que nos criou, e é isso que, com dificuldades, mas persistentemente venho perseguindo.
Como eu andava enganado à procura de pequenas vitórias ou sucessos pessoais efémeros, numa vida sem rumo e ao avesso de qualquer moralidade, mesmo aquela a que se chama “bom senso”.
Agora sei e percebo o que é viver “para a carne”, e como isso não leva a nada, ou antes, leva-nos a frustrações, tristezas e falsas alegrias momentâneas, mas sem qualquer significado.
Percebo agora que, para além de mentir aos outros, mentia sobretudo a mim próprio, o que me tornava amargo, colérico, vingativo, orgulhoso e vaidoso.
Tudo isso felizmente vai sendo afastado, algumas vezes com muita dificuldade, porque o inimigo não quer perder este “aliado”, que pensava já ter ganho.
Mas o Espírito Santo é mais forte e ajuda-me nos momentos mais difíceis.
Felizmente o Senhor, que tudo sabe e tudo vê, foi buscar aquela luzinha que lá muito no fundo de mim, ainda brilhava e que estava quase extinta, e animou-a, deu-lhe força, encheu-a de vida, para que ela me transformasse num ser mais doce, mais calmo, mais bondoso, mais humilde, numa palavra: Cristão.
E que bom é, Padre Lapa!!!
Que bom é!!!
Tudo me é muito mais fácil.
O trabalho, a vida, as relações entre as pessoas, tudo surge naturalmente, sem crispações, sem vontade de querer ser melhor do que os outros, tentando abafar os ciúmes e as invejas que são tão humanas e tão bem exploradas por aquele que nos quer perder.
Tudo por obra e graça do Senhor, que sem nada exigir, sempre “apostou” em mim e eu sempre Lhe voltei as costas.
Mas agora não, agarro-me a Ele com todas as forças, em tudo vejo a Sua presença, em tudo sinto o Seu infinito amor por aqueles que Ele criou.
E o Renovamento Carismático tem sido a “bateria” que me tem alimentado e impelido a procurá-Lo incessantemente e cada vez mais.
Sinto-me tão bem ali. Somos todos iguais, não há distinções, não há lugares para ricos e importantes, nem para os pobres anónimos. Oramos todos juntos, Àquele que nos criou iguais.
O Espírito Santo serviu-se de si, pois foi a si que escrevi pedindo esclarecimento sobre o Renovamento e foi por sua causa que fui à Assembleia em Fátima, que me encheu de paz e de certeza de estar no caminho certo.
Espanto-me às vezes com as coisas que escrevo, pois há tempos atrás rir-me-ia de quem assim escrevesse.
Fico admirado quando dou por mim a falar de Deus com amigos meus, que continuam na vida que eu levava, e não tenho agora qualquer respeito humano de lhes transmitir as maravilhas desta vida nova.
Dou por mim a cantar na Oração, na Missa, a rezar alto com os outros, quando há tão pouco tempo só de pensar nisso ficaria envergonhado.
Queria conseguir fazer passar esta alegria que sinto e parece-me que não tenho palavras, nem atitudes que a consigam mostrar plenamente.
Apenas posso agradecer ao Senhor esta tão grande graça que me deu, de me chamar novamente ao Seu rebanho.
Esta já vai longa, mas pode ter a certeza que continuaria a escrever muito mais tempo e papel, sobre a transformação radical que Deus operou em mim.
Um abraço muito amigo do
Joaquim

(continua)

terça-feira, 6 de novembro de 2007

TESTEMUNHO 1

Nasci em 1949 numa família tradicionalmente cristã e católica, onde a Fé era vivida, pelos meus pais, diariamente.
Fui assim educado na Fé católica, frequentei colégios católicos, fiz a Primeira Comunhão e o Crisma, fiz retiros espirituais católicos e vivi desse modo a Fé, embora muitas vezes mais por obrigação do que por vontade própria, embora também, na maior parte desses anos eu não tivesse ainda idade e portanto discernimento para saber o que deveria escolher.
Certo é, que por volta, talvez, dos 18 anos, me comecei a afastar da vivência da prática cristã e da Fé.
Com a entrada na tropa, nos meus 22 anos, consumou-se o afastamento definitivo de tudo o que era prática religiosa, e a Fé, se alguma coisa dela restava, morreu também em mim.
Estive na guerra da Guiné, depois em Angola a trabalhar, passei ainda pelos Açores meio ano e regressei finalmente a Portugal.
A minha vida, que já era um pouco errática, mas ainda estável e de algum modo equilibrada, passou a partir de meados dos anos 80 a ser totalmente desregrada e sem nenhum sentido.
Vivia para o mundo, em tudo aquilo que o mundo tem de pior, e passei muito rapidamente por uma espiral de noitadas diárias com tudo o que isso envolve.
Sabemos bem como uma vida dessas pode ser degradante!
Julgo que em determinado tempo terei até perdido a noção dos valores que em criança me tinham sido incutidos.
Por razões que aqui não cabe explicar, (no inicio dos anos 90), comecei a falar de Deus, da Bíblia, com alguém que o Senhor quis colocar no meu caminho, e que também vivia fora da doutrina católica.
Dei por mim a sentar-me na Igreja da minha terra, (sobretudo quando não estava lá ninguém), sem saber muito bem o que fazer e o que esperar.
À minha mente, mais que ao coração, vinham todas as coisas que tinha aprendido em criança sobre Deus, sobre Jesus Cristo, e ia falando com Ele em surdina, esperando não sei bem o quê.
Comecei também a “ir à Missa” e a tentar viver algo que me fizesse dar um “salto”, algo que eu sentia tinha de ser feito, de ser dado, só não sabia como.
Aquilo que fazia não me chegava, e assim ia lendo livros e mais livros procurando o que ainda não tinha encontrado.
Era tudo muito “exterior”, nada ainda me “aquecia” o interior.
Num dos livros que então li, “Jesus está vivo”, falava de um Padre Lapa, que eu tinha conhecido em tempos, e que era o homem, (informava lá), que tinha trazido o Renovamento Carismático Católico para Portugal.
Lembrei-me então de “umas” Missas em que tocavam viola e cantavam alegremente e que, na altura em que as ouvi, quando passava fora da capela, mais me davam “razão”, achava eu, para não frequentar aquelas “coisas”.
Num impulso decidi escrever-lhe e perguntar-lhe o que era aquilo do Renovamento e como poderia fazer essa “experiência”.
Estávamos em Junho de 1997.
Na sua resposta, longe de me dar conselhos ou qualquer outra coisa, dizia-me apenas, para além dos cumprimentos habituais, que iria haver uma Assembleia do Renovamento Carismático em Fátima, organizada pela Comunidade Pneumavita, por ele fundada, e convidava-me a estar presente.
Um pouco temeroso e desconfiado lá fui em Novembro a Fátima, com o sentimento de: “se não gostar daquilo, venho-me logo embora”!
O anfiteatro do Centro Paulo VI estava cheio, o que me atemorizou um pouco, mas “saltou-me” à vista uma certa união de sentimentos em todo aquele povo e sobretudo uma alegria, uma esperança latente naqueles rostos, apesar de perceber sofrimentos ali bem expressos.
Na Sexta Feira ao fim do dia nada me levava a continuar ali, mas levado pela curiosidade, e também por um sentimento de “já que aqui estou”, voltei no Sábado de manhã.
A oração da manhã foi algo que nunca tinha visto, ou seja, a participação de todos, a alegria imprimida na oração, os cânticos, enfim todo um ambiente, (que apesar de não estarmos num templo propriamente dito), respirava espiritualidade.
O pregador, Pe. Alirio Pedrini, falava-nos da Palavra, da Bíblia de um modo como eu nunca tinha ouvido, (no meu tempo a Bíblia era “livro de decoração” na casa de cada um), tornava-A presente e actual e levava-nos a viver a presença de Cristo vivo no meio de nós.
A presença do Arcebispo de Évora, D. Maurilio Gouveia, com palavras que também nunca tinha ouvido no meu tempo à hierarquia da Igreja, confirmavam a comunhão com a Igreja Católica e descansavam as minhas interrogações.
Mas o grande facto deu-se, quando após uma oração de invocação do Espírito Santo, comecei a ouvir a maior parte daquela gente a cantar algo que eu não conseguia entender e me parecia coisa de “doidos”.
Aquela melodia estranha, mas harmoniosa, acompanhada dos braços levantados para o Céu, ao mesmo tempo que me despertava sentimentos do tipo, “que gente é esta, ou, onde é que eu estou metido”, tocava o meu intimo e colocava um sentimento inexplicável de paz no meu coração.
Deixei-me ficar, deixei-me envolver, num sentimento de entrega como se dissesse: “Não sei o que estou aqui a fazer, mas Tu deves saber”…
À noite houve Adoração ao Santíssimo Sacramento, uma adoração como nunca tinha vivido, participada, em diálogo com Jesus Cristo, (que eu começava a sentir verdadeiramente no meio de nós), mas sem nunca se afastar da dignidade da celebração.
Foi então que algo no meu coração se abriu e disse, sem palavras: “Olha, estou aqui, faz de mim o que quiseres.”
Um sentimento de paz, de amor, envolveu-me e comecei a chorar. Um choro silencioso, muito calmo, cheio de paz e de uma estranha, mas muito boa alegria.
No momento não entendi, mas também não me interessava entender, apenas queria viver.
Deve ter sido como Pedro, (passe a imodéstia), na Transfiguração. O que eu não queria era sair dali!
Nessa noite dormi descansado, o que já não acontecia há muito tempo, mas ansioso por voltar àquele lugar.
No Domingo de manhã dei comigo, sem me aperceber, de braços no ar e cantando com os outros e desejando que o fim de semana continuasse indefinidamente!
Havia em mim um fortíssimo sentimento de gratidão a Deus por tudo o que me estava a fazer sentir, a mim, que me achava totalmente indigno de sequer um Seu olhar!
Dirão que houve muita emoção à mistura.
Com certeza que houve emoção, ou será que nós não somos um todo feito de variados sentimentos?
O importante é que a emoção não passe por cima do amor, da entrega, da reflexão.
O importante é que a emoção não abafe a graça que o Senhor derrama nos corações.
O importante é que a emoção não seja superior à Fé firme e constante na presença de Deus em nós.
E comigo foi isso que aconteceu!
Naqueles dias desci da árvore como Zaqueu!


(continua)


Para algum contacto mais pessoal, estou disponível no mail referido no perfil.

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

10 ANOS...ESCLARECIMENTO...

Em mails e comentários, preocupam-se algumas amigas e amigos que ganhei nestes espaços dos blogues, com o testemunho de vida que me proponho dar.
Do fundo do coração: Obrigado!
Sinto-vos tão perto, (e nem sequer vos conheço pessoalmente), que só posso dar graças a Deus por vós.
Deus fala-nos de muitas maneiras e uma delas é com certeza, através das pessoas que vão passando nas nossas vidas, muito especialmente as amigas, os amigos, que por nós se interessam, que nos protegem, que connosco se preocupam.
Se nunca foi minha intenção expor a minha vida passada, (com tudo o que ela teve de “inenarrável”), pensava no entanto revelar certas coisas, (para dar mais força ao testemunho, julgava eu), o que já não farei, porque vos ouvi, porque vos escutei, porque acredito que o Senhor me quis alertar e encaminhar servindo-se de vós.
Que bondoso e grande é este Deus que se serve de nós para nos ajudarmos mutuamente a conhecê-Lo melhor, para melhor O amarmos.
Este testemunho, que irá sendo escrito à medida que for sentido no meu coração, basear-se-á sobretudo no caminho do encontro pessoal com Cristo e tudo aquilo que Ele foi mudando na minha vida.
Faço-o porque me lembro de alguns testemunhos que ouvi e me ajudaram a caminhar, me deram forças para acreditar.
Faço-o, colocando-o nas mãos de Deus, para que Ele, dele se sirva, tocando os corações que quiser tocar, ou se deixarem tocar.
Faço-o para que aqueles que já não acreditam, saibam que há sempre tempo para acreditar.
Faço-o para que aqueles que apenas praticam o preceito, a prática religiosa, possam perceber que estão a perder um manancial de graças que o Senhor derrama naqueles que para além de praticar, procuram viver a fé no seu dia a dia e em tudo.
Faço-o, em último lugar, porque sinto que o devo fazer agora.
Nada é meu, porque tudo pertence ao Senhor da vida.
Reconciliado com o meu passado, (que assumo com alegria no Seu perdão), agradeço-o a Deus, entendendo-o como uma “escola” que Ele permitiu na minha vida, para melhor perceber que sem Ele a vida não tem sentido.
Que não haja orgulho em mim, mas apenas vontade de O servir, disponibilizando-me para os outros.

quarta-feira, 31 de outubro de 2007

10 ANOS...

Neste mês de Novembro que agora vai começar, passarão 10 anos que participei pela primeira vez numa Assembleia do Renovamento Carismático Católico, em Fátima, facto que mudou totalmente a minha vida, ou melhor, que confirmou e deu rumo à mudança, muito tímida então, que estava a acontecer em mim.
Depois de muito pensar e colocar nas mãos de Deus o que pretendia fazer, já não tive mais dúvidas em concretizar o que vinha ao meu coração: Dar testemunho do que nestes 10 anos se passou, bem como o que me levou ao inicio destes anos de conversão, nunca acabada.
Sei que vou expor-me, que vou expor partes da minha vida, mas sei também que o testemunho das maravilhas que o Senhor opera em nós, é uma das missões das nossas vidas de cristãos.
Para que ninguém diga que é tarde e já não vale a pena a conversão, para que ninguém pense que foram tantos os erros que já não têm perdão.
Deus é infinitamente maior que o tempo, (pois para Ele é sempre hoje), e o Seu perdão não tem limites!
Acredito que junto dEle, na glória eterna, estarão muitos que na nossa concepção humana pensaríamos condenados, mas que na última hora, tocados pelo infinito amor de Deus se arrependeram e alcançaram a graça da salvação.
Não contarei, obviamente, pormenores, até porque envolvem terceiros, aos quais me sinto obrigado a proteger a sua intimidade.
Darei sim uma ideia geral do que foi, era e é a minha vida, para que possam comigo e sobretudo com Ele alegrar-se, pela ovelha perdida que foi encontrada e regressou ao redil.
Assim, e durante este mês de Novembro, darei a conhecer o que aqui me proponho, bem como, cartas e “escritos” que nestes anos marcaram a minha vida.

«Mas tínhamos de fazer uma festa e alegrar-nos, porque este teu irmão estava morto e reviveu; estava perdido e foi encontrado.» Lc 15, 32

terça-feira, 23 de outubro de 2007

SENHOR, EU QUERO VER!

Da escuridão saiu um grito lancinante:
- Senhor, eu quero ver!
Então uma voz perguntou:
- Para que queres tu ver?
Respondeu o “grito”:
- Quero ver para que tudo tenha sentido.
Olho para a natureza, mas não consigo ver a totalidade da sua beleza. Trabalho exaustivamente, mas não consigo entender para quê. Ganho dinheiro e mais dinheiro, mas não me sinto mais tranquilo e seguro do meu futuro. Dou aos meus tudo o que me pedem, mas não os vejo mais felizes. Tenho amigos e mais amigos, mas não sinto os seus corações. Leio, estudo, informo-me, mas não me sinto mais conhecedor por isso, nem me sinto conhecedor da vida. Trato da minha saúde, da minha forma física, mas não vejo a finalidade de tanto esforço. Vivo intensamente, mas temo a morte.
Por isso Senhor estou cego, porque não vejo o sentido da vida.
Respondeu-lhe a voz:
- Mas acreditas tu que Eu te posso dar a capacidade de veres?
O “grito” respondeu:
- Falam-me de Ti e dizem-me que Tu tudo podes. Leio-Te, estudo-Te, mas falta-me algo, porque não consigo compreender. Mas sinto que me podes dar essa compreensão. Tudo o mais já experimentei, e nada me faz ver aquilo que eu não consigo ver. Acredito Senhor, quero acreditar, que só Tu me podes fazer ver o que agora ainda não vejo.
A Voz ergueu-se firme, terna, cheia de compaixão e disse:
- A tua fé te salvou! Abre os olhos e vê agora o que para ti estava preparado. Mergulha no Meu coração e sente-te amado. Vês agora que sempre exististe em Mim? Vês agora que a tua vida tem sentido, porque é vida da Minha Vida? Vês agora que só em Mim deves encontrar razão para tudo que fazes? Vês agora que todo o teu esforço deve começar e acabar em Mim? Vês agora que todo o teu trabalho tem sentido se não for apenas para ti, mas para todos que Eu amo e assim sendo tu deves amar também? Vês agora que só em Mim encontras futuro e futuro que não acaba? Vês agora que a natureza é bela porque Eu a criei para ti? Vês agora que mais do que ler e estudar apenas para conhecimento, o deves fazer vivendo-Me no que lês e estudas? Vês agora que só em Mim encontras a plenitude da vida?
Do “grito” saiu um grito de alegria:
- Vejo agora Senhor que já não sou um "grito" informe, porque Tu me deste a ver a minha humanidade que em Ti se faz vida eterna!
Era o sétimo dia, e então Deus descansou e fez festa com os Seus filhos!

terça-feira, 16 de outubro de 2007

OS "DEFEITOS" DE DEUS

Neste momento e depois de lerem este titulo, aqueles que me visitam e conhecem o que escrevo, devem estar a pensar:
O que é que lhe deu? Será que enlouqueceu?
Mas não, fiquem descansados, que estou no meu perfeito juízo, acho eu!
Realmente depois de muito pensar e meditar, descobri pelo menos três “defeitos” em Deus que vos vou dar a conhecer.

1º “Defeito” de Deus

Deus é incapaz de não amar!
Por muito que tente, que Se esforce, que coloque todas as Suas forças nesse desiderato, Deus não consegue não amar.
É-Lhe impossível!
Ele é todo amor e não consegue descobrir em Si nada que possa modificar isso: Deus não consegue não amar.

Já nós temos essa capacidade e sem fazermos esforço nenhum.
É aliás das coisas mais fáceis que fazemos nas nossas vidas: não amar!
Basta que não nos interesse, e com toda a facilidade conseguimos não amar.
Nós somos perfeitamente capazes de não amar!

2º “Defeito” de Deus

Deus é incapaz de não perdoar!
Pronto é assim, não há nada a fazer, não consegue não perdoar!
Está ali à porta, e mal vê um que se aproxima para pedir perdão, não aguenta, larga a correr para ele, abraça-o, dá-lhe as melhores roupas e faz uma festa!
Ele é todo perdão e não consegue descobrir em Si nada que possa modificar isso: Deus não consegue não perdoar!

Já para nós isso é uma coisa do dia a dia!
Não nos custa nada e fazemo-lo com a maior das facilidades.
E afinal é fácil, estamos ali à porta, e quando vemos alguém que nos vem pedir perdão é muito simples: Fechamos a porta!
Que aliás para nós, a maior parte das vezes, isso de perdoar é uma “fraqueza”!
Nós somos perfeitamente capazes de não perdoar!

3º “Defeito” de Deus

Deus é incapaz de não ser fiel!
Já Paulo o afirmava, sem margem para dúvidas:
«Se formos infiéis, Ele permanecerá fiel, pois não pode negar-se a si mesmo.» 2 Tm 2, 13
Ele é assim, mesmo que nós O afastemos, Lhe voltemos a cara, O insultemos, Ele fica ali, junto de nós, sem nunca nos abandonar, sempre pronto para nos ajudar quando for preciso, o que, convenhamos, é em todos os momentos das nossas vidas.
Ele é todo fidelidade e não consegue descobrir em Si nada que possa modificar isso: Deus não consegue não ser fiel!

Já connosco é muito fácil!
Basta por vezes oferecerem-nos qualquer coisa que nos agrade, para com toda a facilidade rompermos os compromissos.
Basta que alguém ou algo nos agrade mais, e rapidamente pomos de lado quem ou aquilo que era objecto da nossa fidelidade.
Basta que não nos concedam aquilo que queremos, (tenhamos razão ou não), para nesse mesmo momento voltarmos costas e irmos procurar noutro lado aquilo que desejamos.
Nós somos perfeitamente capazes de não ser fiéis!

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

ORDENAÇÃO SACERDOTAL

O Marcelo sendo instituido Acólito
na igreja de Albergaria dos Doze

O Céu está em festa, a Igreja está em festa, a Diocese de Leiria-Fátima está em festa, a Comunidade Luz e Vida está em festa, todos nós crentes que vivemos a fé em Jesus Cristo, Senhor e Salvador, estamos em festa.
No dia 21 de Outubro, na Sé de Leiria, pela imposição das mãos do Bispo de Leiria-Fátima, D. António Marto, o Diácono Marcelo Cavalcante de Moraes, receberá o segundo grau do Sacramento da Ordem.
O Marcelo pertence à Comunidade Luz e Vida desde a primeira hora, sendo parte muito importante no discernimento e fundação da Comunidade.
Deixou o Brasil para vir para Portugal em missão, na altura com a Comunidade Canção Nova, e aqui permaneceu entre nós, fazendo-se um de nós, comungando connosco, e fazendo de Portugal o seu país de adopção.
Deixou-se conduzir pela Palavra do Senhor:
Ele disse-lhes:
«Em verdade vos digo: Não há ninguém que tenha deixado casa, mulher, irmãos, pais ou filhos, por causa do Reino de Deus, que não receba muito mais no tempo presente e, no tempo que há-de vir, a vida eterna.» Lc 18, 29-30
E assim tem em nós todos a sua casa, a sua familia, a sua comunidade.
Pedimos ao Senhor da Messe, que o escolheu e chamou, que abençoe o seu sacerdócio com todas as graças e bençãos necessárias à sua missão, onde for chamado a servir Deus, servindo os homens.

terça-feira, 9 de outubro de 2007

UMA CURA A "DOIS TEMPOS"...

Cura do cego de Betsaida - Mc 8, 22-26
Chegaram a Betsaida e trouxeram-lhe um cego, pedindo-lhe que o tocasse.
Jesus tomou-o pela mão e conduziu-o para fora da aldeia.
Deitou-lhe saliva nos olhos, impôs-lhe as mãos e perguntou: «Vês alguma coisa?»
Ele ergueu os olhos e respondeu: «Vejo os homens; vejo-os como árvores a andar.»
Em seguida, Jesus impôs-lhe outra vez as mãos sobre os olhos e ele viu perfeitamente; ficou restabelecido e distinguia tudo com nitidez.
Jesus mandou-o para casa, dizendo: «Nem sequer entres na aldeia.»

Uma cura a “dois tempos”!
É um milagre inédito nos Evangelhos, feito a “dois tempos”.
Há alguém que traz este cego a Jesus, há alguém que intercede junto de Jesus por este homem, o que nos leva de imediato a percebermos a importância da nossa intercessão pelos outros, independentemente da sua fé.
Porque realmente não é o cego que pede a cura a Jesus, ele simplesmente deixa-se levar.
Não é uma fé como a de Bartimeu, («Jesus, filho de David, tem piedade de mim» Mc 11, 46-52), ou de tantos outros exemplos nos Evangelhos, como Jairo Lc 8, 40-56, ou o Centurião Lc 7, 1-10.
Assim, Jesus como que o prepara para receber a graça, primeiro da fé, (cura interior), e depois da cura física.
Jesus tem esse primeiro encontro com ele, impõe-lhe as mãos, (dá-lhe algo de Seu, a saliva), faz que o cego perceba que Ele, Jesus, é o Senhor, Aquele para quem nada é impossível.
E quando se tem este primeiro encontro pessoal com Jesus, deixando-nos tocar pelo Seu amor, (a “saliva” da Sua bondade), tudo muda nas nossas vidas.
Aquilo que não víamos antes, porque tínhamos os olhos do coração fechados à beleza de Deus, ao Seu amor, passamos a ver, e começamos então a perceber que a nossa vida só tem sentido vivida nEle, por Ele e com Ele, numa abertura e entrega aos outros em que Ele se faz presença.
O cego ergue os olhos, mas verdadeiramente não vê “fisicamente”.
Vê sim, a humanidade criada por Deus, que caminha para Ele, como árvores, as árvores que cresceram da semente por Deus plantada e que hão-de dar fruto, muito fruto.
O seu interior fica então curado, e Jesus, cheio de amor e compaixão, confirma com a cura física, « ficou restabelecido e distinguia tudo com nitidez», o caminho de salvação deste homem.
Já na cura do paralítico Lc 5, 17-26, (que também é levado por outros ao encontro do Senhor), Jesus começa pela cura interior: «Homem, os teus pecados estão perdoados», para depois, perante a incredulidade de uns tantos, “confirmar” o Seu poder salvífico com a cura física: «Levanta-te, pega na enxerga e vai para casa».
No fim de tudo, Jesus manda o homem curado para casa, dizendo: «Nem sequer entres na aldeia.»
Já no início, Jesus o tinha tomado pela mão e conduzido para fora da aldeia.
Aquela aldeia era a vida, era o ambiente, eram as certezas que aquele homem vivia, e só saindo dela, podia sair de si próprio a abrir-se à graça de Deus, alcançando assim a cura interior e física, que é a vida completa que Deus sempre quis para os Seus filhos, por Ele criados.
Aquela última frase de Jesus, soa como: «Vai e de agora em diante não tornes a pecar.» Jo 8, 11

Quantos de nós não precisamos sair das nossas “aldeias”, das nossas “seguranças”, dos nossos “medos”, das nossas “vergonhas”, e abrir-nos confiantemente à graça de Deus, ao Seu amor, à Sua misericórdia, para alcançarmos a “cura”, a cura da vida plena, a cura da vida em abundância, a cura da Salvação.
Nós cremos Senhor, mas aumenta a nossa
Fé.

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

A CAPA...

«Chegaram a Jericó. Quando ia a sair de Jericó com os seus discípulos e uma grande multidão, um mendigo cego, Bartimeu, o filho de Timeu, estava sentado à beira do caminho.
E ouvindo dizer que se tratava de Jesus de Nazaré, começou a gritar e a dizer: «Jesus, filho de David, tem misericórdia de mim!»
Muitos repreendiam-no para o fazer calar, mas ele gritava cada vez mais: «Filho de David, tem misericórdia de mim!»
Jesus parou e disse: «Chamai-o.»
Chamaram o cego, dizendo-lhe: «Coragem, levanta-te que Ele chama-te.»
E ele, atirando fora a capa, deu um salto e veio ter com Jesus.
Jesus perguntou-lhe: «Que queres que te faça?»
«Mestre, que eu veja!» - respondeu o cego.
Jesus disse-lhe: «Vai, a tua fé te salvou!»
E logo ele recuperou a vista e seguiu Jesus pelo caminho.»
Mc 10, 46-52


Detenhamo-nos num pormenor desta Palavra, desta descrição do milagre da recuperação da vista, para quem andava nas trevas.
Porquê os pormenores?
Se acreditamos que a Palavra escrita é inspirada no e pelo espírito Santo, então os pormenores têm de ter algum significado e esse significado será conforme o mesmo Espírito nos leva a discernir em cada momento.
«E ele, atirando fora a capa, deu um salto e veio ter com Jesus»
O cego Bartimeu, atirou fora a capa…
Quantas vezes a capa que “usamos” nas nossas vidas, não nos deixa ver o caminho, não nos deixa ver a verdade, não nos deixa viver o amor.
É a capa do orgulho, a capa do respeito humano, a capa do dinheiro, a capa do prazer, a capa do egoísmo, a capa da auto-suficiência, a capa do sofrimento, a capa da comiseração, a capa do queixume, a capa da critica, a capa da má-lingua, a capa das “minhas certezas”, a capa da “minha fé”…
Cada um pode escolher, ou melhor, descobrir a sua capa, ou capas…
E por isso muitas vezes não “vemos”, não temos luz para o caminho das nossas vidas.
Vemos tudo com os olhos do corpo, mas os “olhos” do nosso coração estão fechados, estão cegos, não vêem a luz da paz, da alegria, da vida nova com e em Cristo.
Por vezes tiramos a capa, mas não a atiramos fora, guardamo-la e tornamos a usá-la…
O cego Bartimeu «atirou fora a capa», não quis mais saber dela, só lhe interessava Jesus Cristo que lhe podia fazer recuperar a vista, a vista que lhe trazia uma vida nova…
Nada mais lhe interessava! Ele queria aquela vida nova, porque sabia no seu intimo que era uma vida abundante, em que podia “ver”…
E a fé de Bartimeu?!
Ele não se levantou e caminhou!
Não, ele «deu um salto», como quem mergulha em algo que não sabe o que é, mas tem a certeza de que é bom, a certeza de quem confia, de quem espera, a certeza de quem tem Fé…


Ah, Senhor dá-nos a força para também atirarmos fora as nossas capas, para bem longe de nós.
Melhor Senhor, toma Tu conta delas, para que não caiamos na tentação de as querermos reaver…
Ah Senhor, dá-nos a coragem para darmos o salto para Ti, de olhos fechados, sem medo do “que lá vem”, mas na certeza da Fé de que Tu nos abrirás os olhos e nos darás a luz para caminharmos no Teu amor.

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

SACRÁRIOS VIVOS...

Os sacrários são normalmente peças de muita beleza exterior, mesmo aqueles que primam pela simplicidade.
No entanto o seu interior é, normalmente, apenas constituído por paredes nuas, sem qualquer decoração.
Assim poderemos dizer, que os sacrários são muito belos por fora, mas despidos de beleza por dentro.
No entanto tudo se transforma quando no sacrário está Jesus Cristo Sacramentado!
Podemos afirmar então, que a maior beleza do sacrário está no seu interior, e que já não interessa sequer aquilo que ele é por fora.
Aliás os sacrários têm um fim, que é conterem, guardarem dentro de si, Jesus Cristo Sacramentado.
E sabemos que eles estão a cumprir essa missão quando há uma luz, sempre acesa, que nos diz que ali está Jesus Cristo Sacramentado.
Se assim não for, a luz está apagada e os sacrários para nada servem, a não ser para decoração, para museus, e não nos suscitam mais nada, a não ser a apreciação da sua beleza, ou a falta dela.
Enfim não nos detemos neles, e nada acrescentam às nossas vidas!
Nós somos muitas vezes assim, como os sacrários!
Arranjamo-nos exteriormente, não só cuidando do aspecto do corpo e do que vestimos, mas também tantas vezes aparentando uma maneira de ser que nada tem a ver connosco, (com o que nós realmente somos), e no interior somos apenas paredes nuas, sem qualquer beleza, sem luz, porque não nos preocupamos em ser amor para nós e para os outros, porque em nós não mora Jesus Cristo, fonte do Amor.
Podemos conversar com quem quisermos, mas as nossas conversas são apenas palavras, não deixam rasto, nada acrescentam às vidas que por nós passam.
No entanto, quando nos abrimos a Ele, e deixamos que Ele faça em nós morada, o aspecto exterior conta pouco ou nada, porque a expressão que transmitimos é a beleza do amor, há uma luz acesa em nós, e as conversas que possamos ter, o testemunho de vida, deixa sempre uma impressão indelével, que leva muitas vezes os outros a deterem-se e pensarem nas suas próprias vidas.
Tal como os sacrários também nós temos um fim!
Esse fim é sermos sacrários vivos, ou seja, enquanto os sacrários na igreja “apenas” contêm Jesus Cristo Sacramentado, mas estão ali, estáticos, sem nada nos transmitirem de si próprios, nós poderemos ser sacrários vivos, ou seja, levarmos Jesus Cristo aos outros, transmitirmos tudo o que Ele faz em nós, dar testemunho da Sua presença viva em nós e no meio de nós.
Os sacrários na igreja podem “conter” Jesus Cristo Sacramentado, mas não mudam, são sempre do modo como foram feitos.
Nós se formos sacrários vivos vamos sendo moldados, aperfeiçoados, pela presença de Jesus Cristo em nós, e essa mudança reflecte-se em nós e de nós para os outros.
Enquanto nos sacrários na igreja, a luz indica a presença de Jesus Cristo Sacramentado no seu interior, em nós, quando somos sacrários vivos, a luz é o Próprio Jesus Cristo que brilha em nós
!

Faz do teu coração um Sacrário vivo, onde more sempre Jesus Cristo!

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

ATÉ JESUS SENTIU ADMIRAÇÃO!


Lucas 7,1-10.
«Quando acabou de dizer todas as suas palavras ao povo, Jesus entrou em Cafarnaúm.
Ora um centurião tinha um servo a quem dedicava muita afeição e que estava doente, quase a morrer.
Ouvindo falar de Jesus, enviou-lhe alguns judeus de relevo para lhe pedir que viesse salvar-lhe o servo.
Chegados junto de Jesus, suplicaram-lhe insistentemente: «Ele merece que lhe faças isso, pois ama o nosso povo e foi ele quem nos construiu a sinagoga.»
Jesus acompanhou-os.
Não estavam já longe da casa, quando o centurião lhe mandou dizer por uns amigos: «Não te incomodes, Senhor, pois não sou digno de que entres debaixo do meu tecto, pelo que nem me julguei digno de ir ter contigo. Mas diz uma só palavra e o meu servo será curado. Porque também eu tenho os meus superiores a quem devo obediência e soldados sob as minhas ordens, e digo a um: 'Vai', e ele vai; e a outro: 'Vem', e ele vem; e ao meu servo: 'Faz isto', e ele faz.»
Ouvindo estas palavras, Jesus sentiu admiração por ele e disse à multidão que o seguia: «Digo-vos: nem em Israel encontrei tão grande fé.»
E, de regresso a casa, os enviados encontraram o servo de perfeita saúde.»

Onde está a minha fé? Será forte a minha fé? Serei eu capaz de acreditar como este centurião?
É que ele não faz a coisa por menos:
Compara as ordens que ele dá aos seus soldados, gente habituada a obedecer, com o poder que Jesus tem de dar ordens às doenças e as mesmas obedecerem, ficando os doentes curados!
É espantosa esta fé que acredita que Ele nem precisa de ver o servo para o curar, porque nesta fé também está implícito que o centurião acredita que Jesus tudo sabe, tudo vê, de tal modo que nem precisa de explicar nada sobre a doença!
E depois a humildade de reconhecer que não é digno da presença de Jesus na sua casa, mas ao mesmo tempo a confiança na misericórdia, na compaixão de Jesus, perante aqueles que sofrem!
E depois ainda esta certeza “radical” de fazer o pedido: «Diz uma só palavra e o meu servo ficará curado»!
Não há outra hipótese!
Ele ficará curado, porque ele não duvida que Jesus vai dizer a palavra, porque não duvida da compaixão de Jesus!
Perante esta fé, até Jesus ficou admirado!
Perante esta fé, Jesus apenas disse no Seu intimo: «Faça-se aquilo em que acreditas!»
Onde está a minha fé? Será forte a minha fé? Serei eu capaz de acreditar como este centurião?

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

QUERES QUE TE FAÇAM, FAZ TU PRIMEIRO!

Lucas 6,27-38.
«Digo-vos, porém, a vós que me escutais: Amai os vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, abençoai os que vos amaldiçoam, rezai pelos que vos caluniam.
A quem te bater numa das faces, oferece-lhe também a outra; e a quem te levar a capa, não impeças de levar também a túnica.
Dá a todo aquele que te pede e, a quem se apoderar do que é teu, não lho reclames.
O que quiserdes que os outros vos façam, fazei-lho vós também.
Se amais os que vos amam, que agradecimento mereceis? Os pecadores também amam aqueles que os amam.
Se fazeis bem aos que vos fazem bem, que agradecimento mereceis? Também os pecadores fazem o mesmo.
E, se emprestais àqueles de quem esperais receber, que agradecimento mereceis? Também os pecadores emprestam aos pecadores, a fim de receberem outro tanto.
Vós, porém, amai os vossos inimigos, fazei o bem e emprestai, sem nada esperar em troca. Então, a vossa recompensa será grande e sereis filhos do Altíssimo, porque Ele é bom até para os ingratos e os maus.
Sede misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso.»
«Não julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados; perdoai e sereis perdoados.
Dai e ser-vos-á dado: uma boa medida, cheia, recalcada, transbordante será lançada no vosso regaço.
A medida que usardes com os outros será usada convosco.»

O Evangelho de hoje é de uma beleza indescritível!
É também dos ensinamentos de Jesus Cristo, aquele que se torna mais difícil a cada um de nós viver.
O modo como muitas vezes somos educados, o modo como as pessoas à nossa volta se comportam no dia a dia e nós também tantas vezes, o modo como o mundo nos quer ensinar a individualidade e a importância do eu, o modo até como certas “espiritualidades”, “religiosidades” enaltecem o individuo na sua pretensa “capacidade” de sozinho tudo conseguir, o modo como a sociedade enaltece como “inteligentes” os que não olham a meios para atingir os seus fins, e como “fracos” os que se preocupam em não “pisar” ninguém, o modo como nos achamos possuidores das coisas, como propriedade individual e não como algo que o Senhor nos deu para nos servirmos a nós e aos outros, tornam a vivência deste ensinamento de Jesus Cristo uma extraordinária prova.
Reparemos numa grande diferença!
Antes aprendemos: «Aquilo que não queres para ti, não o faças aos outros» Tb 4, 15.
Agora é-nos dito: «O que quiserdes que os outros vos façam, fazei-lho vós também.» Lc 6, 31.
Por isso Jesus Cristo nos diz muito claramente:
«Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas. Não vim revogá-los, mas levá-los à perfeição.» Mt 5, 17
E esta perfeição exige de nós uma missão, um empenhamento, uma vivência!
Já não podemos “ficar sentados” a viver as nossas vidas, não fazendo nada pelos outros, esperando que também eles nada nos façam.
Temos sim de nos entregarmos, de ajudarmos, de darmos não só o que nos é dado em bens materiais, mas também o que o Senhor por Sua graça vai derramando nas nossas vidas: A Fé, o Amor, a Confiança, a Esperança, a certeza de que Ele está sempre connosco, enfim, a Boa Nova!
Ainda por cima a recompensa é infinita, é eterna, porque é o Pai, que está nos Céus, que no-la vai dar!
Maior que tudo o que nos possam retribuir neste mundo por algum bem que façamos, é esta promessa de Jesus Cristo Nosso Senhor:
«Então, a vossa recompensa será grande e sereis filhos do Altíssimo, porque Ele é bom até para os ingratos e os maus. » Lc 6, 35b

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

BEATA MADRE TERESA DE CALCUTÁ

«O seu trabalho piedoso com os pobres espalhou-se por todo o mundo e levou milhares de irmãs e voluntários a aderirem à congregação. O que lhe valeu o Prémio Nobel da Paz - que recebeu em Oslo em Dezembro de 1979.
Na altura, no discurso que fez, afirmou: "Não é suficiente dizer 'Eu amo Deus', mas não o meu vizinho. [Ao morrer na cruz] Deus tornou-se o faminto, o nu e o sem abrigo. A fome de Jesus é aquilo que temos de encontrar e aliviar. Cristo está nos nossos corações, Cristo é o pobre que encontramos, o sorriso que damos e que recebemos".
Contudo, três meses antes, numa carta enviada ao padre Michael Van Der Peet, confessou: "Jesus tem um amor muito especial por si. [Mas] para mim - o silêncio e o vazio é tão grande - que olho e não vejo - Escuto e não ouço. A língua mexe-se [na oração] mas não fala...Quero que reze por mim".
O conteúdo desta e outras cartas formam o livro, lançado hoje nos EUA, da autoria do padre Brian Kolodiejchuk. A obra revela que a madre Teresa duvidou da existência de Deus durante 50 anos (e mesmo assim continuou ao seu serviço). Muitos desconheciam-no. Até agora.»
Diário de Noticias de 4 de Setembro
.
Entendi mal, ou este é mais um “brilhante” texto que nos quer levar a pensar, a acreditar, que a Beata Madre Teresa de Calcutá “duvidava” da existência de Deus!!!
É que é realmente espantoso como se retira de cartas como esta, essa certeza de que Madre Teresa “duvidava” da existência de Deus, quando para mim elas revelam uma fé inquebrantável, a fé daqueles que acreditam sem verem.
Só quem se entrega totalmente aos caminhos de Deus, pode saber o que é a aridez da oração, o deserto da solidão, a aspereza da falta de consolação…
E no entanto, a oração é constante, a certeza de que Ele está connosco é total, embora não O sintamos, não O vejamos, não O ouçamos…
E no entanto a consolação é consolar, porque é verdade que “mais vale consolar, do que ser consolado”…
Já li algumas obras sobre madre Teresa e sempre me impressionou essa força extraordinária de alguém que viveu o deserto, a aridez e nunca deixou de acreditar na presença de Deus nos outros, nunca deixou de acreditar que «o que fizeres aos mais pequeninos é a Mim que o fazes…»
E agora, (perante um livro que ainda não li), mas que, (escrito por quem se empenha na canonização de madre Teresa), só pode mostrar-nos essa incrível luta de fé de uma mulher, que não tendo experiências místicas profundas como outros Santos, querem fazer-nos pensar que madre Teresa “duvidava” da existência de Deus.
Teresa de Calcutá, perante o terrível deserto e aridez em que Deus a quis provar, (e ninguém é provado acima das suas forças), continuou a orar, a construir, acreditando sem margem para dúvidas que Ele, o Cristo amado, estava ali, nos outros, com ela e nela.
Quantas vezes eu me perguntei, quantas vezes cada um de nós que acredita, se perguntou, ou melhor Lhe perguntou: «Estás aí Senhor? Conheces-me? Amas-me? Posso contar conTigo?».
E mesmo assim, ou até por causa disso, ainda se entregou mais, ainda orou mais, ainda fez mais, porque a fé não é algo que se compra, que se venda, é um dom, uma graça que o Senhor coloca nos corações abertos para Si.
Diz-nos o Papa Bento XVI sobre madre Teresa: «Por um lado, temos de suportar este silêncio de Deus, em parte também para poder compreender nossos irmãos que não conhecem Deus.»
Realmente, muitas vezes os nossos irmãos afastados da fé não compreendem, como podemos nós acreditar em algo que não vemos, que não palpamos, e também nós por vezes não entendemos como não vêm eles aquilo que para nós é óbvio.
Assim neste “silêncio de Deus”, vivendo esta experiência, talvez possamos nós entender melhor e dar a conhecer melhor aos outros esta presença de Deus nas nossas vidas, este amor de Deus por cada um, seja ele qual for.
Um dos maiores Santos da Igreja, Pedro, fez mais que duvidar de Deus, negou a Deus e no entanto acabou por entregar a totalidade da sua vida pelo Deus que tinha negado!
“Não é preciso ver para acreditar, mas é preciso acreditar, para ver”, e isso que se passou com Tomé, e tantas vezes com cada um de nós, foi a vida de madre Teresa:
Porque acreditava, via, sentia Cristo nas suas irmãs e irmãos necessitados, por isso lhes entregava a sua vida, porque sabia que a estava a entregar ao Senhor, ao seu Deus de infinito Amor.
Tudo o mais são interpretações, mais ou menos “maldosas”, de quem não “vê, porque não acredita”.

terça-feira, 4 de setembro de 2007

PRÉMIO



A Fa, (Partilhas em Fa Menor), decidiu atribuir este prémio, a este blogue, resultado seguramente da sua simpatia pelo "Que é a Verdade?"
Sirvo-me das suas palavras para explicar o significado do mesmo:
"Este prémio é uma tentativa de reunir os blogues que são adeptos aos relacionamentos "inter-blogues" fazendo um esforço para ser parte de uma conversação e não apenas de um monólogo"- é este o perfil schmoozed.
Schmooze: (Verbo) fofocar, jogar conversa fora, trocar idéias. (Substantivo) conversa, bate-papo.
Agradeço reconhecido, até porque entendo que os blogues, (pelo menos os cristãos e católicos), servem para isso mesmo: A relação entre pessoas, o testemunho de vida, de vivências, a discussão amiga sobre aquilo que cada um vive e sente.
Só assim, para mim, fazem sentido.
Não nomeio ninguém, porque todos aqueles que me visitam e eu visito, (são mais do que 5!!!), seguem esta prática de relacionamento entre pessoas.
Grato pelo prémio, apenas prometo à Fa, empenhar-me mais!
.
Quis o António, (A Partilha ), atribuir-me também este prémio, do que só agora tive conhecimento.
Agradecido, repito as palavras acima e prometo-lhe, tal como fiz à Fa, cada vez mais empenho, entrega e testemunho da vivência da Fé que o Senhor, por Sua bondade, me quis conceder.

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

MEU DEUS E MEU SENHOR

Tão perto Senhor,
estás Tu de mim,
e eu ainda tão longe,
de Ti…
Vens junto a mim,
e mostras-me as mãos e o lado,
e eu não consigo ver,
porque os meus olhos
ainda estão cheios de dúvidas…
Chamas-me meigamente,
e dizes-me cheio de amor:
«Coloca a tua mão no Meu lado,
olha-me nos olhos…»
Mas eu baixo a cabeça,
cruzo as mãos atrás das costas…
Tenho medo, Senhor!
Tenho medo de não ver,
tenho medo de não acreditar,
tenho medo de que a minha vida,
não Te sirva Senhor…
Tantos sinais,
tantas palavras,
tantos momentos de amor,
tantos milagres,
(ah Senhor,
a minha vida agora
é um milagre Teu!),
e eu assim,
nestes momentos de nada,
como se eu não soubesse,
que és Tu Senhor,
a Vida da minha vida…
Que paciência tens Tu, Senhor,
para este coração de pedra,
para este olhar tão cego,
para este acreditar tão frágil…
Tomas-me pela mão,
deitas a minha cabeça no Teu colo,
afagas o meu cabelo,
recolhes as minhas lágrimas,
e bebe-las cheio de amor…
E eu vou acalmando,
a paz vem como um rio,
e banha-me no Teu amor…
O coração abre-se,
torna-se mole,
porque és Tu que o moldas Senhor…
Vão-se as dúvidas,
fica a certeza, a fé,
na Tua presença Senhor…
Retira-se a nuvem dos meus olhos,
a luz irrompe,
já Te posso ver, Senhor…
Abrem-se os meus lábios,
e de dentro do meu peito,
surgem as palavras,
num louvor:
Meu Deus e meu Senhor!…

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

"PARÁBOLA" DAS DUAS PORTAS

(Pecado e Confissão)
Um homem muito atarefado, que mal tinha tempo para se alimentar, conheceu um Senhor muito bom, que lhe fez a seguinte proposta:
“Se mantiveres a porta da frente da tua casa sempre aberta, todos os dias te virei alimentar, sem nada te pedir em troca, a não ser, que mantenhas fechada a porta das traseiras e não a abras por motivo algum”.
Pareceu àquele homem que era uma boa proposta, e assim, pondo de parte o receio, decidiu entregar-se nas mãos daquele Senhor, passando a deixar a porta da frente de sua casa sempre aberta e confiando inteiramente todos os seus bens e inclusive a sua vida, àquele que lhe tinha feito tal proposta.
Constatou imediatamente que nunca lhe faltava alimento, que todos os seus bens estavam bem utilizados, e que eram para si fonte de alegria e não motivo de preocupação, com receio de os perder.
Constatou também que a vida lhe corria melhor, que as contrariedades continuavam a existir, mas que a presença constante, sem imposição, daquele Senhor, lhe transmitia paz, tranquilidade, confiança, esperança e muito amor.
Um dia, (a curiosidade foi mais forte), quis espreitar a parte de trás de sua casa e distraído deixou aberta a porta das traseiras.
Passado pouco tempo, estando na sala a descansar, viu surgir junto de si, um individuo elegante, bem vestido, confiante, de falas doces e sedutoras.
Em vez de o mandar sair de imediato, (visto que tinha entrado em sua casa sem pedir licença), deu-lhe ouvidos e começou a interessar-se pelo que este lhe dizia.
Disse-lhe então o individuo que o alimento que ele estava a receber era bom, sim senhor, mas não dava muito prazer ao corpo e que ele reparasse bem, pois afinal os seus bens que tanto lhe custavam a ganhar, eram utilizados por todos, o que no entender do individuo, não era justo, pois se tinha sido ele e só ele, sem a ajuda de ninguém, a adquiri-los com tanto esforço, só ele então, se deveria servir deles.
Afirmou ainda o individuo, que o homem sozinho e sem nenhum cansaço, poderia preparar um alimento muito melhor todos os dias, e que não se deveria preocupar porque ele o ajudaria em tudo.
Apenas lhe pedia que fechasse a porta da frente da sua casa, para não serem incomodados pelo Senhor e mantivesse sempre aberta a porta das traseiras, para que ele pudesse entrar sempre e a qualquer hora, para assim o poder ajudar.
Levado pela conversa do outro, o homem assim fez.
Ao principio tudo parecia correr bem. O homem andava feliz e contente, e embora a sua cabeça estivesse um pouco perturbada e não conseguisse pensar direito, o corpo andava cheio de prazer e engordava a olhos vistos.
Reparou então, que o individuo, em vez de pedir licença para entrar todos os dias, (como fazia o Senhor anteriormente), já se tinha instalado em sua casa e impondo a sua presença, punha e dispunha de todas as suas coisas, sem nada lhe perguntar.
Começou também a reparar, que embora o prazer corporal fosse bem maior, os seus pensamentos eram mais frios, sombrios, e que a paz, tranquilidade, amor e boa companhia que antes sentia já não existia, e no seu lugar se tinham instalado a dúvida, o nervosismo, a tristeza, a solidão e o medo de perder os seus bens.
Decidiu então expulsar o “novo amigo”, mas isso tornou-se tarefa muito difícil, porque ele não queria sair de sua casa e revelando-se muito insistente, fez novas promessas de felicidade e também algumas ameaças, como se a vida dele já lhe pertencesse.
Assustado, decidiu procurar o Senhor, pedindo-lhe que voltasse para sua casa, e também que o ajudasse a libertar-se daquele “amigo” tão incómodo e que já lhe inspirava tanto medo.
O Senhor e verdadeiramente seu único amigo recebeu-o de braços abertos e disse-lhe:
“Não tenhas medo, que eu também quero voltar à nossa tão antiga amizade, mas para isso tens de fazer duas coisas:
A primeira é, (sem medo, porque eu estou contigo), expulsar esse individuo para fora da tua vida e fechar definitivamente a porta das traseiras da tua casa.
A segunda, (imprescindível, pois sem a satisfazeres não poderei regressar), é que procures um dos meus "agentes", e eu tenho-os em todos os sítios, converses com ele, contando-lhe toda a história, como se passou e tudo o que fizeste durante todo o tempo em que estiveste com esse individuo, e lhe digas que sabes agora que estavas enganado, que procedeste mal, e que queres emendar tudo o que fizeste de errado.
Posso afirmar-te, que se o meu "agente" confirmar que estás verdadeiramente arrependido e decidido a não mais abrir a porta das traseiras, não terá dúvidas, a em meu nome te perdoar, e assim será imediato o meu regresso”.
O homem assim fez, e finda a conversa com o "agente" daquele Senhor, verificou com alivio, que a alegria, a paz, a tranquilidade, a esperança, o amor tinham voltado à sua vida, à sua casa, que os seus bens já não lhe causavam qualquer preocupação e que, sobretudo, o alimento que de imediato lhe começou a ser dado, tinha muito mais gosto, reparando ainda que esse gosto se mantinha permanente nele e não era causa de tristeza ou solidão, mas sim de alegria, paz e amor.
Grato ao seu Senhor, tomou a decisão de fechar e barricar a porta das traseiras com tudo o que o seu Senhor lhe fornecesse e estivesse ao seu alcance, resolvendo nunca mais dar ouvidos a quem com sedução o quisesse enganar.
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Escrito em 11 de Janeiro de 2001