segunda-feira, 26 de outubro de 2009

«Em que deis muito fruto...» Jo15,8

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Hoje nas minhas orações da manhã li um pensamento do Santo Padre Pio.

Diz ele o seguinte:
«Já viste uma grande seara em tempo de colheita? Poderás observar que certos caules são altos e exuberantes; outros, ao contrário curvam-se até tocar o chão. Se experimentares colher esses caules mais altos, mais vaidosos, verás que estão vazios, enquanto os mais baixos, mais humildes, estão carregados de grãos.»

Reparemos no fariseu que entra no templo, alto e direito no seu orgulho e vaidade de se considerar justo, tão digno que se permite olhar Deus “olhos nos olhos”, e no entanto a sua oração de nada serve, é vazia de frutos.
Mas o publicano, curvado, envergonhado, humilde, que nem sequer se considera digno de ali estar, oferece a Deus uma oração que dá frutos, não só para ele mas também para nós que agora meditamos nessa atitude.

Quantas vezes em Igreja não estamos frente a alguém que se considera muito sabedor, muito bom orador, que do alto da sua importância dirige palavras aos fiéis e que no entanto no fim nada fica, nada constrói, nada frutifica?
Mas quantas vezes também não estamos frente a alguém, que reconhecendo-se no seu nada, entrega o seu saber Ao que tudo pode, e hesitando nas palavras, não tendo um discurso “perfeito”, toca os nossos corações e semeia sementes que dão muito fruto?

Curiosamente os bens materiais não pesam nas nossas vidas, não nos curvam pelo seu peso, antes pelo contrário, (quando mal aproveitados), fazem-nos mais altos, mais direitos, mais importantes, e no entanto vazios, vazios de amor, vazios de caridade, vazios de ternura e não dão paz nem fruto, mas apenas preocupação e solidão.
“Era tão pobre, tão pobre, que só tinha dinheiro!”
No entanto, aqueles que os não têm, (ou que tendo-os, os sabem aproveitar), andam mais curvados para estarem mais atentos às necessidades dos outros, e dão-se, e têm e recebem amor, e o pouco que têm e que dão, frutifica e dá muito fruto.

Senhor,
ensina-nos a humildade de sabermos que só unidos a Ti podemos dar fruto e fruto abundante.
Ensina-nos a sermos nada, para em Ti sermos tudo.
Amen.
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segunda-feira, 19 de outubro de 2009

QUEM DIZES TU QUE EU SOU?

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«Quem dizes tu que Eu sou?»,
perguntas-me Tu Senhor,
com os Teus olhos fixos nos meus
com esse Teu jeito de amor.
Eu olho-Te então também
e receoso da resposta,
pouco forte e convicta,
respondo-Te muito baixinho:
«Tu és o Filho de Deus,
o meu Deus e meu Senhor.»
Mas Tu olhas-me outra vez,
e com redobrado amor,
perguntas-me novamente:
«Mas quem foi que to revelou?
Foi Meu Pai que está no Céu,
ou foi o teu coração,
que procura a Verdade?»
E eu pequenino respondo-Te,
a voz como num fio,
não fosses Tu ouvir-me:
«Ó Senhor,
eu sou tão fraco!
Como querias Tu meu Senhor
que eu sozinho pudesse,
saber assim toda a Verdade?
Que Tu és o Filho de Deus,
o Messias enviado,
o meu Deus e meu Senhor
que na Cruz crucificado,
se entregou por mim,
por todos nós,
só por simples e puro amor.»
Abre-se o Teu sorriso,
aliás nunca fechado,
e é um sol,
uma luz resplandecente,
que me atinge em todo o ser.
Aclara-se-me então a voz,
torna-se mais forte a fé,
perco o medo, o temor,
e grito mais alto que o mundo,
por cima da criação,
com esta voz que Tu enches:
«Jesus Cristo é o Senhor,
o Filho de Deus vivo,
nascido e feito Homem,
em tudo igual a nós,
excepto no pecado.
Que se entregou por amor,
numa Cruz crucificado,
trespassado o coração,
pela maldade dos homens.
E que tendo sido morto
por fim foi sepultado,
para ressuscitar glorioso,
vencida que foi a morte,
vencido que foi o pecado.
Mas que ficou entre nós,
na humildade do Pão,
para ser alimento e vida,
dos que buscam salvação.»
E nada nem ninguém,
mesmo culto e inteligente,
pode negar e mudar,
esta verdade tão simples,
que nos fala ao coração,
por Ele em todos criado:
«Jesus Cristo é o Senhor,
o Filho de Deus vivo,
Palavra de eternidade
que nos conduz ao amor
e encerra toda a Verdade.»

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Texto que me foi suscitado pelas inauditas e insultuosas palavras de José Saramago.
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segunda-feira, 12 de outubro de 2009

CAMINHAR EM IGREJA

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No Domingo dia 7 fui incumbido pela minha Comunidade Luz e Vida, de fazer o ensinamento da “Tarde de Louvor”, que celebramos em Albergaria dos Doze, todos os primeiros Domingos de cada mês.

Porque à última hora não foi possível a quem o ia fazer estar presente, foi-me pedido pouco tempo antes, que me preparasse para falar às irmãs e irmãos presentes, vindos de vários pontos do país.

Coloquei-me nas mãos de Deus e pedi ao Espírito Santo que me iluminasse, pois se não fosse Ele a falar em mim, de nada serviriam as palavras que eu dissesse.

Recentemente o nosso Bispo, D. António Marto, escreveu uma lindíssima e sobretudo profunda Carta Pastoral, que intitulou “Ir ao coração da Igreja”, pelo que fui levado a falar sobre a Igreja.

À medida que ia falando sobre a Igreja, sobretudo no sentido de que todos somos Igreja, e que a Igreja não dever ser entendida de forma redutora como sendo só a hierarquia, e muito menos ainda como se de uma instituição humana pura e simples se tratasse, ia vivendo no meu coração o episódio bíblico da cura do paralítico narrada em Lc 5, 17-26.

Deixei-me levar por essa imagem daqueles quatro homens que levavam o paralítico a Jesus e encontrei aí as similitudes com a Igreja.

No fundo a Igreja é, ou melhor, somos todos nós representados naqueles quatro homens e naquele paralítico, embora não se esgote nesta imagem.

Com efeito, movidos pela fé caminhamos para Jesus e com Jesus, levando connosco aqueles que mais precisam, levando connosco aqueles que precisam ter um encontro pessoal com Cristo, para que nesse encontro a sua vida seja tocada e renovada por Ele.

E nessa caminhada enfrentamos obstáculos, muitos e variados, não só para nos chegarmos a Ele, mas também para levar os outros a Ele.

Mas aqueles homens ensinam-nos, porque não desistiram mesmo perante a multidão “de dificuldades”, e abrindo caminhos novos, subindo ao alto, rompendo as barreiras, (tecto), colocaram aquele por quem pediam frente a Jesus.
E ali ficaram, pedindo com certeza, sem desfalecer, porque Lucas nos diz que Jesus «viu a fé daqueles homens», e perante essa fé, perante essa perseverança, tocou a vida daquele que eles traziam.

Quantas vezes nós pedimos e perante as dificuldades logo desistimos!? Quantas vezes os nossos pedidos, as nossas orações são apenas por nós e pelas nossas necessidades!? Quantas vezes nos entregamos à rotina e não descobrimos caminhos novos para viver a fé todos os dias!? Quantas vezes não nos pomos nós de lado, como se nada fosse connosco, como se não fossemos também nós Igreja!?

É que ser Igreja é isto também: ir ao encontro de Cristo, mas não ir sozinho.
É ir em comunidade e levar connosco aqueles que precisam, aqueles que O não conhecem e precisam de O conhecer para que as suas vidas tenham sentido como as nossas têm, de tal modo que não desistimos de acreditar que Ele tudo pode.

É levar connosco aqueles que não conseguem perdoar, aqueles que julgam não poderem ser perdoados, aqueles que estão oprimidos e injustiçados, aqueles que se sentem escorraçados, desprezados, aqueles que estão doentes e precisam de viver a esperança que dá sentido ao próprio sofrimento.

Claro que há aqueles que criticam, que tentam impedir, que dizem que Jesus Cristo não é o Filho de Deus, que dizem que não vale a pena, que afirmam que a Confissão não existe e que nos devemos confessar directamente a Deus e tantas, tantas coisas que são entraves ao caminho.

Mas a esses, unidos em Igreja, com Jesus Cristo no meio de nós, («onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, Eu estou no meio deles» Mt 18,20), nós respondemos em e com a Igreja que Deus é perdão e que não há nada que o homem faça que Deus não perdoe perante o seu arrependimento, e que Deus faz muito mais do que isso, porque o Seu perdão é sempre acompanhado da paz que leva muitas vezes à cura, para que os homens tenham «vida e a tenham em abundância.» Jo 10,10

Sim aqueles cinco homens representam muito bem a Igreja e o que Ela faz!

Umas vezes somos os quatro que intercedem, outras vezes somos o paralítico que precisa de ajuda, mas sempre, sempre a Igreja em Nome de Jesus Cristo nos administra o perdão, nos leva ao encontro de Cristo, nos leva ao encontro da vida nova que nos é dada na Mesa da Eucaristia, nos transporta á vivência do Deus vivo que se revela nos Sacramentos.

Então aí, perante a evidência da presença de Deus e das graças que derrama em nós, também nós «ficamos estupefactos e glorificamos a Deus dizendo cheios de temor: Hoje vimos maravilhas!» Lc 5,26


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Não foi só isto com certeza que disse, ou melhor que o Espírito Santo disse pela minha voz, nem a Igreja é só isto, mas estas palavras escritas já nos dão sem dúvida muito caminho para reflectir, muito coisa para corrigir, muita oração para orar, muita vida verdadeira para viver, ao encontro de Deus que é e se faz Igreja connosco.
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sexta-feira, 2 de outubro de 2009

O ORGULHO

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Pois é, Senhor, por muito que nos chames a atenção, que nós entendamos e reflictamos no que nos dizes ao coração, acabamos por cair tantas vezes nos mesmos defeitos.

O orgulho, Senhor!

O orgulho obnubila-nos o pensamento, a razão, e somos então presas fáceis do inimigo que nos quer enganar.

É que o orgulho afasta-nos de Ti, da Tua Palavra, do Teu conselho, pois leva-nos a acreditar que somos capazes sozinhos, que somos melhores do que os outros, que fomos escolhidos por nós próprios, pelas nossas capacidades, para uma determinada missão, como se aquilo que somos, ou temos, não fosse dom de Ti.

Tu, Senhor, não Te afastas de nós, (não o podes fazer porque nos amas e és sempre fiel), mas nós é que fechamos os ouvidos do coração, do pensamento, a Ti, porque eles estão cheios dos nossos ouvidos que só se ouvem a si próprios.

Tu estás ali, sempre, e vais-nos avisando com pequenos pormenores, mas nós, cheios de nós próprios, das nossas certezas, não queremos ouvir, não queremos ver, não queremos perceber, e vamo-nos afundando e mergulhando no nosso orgulho, que se vai rindo de nós e arrastando-nos para o erro e a mentira.

Mas Tu não desistes dos Teus, e vais insistindo, até que num determinado momento uma luz desponta e se faz ver por cima do orgulho, a razão prevalece, e envergonhados percebemos como o orgulho nos cegou.

E voltamos à luta, e aceitamos a lição, e conscientemente sabemos que a luta é diária e que ainda vamos cair mais vezes.

Mas a maior, a mais importante e definitiva certeza, Senhor, é que Tu nos amas com amor eterno, que o Teu perdão é infinitamente maior que o nosso pecado, e que Tu nunca, nunca nos abandonas porque és sempre fiel e não podes deixar de o ser.
«Se formos infiéis, Ele permanecerá fiel, pois não pode negar-se a si mesmo.» 2 Tm 2,13

Senhor, falo-te no plural, mas a confissão é minha!

Ajuda-me Senhor, para que o orgulho não esmoreça a Fé que me concedeste, não abafe a razão com que me criaste.
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