quarta-feira, 27 de dezembro de 2023

FESTA DA SAGRADA FAMÍLIA DE JESUS, MARIA E JOSÉ

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Neste Domingo a Igreja celebra a Festa da Sagrada Família de Jesus, Maria e José.

Há tempos atrás, consegui ver o filme “Som da Liberdade”, com uma, (mais uma), interpretação extraordinária de Jim Caviezel, o actor que fez o papel de Jesus Cristo no filme “A Paixão de Cristo” e que, segundo o próprio, mudou totalmente a sua vida.

E porque refiro este filme quando me lembro da Festa da Sagrada Família?

O filme retrata com uma crueza e uma realidade impressionantes, o rapto de crianças, que depois são vendidas, usadas e abusadas em redes de pedofilia internacional.

O filme impressionou-me fortemente e por algumas vezes me vieram as lágrimas aos olhos, mais ainda se nos lembrarmos que retrata uma história real.
Deixou-me uma sensação de impotência, raiva, de tal modo que quase me apetecia voltar a ter uma G3 na mão, (como na Guiné), e fazer “justiça” pelas minhas próprias mãos, se tal fosse possível.
Deus me perdoe, porque é muito difícil perdoar a esta gente, que trata assim as crianças.

As famílias daquelas, ou melhor, destas crianças, porque o pesadelo continua com certeza, sofrem horrivelmente este horror e estas crianças, mesmo que sejam resgatadas, não voltam a ser crianças na sua inocência de meninos e meninas.

Celebrando a Festa da Sagrada Família, não posso deixar de pensar nestas crianças e nestas famílias e, levantar uma prece sentida, profunda, emocionada, a Jesus, Maria e José, para que no amor que OS une continuamente, pois é o amor infinito e eterno de Deus, toque estas crianças, estas famílias, para que nesse amor encontrem algum consolo.

Peço também à Sagrada Família, (embora confesso que com dificuldade), que esse mesmo infinito amor toque os corações dos homens que praticam tais actos, os que raptam e os que abusam, para que percebam que a inocência das crianças é intocável, e que «melhor seria para ele que lhe atassem ao pescoço uma pedra de moinho e o lançassem ao mar, do que escandalizar um só destes pequeninos.» Lc 17, 2

Só acreditando na infinita misericórdia de Deus, algum consolo vem ao meu coração perante a recordação desta história, infelizmente sem fim, pois acredito firmemente que estas crianças e estas famílias estão no colo de Deus, embora possam não o saber por agora.

Que a Festa da Sagrada Família de Jesus, Maria e José, nos exorte a sermos mais família de amor e união, nas nossas famílias e na família de Deus, que é a Igreja.





Marinha Grande, 27 de Dezembro de 2023
Joaquim Mexia Alves

segunda-feira, 25 de dezembro de 2023

SER NATAL

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Hoje em dia diz-se e escreve-se muito que “eu sou isto ou aquilo”, conforme as causas que se defendem.

Pois hoje eu quero dizer e escrever que “eu sou Natal”!

Ou melhor, que eu quero ser Natal em mim e para os outros.

Ou seja, quero reflectir, testemunhar o amor de Jesus Cristo em mim, que apenas pode crescer, se eu o viver como amor aos outros.

Eu querer ser Natal assim, quero, mas para isso tenho que tentar sempre e cada vez mais, ser comunhão em Cristo, em Igreja, para reflectir o amor de Deus em mim, aberto a todos os que O querem encontrar.

E só O podem encontrar se eu for servo inútil do Seu amor, porque eu apenas O pude encontrar porque outros O reflectiram e testemunharam para mim.

Por isso eu só posso ser Natal para os outros, porque outros foram Natal para mim.

E esses só foram Natal para mim, porque Jesus Cristo se quis fazer Natal para todos.


«Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens por Ele amados.»





Marinha Grande, 25 de Dezembro de 2023
Joaquim Mexia Alves

quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

A “DECLARAÇÃO” DO NATAL

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E depois pensei escrever sobre a recente Declaração do Dicastério para a Doutrina da Fé, (da qual não entendi bem a necessidade, visto haver uma outra de há apenas dois anos), mas o Natal que se aproxima levou-me a pensar mais no «Verbo que se fez homem e habitou entre nós». (Jo 1, 14)

E quis ver Aquele Menino, o Filho de Deus, deitado nas palhas, numa manjedoura, rodeado de Maria e José, numa pobreza mitigada pela incomparável alegria de um nascimento, ainda por cima do Emanuel, o Deus connosco.

E a acompanhá-lO uns pastores, gente da mais baixa extração naquele tempo, que ali, naquela gruta, foram acolhidos para darem graças ao Menino que nasceu para dar a Vida Nova ao mundo que O havia de rejeitar.

E lá veio outra vez a tal Declaração ao meu pensamento e quis perceber que Jesus Cristo, logo no início da sua vida terrena, acolheu e foi acolhido pelos mais escorraçados da sociedade daquele tempo, a par com aqueles a quem a tradição quis chamar reis ou magos.

Mudou a vida daqueles pastores, daqueles reis, daquela gente que foi ver e acolher e ser acolhido por Jesus Cristo, o Filho de Deus feito Homem?

Não sabemos bem, mas sabemos que os pastores começaram desde logo a «glorificar e louvar a Deus», (Lc 2,20), e sabemos também que os ditos reis «regressaram por outro caminho» (Mt 2, 12) a suas casas.

Eu sei que a minha vida mudou quando me deixei encontrar por Ele, e que o caminho que então seguia, mudou para um novo caminho e uma nova vida em Cristo.

E também sei que o peso do meu pecado era enorme e avassalador, mas que tudo isso foi mudado pelo encontro com Aquele Menino feito Homem.
E sei que Ele me abençoou, mas, obviamente, não abençoou o meu pecado, mas o perdoou, quando dele tomei consciência e me arrependi, pedindo perdão.

Então lá volto à tal Declaração, querendo perceber que uma bênção dada a alguém, seja quem for e em que situação esteja, não abençoa o pecado nem a situação de pecado, mas abençoa o pecador e apenas o pecador, para que possa tomar consciência do seu pecado e, arrependendo-se, pedir perdão, para “regressar à vida por outro caminho, glorificando e louvando a Deus”.

Ah, afinal estava a escrever sobre o Natal e de como é imprescindível que o Menino Jesus nasça em cada coração!





Marinha Grande, 20 de Dezembro de 2023
Joaquim Mexia Alves

segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

CONTO DE NATAL 2023

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Sentada no cadeirão do lar onde passava os longos dias da sua velhice, sonhava acordada vendo os seus filhos entrarem pela porta daquela sala para lhe darem um beijo de Boas Festas pelo Natal.

Olhava para as suas companheiras e companheiros pensando que alguns deles, coitados, não teriam filhos que os viessem beijar e desejar bom Natal.

Verdade seja dita, pensou ela, que há muito tempo os seus filhos não a vinham visitar, mas o seu coração de mãe, cheio de amor, ia encontrando desculpas para eles não a visitarem.

Coitadas das suas “meninas” e “meninos”, com certeza atarefados nas suas vidas de trabalho, de família, já com filhas e filhos a criar e que, por isso, não teriam tempo para a visitar.

Sorriu ao lembrar-se das suas netas e netos que há tanto tempo já não via e até lhe parecia, (a sua memória já não era muito fidedigna), que talvez houvesse alguns que ainda não conhecia.

Os seus olhos doces encheram-se de lágrimas suaves quando se lembrou da sua antiga casa e do Natal, ainda com o seu homem e aquelas seis filhas e filhos que Deus lhes tinha dado ao redor da mesa, numa algazarra alegre e bem disposta.

Que saudades lhe vieram ao coração ao lembrar-se de todos esses Natais onde se percebia bem como a família ia crescendo sem parar.

Fechou os olhos e numa prece a Deus, pediu por todos eles e também, (embora com algum receio que estivesse a pedir demais), que o Menino Jesus lhe concedesse a alegria de viver esses Natais tão realmente quanto possível.

Regressou à realidade do lar e da sala onde se encontrava, respondeu qualquer coisa, sem pensar, a uma qualquer pergunta da companheira do lado, olhou para o grande calendário pendurado na parede, (também não era preciso ser tão grande, até parece que ali estava para contarem os dias que lhes faltavam para partir definitivamente!!!), e viu que era dia 24 de Dezembro pelo que, pensou ela quase num sonho, ainda havia tempo para a família a vir visitar.

A tarde chegava ao fim e ela, resignadamente, olhou para o crucifixo pendurado na parede e para o pequeno presépio colocado numa mesa de canto, e rezou baixinho:
Obrigado Jesus porque quiseste nascer para nós, quiseste ser igual a nós e até morrer por nós, para nos salvar.
Olha por todos os meus e dá-lhes tanta felicidade como me deste a mim, até mais, eu Te peço, e não deixes que nunca se sintam sós.
Perdoa por me sentir nestes momentos tão só, tão desamparada, mas olha, Jesus, coloco estes momentos na Tua Cruz, dou-tos como presentes no Teu Presépio, oferecendo-os pela conversão, felicidade e salvação de todos os meus.

Aquela oração trouxe uma paz e uma alegria serena ao seu coração e ela sorrindo, pensou: Sou tão feliz por ter Jesus comigo!

Foi nessa altura que a porta da sala se abriu e o seu filho mais velho entrou e chegando a ela beijou-a com toda a ternura dizendo-lhe: Anda, mãe, a empregada do lar já está a fazer-te uma pequena mala para vires jantar e passar a noite de Natal a nossa casa!

Ela nem sabia o que dizer e as lágrimas inundaram-lhe a cara.

À porta de casa do seu filho, depois de sair do carro, beijou-o novamente e de mão dada com ele entrou em sua casa, que afinal era a mesma casa que tinha sido sua.

Ao chegar à sala da casa, ficou completamente rendida à alegria, à saudade, a algo tão inexplicável que parecia lhe “rebentava” qualquer coisa no seu coração.

Ali, naquela sala de tantas memórias, estavam todas as suas filhas e filhos com as suas famílias, que a rodearam e cobriram de beijos e abraços.

Ia jurar que a um canto da sala estava o seu querido marido, sorrindo para ela de felicidade.

Fechou os olhos e rezou: Obrigado Jesus, porque me ouviste e agora me fazes viver novamente o Natal de sempre!





Marinha Grande, 18 de Dezembro de 2023
Joaquim Mexia Alves


Com este Conto de Natal quero desejar a todos quantos visitam este espaço, e às suas famílias, um Santo Natal e um Feliz Ano Novo, cheio das bênçãos de Deus.
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quarta-feira, 13 de dezembro de 2023

QUERIDO PADRE

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Está a chegar o Natal e quero escrever-te uma carta simples para te desejar um Santo Natal, mas sobretudo para te dizer que te amo com o meu coração de cristão, e que me fazes sempre muita falta.

Sei bem que vais andar agora numa azáfama, a tentar chegar a todo o lado, a programar celebrações, quase pedindo a Deus que te dê o dom da ubiquidade.
E vais ouvindo lindas coisas, vais receber uns presentes, mas também vais ouvir as críticas de que era melhor dantes, a Missa do Galo era à meia-noite e não às 22 ou 23 horas, o presépio é com musgo e não com outras coisas, etc., etc., etc.

E vais andar a pensar na homilia do Natal, no que podes dizer de novo, como podes tocar os corações mais fechados, como podes unir as famílias, como podes acolher bem os que vêm de fora, enfim, um sem número de coisas que permanentemente vêm ao teu pensamento.
Ah, é verdade, e os doentes que estão em casa, nos lares, os que estão sozinhos, que não têm ninguém, que precisam de uma visita, mesmo rápida que seja.

Sentes-te assoberbado e pensas para ti mesmo que não consegues chegar a todos os lados.
E ainda nem sequer sabes se tens tempo para estar com a tua família, a outra, aquela que te trouxe ao mundo.

Por um momento põe isso tudo de lado, vai até à “tua” igreja, àquela hora que sabes que não está lá ninguém e ajoelha-te em frente do sacrário.
Não fiques de joelhos, não te canses, sabes bem que Ele não se importa que estejas sentado.
Não tentes rezar seja o que for, pede-Lhe apenas que te dê paz, discernimento, paciência, amor, enfim, que te dê em dose redobrada o Espírito Santo.
E fica ali, quieto, a gozar o silêncio, a paz, a companhia d’Aquele que um dia te chamou a seres padre.

Mais descansado agora lê o meu presente de Natal para ti.
Não que ele seja importante, mas porque eu é que tenho necessidade de te dizer o que me vai na alma e no coração.

Todos os dias rezo por ti pedindo a Deus que te ajude na missão que te deu.

Talvez eu seja um pouco egoísta, porque preciso muito de ti, do teu ouvido atento, do teu sorriso e por vezes da tua cara fechada, dos teus conselhos, que por vezes, desvalorizo como se eu soubesse mais, das tuas mãos ungidas que me trazem o Cristo vivo em cada Sacramento celebrado, da tua vida que afinal deste a Deus por Ele, mas também por mim e por todos os que somos Igreja.

O meu presente de Natal é escrever-te dizendo que nem consigo sequer perceber o que neste “terrível” ano sentiste e viveste, e ainda sentes e vives, por causa daqueles outros que mancharam indelevelmente o ser Padre, mas que estou contigo e contigo vivo também essas dores em Igreja.

O meu presente de Natal é escrever-te dizendo que as tuas homilias me fizeram pensar, me levaram a corrigir caminho, me levaram a mudar atitudes, embora tu penses que não.

O meu presente de Natal é escrever-te dizendo que te agradeço muito teres-me recebido sempre que me aproximei de ti, às vezes repetindo coisas já sabidas ou outras sem sentido, mas que tu ouviste e fizeste um esforço enorme para me responderes com um ar calmo e pensativo.

O meu presente de Natal é escrever-te dando graças a Deus por ti, por todas as vezes que me ouviste em confissão e, sem qualquer ar superior, me disseste o que precisava ouvir e me deste a absolvição, porque te fizeste e Ele te fez Cristo para me perdoar.

O meu presente de Natal é escrever-te dizendo que aqui estou, que contes comigo, que se necessitares te apoies na fraqueza do meu ser, que tenhas a certeza das minhas orações por ti, que sempre louvarei a Deus pelo dom da tua vida.

O meu presente de Natal é escrever-te dizendo que não há presente maior que tu, meu querido Padre, me possas dar, que a tua vida que entregaste a Deus por mim e também por todos em Igreja e, por isso mesmo, Deus te dá como família a família que todos somos em Deus.

Afinal o meu presente de Natal é dizer-te que tu és o presente de Natal que Deus me dá todos os dias!

Recebe, querido Padre, o meu maior abraço cheio de amor por ti em Cristo, Nosso Senhor!




Marinha Grande, 13 de Dezembro de 2023
Joaquim Mexia Alves

terça-feira, 12 de dezembro de 2023

OVELHAS DESGARRADAS

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No fundo somos todos ovelhas desgarradas que o Senhor veio procurar, fazendo-se Um igual a nós, excepto no pecado.

Quis nascer de Mulher, como um de nós, e percorreu os caminhos e lugares à procura do Homem, ovelha desgarrada, levando sempre cada um daqueles que se deixava encontrar para o “redil” da salvação.

E continua a estar no meio de nós e não desiste de procurar as ovelhas desgarradas que se perdem nos caminhos do mundo.

E ainda são tantas!

Por isso, o Senhor se quer servir de nós, pobres pecadores já por Ele encontrados, e nos pede, mais ainda, nos convoca, para participarmos também nessa missão de encontrar as ovelhas desgarradas neste e deste mundo.

E o “redil” da salvação é a Igreja, sempre com as portas abertas para aqueles que se deixam encontrar.

E o Senhor não nos chama a “empurrar” as ovelhas desgarradas para o “redil” da salvação, mas sim a irmos à sua frente, dando testemunho do caminho que Ele alumia para nós pelo Espírito Santo, mas e também ao lado de cada uma dessas ovelhas desgarradas, dando-lhes a mão, amparando-as, intercedendo continuamente por elas.

E não nos esqueçamos que em tantos momentos das nossas vidas nós somos também essas ovelhas desgarradas que o Senhor procura, porque, por tantas e tão variadas coisas, nos afastamos do rebanho do Único e Bom Pastor.

Vem Senhor Jesus e toca-me para que eu me deixe encontrar por Ti!




Monte Real, 12 de Dezembro de 2023
Joaquim Mexia Alves

terça-feira, 5 de dezembro de 2023

MOMENTOS

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Há momentos
em que irrompes no meu coração,
no meu ser
e parece-me que não consigo conter
a alegria de Te sentir assim,
em mim.

Realmente,
pecador que sou,
como Te poderia ter em mim
no meu todo
a não ser pelo Teu amor sem fim
com que amas aquele
que mais pecou.

E nesses momentos
vêm-me as lágrimas aos olhos
enche-se-me o coração de cânticos
quero levantar os braços
dizer-Te da minha alegria
e de como sou feliz
por causa desses Teus abraços.

Parece quase que voo
que deixo de ter peso
e sou todo coração
mas Tu chamas-me
e com toda a Tua ternura
“obrigas-me” a pôr os pés no chão
pões-me a Palavra na boca
e mandas-me caminhar
conTigo
com os outros
em comunhão
e amar
amar
sempre e só amar…




Monte Real, 4 de Dezembro de 2023
Joaquim Mexia Alves