quarta-feira, 13 de dezembro de 2023

QUERIDO PADRE

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Está a chegar o Natal e quero escrever-te uma carta simples para te desejar um Santo Natal, mas sobretudo para te dizer que te amo com o meu coração de cristão, e que me fazes sempre muita falta.

Sei bem que vais andar agora numa azáfama, a tentar chegar a todo o lado, a programar celebrações, quase pedindo a Deus que te dê o dom da ubiquidade.
E vais ouvindo lindas coisas, vais receber uns presentes, mas também vais ouvir as críticas de que era melhor dantes, a Missa do Galo era à meia-noite e não às 22 ou 23 horas, o presépio é com musgo e não com outras coisas, etc., etc., etc.

E vais andar a pensar na homilia do Natal, no que podes dizer de novo, como podes tocar os corações mais fechados, como podes unir as famílias, como podes acolher bem os que vêm de fora, enfim, um sem número de coisas que permanentemente vêm ao teu pensamento.
Ah, é verdade, e os doentes que estão em casa, nos lares, os que estão sozinhos, que não têm ninguém, que precisam de uma visita, mesmo rápida que seja.

Sentes-te assoberbado e pensas para ti mesmo que não consegues chegar a todos os lados.
E ainda nem sequer sabes se tens tempo para estar com a tua família, a outra, aquela que te trouxe ao mundo.

Por um momento põe isso tudo de lado, vai até à “tua” igreja, àquela hora que sabes que não está lá ninguém e ajoelha-te em frente do sacrário.
Não fiques de joelhos, não te canses, sabes bem que Ele não se importa que estejas sentado.
Não tentes rezar seja o que for, pede-Lhe apenas que te dê paz, discernimento, paciência, amor, enfim, que te dê em dose redobrada o Espírito Santo.
E fica ali, quieto, a gozar o silêncio, a paz, a companhia d’Aquele que um dia te chamou a seres padre.

Mais descansado agora lê o meu presente de Natal para ti.
Não que ele seja importante, mas porque eu é que tenho necessidade de te dizer o que me vai na alma e no coração.

Todos os dias rezo por ti pedindo a Deus que te ajude na missão que te deu.

Talvez eu seja um pouco egoísta, porque preciso muito de ti, do teu ouvido atento, do teu sorriso e por vezes da tua cara fechada, dos teus conselhos, que por vezes, desvalorizo como se eu soubesse mais, das tuas mãos ungidas que me trazem o Cristo vivo em cada Sacramento celebrado, da tua vida que afinal deste a Deus por Ele, mas também por mim e por todos os que somos Igreja.

O meu presente de Natal é escrever-te dizendo que nem consigo sequer perceber o que neste “terrível” ano sentiste e viveste, e ainda sentes e vives, por causa daqueles outros que mancharam indelevelmente o ser Padre, mas que estou contigo e contigo vivo também essas dores em Igreja.

O meu presente de Natal é escrever-te dizendo que as tuas homilias me fizeram pensar, me levaram a corrigir caminho, me levaram a mudar atitudes, embora tu penses que não.

O meu presente de Natal é escrever-te dizendo que te agradeço muito teres-me recebido sempre que me aproximei de ti, às vezes repetindo coisas já sabidas ou outras sem sentido, mas que tu ouviste e fizeste um esforço enorme para me responderes com um ar calmo e pensativo.

O meu presente de Natal é escrever-te dando graças a Deus por ti, por todas as vezes que me ouviste em confissão e, sem qualquer ar superior, me disseste o que precisava ouvir e me deste a absolvição, porque te fizeste e Ele te fez Cristo para me perdoar.

O meu presente de Natal é escrever-te dizendo que aqui estou, que contes comigo, que se necessitares te apoies na fraqueza do meu ser, que tenhas a certeza das minhas orações por ti, que sempre louvarei a Deus pelo dom da tua vida.

O meu presente de Natal é escrever-te dizendo que não há presente maior que tu, meu querido Padre, me possas dar, que a tua vida que entregaste a Deus por mim e também por todos em Igreja e, por isso mesmo, Deus te dá como família a família que todos somos em Deus.

Afinal o meu presente de Natal é dizer-te que tu és o presente de Natal que Deus me dá todos os dias!

Recebe, querido Padre, o meu maior abraço cheio de amor por ti em Cristo, Nosso Senhor!




Marinha Grande, 13 de Dezembro de 2023
Joaquim Mexia Alves

1 comentário:

pedro s disse...

Não há dúvidas de que somos uma comunidade abençoada com os padres que a Igreja nos dá
E temos de ser agradecidos por Cristo estar presente nas nossas vidas também através deles