quarta-feira, 22 de fevereiro de 2023

OS DIAS DA PENITÊNCIA

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Imagem da Paróquia da Marinha Grande



Gostava, Senhor, que as cinzas que hoje me hão-de impor na celebração desta Quarta feira de Cinzas, fossem resultantes da fogueira onde queria que ardessem os meus pecados.

Assim, purificadas essas cinzas pelo Teu fogo divino, elas recordar-me-iam sempre as minhas fraquezas e eu agarrar-me-ia ainda mais a Ti, para em Ti encontrar as forças para resistir ao meu pecado.

Chegaram os dias da penitência!

Chegaram os dias em que me devo retirar para o meu deserto e ali, Senhor, perdoa-me a comparação, (cf Lc 4, 1), conduzido pelo Espírito Santo, encontrar o meu pecado, enfrentá-lo com a força do Teu Espírito, dele tomar consciência e, arrependido, voltar-me para Ti pedindo a graça de não mais voltar a pecar.

E em cada um destes dias, Senhor, Tu hás-de sorrir, olhar para mim cheio de ternurenta misericórdia, e dizeres-me que basta eu estender a minha mão para Ti, para Tu me agarrares e libertares das tempestades das areias do pecado que me querem enterrar.

Este meu deserto, Senhor, por Tua graça, tem ao fundo, lá longe onde ele acaba, (são tantos os meus pecados), uma luz extraordinária que tudo abrange e tudo toca, e que apaga todos os pecados, porque é a luz da Tua Ressurreição.

Este meu deserto, Senhor, é afinal o deserto de todos aqueles que em Ti acreditando, o percorrem e chegando junto de Ti, dizem como aquele leproso, (Mt 8, 2) – «Senhor, se quiseres podes purificar-me» - e ouvirão da Tua boca - «Quero, fica purificado». (Mt 8, 3)

Chegaram os dias da penitência, mas no meu coração arrependido, já se forma um grito contido, que gritarei no fim do deserto: Aleluia!




Marinha Grande, 22 de Fevereiro de 2023
Joaquim Mexia Alves

terça-feira, 14 de fevereiro de 2023

VERGONHA E ANGÚSTIA

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«Cheio de angústia, pôs-se a orar mais instantemente, e o suor tornou-se-lhe como grossas gotas de sangue, que caíam na terra.» Lc 22, 44

Veio ao meu coração esta passagem do Evangelho de Lucas e senti-a tão adequada ao que ontem foi dado a conhecer sobre os abusos na Igreja em Portugal.

Esta angústia que então sentiste, sentiste-a com certeza, Senhor, cada vez que uma criança foi abusada, foi violentada, foi destruída pelo pecado de alguns padres da Tua Igreja.

Não a posso sentir como a sentiste e sentes, Senhor, mas sinto também uma angústia terrível, uma tristeza profunda, uma vergonha enorme, pela dor causada àquelas crianças.

Como é possível, Senhor?

Que maldade tão presente, que vicio tão entranhado, que desprezo pela inocência, leva aqueles homens e tantos outros, a esta perversidade sem nome.

«E se alguém escandalizar um destes pequeninos que crêem em mim, melhor seria para ele atarem-lhe ao pescoço uma dessas mós que são giradas pelos jumentos, e lançarem-no ao mar.» Mc 9, 42

Levanto os meus olhos para Ti, Senhor, e suplico-te por aquelas crianças, algumas delas hoje homens e mulheres, para que encontrem no Teu amor o amor que lhes foi negado e terrivelmente enganado naqueles momentos.

Acolhe-os nos Teus braços, aperta-os junto ao Teu coração e faz-lhes sentir o Teu amor, o verdadeiro amor que agora, provavelmente, lhes é tão difícil perceber nas suas vidas marcadas por todo aquele horror.

E aos que cometeram tão horrorosos pecados, tão terríveis crimes, Senhor, que sintam sem medida as consequências dos seus actos, que recebam o justo castigo das suas acções, (quer na Igreja, quer na sociedade civil), que encontrem dentro de si o arrependimento verdadeiro para perceberem com toda a magnitude o horror daquilo que praticaram.

E à Tua Igreja, Senhor, (que somos todos nós baptizados que em Ti acreditamos e Te seguimos), dá-lhe forças e ânimo para continuar a anunciar o Teu amor, o Teu Reino, mas não deixando de, em todos os momentos, reconhecer as terríveis feridas abertas por alguns dos seus filhos transviados.




Monte Real, 14 de Fevereiro de 2023
Joaquim Mexia Alves

terça-feira, 7 de fevereiro de 2023

A SEDE DE JESUS

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«Tenho sede»,
dizes-me Tu,
numa súplica de amor constante,
com a cabeça baixa,
pendente,
dolorida de tanto sacrifício
que aceitas por mim
e por todos.

E eu, de mãos vazias,
Senhor,
nem uma «esponja embebida em vinagre»
tenho para Te dar.

Perdoa-me, Senhor,
por ser assim
tão pobre em amor,
tão fraco em confiança,
tão frágil em esperança.

Levantas a cabeça
e olhas-me nos olhos.

No Teu olhar vejo a Paixão,
mas o Teu sorriso abre-se
e dizes-me cheio de ternura:
Meu filho,
apenas quero o teu coração,
a tua vida,
o teu amor,
para acalmar esta secura!




Monte Real, 7 de Fevereiro de 2023
Joaquim Mexia Alves

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2023

NO TEU CORAÇÃO, SENHOR!

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Olho-Te crucificado
abro o meu coração
de joelhos peço perdão
abate-se o meu pecado.

Da Tua ferida do lado
sai o sangue e sai a água
mesmo assim perdoado
dói-me sempre esta mágoa.

Quero sentir a Tua dor
mas Tu abraças-me
e beijas-me
e dizes-me cheio de ternura:
De Mim quero apenas
que tu sintas o Meu amor.

Prostro-me
abandonado no chão,
não ouso sequer olhar-Te
e de mim sai apenas um grito:
Perdão,
meu Deus,
perdão!

Puxas-me para Ti,
levantas-me,
sorris-me,
mesmo na Tua dor.

E eu sinto o Teu amor
quando me dizes sorrindo:
Não temas,
meu filho,
não temas,
tu estás no meu coração!



Monte Real, 2 de Fevereiro de 2023
Joaquim Mexia Alves