quinta-feira, 30 de abril de 2020

CAMINHOS


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O caminho,
abre-se à tua frente!

Será mesmo por ali,
perguntas tu,
vai por ele tanta gente!

Olhas em redor
e descobres outro caminho,
mais pobre,
mais difícil de seguir,
e vão tantos por ali também,
que sentes vontade de ir.

Olhas para o longe,
a ver se vês conhecidos,
uns conheces de vislumbre,
outros conheces bem,
mas lá ao fundo,
à frente do caminho,
ias jurar para ti próprio
que vês uma figura de Mãe.

Por onde vai a Mãe,
pensas tu,
vou bem com certeza!

O caminho pode ter buracos.
planícies e montanhas,
curvas e linhas rectas,
coisas de fácil transpor,
outras cheias de artimanhas,
rios e vales também,
mas se é por lá que vai a Mãe,
é por lá que vai o amor,
e se por lá vai o amor,
então,
sem dúvida,
é o caminho de
Deus Nosso Senhor.  



Marinha Grande, 30 de Abril de 2020
Joaquim Mexia Alves
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domingo, 26 de abril de 2020

EMAÚS


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E lá íamos nós, o Cléopas e eu, a caminho de casa em Emaús porque pelos vistos a promessa afinal não tinha passado disso mesmo, promessa.
Íamos calados e pesarosos porque a esperança tinha sido grande mas afinal nada tinha acontecido.

Quando aquele sujeito se juntou a nós e começou a fazer perguntas dissemos duas coisas ou três, não fosse o homem ser algum espião ou coisa assim parecida.
Curiosamente o olhar dele, a face sorridentemente calma, a postura de uma total entrega, tranquilizara-nos apesar das perguntas que o homem nos tinha feito, sobre uma coisa tão conhecida que ele nem parecia deste mundo.

Não lhe perguntámos nada mas a certa altura começo a explicar-nos as Escrituras, mas de um tal modo, que parecia mais algo vindo dele, do que da história que já tantas vezes tínhamos ouvido contar.
Parecia algo que não nos entrava pelos ouvidos ou pela cabeça, mas que ia direitinho ao coração.
Curiosamente Emaús parecia cada vez mais longe e a nossa vontade de lá chegar ia diminuindo à medida que o homem nos falava.

Começava a anoitecer e olhando um para o outro perguntávamo-nos como fazer para ele ficar connosco.
Ora uma refeição nunca se nega e por isso logo o convidamos para cear, para ficar connosco.
Estranhamos um pouco o modo amoroso como pegou no pão, mas daquele homem tudo havia a esperar, já o tínhamos percebido!

Então, abençoou o pão com palavras de puro amor e deu-nos a comer.
Quando demos por isso tinha desaparecido, ou melhor já não estava à nossa vista, à vista dos nossos olhos, mas sentiamo-lO profundamente no coração, no nosso todo, na nossa vida!

Exclamámos ao mesmo tempo: É o Senhor!

Nós não O víamos, mas viamo-lO! Estranho! Os nossos olhos abriam-se mas nada viam, enquanto parecia que o nosso coração via melhor que os nossos olhos, pois víamos distintamente o Ressuscitado connosco.

Partamos, partamos, dissemos um ao outro, vamos dizer aos nossos irmãos em Jerusalém que o caminho de Emaús afinal acabou em caminho de promessa cumprida.

Já não interessava a noite, nem o caminho pedregoso, o importante agora era dizer aos ouros que afinal a promessa tinha sido cumprida e que Jesus Cristo tinha Ressucitado!
Depois de dizermos aos outros, que entretanto se alegraram connosco porque também já sabiam da Boa Nova, partimos cada um para o seu lado.

Já ao longe olhámos para trás e gritamos um ao outro: Temos que O anunciar!!! Adeus Cléopas! Adeus Joaquim!!!!

E assim tem sido até hoje pelos caminhos de Emaús!




Marinha Grande, 26 de Abril de 2020
Joaquim Mexia Alves
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Nota: A "culpa" é do Padre Rui Ruivo, Vigário Paroquial da Marinha Grande
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sexta-feira, 24 de abril de 2020

DEPOIS VEM E SEGUE-ME!


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Senhor, que hei-de fazer para Te seguir, para Te viver?

Olha para ti:
Traz essa roupa e apenas o que tiveres de teu.
Traz todos os teus defeitos e fraquezas, mas também as qualidades e os talentos.
Não queiras ir buscar mais nada pois o que tens agora até te sobra.

Ah, não te esqueças de trazer o teu passado, o bom e o mau, as ofensas e os perdões, os gritos e as lágrimas, as doenças e o bem estar, os desânimos e as alegrias, as tristezas e as alegrias, enfim toda a tua vida, e não tenhas medo porque vais ver que afinal tudo isso não pesa nada.

Traz também a família que tens e no coração traz os vizinhos e todos os outros também.

E não te esqueças, dá a mão à Minha Mãe.

Depois, depois vem e segue-Me!




Marinha Grande, 24 de Abril de 2020
Joaquim Mexia Alves

quinta-feira, 23 de abril de 2020

BEM FEITA!!!!!


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Obediente , não só pela idade mas também pela pressão da família, e do espírito militar que ainda vive nos meus neurónios, não tenho saído de casa nem um poucochinho.

Mas hoje teve que ser, pois era absolutamente necessária uma ida ao supermercado.

Lá me fardei a propósito, ou seja, arranjei umas luvas e uma máscara e avancei sem temor para o meu destino.
Que diabo uma bala da Kalash há-de ser mais rija do que porcaria dum vírus chinês.
(Se ainda fosse um RPG7)???

Cheguei, estacionei e constatei que as luvas serviam na ponta das orelhas, (que as minhas mãos são do tipo pá), e que ter aquilo ou não era “igual ao litro”! Por isso lixo com elas!

Coloquei então a máscara, (que raio de coisa incómoda), e pus-me na bicha, desculpem, fila, que hoje em dia tem que se ter muito cuidado com as palavras!!!

Estava  eu ali meditando na minha capacidade de paciência, quando um garboso Agente da PSP perguntou: Está aqui alguém com mais de 70 anos???

Pensei logo em pirar-me não fosse alguma chamada para a bicha, perdão, fila da eutanásia!!!!

Mas não, pois no seguimento do meu temeroso sim, ou seja, que já vou nos 71, mandaram-me entrar pois tinha prioridade!!!!

Afinal a idade sempre é um posto!!!!
E se morrer hoje também já não chateio amanhã!!!!!

Lá entrei e curiosamente consegui andar com o carrinho sem bater nos outros, e as pessoas cumprimentavam-se a algumas até sorriam, pareceu-me!!!!
(Também podia ser a pensar: Este na próxima pandemia já não chateia ninguém!!! Maldade minha, claro!)

A meio do percurso das compras começou então o meu martírio, para além das dores nas costas.
O raio da máscara não me deixava respirar bem, (tenho problemas em respirar pelo nariz), e a coisa tornou-se de tal modo que comecei a pensar se a máscara era para me salvar ou me matar mais depressa.

Tomei uma decisão à Ranger e pus a máscara a ¾, ou seja, era só para “inglês ver”!!!!

Fiz as minhas compras e reparei que desta vez não tinha ninguém na caixa incomodado com a minha vagareza, nem ninguém com aqueles esgares do tipo – o raio do velho bem podia ficar em casa – mas até a menina da caixa me ajudou diligentemente a colocar todas as compras.

Então aí é que foi bom de se ver eu a sair da loja com o meu ar triunfal ao qual só faltava um grito contido: Tenho mais de 70 anos! Tenho mais de 70 anos! Bem feita!!!!!

Obrigado meu Deus pelos meus 71 anos!


Marinha Grande 23 de Abril de 2020
Joaquim Mexia Alves
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sexta-feira, 17 de abril de 2020

HUMILDADE II


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Humildade no fundo é a verdade!

A humildade é conscientemente, em verdade, procurar-se e encontrar-se como realmente se é.
E esta procura não vem só de cada um, mas também de ouvir os outros sobre nós, e mesmo que não agrade o que se ouve, tentar encontrar o meu eu verdadeiro, muito especialmente perante Deus.

Pode-se enganar a Deus?
Claro que não!
Mas podemos muito bem pensar que O conseguimos enganar.
Mas Deus não ouve as minhas palavras, ou seja, ouve-as mas com o sentido do meu coração e é esse sentido que Lhe interessa.
Correspondem as minhas palavras ao verdadeiro sentir do meu coração elevado a Deus?
Então sou humilde, porque reconheço em Deus a capacidade de me ouvir e atender segundo a Sua vontade.
As minhas palavras pretendem levar Deus a fazer aquilo que eu quero?
Então não há humildade em mim, porque não tenho humildade para aceitar a Sua vontade.

Mas posso eu alguma vez considerar-me “não humilde” perante Deus?
Claro que sim e a Bíblia está cheia de histórias dessas.

Se o ser humilde, se a humildade é a verdade de reconhecer Deus em mim e o que Ele faz em mim, então essa humildade repercute-se junto dos outros e nos outros.

Posso eu apresentar-me aos outros para agradar, (por exemplo), de modo que eu sei conscientemente que não eu sou?
Posso, claro, mas se acredito que Deus está nos outros e não podendo enganar a Deus, rapidamente a minha falta de humildade vem ao de cima.

Então e se eu fizer uma coisa bem feita e me elogiarem e aplaudirem devo recusar tais expressões?
Claro que não, mas sim agradece-las e transformá-las num louvor a Deus que fez em mim o bem que eu expressei.

Deus quer servir-se de nós, na medida em que nos disponibilizamos para Ele, mas aprecia, obviamente, essa nossa disposição e reconforta-a com o agradecimento dos outros, mas sobretudo com aquilo que Ele na Sua infinita sabedoria sabe que necessitamos, por isso mesmo a verdadeira humildade reconhece em Deus a obra feita embora a ferramenta possamos ser nós.

Então não é “mau” quando me elogiam sentir-me um pouco vaidoso?
Claro que não!
Deus conhece-nos e sabe que essa é uma das nossas fraquezas.
Mau seria se me detivesse nesse orgulho com pensamentos de superioridade, tais como “Deus escolheu-me porque não havia mais ninguém”, ou “Deus recompensou o trabalho que tenho feito”…
Pedro era pescador e fez o discurso/homilia mais célebre da história da Igreja.
(Não consta que se tenha preparado afincadamente para isso a não ser pensar, aqui estou Senhor!).

Será que eu posso ver a minha humildade?
Comparando-me com quê ou com quem?
Com Jesus?
É melhor não!

Claro que muito haveria para dizer, escrever, sobre a humildade e mais ainda se lhe juntarmos a obediência, mas estas mal alinhadas palavras são apenas provocação para meditação, pensamento. Mais para mim do que para ouros.
No fundo é uma fala comigo passada a papel.

Há um momento em que sabemos que somos verdadeiramente humildes!
É quando pudermos dizer verdadeiramente: «Já não sou eu que vivo é Cristo que vive em mim.»




Marinha Grande, 17 de Abril de 2020
Joaquim Mexia Alves
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HUMILDADE


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Confesso que estou confundido.
Está coisa da humildade é um dom de muito difícil interpretação.

Se me ofereço é para dar nas vistas!
Se não me ofereço é à espera que convidem

Se "digo coisas" é porque estou a chamar a atenção para mim.
Se nada digo é porque me considero superior.

Se fazem o que eu acho sou fantástico.
Se não fazem o que eu acho estão enganados e não querem ouvir os outros.

Se agradeço os elogios é porque não sou humilde.
Se ninguém os faz é porque não perceberam nada do que eu disse.

Se só ouvem os jovens é porque não ligam aos velhos.
Se ouvem os velhos é para os contentar coitados.

Se sou preciso é porque sou bom.
Se não sou preciso é porque nada acrescento.

Se rezo muito é para me mostrar.
Se rezo pouco é porque tenho vergonha.

Se fico cá atrás na igreja é porque não quero que me vejam.
Se vou lá para a frente é para que todos me vejem.

Se falo e pergunto é porque sou chato.
Se nada pergunto ou opino é porque não me interesso.

Se dou abraços é para dar nas vistas.
Se não os dou é porque sou distante.

Se sou humilde é só para armar em humildade
Se não sou humilde é porque sou um vaidoso.

Se faço estas e outras perguntas é porque sou burro e não sei o que é a humildade.
Se não as faço é porque não me importo com o ser humilde.

Oh Jesus o que é a humildade?

É isso tudo e muito mais.
Ė sobretudo amor, muito amor aos outros, vestindo o avental!

Deixa-me que Te diga uma coisa Senhor: Não é nada fácil ser Teu discípulo!!!!!


Marinha Grande, 16 de Abril de 2020
Joaquim Mexia Alves
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domingo, 12 de abril de 2020

LUZ QUE GERA VIDA


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Sinto-me solo
e semente.
Sinto-me água
e um pouco de gente.

Sinto-me planta,
e vejo-me flor.
desponto da terra
sob o calor
do meu Senhor.

É sem dimensão este Sol
todo de vida iluminado
porque a sua luz
chega sempre a todo o lado!

Nem podia deixar de ser,
pois não é possível conter
a Luz do Ressuscitado!!!!!


Domingo de Páscoa
Marinha Grande, 12 de Abril de 2020
Joaquim Mexia Alves
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sábado, 11 de abril de 2020

A GRANDE FESTA!


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Começo a escrever e sinto que estou a rasgar o silêncio do papel.

É que o silêncio hoje, por mais ruidoso que seja, é um silêncio profundo que vem de dentro para fora, como a Vida que já rompe a morte para proclamar a vitória.

Tudo se aquieta, e mesmo o barulho da vida, é silencioso, como o cantar do pássaro é o prenúncio do salmo mais belo: O Salmo da Vida!

Hoje a tristeza em mim chama-se espera, a minha ansiedade chama-se confiança e a vida em mim é toda ela esperança.

Há um pulsar novo na terra!
Será que a terra faz festa quando uma semente rompe a terra e sai para fora verde de esperança?

Se assim for, meu Deus, que festa extraordinária se prepara, quando dentro em pouco, vencida a morte da terra, a Vida do Céu despontar iluminando tudo e todos!!!!

O melhor é calar-me, parar de escrever, aquietar o coração e ….
Esperar a RESSURREIÇÃO!



Marinha Grande, 11 de Abril de 2020
Joaquim Mexia Alves
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sexta-feira, 10 de abril de 2020

A CRUZ É A LIBERDADE!


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A Cruz é a liberdade!
Estranho, não é?
E, no entanto, foi com toda a liberdade que abraçaste a Cruz, porque era vontade do Pai.
Não Te foi imposta.
Foi por Ti querida e aceite.

E a minha cruz é vontade do Pai, também?
Nalgumas coisas será, porque só Ele sabe o que é bom para mim, noutras é vontade minha e quando assim é torna-se sofrimento insuportável, em nada comparável à liberdade.

Ah, sim, sou livre de aceitar o que o mundo me propõe, mas rapidamente me apercebo que o mundo depois exige mais e mais e me vai coerctando a liberdade de dizer não.

Quando aceito a minha cruz, ou melhor, a cruz que permites em mim, não me revolto, vivo-a, sou livre, sou até livre de a retirar dos meus ombros se eu quiser.
E, no entanto, nada me exiges!

Como um verme, uma simples lagarta, rastejo por aqueles pedras no sopé da Tua Cruz.

De repente os nossos olhos cruzam-se e Tu dizes-me: Anda sobe à Cruz. Melhor ainda, abraça a minha Cruz que Eu abraçarei a tua.

Lentamente vou me arrastando com a minha cruz e subindo a Tua Cruz e quanto mais subo mais se confundem a Tua Cruz e a minha, porque a minha cruz deixa de existir para passar a ser apenas Tua.

E sinto-me livre!
Livre de tudo o que me quer retirar da Tua vontade e deixo-me ficar assim abraçado a Ti, à Tua Cruz e começo a sentir-me cada vez mais “imagem e semelhança Tua”, aquela para que fui criado.

Vês, dizes Tu, porque me entreguei por vós?
Porque sou livre e quero que todos vós sejais livres comigo!

De repente saio da minha meditação, mas ainda ouço no meu coração as Suas palavras:
Morre comigo e para mim, e assim viverás para sempre!!!



Sexta Feira Santa
Marinha Grande 10 de Abril de 2020
Joaquim Mexia Alves
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quinta-feira, 9 de abril de 2020

QUINTA FEIRA SANTA NA MINHA SALA


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Hoje, quando estiver sentado na minha sala esperando a celebração da Quinta Feira Santa vou tentar abstrair-me de tudo, da tal forma que, como disse São Paulo, eu diminua e Ele apareça.

Não, não vou fazer um esforço de imaginação e transportar-me para aquela Mesa.

Mas vou-me deixar ficar à espera do meu tempo, do tempo em que Ele sem eu perceber como, se der como alimento a mim, a este nada que no entanto Ele ama com amor infinito 

Não vou sentir o sabor do pão, da hóstia consagrada, mas vou sentir, eu sei, chegar ao meu coração aquele infindo amor, aquela paz, aquela infinda graça de me sentir possuído por Ele, sem cadeias nem correntes, mas com laços de amor tão profundos que serão inquebráveis.

E então vou prostrar-me dentro de mim e vou dar-Lhe graças, vou goza-lO em mim, vou deixar que Ele tudo toque em mim e por um tempo serei um com Ele e Ele, um comigo.

E há-de vir o inimigo instilar em mim pensamentos de que aquilo não foi nada, que só se O recebesse na hóstia consagrada é que era comunhão, que não aconteceu ali Eucaristia nenhuma, mas apenas teatro, e então o Espírito Santo há-de irromper em mim e dizer à horrenda figura: Vai-te que não és nada. Já foste vencido. A Deus, nestas circunstâncias, basta o desejo sincero do coração para tornar realidade a Comunhão desejada.

Nem me dou ao trabalho de o ver sair cabisbaixo, derrotado, porque o Espírito Santo já me tomou nas Suas mãos e leva-me a Jesus e ao Pai, dizendo:
Aqui está ele. Já aprendeu connosco que o amor não tem distância.

E eu na minha sala vou dizer baixinho: Meu senhor e meu Deus. Glória a Ti, para sempre!


Marinha Grande 9 de Abril de 2020
Joaquim Mexia Alves
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