segunda-feira, 18 de abril de 2022

DIÁLOGOS COM O DIABO (16)

.
.






Diz ele: Vocês acreditam em cada coisa! Então o Homem era Deus e deixava-se morrer assim!
Se fosse Deus fazia um gesto, nem precisava de um gesto, mas apenas um pensamento e tudo ficava resolvido com os seus inimigos derrotados.


Digo eu: Pois! Mas ainda não percebeste que para Ele todos aqueles não eram seus inimigos? Eram apenas gente que “não sabia o que fazia”! Não percebeste que Ele veio para salvar todos! Mesmo todos!




Diz ele: Então e julgas que aqueles que O crucificaram se salvaram?

Digo eu: Não sei! Mas eu não julgo nem posso julgar porque não sei o que aconteceu na vida de todos eles. Ele é que julga e sabe se o arrependimento em algum momento tocou aqueles corações.


Diz ele: És um ingénuo! Parece que ainda acreditas em “contos de fadas”!

Digo eu: Em “contos de fadas” não acredito, mas acredito no amor infinito e eterno de Deus. E o amor infinito e eterno de Deus tudo pode, desde que o homem se abra a Ele.


Diz ele: A verdade é que se Ele se fosse Deus podia ter-se salvo a Si mesmo e afinal não o fez porque não podia!

Digo eu: Posso responder-te de dois modos que obviamente não esgotam a resposta:
O primeiro, e de modo simbólico, é que realmente não podia salvar-se a Si mesmo porque o seu amor pelos homens o levava a entregar-se por eles e se se salva-se apenas a Si mesmo de nada teria servido a sua vinda até nós e como nós.
O segundo é que a salvação de cada um só faz sentido com a salvação de todos os outros.
Ele não veio dizer-nos cada um por si. Veio dizer-nos e chamar-nos a amarmo-nos uns aos outros até à entrega pelos outros. Aquele que o faz é que é o «verdadeiro amigo»!


Diz ele: Então também acreditas, se calhar, que Ele ressuscitou?

Digo eu: Claro que acredito! Mais do que acredito, vivo a sua Ressurreição como verdade última da vida que Ele me deu na certeza de que, por sua graça, morrendo com Ele, com Ele também ressuscitarei.


Diz ele: Não me digas que nunca tens dúvidas?

Digo eu: Ah, sim tenho dúvidas. Claro que tenho. Mas essas dúvidas coloco-as nas minhas orações e Ele responde-me sempre, e de tantos modos, fortalecendo um pouco mais a minha fé.
Não há mal nenhum em ter dúvidas. Mal existe sim em querer permanecer nas dúvidas que é aquilo que tu queres que nós façamos.


Diz ele: Não se pode conversar contigo, porque tu não queres pensar racionalmente, mas sim deixar-te levar por uma fé cega.

Digo eu: Aí é que te enganas e é isso que te incomoda. Penso racionalmente e por isso mesmo é que tenho dúvidas e por isso mesmo é que a minha fé não é cega, mas sim iluminada por Ele que nunca deixa os seus à tua mercê.
Por isso afasta-te de mim e deixa-me viver a alegria do Senhor Jesus ressuscitado!



Monte Real, 18 de Abril de 2022
Joaquim Mexia Alves

domingo, 17 de abril de 2022

PÁSCOA 22










No caminho para o meu coração encontro uma mulher apressada, com uma expressão no rosto de espanto esperançoso e repetindo sem cessar: O corpo dEle não está lá!!!

Não alcanço bem o que quer dizer, mas percorro também esse caminho até ao meu coração à procura do lugar onde Ele deve estar sepultado, mas não O encontro.
Apenas vejo os vestígios de ali ter estado.

Uma esperança enorme desponta em mim e eu quero acreditar, com todo o meu ser.

Fico a olhar para o “túmulo” no meu coração, sem perceber, e ouço uma voz que me diz: «Porque procuras entre os mortos O que está vivo?»

E de repente a Verdade atinge-me porque O sinto no meu coração e uma alegria incontida toma conta de mim.

Abro a boca e solto um grito:
Ressuscitou! Jesus Cristo ressuscitou!

E começo, também eu a correr, e a gritar:
Vi o Senhor! Vi o Senhor!

Onde?
Perguntam-me uns quantos.

Eu respondo que já não é naquele “túmulo”, mas sim que Ele quis fazer morada no meu coração.

E eles perguntam-me: Podemos vê-lo também!

E eu respondo dizendo para O procurarem nos seus corações, vivo e real, porque Ele ressuscitou e é vida em cada um que quiser acreditar.

E continuo a correr, sem me deter, e sempre a proclamar, bem alto, para toda a gente ouvir:
Ressuscitou! Jesus Cristo ressuscitou!



Marinha Grande, 17 de Abril de 2022
Joaquim Mexia Alves

quinta-feira, 14 de abril de 2022

A CEIA

.
.




Era quinta feira, anoitecia e Pedro caminhava apressado para o abrigo onde normalmente serviam uma refeição quente aos sem abrigo, aos abandonados, aos esfomeados, aos necessitados.

Admirou-se quando chegou por ver uma multidão de gente à espera para entrar e pensou que não teriam comida para toda aquela gente.
Foi dizendo boa noite a todos, pedindo-lhes para esperarem um pouco e entrou na sala onde João e os seus dez companheiros iam arrumando tudo para poderem começar a servir as refeições.

Chamou João e os outros dez e foram à cozinha, onde um grupo de mulheres, coordenadas por uma outra chamada Maria, enérgica, mas com uma bondade incrível, preparavam a comida para o jantar.
Pedro disse a todos: Está uma multidão de gente lá fora para comer. Não sei como vai ser pois não temos comida para todos, sejam muito parcimoniosos na distribuição da comida para ver se podemos, pelo menos, dar qualquer coisa a cada um.

Abriram então a porta e de imediato a sala ficou cheia, tendo ainda ficado muita gente do lado de fora.
Pedro ainda disse aos que estavam de fora para esperarem um pouco pois iam ver se conseguiam arranjar alguma comida também para eles.

Quando se preparavam para começar a servir, Pedro reparou que na mesa logo à saída da cozinha estava um homem cuja presença chamava a atenção, tal era a tranquilidade que dele emanava e o olhar terno e amoroso com que olhava para toda a gente.
Aproximou-se dele e disse-lhe: Escolheste bem o lugar, porque aqui logo à saída da cozinha não te faltará com certeza alimento.

O homem olhou para ele, com um olhar que trespassava de amor e disse-lhe em tom suave mas com uma autoridade inquestionável: Olha Pedro, quero pedir-te que quando trouxerem as travessas com a comida da cozinha, as apresentem primeiro a mim, antes de servirem os convidados.

Pedro nem sequer questionou porquê, pois até já tinha ficado admirado com o facto de o homem saber o seu nome.
Chamou todos os outros à cozinha e disse-lhes para fazerem exactamente o que o homem lhe tinha dito, e pediu ainda mais uma vez para irem alertando as pessoas que estavam na sala, para o facto da comida ser escassa e poder não chegar para todos.
Ouviu-se então a voz de Maria, aquela que coordenava na cozinha, dizer: Olhem. «Façam tudo o que esse homem vos disser!» Jo 2, 5

E começaram a servir.
Cada travessa que saía da cozinha era apresentada ao homem que estava na primeira mesa, ele levantava os olhos para o alto, murmurava uma qualquer prece e abençoava as travessas.

Só passado pouco tempo é que Pedro, João e os seus dez companheiros se aperceberam que os que estavam na sala já todos tinham comido e ficado bem saciados, que outros tinham entrado e comido também, porque as travessas que entravam vazias na cozinha saíam cheias de comida para a sala sem ninguém perceber como.

Quando a refeição acabou e todos saíram, o homem, que ainda não tinha comido, chamou Pedro, João e os outros dez e pediu-lhes: Sentai-vos comigo aqui à mesa e comamos juntos.
Sentaram-se rodeando-o e olhando para ele com um misto de curiosidade, de espanto, mas também de uma esperança que não conseguiam perceber.

O homem disse-lhes então: Estais admirados com o que se passou? A verdade é que saciámos a fome a muita gente e «fostes vós mesmos que lhes destes de comer». Lc 9, 13
Mas saciámos-lhes apenas a fome do corpo, porque a fome do espírito, a fome do amor, a fome da liberdade, a fome da vida, só eu a posso saciar.

Reclinaram-se todos sobre a mesa olhando fixamente o homem e sentindo a paz extraordinária que dele emanava e naquele momento ali se sentia.

O homem olhou-os profundamente, tomou nas suas mãos um pão partiu-o e deu-o a todos eles dizendo: «Tomai, comei, isto é o meu corpo.». Mt 26, 26
Depois tomou o cálice, deu graças e deu-o a todos dizendo: «Bebei dele todos. Porque isto é o meu sangue, o sangue do Novo Testamento, que é derramado por muitos, para remissão dos pecados.» Mt 26, 28


«Foi então que, de repente, os seus olhos se abriram e O reconheceram» Lc 24, 31



Marinha Grande, 14 de Abril de 2022
Joaquim Mexia Alves