quinta-feira, 24 de agosto de 2023

A CORRIDA DA FÉ

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Um destes dias vi na televisão, (naquelas passagens rápidas pelos diversos canais), uma prova de atletismo em que o último atleta vinha com um enorme atraso em relação aos outros, mas mesmo assim não desistiu de alcançar a meta.

Fiquei com aquela imagem no pensamento e reflecti sobre ela, sobre o que é poderia retirar dela para a minha vivência diária da Fé.

Muitas vezes me incomodam, (confesso que poderia dizer que quase me irritam, infelizmente), as pessoas que, apesar de fazerem formações e cursos em Igreja, permanecem num desconhecimento das “coisas” da Fé, continuando a viver “agarradas” a práticas ancestrais, a piedades ditas populares, sem darem, (julgo eu), o salto em frente para, (segundo as minhas certezas), poderem encontrar o caminho de Deus em Igreja.

Devo dizer que nada tenho contra práticas que sempre foram Tradição da Igreja, nem contra as piedades populares vividas com sinceridade e entrega.

Fiquei então a pensar nessas pessoas, cristãos como eu, e percebi, ou melhor, julgo perceber a analogia com a imagem do atleta que chega em último lugar, muito depois de os outros já terem chegado.

No fundo o que interessa é chegar à meta, (claro que o objectivo de uma prova de atletismo é vencer, mas não estou a escrever sobre essas provas), e, obviamente, dentro das regras da prova, ou seja, na mesma pista em que todos os outros correm e seguindo os mesmos regulamentos.

Ora na nossa “corrida” da Fé, a nossa “pista de corrida” é a Igreja e os nossos “regulamentos” são a Palavra de Deus e a Doutrina da Igreja.

E o que interessa nesta “corrida” da Fé é alcançar a meta, ou seja, o encontro pessoal com Cristo que nos leva à salvação.

Mas o mais interessante nesta “corrida” da Fé, é que o Cristo que queremos “alcançar”, “corre” connosco, “empurra-nos”, dá-nos a mão, e em todos os momentos da “corrida”, exorta-nos para não desistirmos.

E ainda melhor, porque Ele já “alcançou” a “meta” para nós, ou seja, já nos deu a salvação.
Nós “apenas” temos que a aceitar, vivendo a “corrida” da Fé na “pista” que é a Igreja, segundo os “regulamentos” que são a Palavra de Deus e a Doutrina da Igreja.

Assim percebe-se que aquele que vai em último, se não desistir, (como aquele atleta não desistiu), chega à “meta” também, ou seja, “alcança” a salvação como todos os outros.

Os mais “simples” fazem o seu caminho e eu muitas vezes julgo-os.
Mas não disse Jesus Cristo que o Reino dos Céus é das criancinhas e daqueles que se fazem como crianças?

Então, o que eu e todos nós que nos dizemos cristãos temos que fazer, é “correr” todos no mesmo sentido, sem nos preocuparmos em chegar primeiro, mas sim, e muito mais importante, nos ajudarmos uns aos outros a chegar à meta, nem que tenhamos de ficar para trás, para levar “aos ombros” os que mais se atrasam ou têm mais dificuldade em “correr”.

Se assim fizermos, seremos Igreja, sem dúvida, e Cristo que “corre” connosco, impulsiona-nos pelo Espírito Santo, até chegarmos aos braços de amor do Pai.





Monte Real, 24 de Agosto de 2023
Joaquim Mexia Alves

terça-feira, 22 de agosto de 2023

CONVERSAS NO CAMINHAR III

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Provocação - E a Igreja? O que é para ti a Igreja?

Reflexão - Queres que te responda com o conhecimento formal, ou queres que te responda com o coração, com o sentir, com o viver?


P - Claro que com a segunda forma, visto que a primeira já a sabemos definir com a Doutrina, com o Catecismo, com tudo que é ensinado pela própria Igreja.

R - A Igreja, de uma certa forma, é para mim, passe a imagem redutora, um ninho!
Num ninho os passaritos recém-nascidos estão protegidos, têm o calor de que necessitam, são alimentados, os pais tratam deles com todos os cuidados.
Mas depois de crescerem no ninho partem para os seus voos, primeiro incertos, (e os pais têm que os fazer regressar ao ninho), e depois mais ousados, levando-os para outras paragens, onde irão também fazer os seus ninhos. Sinto-me assim muitas vezes em Igreja e sendo Igreja.


P - Mas isso é muito redutor, porque os passaritos apenas crescem, mas digamos que em nada contribuem para o seu ninho a não ser com a sua presença nele.

R - Claro que sim, tens toda a razão. Mas eu falava-te da Igreja num sentimento de ternura, de carinho, de protecção, de mãe, enfim, mas também de envio e proclamação da Boa Nova.


P - É bonita essa imagem, sem dúvida, mas abarca toda a Igreja?

R - Claro que não. A Igreja é para mim muito mais do que isso.
É presença da paternidade de Deus, no Sacramento do Baptismo.
É presença viva de Jesus, muito especialmente no Sacramento da Eucaristia.
É presença constante do Espírito Santo, no Sacramento da Confirmação.
É presença do perdão de Deus, pelas mãos dos seus sacerdotes agindo “in persona Christi”, no Sacramento da Penitência.
É presença do poder de Deus, no Sacramento da Unção dos Doentes.
É presença do amor de Deus em tudo, mas muito especialmente no Sacramento do Matrimónio.
É presença da entrega total de Deus e a Deus, na dádiva do Sacramento da Ordem.


P - Esses são os sete Sacramentos da Igreja.

R - Sim, mas a Igreja vai para além deles. É uma comunidade que é família, família de Deus.
Se cada um daqueles que é Igreja, meditasse e vivesse de acordo com a imagem de São Paulo do Corpo Místico de Cristo, poderíamos perceber/viver a Igreja como a mais bela “organização” fundada por Deus e feita pelo Homem.
Com efeito, se o Homem vivesse o ser Igreja como pertencendo realmente ao Corpo de Cristo, como poderia o Homem não se preocupar com aqueles que sofrem e constituem o mesmo Corpo em Cristo, como nos ensina São Paulo?


P - Mas mesmo aqueles que não pertencem à Igreja, que não são baptizados ou que até rejeitam a Igreja?

R - Claro que sim! Deus não faz acepção de pessoas e as portas da Igreja estão abertas para todos como o coração de Cristo está aberto para todos.
Cristo não morreu apenas por aqueles que estão ou são Igreja. Cristo morreu pelo Homem.
Então a missão daqueles que são Igreja é chamar os que o não são a encontrarem o Cristo vivo, que deu a vida por todos e a todos quer salvar.
Ninguém pode descansar enquanto souber que alguém ainda não ouviu falar de Cristo ou que ainda não se quer encontrar com Ele.


P - Mas e se alguém não se quer encontrar com Cristo, se alguém O rejeita, mesmo?

R - Não nos compete julgar e muito menos condenar. Devemos fazer tudo o que está ao nosso alcance para chegar até esses homens, com os nossos gestos, as palavras que Deus colocar em nós, o testemunho do amor de Deus em nós.
Devemos ser portadores em nós e connosco da alegria do encontro pessoal com Cristo e como esse encontro transforma a vida, como esse encontro se transforma em vida e “vida em abundância”.


P - Mas esse é um encontro real?

R - Claro que é um encontro real!
A realidade nem sempre é mensurável, nem sempre é visível aos olhos humanos, nem sempre é palpável, mas é sempre sentida, reconhecida e vivida.
Quando desejamos e temos esse encontro pessoal com Jesus Cristo tudo se transforma, pois Ele sente-se próximo, mais, sente-se em nós, (e nos outros), tudo toma a dimensão verdadeira da criação de Deus, e assim, a nossa relação deixa de ser uma relação distante ou rotineira, para passar a ser uma relação constante, em que O sentimos em tudo, em todos e por isso, O reconhecemos no amor e na entrega.
Mais ainda, nessa relação pessoal com Cristo, abrem-se os “olhos do coração”, os “olhos do ser”, e assim podemos ver Jesus Cristo na Eucaristia e dEle nos podemos alimentar inteiramente por Sua graça.


P - E o que fazer para ter essa relação pessoal com Jesus Cristo?

R - Ah, se houvesse fórmulas, preceitos, normas, regras! Se houvesse um manual, um compêndio, um qualquer código! Mas não há!
Para além de tudo o que sabemos da perseverança na oração, da resistência à tentação e ao pecado, da vivência em Igreja, da presença viva de Jesus Cristo nos Sacramentos e na Palavra, da nossa vontade de fazer a Sua vontade, há “apenas” a nossa entrega, confiante, esperançosa e sobretudo a abertura permanente ao Espírito Santo que nos revela Jesus Cristo e o Pai se por Ele nos deixarmos iluminar e conduzir.


P - E depois?

R - Depois é um caminhar, ou mais do que um caminhar, é um viver e amar para melhor conhecer, e conhecendo melhor, amar ainda mais.
Uma relação entre pessoas torna-se cada vez mais forte à medida que as pessoas se conhecem, conhecem melhor os desejos e vontades do outro, à medida que cada vez mais dialogam de tal modo que muitas vezes no silêncio entre ambos se conseguem escutar um ao outro e perceber o que ambos querem dizer, nada dizendo.
Ora se entre nós, humanos assim é, quanto mais numa relação com Jesus Cristo, com Deus, que sendo perfeito nos quer aproximar da perfeição e por isso torna mais perfeita essa relação de tal modo que a relação em si, se torna vida para aquele que se aproxima de Cristo.
E nesta relação pessoal com Jesus Cristo, podemos dizer que “metade” do caminho está sempre feito, porque Ele nos conhece melhor do que nós nos conhecemos e, portanto, o nosso “contributo” para essa relação é sempre e cada vez mais, não darmo-nos a conhecer, mas sim querer conhecê-lO sempre e cada vez mais.


P - Parece que nos afastámos da conversa inicial que era afinal sobre a Igreja.

R - Sim, pode parecer que sim, mas a verdade é que a Igreja é o Corpo Místico de Cristo, a cabeça da Igreja é Cristo, o centro da Igreja é Cristo e só em Cristo a Igreja vive e é o que Cristo quer que Ela seja.
Assim, só nesta relação pessoal com Cristo, somos verdadeiramente Igreja, ou seja, a Igreja deixa de ser algo fora de nós ou uma questão de pertença, para passar a ser o nosso próprio ser, para passar a ser a relação de amor com Deus e com os homens, com Cristo, por Cristo e em Cristo.





Marinha Grande, 22 de Agosto de 2023
Joaquim Mexia Alves

terça-feira, 15 de agosto de 2023

ASSUNÇÃO DE NOSSA SENHORA (2023)

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Meu querido Filho, manda-me ir ter contigo.

Mas porquê, Mãe, não estás bem na terra junto dos filhos todos que te dei?

Estou, meu Filho, bem o sabes, mas queria estar mais junto de Ti, aí no Céu, para Te pedir constantemente por eles.

Mas, Mãe, sabes bem que Eu dei tudo por eles, até a minha vida.

Eu sei, meu Filho, e também eles sabem, mas nem todos, infelizmente, e mesmo aqueles que sabem, muitos não acreditam verdadeiramente.

E achas tu, minha Mãe, que estando no Céu os podes guiar melhor?

Se eles me souberem junto de Ti, percebem que, mesmo sendo humanamente frágeis como eu era, podem sempre dizer sim, e com esse sim juntarem-se a Ti no paraíso.

Queres o melhor para todos eles, não é Mãe?

Meu Filho, só Tu é que sabes o que é melhor para todos eles, mas o meu coração de mãe, que Tu tão bem conheces, é assim, quer os todos junto de Ti, porque só em Ti encontram a verdadeira vida que Tu mesmo lhes deste.

Olha, Mãe, e se quando estiveres junto de Mim Eu te enviar para os visitares e lhes falares, tu vais?

Ó, meu Filho, quando Eu disse sim ao Pai, disse-o a Ti e ao Espírito Santo e disse-o para toda a vida, naquele tempo e na eternidade, por isso o que quiseres que eu faça envia-me a fazer, e eu apenas Te responderei: «Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra».

Então, Mãe, vem!
Entrega-te nas asas dos anjos e vem para junto de Mim, por toda a eternidade sem fim!




Marinha Grande, 15 de Agosto de 2023
Joaquim Mexia Alves

domingo, 13 de agosto de 2023

SURPRESAS DE DEUS

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Hoje, por causa da ausência do nosso pároco, tinha que fazer uma Celebração da Palavra na capela de São Pedro de Moel.

Regressar a São Pedro de Moel e à sua capela, (já no Domingo passado lá estive na Celebração da Palavra), é sempre um regresso ao passado sem a ele regressar, claro, mas “revisitando-o” para me lembrar sempre de como Deus me pegou pela mão e me conduziu ao Caminho, à Verdade e à Vida.

Foi nas noites de São Pedro de Moel e não só, que gastei muito da minha vida em coisas sem importância, ou pior, em coisas que me puxavam para baixo, pensando que era vida aquilo que era apenas e só gastar, mal, a vida que Deus me deu.

Obviamente que São Pedro de Moel, o local, a terra, as suas gentes, não têm culpa nenhuma, mas sim a minha falta de querer encontrar a vida verdadeira que Deus, ainda muito a tempo, me levou a descobrir.

Por isso, como acima escrevo, são sempre momentos muito intensos quando sou chamado a celebrar a Palavra, naquela, para mim, tão bela capela.

E hoje estava nervoso, mais uma vez, muito nervoso e ansioso, talvez não tanto pela celebração em si, mas com o medo de fazer “as coisas” mal, por causa da Palavra que é o próprio Deus, que ia celebrar, mas muito mais, infelizmente acredito, por causa do meu orgulho e vaidade, com o medo de fazer “má figura”.

E ali estava eu, rezando interiormente, e não aparecia ninguém da equipa de acolhimento escalada para abrir a porta da capela e, por causa disso, os meus nervos e a minha ansiedade iam aumentando.

E eu ia repetindo baixinho em jeito de oração:
Ó Senhor, porque me fazes isto! Sabes que sou nervoso, ansioso e parece que ainda provocas mais este nervosismo, esta ansiedade.

E Ele ia-me repetindo:
Deixa de pensar em ti e entrega-te a Mim.

Entretanto o tempo de dar início à celebração passava, e nada de chave, e nada de poder entrar na capela.

Finalmente o Pe Jorge atendeu o meu telefone, (depois da celebração a que presidiu na igreja da Marinha Grande), e disse que me ia levar a chave, ao que eu retorqui que, já que vinha, então podia celebrar a Santa Missa, ao que ele de imediato anuiu, apesar dos seus múltiplos afazeres na paróquia.

E eu avisei todos os que estavam à espera que afinal esperar com paciência tinha o seu “prémio” e em vez de terem uma simples celebração da Palavra por este pobre de Cristo, iriam ter a Santa Missa presidida por um sacerdote.

E depois, depois dei graças a Deus, porque primeiro, ia celebrar com todos a Eucaristia em que Ele se faz realmente presente entre nós e para nós.

E em segundo lugar, porque já não precisava de estar nervoso e ansioso, já não precisava de pensar em mim e no meu “desempenho”, mas sim e só n’Ele que, mais uma vez, como nos diz a primeira leitura do dia, se revelava nesta “brisa suave” que só percebemos e sentimos quando a Ele nos abrimos.

Já descansado em casa, apenas posso dizer:
Obrigado, meu Jesus, porque sempre me chamas a “caminhar sobre as águas”!




Marinha Grande, 13 de Agosto de 2023
Joaquim Mexia Alves

quarta-feira, 9 de agosto de 2023

NO RESCALDO DA JMJ

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Seguiam os dois de mão dada no autocarro de volta à sua terra, ainda com um sorriso “meio tolo” nos seus rostos.

O João olhou para a Isabel com aquele olhar de quem ama um amor sempre novo e disse:
Gostei tanto de estar ali com tanta malta como nós e com o Papa!

A Isabel olhou para ele enternecida, apertou-lhe ainda mais a mão e respondeu:
Também eu, João, também eu!

Fez-se um silêncio entre os dois, apesar do barulho feito por tantos jovens naquele autocarro e deixaram-se ficar assim, de mãos dadas, olhando um para o outro com uma felicidade que não sabiam perceber … ainda.

A Isabel cortou o silêncio para dizer:
E agora? Agora o que vamos fazer?

O João olhou-a e respondeu:
Sei lá! Se calhar temos que perceber bem o que o Papa nos disse! Ele disse para não termos medo, mas isso já Jesus dizia naquele tempo, há muito tempo.

E tu tens medo?
Perguntou a Isabel.

Não sei bem, disse o João, acho que tenho algum receio do futuro, mas de Deus sinto que não tenho medo.

É como eu! Sinto que Deus nos ama, que Jesus está connosco, mas quando olho para a frente tenho um pouco de medo do que aí possa vir.

O João pensou um pouco e disse:
Sabes, eu acho que o Papa queria dizer que não devíamos ter medo de ser cristãos, de ser católicos, de ser Igreja, porque se o formos verdadeiramente, Jesus está connosco e nada de verdadeiramente importante nos há-de faltar.

A Isabel riu-se com vontade e respondeu:
Não te conhecia esses “dotes” de fé!

E acrescentou:
Estou a brincar, mas a verdade é que a mim também me tocaram aqueles dias, aquelas celebrações, sobretudo a presença de unidade, de amor, que só Deus pode fazer sentir em tanta gente.

Mais uma vez o silêncio tomou conta deles apesar do “tumulto” que tantos jovens faziam no autocarro.

E agora, João?
Perguntou a Isabel, retomando a conversa interrompida.

O João olhou para ela, apertou a mão com força e disse:
Só podemos ter duas atitudes. Ou continuamos assim, a fazer as nossas vidas tipo um poucochinho em Igreja ou assumimos a fé que nos foi dada, e vivemo-la com a força que nos vem de Deus.

A Isabel tomando coragem, respondeu-lhe:
Mal puder, quando chegarmos, vou-me confessar e recomeçar a partir daí.

O João anuiu e disse que ela não iria só porque essa era também a sua intenção.

De mãos dadas em silêncio, mais uma vez, viveram aquele momento como algo que começava verdadeiramente nas suas vidas.

Quase ao mesmo tempo, olhando um para o outro perguntaram-se:
E o todos, todos, todos?

Ah, João, temos que acolher aqueles que não vivem como nós, ou melhor, que não pensam como nós, que têm outras maneiras de sentir a vida, desde a espiritualidade até mesmo ao sexo, e acolhê-los, fazendo-os sentir que a Igreja é de todos.

Sim, Isabel, é verdade, mas temos que mostrar com as nossas vidas que Jesus chama todos, mas que depois compete a cada um aceitar o chamamento de Cristo com tudo o que esse caminho contém.

Meu querido João, a nós compete-nos tão só mostrar com as nossas vidas e o nosso proceder que Deus a todos ama por igual e a todos chama para Ele, depois cada um perante esse chamamento responde conforme a sua vontade, porque Deus nada impõe, “apenas” ensina como viver e “apenas” ama!

Sabes, Isabel, acho que o nosso amor vem de Deus e se Deus nos ama e nos faz amar um ao outro, temos que nos servir desse amor para amar também os outros e ajudá-los a encontrarem o mesmo amor com que nós amamos e que, afinal, é o amor de Deus em nós.

Deram um beijo, reclinaram-se nos assentos do autocarro e ficaram a olhar para um “nada” que afinal estava repleto de Deus.




Marinha Grande, 9 de Agosto de 2023
Joaquim Mexia Alves

domingo, 6 de agosto de 2023

A TRANSFIGURAÇÃO DO SENHOR (AINDA A JMJ)

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Muitas vezes queremos apenas ver o Cristo divinamente glorioso, divinamente belo, divinamente extraordinário, divinamente grande, divinamente luz que enche as nossas vidas.

E muitas vezes O vimos assim, quando sentimos a Sua presença viva em certos momentos das nossas vidas, de tal modo que quereríamos viver sempre nesses momentos e esquecermo-nos até de nós, como Pedro se esqueceu dele próprio no Monte da Transfiguração.

Mas Jesus convida-nos, mais do que convidar, insiste connosco para descermos do monte e, no mundo, sermos testemunhas do Seu amor para o outro.

Porque muitas vezes Ele nos aparece “transfigurado” no pedinte, no sem abrigo, no familiar “chato”, no vizinho incómodo, no idoso que abandonamos, no drogado insuportável, etc., enfim, na gente de que a gente não gosta.

E é nessas alturas que precisamos de O ver, mas muitas vezes olhamos para o lado.

E, para mim, o todos, todos, todos, do Papa Francisco significa isso mesmo, todos, todos, todos devem ser acolhidos, amados e, depois, cada um desses todos, todos, todos, deve abrir o seu coração e a sua vida a Jesus Cristo, que se quer fazer presente na sua vida, mas isso já não nos compete a nós a não ser no sentido de que não devemos deixar de testemunhar com as nossas vidas, o nosso amor, a nossa entrega, o nosso acolhimento, sem “pré-conceitos”, a certeza de que cada um deve ter, que Jesus Cristo a todos infinitamente ama por igual.

E hoje, no final desta JMJ, muitos jovens e não só, naquele recinto de amor imenso, olham uns para os outros sorrindo, (talvez um sorriso beatífico a que alguns chamariam de “vinho doce”), e não lhes apetece sair dali, mas sim ali permanecer, naquele sentimento de amor tocado pelo divino que nos faz esquecer de nós próprios, para “apenas” vivermos entre nós e connosco o amor de Deus.

E, então, é aí que o «não tenhais medo», repetido até à exaustão desde Cristo há mais de dois mil anos, se torna premente, porque Ele nos convida a descer do monte, para contarmos e testemunharmos ao outro, com as nossas palavras e os nossos gestos diários, a beleza da transfiguração que acabámos de presenciar.

E, então, o Cristo transfigurado aparece aos olhos dos nossos corações, tocados pelo Espírito Santo, na figura de todos aqueles que nos rodeiam e precisam de ser amados com o amor de Deus, que vive em nós, para nós e para o outro.

E, então, a Igreja chegará àquele momento em que, com Jesus Cristo no centro, guiada pelo Espírito Santo, no amor do Pai, o mundo dirá dela: “vede como eles se amam”.




Marinha Grande, 6 de Agosto de 2023
Joaquim Mexia Alves

quinta-feira, 3 de agosto de 2023

E DEPOIS …

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E depois há aqueles que estão contra, que arranjam toda a espécie de argumentos para estarem contra, para não quererem que outros vivam a sua fé e louvem a Deus, como nesta JMJ.

E nós que vivemos a fé cristã temos logo, humanamente falando, a tendência também para os criticarmos, (afinal como eles nos criticam a nós), para os afastarmos, (como eles nos querem afastar a nós), para os calarmos, (como eles nos querem calar a nós), para os classificarmos, (como eles nos classificam a nós), para quase os desprezarmos, (como eles nos desprezam a nós).

Mas passados esses primeiros momentos de “descontrole” muito humano, devemos regressar ao ensinamento dAquele que afirmamos seguir, e sem querer obrigá-los a viverem a mesma fé que nós, devemos antes, com o nosso testemunho de amor, de paz, de oração, pedir a Deus que olhe por eles, que toque os seus corações, porque nós não o podemos fazer sozinhos.

«Não foram os justos que Eu vim chamar ao arrependimento, mas os pecadores.» Lc 5, 32

Talvez que eu, comparando-me com os que estão contra, me ache justo, pobre de mim, mas a verdade é que sou pecador como eles e, se quero amar como Ele me ama, tenho que amar como Ele os ama, ou seja, tenho que os acolher, (pelo menos no meu coração), pedindo incessantemente que encontrem a vida que eu encontrei em Jesus Cristo.

Afinal se os “anatematizamos” estamos a dar razão às suas críticas definindo-nos como um “grupo” à parte que, por muito grande que seja como “grupo”, não deixa de estar à parte se se fecha em si mesmo.

«Não rogo só por eles, mas também por aqueles que hão-de crer em mim, por meio da sua palavra, para que todos sejam um só, como Tu, Pai, estás em mim e Eu em ti; para que assim eles estejam em Nós e o mundo creia que Tu me enviaste.» Jo 17, 20-21

Jesus Cristo chama-nos à unidade, chama-nos a proclamar o Evangelho a todos e, quando não o podemos fazer de viva-voz, talvez porque não nos queiram ouvir, podemos fazê-lo rezando por todos e, sobretudo, dando testemunho verdadeiro e real do amor de Deus em nós que tem sempre de se fazer amor para os outros.

Ser Igreja não é pertencer a uma instituição, é sim ser comunhão, ser união na diversidade, é ser oração contínua, é ser Evangelho vivo para nós e para os outros, é querer sempre que todos sejamos um com Jesus Cristo, guiados pelo Espírito Santo, no amor do Pai.

E se assim vivermos, se nos deixarmos guiar pelo Espírito Santo, vivendo no amor do Pai, tendo como centro das nossas vidas e, portanto, como centro da Igreja, Jesus Cristo, então, sem dúvida, «o Senhor aumentará, todos os dias, o número dos que entram no caminho da salvação». At 2, 47




Marinha Grande, 3 de Agosto de 2023
Joaquim Mexia Alves

terça-feira, 1 de agosto de 2023

“O AMOR NÃO ESCOLHE IDADES”

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E de repente veio ao meu pensamento esta frase popular que tantas vezes se ouve como resposta a críticas a pessoas de mais idade que não têm vergonha de afirmar o seu amor.

E, como não podia deixar de ser, nestes tempos em que vivemos a Jornada Mundial da Juventude, a “aplicação” dessa mesma frase a este extraordinário encontro a decorrer em Lisboa.

«Deus é amor» (1 Jo 4, 8), diz-nos São João, e é o amor verdadeiro, aquele amor que é todo doação, aquele amor que quer o bem do outro e se alegra com o bem do outro.

E só este amor transforma, só este amor é vida e «vida em abundância» (Jo 10, 10).

Muitas coisas se têm dito sobre a JMJ e a sua finalidade, a finalidade com que João Paulo II as criou e a única que tem sentido: o encontro com Jesus Cristo, que leva ao amor e à transformação de vida.

Se todos devemos estar abertos ao amor, então os jovens que vão descobrindo a vida, ainda mais devem estar e estão recetivos ao amor, ao amor verdadeiro, que é o amor de Deus que “formata” o nosso amor.

E os jovens são, por natureza, mais radicais, por isso mesmo, este amor de Deus que experimentamos no encontro pessoal com Jesus Cristo, será uma realidade nas suas vidas, se se deixarem tocar por Ele e, então, a sua radicalidade, a sua “temeridade” levá-los-á a testemunhar esse amor, o amor que muda o mundo, e não um qualquer “amor” do mundo que quer mudar o verdadeiro amor.

Podemos dizer e afirmar muitas coisas, criticar, opinar, etc., mas a verdade é que se estes jovens se abrirem a Jesus Cristo, o Espírito Santo se encarregará de lhe mostrar e fazer sentir o amor do Pai e, então, «darão testemunho de que o Pai enviou o seu Filho como Salvador do mundo» (1 Jo 5, 14)

Perceberão os jovens, então, e perceberemos nós também, pelo seu testemunho e não só, que «se Deus nos amou assim, também nós devemos amar-nos uns aos outros». (1 Jo 5, 11)

Seria utópico, claro, se não acreditássemos no poder de Deus e do seu amor a quem a Ele se abre e entrega, porque por muito irreal que possa parecer, a verdade é que Cristo venceu o mundo, e quer servir-se destes jovens e de todos nós para proclamarmos o Reino de Deus entre os homens.

Por isso, e servindo-nos da frase inicial, “o amor não escolhe idades”, rezemos para que o Pai e o Filho derramem abundantemente o Espírito Santo sobre estes jovens e sobre todos nós, para sentindo e vivendo o amor de Deus em nós, nele permaneçamos porque acreditamos que «quem permanece no amor permanece em Deus, e Deus nele». (1 Jo 5, 16).




Marinha Grande, 1 de Agosto de 2023
Joaquim Mexia Alves