domingo, 21 de abril de 2024

COISAS DA MINHA VIDA

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Ontem estive num almoço de convívio dos militares da Companhia Militar, CART 3492, em que servi nas Forças Armadas Portuguesas, numa comissão militar na Guiné, entre Dezembro de 1971 e Dezembro de 1973.

Foi, como sempre, um momento de reencontro, de emoções, de sentimentos, de contar e recontar histórias ininterruptamente repetidas, acrescentando-lhes, por vezes, pormenores que uns e outros vão lembrando, culminadas com fortes gargalhadas ou com sorrisos melancólicos, tendo sempre presente a amizade que nos une, forjada nas situações que vivemos.

Como sempre hoje em dia, gosto de retirar para mim, tudo que acontecendo na minha vida, me dá sinais de Deus ou me leva a percebê-lO em tudo aquilo que vivo.

Já escrevi sobre isto, mas a realidade é que esta amizade que une os Combatentes, tem uma força inabalável, porque nasceu da confiança e da entrega de cada um nas mãos do outro, e vice-versa, pois só assim se pode viver na guerra.

Obviamente que Deus nada tem a ver com a guerra, que é coisa da liberdade dos homens, e obviamente, também, que a guerra não serve para nada, a não ser ceifar vidas de um lado e do outro, porque os homens não foram capazes de se entender.

Mas esta amizade, ou melhor, esta aliança indestrutível dos Combatentes, leva-me a reflectir sobre o ser cristão, o ser Igreja, atendidas, claro está, as imensas diferenças.

Se nós quisermos ser verdadeiros cristãos, verdadeiramente Igreja, deveríamos ter também esta união, sobretudo esta confiança e entrega, primeiro a Deus e depois aos outros, percebendo que só juntos, com Ele à cabeça e guiando-nos segundo a Sua vontade, podemos alcançar a salvação.

Depois percebo que na guerra cada homem se quer, obviamente, salvar, mas também quer que todos os outros que com ele estão se salvem também.

Como cristãos, em Igreja, deveríamos viver e pensar que a nossa salvação só tem sentido quando queremos também a salvação dos outros, e que essa é uma meta que deveremos querer sempre alcançar, em Igreja.

Depois ainda, percebo que esta amizade que une os Combatentes, embora viva sempre em nós, é alimentada nestes encontros, nestas histórias continuamente repetidas, nestes abraços que se dão em abundância.

Também nós cristãos, em Igreja, deveríamos perceber que os nossos encontros com Deus nos Sacramentos e não só, as nossas orações tantas vezes repetidas, os nossos abraços de comunhão, são o alimento da vivência da nossa fé.

Percebo ainda que neste círculo de Combatentes é muito difícil entrar para quem não viveu a experiência da guerra, por muitas razões, e até porque temos muitas vezes uma linguagem própria que não é facilmente inteligível aos outros.

Já em Igreja, como cristãos, as portas têm de estar abertas a todos, e todos devem poder entender a linguagem de Deus, as orações, e a comunhão de amor.

Lembrei-me ainda do louvor, que no fim da minha comissão me foi dado, (na fotografia que ilustra este texto), e sobressaíram algumas palavras, como “cumprimento de missão”, “exemplo”, “alto critério de justiça”, “pronto a colaborar”, etc., etc.

E então, tive que me colocar perante mim próprio, e perguntar-me se também aquelas virtudes que naquele louvor me apontam, mas poderiam apontar, também, em Igreja?

Não para me louvar ou para me destacar dos outros, mas sim porque essas virtudes deveriam ser uma constante no meu ser cristão, no meu querer ser discípulo de Cristo, no meu querer ser Igreja.

Que Deus abençoe todos os Combatentes, sobretudo aqueles que ainda sofrem no físico e no psíquico as vicissitudes da guerra, e abençoe também as suas famílias que com eles, tantas vezes, ainda sofrem também as angústias de um passado.

Que Deus na Sua infinita misericórdia perdoe aos homens que fazem as guerras, (e não me refiro àqueles que por força de servirem as Forças Armadas o têm de fazer), mas àqueles que tendo nas suas mãos a possibilidade de escolher a paz, fazem a guerra, a maior parte das vezes por razões inomináveis.

Que Deus no Seu infinito amor receba as vítimas de todas as guerras passadas e presentes e leve a humanidade a encontrar a paz.






Marinha Grande, 21 de Abril de 2024
Joaquim Mexia Alves

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