terça-feira, 26 de setembro de 2023

CONVERSAS NO CAMINHAR IV

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Provocação – A sério pensa lá em ti e no que realmente fazes ao serviço de Deus?
Reflexão – Colocas-me assim, perante mim, mas mais ainda, perante Deus. Na minha reflexão tenho que abrir o meu coração e ser verdadeiro, pelo menos naquilo que julgo sobre mim, como se me visse de fora de mim e perceber se o que me move é apenas e só servir a Deus, (e os outros em Deus, claro), ou se há algum interesse “não confessável” da minha parte.

P – Sim, pensa nisso e diz-me o que te move, o que no teu íntimo está, também, no teu serviço a Deus.
R – Primeiro acredito, apesar de tudo, que existe em mim uma verdadeira vontade de servir a Deus, servindo os outros.
Julgo que isso é indissociável da minha relação pessoal com Jesus Cristo, na minha procura constante do Espírito Santo em mim, do meu querer viver do e no amor do Pai.
Mas se isto é verdade, acredito eu, não é menos verdade que o reconhecimento por parte dos outros de uns quaisquer dons que me possam ser atribuídos, não me é desagradável, antes pelo contrário, me é agradável e alegra o meu ego.

P – E que mal vês tu nisso?
R – Não haveria mal em si, se tal fosse um reconhecimento em humildade, da minha parte, de que esses possíveis dons vêm de Deus e que são Sua graça e apenas Sua graça, sem qualquer mérito meu.

P – Significa isso que te sentes, por acaso, credor de dons de Deus por méritos da tua vida?
R – Infelizmente tenho que reconhecer que, embora não me julgue credor de quaisquer dons de Deus, no meu infame orgulho penso que tudo o que tenho vivido e feito ao serviço de Deus, merecerá da sua parte os eventuais dons com que talvez me agracie.

P – O que sentes tu quando alguém te elogia ou “reconhece” em ti eventuais dons de Deus?
R – Pois é aí que reside o problema, que reside a minha luta contra o pecado de me julgar merecedor ou mesmo digno de qualquer dom de Deus.
Em vez de humildemente reconhecer intimamente, (exteriormente é fácil dizer que reconheço que é tudo graça de Deus sem mérito meu), que é tudo graça de Deus, acabo por julgar que de algum modo esses eventuais dons serão fruto de uma entrega minha, de um qualquer caminho de santidade meu, de um qualquer reconhecimento por parte de Deus das minhas orações o da minha busca do Caminho da Verdade e a Vida.

P – Mas achas tu que Deus não deve reconhecer os seus filhos que se entregam a Ele para O servir, servindo os outros?
R – A minha resposta terá que ser, obviamente, quem sou eu para achar ou deixar de achar aquilo que Deus deve ou não reconhecer!
Mas infelizmente, (ainda sou muito humano, digamos assim), acho que sim, que Deus deveria reconhecer aqueles que a Ele se entregam para O servir servindo os outros.
Custa-me escrever o que acabei de escrever, mas tenho que ser verdadeiro nestas conversas e dizer o que deveras sinto.

P – Então e que reconhecimento seria esse da parte de Deus?
R – Pois. A verdade é que o “reconhecimento” de Deus para aqueles que a Ele se entregam há muito que está determinado, ou seja, é a promessa concretizada em Jesus Cristo da vida eterna junto de Deus.
Mas os orgulhosos como eu gostam de ser elogiados nesta vida, gostam de ser reconhecidos nesta vida, como se eu pudesse alguma vez ser um “escolhido” de Deus para guiar outros, ou “pior” ainda, como se os outros pudessem vir a Deus por causa de mim e não e apenas por sua graça.

P – Mas tu achas que Deus não escolhe alguns para serem guias de outros, para serem de alguma forma testemunhas de que o seu amor transforma o homem?
R – Claro que acredito que Deus escolhe alguns ao longo do tempo para serem suas testemunhas privilegiadas, como podemos facilmente constatar em tantos santos da Igreja e até noutros que não tendo sido reconhecidos como “santos de altar”, foram e são, no entanto, razão para muitos procurarem Deus e quererem viver a alegria da fé que neles é tão visível.
Mas esses, com certeza, não pensam como eu, ou melhor, não se alegram intimamente com os elogios que lhes são dados e nem sequer os procuram.

P – Quer dizer que tu procuras os elogios, o reconhecimento?
R – Não verdadeiramente, isto é, não os provoco directamente, talvez, mas intimamente desejo-os e, às vezes, por causa deles, sinto-me como que privilegiado por Deus, (ou gostaria que me vissem assim), como se tivesse uma relação com Ele melhor do que a dos outros, mais íntima, como se Ele me amasse mais do que aos outros!
Sou tão fraco!

P – E isso faz-te sofrer?
R – Faz e não faz! Como posso eu explicar esta dualidade que em mim vive?
Eu sei que é um caminho de perfeição e que a mesma nunca será alcançada a não ser quando, por sua graça, eu esteja junto dEle eternamente.
Mas no dia a dia é uma luta constante e pior do que isso é esta pergunta constante que faço a mim próprio se estou ou não a ser verdadeiro na minha relação com Deus.
Lembro-me de São Paulo e do “espinho” que ele dizia ter e Deus não lho tirava, mas até essa comparação me faz sentir, por um lado orgulhoso, por outro um mentiroso na verdade que quero encontrar e viver.

P – E isso não será falta de um verdadeira entrega a Deus, para que Ele te guie e te ajude a ultrapassar todos esses sentimentos?
R – Sem dúvida que é falta de entrega total e incondicional a Deus.
Mas já rezei e rezo tanto para me sentir menos dividido nestes sentimentos, já fiz tantas promessas a mim próprio de me retirar de tudo e só aceitar aquilo a que me chamem, de fechar tudo que tenho e escrevo sobre a minha vivência da fé, e no fundo os sentimentos continuam e não me deixam descansar em Deus.
E depois tenho medo de se abandonar tudo, ficar esquecido e já não se quererem servir de mim!

P – E essa não poderia ser a solução para venceres esses teus sentimentos?
R – Talvez pudesse ser!
Mas e se fosse o inimigo que instilasse tais pensamentos em mim para eu não fazer aquilo que faço?
Ou será este pensamento também um orgulho por pensar que faço alguma coisa que afasta os outros do inimigo, ou melhor, que os aproxima de Deus?

P – Pois não sei o que te responder para te ajudar.
R – Nem eu sei também!
Sei que este é um caminho difícil e que se Deus o permite é porque me quer guiar em alguma coisa importante na vida que me deu, mas a verdade é que me divide, me custa, me ocupa tanto tempo e pensamentos para procurar a verdade e encontrar o caminho e a vida que Deus quer para mim, nunca esquecendo os outros.






Marinha Grande, 26 de Setembro de 2023
Joaquim Mexia Alves

domingo, 24 de setembro de 2023

ASSEMBLEIA DIOCESANA DA DIOCESE DE LEIRIA-FÁTIMA

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Ontem passei a manhã e parte da tarde na Assembleia Diocesana da minha Diocese de Leiria-Fátima, que marcou o início do triénio 2023-2026 com o tema “Pelo Batismo somos Igreja viva.”

Houve vários grupos que debateram vários temas para pensarmos e discernirmos a Igreja dos nossos dias, alicerçada sempre na Tradição da nossa Igreja fundada por e em Cristo, no amor do Pai, guiada pelo Espírito Santo, como o nosso Bispo D. José Ornelas fez questão de frisar numa das suas intervenções.

Nos dois grupos onde estive, (e acredito nos outros também, dadas as conclusões apresentadas), o debate, a discussão, a troca de opiniões e argumentos foi viva, mas franca, aberta, tolerante e muito responsável.

Às vezes parece que já ouvimos e dissemos tudo o que é ouvido e dito, mas realmente, e se calhar, precisamos de ouvir novamente e repetidamente dizer, para entranharmos realmente o que é importante para sermos verdadeiramente Igreja de Cristo.

O nosso Bispo serviu-se da imagem da vindima para, entre muitas coisas, nos chamar a atenção para a paciência que o agricultor tem que ter desde a vindima até ao vinho, e assim percebermos que a Igreja se deve revestir também desta paciência, (chamemos-lhes divina), para que tudo seja feito pelo discernimento do Espírito Santo e não na precipitação do mundo.

Os nossos valores não são “velhos”, nem anquilosados.
São actuais, como o amor é sempre actual.
Precisamos “apenas” de os pôr em prática no mundo em que vivemos.

Não cabe neste pequeno texto analisar as conclusões relatadas de cada tema em discussão, se é que lhes podemos chamar conclusões, porque nada está concluído, a não ser a certeza de que só por Cristo, com Cristo e em Cristo, é possível caminhar em Igreja.

Retiro das referidas conclusões, para além do muito mais que elas contém, aquilo que me parece ser transversal a todas elas, e que é o acolhimento que a Igreja, ou seja, todos nós cristãos católicos, devemos ter em permanência para com todos, sejam quais forem as suas condições particulares.

E para este acolhimento todos somos necessários, pois não são precisos talentos ou conhecimentos especiais, (que poderão ser necessários depois do primeiro e tão importante acolhimento), pois o acolhimento inicial é apenas e só uma questão de amor ao próximo.

Porque depois de acolhidos e em Igreja, cada um terá que encontrar o caminho, a comunhão que a Igreja lhe propõe segundo a Palavra de Deus, segundo a Doutrina porque a Igreja se rege e guia o Povo de Deus.

Para esse acolhimento ser real e verdadeiro, temos que ter em todas as circunstâncias a capacidade de ouvir, de falar, de propor, respeitando o outro e tendo sempre a sincera vontade de querer discernir o que o Espírito Santo diz à Igreja.

Porque a Igreja não quer agradar ao mundo, mas quer ouvir o mundo, para discernir com o Espírito Santo em Igreja, como transformar o mundo pelo amor de Deus em nós.




Marinha Grande, 24 de Setembro de 2023
Joaquim Mexia Alves

terça-feira, 19 de setembro de 2023

OS FILHOS

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«O morto sentou-se e começou a falar; e Jesus entregou-o à sua mãe.»

Este versículo do Evangelho de hoje, (Lc 7, 11-17), suscitou em mim esta reflexão.

Lemos que Jesus ressuscitou o filho da viúva de Naim e lho entregou, seguramente com compaixão pelo seu sofrimento e, com certeza, porque aquele filho único era o sustento daquela mãe viúva.

Deixo-me levar pelo coração e vejo-me/vejo-nos, muitas vezes mortos espiritualmente pelas nossas fraquezas, e a nossa Mãe do Céu implorando do Seu Filho a graça de nos resgatar da morte do pecado.

Por uma “porta”, mesmo que apenas ligeiramente entreaberta, da nossa vontade de pedir perdão, Jesus vem, toca-nos e diz-nos: «Levanta-te!»

Perdoados, levantados do chão onde o pecado nos tinha prostrado, entrega-nos a Sua Mãe que, por vontade d’Ele, é nossa Mãe também.

Talvez seja por causa da dor de Sua Mãe por ver os seus filhos mortos pelo pecado, ou talvez seja, também, por saber que, entregues a Ela e se por Ela nos deixarmos guiar num sim permanente e convicto, encontraremos a salvação que Ele nos deu na Sua entrega por nós na Cruz.

Esta Mãe que Jesus nos dá, não precisa de nós para seu sustento, mas quer precisar de nós, porque nos ama, e nos quer felizes junto a Seu Filho para sempre.

Ressuscita-nos, Jesus, manda-nos levantar do torpor em que tantas vezes caímos, entrega-nos a Tua Mãe, para que no seu Sim nós digamos Sim também.




Monte Real, 19 de Setembro de 2023
Joaquim Mexia Alves

sexta-feira, 15 de setembro de 2023

NOSSA SENHORA DAS DORES (2023)

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Olho-te Mãe
nesses olhos tão profundos
onde repassa a dor.

Quero acarinhar-te
mas afinal és Tu que me beijas
e me enches de amor.

Puxas-me para Ti
sentas-me ao teu colo
afagas-me o rosto
e dizes-me com ternura:
Deixa estar assim
bem junto de mim
que Eu gosto.

Eu aninho-me mais um pouco
e repito baixinho
uma súplica constante:
Roga por nós pecadores,
Mãe,
Nossa Senhora das Dores.





Monte Real, 15 de Setembro de 2023
Joaquim Mexia Alves

segunda-feira, 11 de setembro de 2023

O PRECEITO

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«Eu pergunto-vos se é permitido ao sábado fazer bem ou fazer mal, salvar a vida ou tirá-la»



O que resta do preceito sem o amor?
O que resta do preceito sem a máxima vontade de fazer a vontade de Deus?
O que resta do preceito sem amar primeiro a Deus?
O que resta do preceito sem amar os outros como a mim mesmo?
O que resta do preceito se o mesmo se torna rotina sem fé?
O que resta do preceito sem a comunhão com os outros em Igreja?
O que resta do preceito sem a vontade de servir a Deus servindo os outros?
O que resta do preceito se não há obediência aos ensinamentos de Jesus Cristo e da Igreja?
O que resta do preceito se não houver abertura à luz do Espírito Santo?
O que resta do preceito se ele não me edifica?
O que resta do preceito se ele não me une e me faz unir?
O que resta do preceito se ele não me dá vida e faz viver?

Enfim, verdadeiramente, o que resta do preceito sem o amor?

O preceito é coisa boa se tiver tudo isto e muito mais, porque então não se fica apenas pelo preceito, mas antes se torna vida e amor de Deus em nós, para nós e para os outros.




Monte Real, 11 de Setembro de 2023
Joaquim Mexia Alves

sexta-feira, 8 de setembro de 2023

NATIVIDADE DA VIRGEM SANTA MARIA (2023)

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Estive, durante uns curtos dias de férias, na Serra da Estrela.

Lá tive oportunidade de tirar esta fotografia de Nossa Senhora, esculpida na rocha.

Neste dia da Festa da Natividade da Virgem Santa Maria, lembrei-me desta imagem e reflecti sobre o que ela pode representar e dizer sobre a nossa Mãe do Céu.

Em primeiro lugar a simplicidade do lugar onde está esta imagem, a natureza, os pastores a seus pés, (como em Belém, onde foram os primeiros a chegar), a beleza da naturalidade da cena.

A nossa Mãe do Céu é assim simples, pura como a natureza criada por Deus, recebe todos os seus filhos, dos mais humildes aos mais ricos e poderosos, (em termos humanos, claro), e o seu amor é o tão natural e profundo amor de mãe, impregnado do amor do seu Filho Jesus Cristo.

Em segundo lugar está a meio do caminho para subir a serra ou para descer da serra.

A nossa Mãe está sempre no nosso caminho para o Alto, para Deus, empurrando-nos com o seu amor, para vencermos as dificuldades da subida.

Mas também está sempre connosco quando decidimos descer das nossas certezas, das nossas sabedorias, das nossas riquezas, para humildemente procurarmos o seu Filho e d’Ele recebermos o amor que dá vida e vida em abundância.

Em terceiro lugar a imagem está esculpida na rocha.

Maria, nossa Mãe, é a rocha segura a que sempre nos podemos agarrar e confiar, para irmos ao encontro do seu Filho, na certeza de que essa rocha, que é nossa Mãe do Céu, sempre aponta a Jesus Cristo e não a si própria.

Em quarto lugar descortinamos por cima da imagem o azul do céu.

A nossa Mãe do Céu não quer ser nunca o fim em si mesma, mas sim o caminho seguro para o Céu da Salvação, que nos foi alcançada por seu Filho Jesus Cristo, pela Sua Morte e Ressurreição, por todos nós.

E poderia continuar a “descobrir” razões de reflexão na imagem, mas essas razões são tantas como tantos são os pensamentos de quem quiser ir para além da imagem e, dirigindo uma prece a Maria, entregar-se e deixar-se conduzir pelo seu sim, dizendo sim também, à vontade do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

Maria, nossa Mãe, rogai por nós.





Marinha Grande, 8 de Setembro de 2023
Joaquim Mexia Alves

terça-feira, 5 de setembro de 2023

A CRUZ E A VIDA





Ponho a minha cruz aos meus ombros
e parto apressado 
à procura da vida.

A cruz pesa-me
mas pesar-me-ia ainda mais
se eu não aceitasse a vida.

Ou será que me pesa mais a vida
porque muitas vezes 
não aceito a cruz 
em mim vivida?

E vens Tu,
Senhor,
de mansinho como sempre,
e pegas na minha cruz
enches-me a vida
com o Teu amor,
e a cruz que me pesava
torna-se leve
sem dor
torna-se toda amor
porque és Tu que me dás vida.


Serra da Estrela, 5 de Setembro de 2023
Joaquim Mexia Alves 

sábado, 2 de setembro de 2023

DIÁLOGOS COM O SENHOR 27

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- Apetece-te escrever, mas não sabes sobre quê.
- É verdade, Senhor. Mas Tu sabes bem que isso me acontece muitas vezes.

- E não achas estranho que isso aconteça?
- Talvez, Senhor! Mas Tu, que sabes muito melhor o que eu sou e o que se passa em mim, podes ajudar-me a perceber porquê?

- Não será, meu filho, um desejo de falares Comigo, um desejo de orar/conversar Comigo por escrito?
- Perguntas-me Tu, Senhor, que me conheces melhor do que eu me conheço?

- Pergunto-te para que percebas melhor esses teus desejos, que no fundo, são desejo de Mim.
- Disso, Senhor, não tenho dúvidas!

- E não tens dúvidas porquê?
- Porque cada vez mais, Senhor, Te procuro quase ansiosamente em tudo o que faço e sou, mas sinto-me tantas vezes tão afastado de Ti.

- Mas meu filho, tens que reconhecer que cada vez que Me chamas ou te diriges a Mim, Eu estou contigo e mesmo quando não o fazes Eu estou contigo também.
- Obrigado, Senhor, porque Te deixas tantas vezes sentir por mim e isso dá-me uma paz e um amor que apenas quero testemunhar em simplicidade e verdade.

- Percebeste agora porque tinhas tanto desejo de escrever?
- Sim, Senhor, percebo que precisava desta conversa escrita para Te ler e ouvir falar-me ao coração. Obrigado, Senhor!




Marinha Grande, 2 de Setembro de 2023
Joaquim Mexia Alves