quarta-feira, 31 de agosto de 2022

SER IGREJA?

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A Missa tinha acabado, mas ele ficou mais um pouco sentado na igreja a pensar.

Era estranho, pensou ele, ver que muita gente que ali vinha ao Domingo para a Missa, (ele incluído), não se cumprimentavam quando chegavam, nem com um simples sorriso, a não ser aqueles que nitidamente se conheciam no dia a dia.
E era estranho, porque dizendo-se filhos de Deus, então eram todos família e as famílias quando se reúnem cumprimentam-se, até efusivamente, quanto mais não seja porque é bom estarmos juntos.

Afinal, como se ensina, a Igreja são os filhos de Deus reunidos em assembleia e, então, todos os que ali estiveram são Igreja, filhos do mesmo Pai, irmãos em Cristo, templos do Espírito Santo.
Até têm todos a mesma Mãe, que nos foi dada por seu Filho Jesus Cristo.
Então não se deveriam cumprimentar em alegria quando se reúnem?
Tudo leva a crer, pelo que está escrito, que assim era nos primeiros tempos.

Outra coisa que lhe despertou a atenção foi o momento da consagração e o momento da comunhão.
Obviamente que não são momentos de bater palmas, de rir ruidosamente, de dar vivas, sequer de fazer barulho, mas deveriam ser pelo menos momentos de grande união, momentos de grande felicidade exposta nos rostos, momentos realmente muito vividos e, apesar de em muitos assim acontecer, parecia-lhe que também muitos viviam aqueles momentos como um qualquer outro momento, ou seja, como uma rotina quase indiferente.

Veio-lhe à cabeça a imagem de um estádio de futebol cheio de gente e como os adeptos de cada equipa vibravam com o jogo.
Na altura do golo todos os da mesma equipa saltavam, gritavam, alegravam-se e até se abraçavam, mesmo aqueles que não se conheciam pessoalmente mas que se identificavam como sendo da mesma equipa.
Pareciam todos irmanados na mesma alegria!
É curioso, pensou ele, que todos eles se alegram porque um jogador mete um golo e vivem-no como se fosse de cada um, mas afinal o golo é do jogador que o meteu.

Mas a verdade é que na Missa, sendo todos celebrantes, todos “metem golo” e por isso todos são de Cristo e Cristo é de todos!
Sorriu interiormente pensando que à “equipa de Deus” lhe faltava aquele “entrosamento”, para usar termos futebolísticos!

Havia tanto para pensar, mas quedou-se nos momentos finais da celebração.
Alguns nem sequer esperavam pela bênção final e uma maioria saía apressadamente como se tivessem algo mais importante para fazer.
E mais uma vez, nem um cumprimento, nem um sorriso, a não ser aqueles que já se conheciam.
Parecia que tudo tinha acabado e que a celebração não tinha deixado “marcas”, fossem elas quais fossem.

Inevitavelmente veio outra vez ao seu pensamento o jogo de futebol e era fácil de perceber que os adeptos da equipa vencedora não queriam arredar pé do estádio, festejando a vitória, e mesmo de saída, riam, davam vivas e até colocavam os braços por cima uns dos outros, saboreando a vitória o máximo tempo possível.
Haviam de chegar a casa, ao café ou ao bar e haviam de contar entusiasmados a outros o desenrolar do jogo e a vitória tão saborosa que tinham vivido.

Lembrou-se, mais uma vez com um sorriso, que os clubes guardam as taças que ganham lá nas sedes dos clubes e, no fundo, essas taças pertencem ao clube e não aos sócios.

Mas em Igreja e sendo Igreja a “Taça” é de todos e todos “A” transportam com eles em cada momento!

Que bom seria, pensou ele, a começar por si próprio, se todos os outros pudessem perceber que cada membro da Igreja traz Cristo consigo, e, por isso mesmo, dá testemunho da alegria de O ter e conta entusiasmado a todos, (com a devida sensatez), como é saboroso, (para usar termos de Salmos), e bom, comungar Cristo e vivê-lO no dia a dia.

Como seria fantástico deixarmo-nos entusiasmar por Deus e assim unidos em Igreja sermos realmente filhos de Deus que se unem, se conhecem, se ajudam e se amam mutuamente.

Já se fazia tarde e a igreja estava vazia, por isso ajoelhou-se frente ao sacrário e disse numa oração:
Fica comigo, Senhor, porque afinal ser Igreja não é nada fácil, mas é muito bom!!!



Marinha Grande, 31 de Agosto de 2022
Joaquim Mexia Alves

terça-feira, 16 de agosto de 2022

DIÁLOGOS COM O SENHOR DEUS 23

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O que pensas tu que é a oração?
Eu, Senhor?


Sim, tu. É a ti que me dirijo e pergunto: O que pensas tu que é a oração?
Oh, Senhor, e sei lá eu responder-Te a essa pergunta! Tu é que tens de me ensinar a orar, pelo Teu amor, Senhor eu to peço.


Eu ensino-te todos os dias, meu filho, quando o Espírito Santo te impele a pensar em mim, a dirigires-te a mim, a sentires a minha presença na tua vida. Por isso pergunto-Te novamente: O que pensas tu que é a oração?
Oh, Senhor, eu penso que orar é procurar-Te com amor, é sentir-Te com amor, é falar-Te com amor. Mas eu, Senhor, embora Te procure, embora Te sinta, embora Te fale, ainda acho que não sei orar.


Então pensas tu que as palavras são mais importantes?
Que a tua postura é mais importante?
Que a tua sinceridade é mais importante?
Sei lá, Senhor, penso que tudo isso e muito mais é importante na oração.


Sabes, meu filho, o que é mais importante quando orares?
Não, Senhor. Diz-me, por favor!


O mais importante, meu filho, é o teu desejo de Mim, o teu coração aberto para mim, a tua vontade íntima de fazer a minha vontade. O resto, (que é importante também), deixa Comigo porque eu sei bem o que desejas e precisas.
Obrigado, Senhor, e atrevo-me a perguntar: Estive a orar, Senhor?


Claro, meu filho! Não está em ti esse desejo de Mim, de Me encontrares, de quereres ser nada para Eu ser tudo em ti?
Sim, Senhor, pelo menos é isso que eu desejo que assim seja, quando Te procuro e a Ti me entrego.


Então, meu filho, aí tens a oração que se faz vida em ti!
Obrigado, Senhor!




Monte Real, 16 de Agosto de 2022
Joaquim Mexia Alves

sábado, 6 de agosto de 2022

OS PADRES

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Os Padres são, hoje em dia, uma espécie de “bombos da festa”!
Tudo e toda a gente “malha” nos Padres, em letra maiúscula de propósito.

Começa, (sei lá bem onde começa?), pelos leigos, pelos paroquianos, passa pelos ditos católicos que não “vão” à Igreja e lhes dá jeito os problemas de alguns padres para não irem, (aqui com letra minúscula de propósito), pelos políticos, (é tão bom que falem dos outros e esqueçam a “porcaria” que fazem todos os dias), pelos ditos jornalistas, que de jornalistas nada têm, mas apenas de fazedores de suspeitas, de difamações, de manipulações, passa até pelos que cometem os terríveis pecados que alguns, poucos, padres cometem, porque assim ninguém olha para eles, enfim, é um nunca acabar de gente a criticar, a julgar, a condenar, os Padres, normalmente na praça pública.

Infelizmente, até na própria Igreja, mesmo aos mais altos níveis, os Padres são objecto e razão para permanentes críticas e admoestações, porque são clericalistas, porque são conservadores, porque são progressistas, porque isto, porque aquilo, esquecendo-se essa mesma hierarquia de, pelo menos de vez em quando, os presentear com o reconhecimento do trabalho feito em tanto lugar e tantas vezes em momentos e lugares tão difíceis.

Quem vive com os Padres no seu dia a dia, quem com eles colabora no intuito de servir a Deus, percebe como tantas vezes é injusta a maneira e o modo como os Padres são tratados.

Quem cuida de saber se estão cansados, se celebram mais Missas do que deviam, intercalando com funerais, baptizados, casamentos e “outras coisas mais”?

Se confessam e nada dizem, não valeu a pena a confissão. Se confessam e tentam dar conselhos e ajudar a encontrar caminho, são uns “chatos”, quando não uns convencidos que pensam saber mais do que os “confessados”!

Se nas homílias tentam dar testemunho das suas vidas servindo-se das Leituras e do Evangelho, é porque estão a falar de si próprios, se falam apenas da Palavra e A tentam explicar com mais profundidade, têm a mania que são “teólogos”, se sorriem, riem e estão bem dispostos, é porque não percebem a “dignidade” do que estão a fazer, se estão de cara séria e chamam a atenção para os erros que todos praticamos, têm a mania que são melhores do que os outros.

A lista é interminável, mesmo sem fim, e aplica-se sempre aos Padres que acabam por pagar pelos erros dos outros, padres como eles também.

Então isso quer dizer que não se deve dar atenção e conhecer e punir os actos vergonhosos de alguns padres?
Claro que não!
Tudo isso deve ser apurado até ao fim e com toda a força da lei canónica e civil, doa a quem doer, mas que envolva também todos os outros sectores da sociedade onde tal acontece também.

As outros, filhos de Deus também, mas que nEle não acreditam, é prova mais do que acabada que Deus não existe, que a Igreja é uma “fantochada”, e que tudo isso devia acabar de imediato.
No entanto, não são capazes de tomar a mesma atitude, por exemplo, perante a política, pois sabendo que há políticos corruptos, reconhecem que há bastantes que o não são.

Aqueles que se dizem cristãos católicos e se afastam da Igreja por causa do pecado gravíssimo de alguns padres, (bem poucos no universo geral), ainda não perceberam que a Igreja não são os Padres, somos nós todos reunidos em nome de Deus.

Àqueles que se sentem envergonhados pelo comportamento inaceitável e pecaminoso de certos padres, obrigado, porque são Igreja e sofrem com a Igreja que são.

O texto não teria fim porque, infelizmente, é muito vasto o assunto e exige de nós cristãos católicos muita oração pelos Padres e pelos padres que prevaricam gravemente, bem como pelas suas vítimas.

Eu, pessoalmente, dou graças a Deus pelos Padres, orgulho-me de conhecer e ser amigo de muitos deles e agradeço-lhes do fundo do coração a sua entrega, mais ainda nestes momentos tão difíceis em que seria bem mais fácil “abandonar a barca”, e sobretudo o dom de trazerem Deus nos Sacramentos ao povo que O adora e nEle sempre confia e espera.

Amemos os nossos Padres, por eles pedindo sempre e pedindo ao nosso Papa Francisco e aos nossos Bispos que os acarinhem e reconheçam a sua dedicação profunda, não os criticando tantas vezes como se fossem eles os “culpados” de tudo o que não corre tão bem na Igreja.

Só Deus sabe o seu enorme sacrifício, a sua persistência, perante tantos e tão variados ataques e incompreensões com que as suas vidas são escrutinadas, a maior parte das vezes apenas para dizer mal e interpretar falsamente os seus gestos e atitudes.

O texto é cáustico, muito, eu sei, mas dói-me profundamente que a enorme maioria de Padres que deram e dão a sua vida por Cristo, estejam num frenesim de ataques que toma sempre a “nuvem por Juno”.

A vós Padres todos que, humanamente, resistis às tentações, que reconheceis as vossas fraquezas, mas vos mantendes firmes na fé, ajudando-nos a vivê-la em Igreja por Cristo, com Cristo e em Cristo, OBRIGADO!

Rezo por vós e dou graças a Deus por todos e cada um que permanece fiel ao seu sacerdócio, tudo e só para a maior glória de Deus.



Marinha Grande, 6 de Agosto de 2022
Joaquim Mexia Alves