quinta-feira, 29 de julho de 2010

DEUS NUNCA FAZ FÉRIAS DE NÓS

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Ali sentado, de frente para o mar, iniciava as suas férias.

Olhou para o alto e disse baixinho:
- Senhor, agora estou de férias e por isso vou também abrandar o meu ritmo de oração diária.
Sabes, levanto-me mais tarde, vou para a praia, quero estar assim sem pensar em nada, sem me preocupar com nada.
Perdoa-me, mas eu sei que Tu me entendes.

Deixou-se ficar assim e passado um pouco estranhou não sentir no coração aquela sensação de resposta de Deus, que sempre sentia mais ou menos “visível” quando a Ele se dirigia em oração.

Passado um pouco mais de tempo, começou mesmo a ficar preocupado, pois parecia-lhe que a presença constante de Deus a seu lado, que ele sentia mesmo “sem sentir”, ou seja, uma presença inexplicável, mas segura, continuava a não se fazer presente.

Baixou a cabeça e baixinho perguntou:
- Senhor, Tu estás aí?

Nada!
Nem sequer uma leve sensação de presença se sentiu no seu ser, no seu coração.

Voltou a perguntar, num tom já um pouco mais alto:
- Senhor, Tu estás aí, não estás?

Nada, rigorosamente nada!
Começou a ficar angustiado! Aquilo nunca lhe tinha acontecido!

Sem se preocupar se alguém o ouvia, gritou:
- Senhor, responde-me! Estás aí, não estás?

Ouviu então uma voz no seu coração que lhe dizia:
- Chamaste? Passa-se alguma coisa?

Aliviado respondeu:
- Não, Senhor, não se passa nada! É que fiquei preocupado, pois chamava por Ti e Tu não me respondias! Senti-me tão sozinho!

Ouviu então a resposta com a ternura a que estava habituado:
- Ah, estavas preocupado, desculpa.
É que como decidiste fazer férias de Mim, Eu achei que também era bom fazer umas férias de Ti e dedicar-me um pouco mais aos outros, por isso não te ouvi chamar!



Graças a Deus, que Deus nunca faz férias de nós, se não ficaríamos tão sós que a vida não teria sentido.
Não façamos nós também férias de Deus, mas aproveitemos as férias, para no descanso darmos graças a Deus e na contemplação da natureza, no lazer e nos divertimentos, encontrarmos Deus e com Ele partilharmos todos esses momentos.
Aproveitemos também as férias para estarmos mais com a família e sobretudo chamarmos Deus a estar ainda mais connosco, em família.
Obrigado, Senhor, porque nunca fazes férias de nós.


Nota:
Com este leve e simples texto inicio um período de semi-férias, em que a minha presença aqui poderá não ser tão assídua.
A todos umas boas férias sempre com Deus, para Deus e em Deus.
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segunda-feira, 26 de julho de 2010

A PARTILHA FRATERNAL

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Na semana passada vi algo na televisão que muito me incomodou.
Tratava-se de um reportagem realizada numa paróquia do Norte de Portugal, em que as pessoas protestavam pela mudança e consequente saída do seu pároco, fruto de uma decisão que a todo o tempo os Bispos têm de tomar, obviamente, para uma melhor organização das Igrejas locais.

Aquela gente que protestava, eram, supostamente, cristãos fiéis, de prática cristã activa, de Missa Dominical, de vivência da fé.
Gente portanto, cujo testemunho devia ser exemplo para os outros, devia ser testemunho de paz, de alegria, de aceitação, de entrega.

Nada mais contrário, infelizmente, pois alguns rostos expressavam rancor, violência, quase ódio e as expressões utilizadas confirmavam isso mesmo.
O testemunho que estava a ser dado era exactamente o contrário do verdadeiro testemunho cristão.

Claro que as pessoas até podem não concordar com uma decisão do seu Bispo, e podem manifestá-la no sítio certo, ou seja, pedindo para serem recebidas e ordeiramente explicarem as suas razões.
Devem no entanto estar preparadas para as mudanças necessárias nas suas paróquias, não só como melhoria de organização da Igreja local, mas também porque a missão do sacerdote, para além de ser de disponibilidade total, deve ter sempre novos desafios que o levem a uma maior e empenhada vivência da fé, e também ao descobrir de novos caminhos na proclamação da Palavra, no anúncio da Boa Nova.

Sabemos que quando temos missões de responsabilidade na condução dos homens, (seja na vida religiosa, seja na vida social civil), se ficamos muito tempo no mesmo lugar, tendemos a entrar na rotina, a adormecermos sobre os caminhos conquistados, e assim todas as conquistas alcançadas, não são mais do que conquistas repetidas, que não provocam novas vivências, novos empenhos, novas alegrias.

Ser Igreja é também mais dar do que receber.
Ora se sentimos o nosso pároco como um bem para nós, alguém de quem muito gostamos e queremos, que belo e cristão será proporcionarmos que outros o possam conhecer e dele receberem os talentos e dons que Deus lhe concedeu.

Não será esta uma partilha fraternal, que nos faz mais unidos, mais Igreja?
Não será bem mais belo e cristão, fazermos uma linda festa de homenagem e despedida àquele de quem tanto gostamos, e juntos, em alegria, irmos acompanhá-lo à sua nova missão?
Que seria da cristandade se as comunidades que Paulo visitava e com as quais ficava, o retivessem e não deixassem sair em missão para outras comunidades?

Na minha paróquia estamos neste momento a passar por uma fase semelhante, e o nosso pároco que connosco está há treze anos, e é por todos amado e querido, bem como o vigário paroquial, estão de saída para novas missões e a paróquia está a organizar em alegria e paz, um jantar de despedida, em que, acolhendo a todos, também queremos acolher representantes das novas comunidades onde eles vão passar a exercer o seu sacerdócio.

Verdade seja dita que, julgo eu, estas manifestações têm também muito a ver com a reacção dos próprios sacerdotes à sua saída das paróquias, e também ao modo como transmitem esses factos ao povo crente.
Se recebem a notícia com espírito de missão e aceitação, por muito que lhes custe, (são humanos como todos nós), transmitirão aos seus paroquianos uma imagem de paz, de aceitação firme e pessoal e até de alegria pela nova missão que lhes é confiada.
Logicamente uma tal maneira de anunciar a sua saída de pároco, coloca imediatamente de lado toda e qualquer manifestação que não seja de concordância, e, embora revestido de tristeza, esse acontecimento, pode e torna-se com certeza num momento de unidade, alegria e partilha fraternal, assim entendida como acima escrevo.

Peço ao Pai e ao Filho que derramem o Espírito Santo sobre estes sacerdotes, e sobre nós fiéis, para que tenhamos sempre na mente e no coração o primeiro mandamento, «amar a Deus acima de todas as coisas», bem como o testemunho de unidade cristã à volta dos nossos Bispos e Sacerdotes, na procura da certeza de que só unidos e disponíveis uns para os outros é que podemos realizar a Palavra de Deus:
«Louvavam a Deus e tinham a simpatia de todo o povo. E o Senhor aumentava, todos os dias, o número dos que tinham entrado no caminho da salvação» Act 2,47


Monte Real, 26 de Julho de 2010
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segunda-feira, 19 de julho de 2010

TU, AMAS-ME?

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Tu, amas-me?
Perguntas-me Tu, Senhor.
E eu baixo a cabeça,
e cheio de amor
respondo-Te:
Não Te sei responder, Senhor.


Tu, amas-me?
Repetes Tu, Senhor,
a pergunta.
E eu mais uma vez
respondo-Te envergonhado:
Não Te sei responder, Senhor.


Tu, amas-me?
Insistes Tu, Senhor,
os olhos marejados de amor.
E eu olho-Te nos olhos,
fugazmente,
e respondo-Te
humildemente:
Tu é que sabes, Senhor,
se Te amo,
verdadeiramente!


É que eu não sou Pedro,
Senhor,
sou mais pobre,
e bem mais fraco,
cheio de dúvidas,
e incertezas,
na constância do meu amor.


E, Senhor,
se me vais perguntar tantas vezes,
quantas foram as que Te neguei,
temo, meu Senhor e meu Deus,
que não cheguem todos os dias
da vida que Te entreguei.


Ah, Senhor,
Mas uma certeza eu tenho:
que Tu me amas,
com eterno amor.


Ah, Senhor,
Tu conheces-me,
o meu ser todo inteiro,
(como eu não me conheço),
por isso só Tu podes saber,
se o meu amor por Ti,
é puro e verdadeiro.


É que eu julgo que Te amo,
com todas as minhas forças,
mas também tenho a certeza,
que este amor que Te tenho,
é muitas vezes…
interesseiro.


Amar-Te com todo o meu ser
viver para Ti e por Ti,
ser-Te em todos os actos,
mostrar-Te no meu viver,
é para mim um desejo,
um sonho, uma vontade,
que eu tento perseguir
hoje e sempre,
e no porvir.


Mas, Senhor,
eu sou tão fraco,
tão pobre e pequenino,
que apenas Te posso amar,
com um amor verdadeiro,
se me deres do Teu amor,
(mais rico que o ouro fino),
confirmando a Tua Palavra,
que Tu me amaste…
primeiro.




Monte Real, 15 de Julho de 2010
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segunda-feira, 12 de julho de 2010

SENHOR, EU NÃO SOU DIGNO

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Há dias, no grupo de oração do Renovamento Carismático Católico que coordeno, meditávamos e partilhávamos a Palavra, centrados no episódio da «cura do servo do centurião» Lc 7,1-10

Depois de cada um partilhar com todos a sua reflexão pessoal sobre aquilo que mais o tocava nessa passagem bíblica, (como sempre fazemos), introduzi então alguns pormenores específicos para uma melhor compreensão e meditação de toda a riqueza desta passagem, que como toda a Palavra, nunca se esgota em tudo o que nos vai revelando.

Chamei a atenção para o facto do homem que pede ser um centurião, portanto um “inimigo” dos judeus, um ocupador da sua terra, mas apesar disso, ser com certeza um homem bom, pois a passagem diz claramente que ele tinha muita afeição pelo seu servo, (o que naquele tempo seria coisa rara), e que até tinha mandado construir a sinagoga para os judeus.

Percebemos também que este homem se sente indigno de se aproximar de Jesus e por isso pede a outros que por ele intercedam, levando-nos a pensar na importância da intercessão.

Meditámos ainda no facto de Jesus se admirar da fé daquele homem. Com efeito aquele homem dando a perceber a sua autoridade sobre aqueles que ele comanda, reconhece em Jesus Cristo uma autoridade bem maior, ou melhor, a autoridade total, pois vai muito para além das coisas do mundo, acreditando ele, centurião, que Jesus Cristo com uma só palavra pode curar o seu servo.

Detivemo-nos então na frase: «Não te incomodes, Senhor, pois não sou digno de que entres debaixo do meu tecto, pelo que nem me julguei digno de ir ter contigo. Mas diz uma só palavra e o meu servo será curado.» Lc 7,6-7

Enquanto falava sobre esta frase, veio ao meu coração, ao meu pensamento algo de muito simples, verdadeiro e extraordinário, mas que nunca tinha pensado ou percebido.

Esta frase, usada na Liturgia da Eucaristia, «Senhor, eu não sou digno que entreis em minha morada, mas dizei uma só palavra e eu serei salvo», mesmo antes de recebermos o Senhor em nós, nas nossas vidas, é repetida milhares de vezes todos os dias, nas mais diversas línguas, por esse mundo fora.

Esta frase que, (pelo menos falo por mim), tantas e tantas vezes, dizemos de forma rotineira e “banal”, nos introduz no Mistério maior de um Deus que se faz alimento para aqueles que ama, e nos irmana num só povo que, reconhecendo-se indigno, aceita a dignidade que lhe é oferecida pelo seu Senhor.

Esta frase que se confirmou na cura do servo do centurião, (pela graça de Deus, admirado da fé daquele homem), e que nós repetimos de forma ligeira e tantas vezes irreflectida, não percebendo que por essa mesma graça, o Senhor nos alcança a salvação, mesmo perante a nossa fraca fé.

Esta frase em que, como o centurião, nos devemos abandonar numa total confiança ao Senhor Nosso Deus, acreditando que tudo Lhe é possível.

E depois, depois percebermos, que esta frase que nos une como irmãos, filhos de Deus, foi proferida pelo centurião que afinal poderíamos dizer em linguagem simples de hoje, “estava fora da Igreja de então”!

Para que percebamos que não é o “pertencer à Igreja”, que não é o “ir à Missa”, que não é o “repetir Senhor, Senhor”, que nos salva, mas sim a fé em Jesus Cristo que a todos ama e chama por igual.

E para correspondermos a esse amor temos que “viver a e em Igreja”, temos que “participar e celebrar a Missa”, temos que “repetir Senhor, Senhor”, muito mais com o coração do que com a boca.

Sei que não consegui exprimir bem tudo o que senti, vivi e reflecti, (as palavras são tão vazias por vezes), mas posso afirmar que esta frase ganhou um novo sentido na minha vida, e que quero olhar para aqueles que não estão ainda em Igreja, com a bondade e o amor do olhar de Jesus Cristo, Nosso Senhor e Salvador.


Monte Real, 12 de Julho de 2010
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quinta-feira, 8 de julho de 2010

‘Blood Money’ (Dinheiro de sangue) - o documentário choque e polémico actual nos Estados Unidos

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Este é um novo filme independente que retrata a indústria do aborto com o nome “Blood Money” (Dinheiro de sangue) e que têm como objectivo expor a corrupção da Planned Parenthood.

Por isso peço-lhe que divulgue em todos os seus contactos este vídeo e assim talvez seja possível trazer este trabalho até Portugal.



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quinta-feira, 1 de julho de 2010

A CENTRALIDADE DA PALAVRA

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Continuando o seu caminho, Jesus entrou numa aldeia. E uma mulher, de nome Marta, recebeu-o em sua casa. Tinha ela uma irmã, chamada Maria, a qual, sentada aos pés do Senhor, escutava a sua palavra. Marta, porém, andava atarefada com muitos serviços; e, aproximando-se, disse: «Senhor, não te preocupa que a minha irmã me deixe sozinha a servir? Diz-lhe, pois, que me venha ajudar.»
O Senhor respondeu-lhe: «Marta, Marta, andas inquieta e perturbada com muitas coisas; mas uma só é necessária. Maria escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada.»
Lc 10,38-42


«Maria escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada.»

Maria escolheu a Palavra!
A Palavra é o próprio Deus.
Sem a Palavra nada mais tem sentido.
Por isso a Palavra é central à vida de todo o cristão e toda a sua vida tem de ser orientada e vivida pela Palavra.
E a centralidade da Palavra é perfeitamente compreendida nesta passagem da Bíblia.

Reparemos que antes deste encontro com Marta e Maria, o evangelista Lucas nos narra a Parábola do Bom Samaritano, contada por Jesus para bem fazer entender o mandamento do amor. Lc 10, 25-37
Esta parábola leva-nos à vivência do amor, a Deus e aos outros, leva-nos a entender que a nossa vida cristã tem de ser também acção, obra, testemunho permanente do amor de Deus em nós, e para os outros
Ora este amor de Deus a cada um e de cada um para os outros, é-nos transmitido na Revelação do próprio Deus, é-nos transmitido portanto, na Palavra e pela Palavra.
Mas a seguir, Lucas conta-nos como Jesus ensinou os seus discípulos a orarem, prosseguindo com vários ensinamentos sobre a oração. Lc 11,1-4ss
A oração, alimento do cristão, é-nos então dada na Palavra, sai da Palavra e é suscitada pela Palavra.
Maria, sentada aos pés de Jesus, tem não só uma atitude de escuta, mas também uma atitude orante, que leva à intimidade com o Senhor.
E não é a oração individual, (e até a colectiva), um diálogo íntimo e pessoal com Jesus Cristo?
Não é na oração que amamos a Deus, que Lhe prestamos o nosso louvor e até intercedemos pelos outros?
Não é na oração que nos unimos a Cristo, e que com o mesmo Cristo, nos unimos aos outros?

Então é a escuta da Palavra que nos leva á oração, pela oração à comunhão com Cristo e com os outros, e nessa comunhão à acção vivida do mandamento do amor.

Então a Palavra, que se faz e nos leva à oração, faz também da acção uma oração na vivência da Palavra!

Então acolher a Palavra e vivê-la, é fazer da vida uma oração, no diálogo e na acção, nas obras, tudo em comunhão com Deus, que se faz tudo em nós, servindo-se de nós na nossa entrega ao seu amor.

A oração de hoje podemos esquecê-la amanhã, a acção de hoje sairá da nossa memória passado um tempo, mas a Palavra fica, e é semente permanente que dá fruto na oração e na acção.

Por isso:
«Maria escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada.»


Monte Real, 1 de Julho de 2010
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