sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

ANO VELHO 2010, ANO NOVO 2011

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Aproxima-se o fim do ano de 2010 e como tal o começo do novo ano de 2011.

Muitos aproveitam estes tempos de final e recomeço de ano para passarem mensagens “apocalípticas” de cenários de “fim do mundo”, de desgraças eminentes, de castigos e vinganças “divinas”, como se houvesse na nossa vida, na vida do mundo, uma hora marcada para tal acontecer.

O que sabemos sobre isso é tão pouco, que se resume praticamente a isto:
«Quanto àquele dia e àquela hora, ninguém o sabe: nem os anjos do Céu nem o Filho; só o Pai.» Mt 24, 36

Importante sim é estar preparado, porque esse dia e essa hora, para cada um de nós, pode ser em qualquer momento, seja fim de ano, ou não.

E isso leva-nos a outra reflexão, que é o colocarmo-nos perante as promessas que tantas vezes fazemos a nós próprios, (e às vezes até a Deus), de tantas mudanças que nos propomos fazer no ano que está a chegar.

Mas se vamos fazer mudanças na nossa vida, é porque alguma coisa está mal!
Então porquê esperar para mudar o que está mal? Porque não começar já, aqui e agora essa mudança?

Porque se alguma coisa está mal na nossa vida e não a mudarmos já, podemos “ser apanhados” desprevenidos antes do tal começo do novo ano, e partirmos deste mundo agarrados à “coisa má” e não à “coisa boa”!

A mudança que eu preciso fazer na minha vida, e que julgo todos temos de fazer, é amarmos e confiarmos cada vez mais em Deus, e dispormo-nos a fazer mais a Sua vontade do que a nossa, colaborando com a nossa entrega em família, no trabalho, no lazer, na construção de um mundo melhor, mais fraterno, mais de Deus, com Deus e para Deus, num permanente testemunho de vivência da fé cristã católica.

E para isso, é só preciso fazermos de nós próprios “barro mole”, pronto a ser moldado pelas mãos de Deus, porque é Ele mesmo que nos diz, precisamente no Livro do Apocalipse:
«Eu renovo todas as coisas.» Ap 21,5


Um bom Ano Novo para todos, cheio das bençãos de Deus.

Marinha Grande, 31 de Dezembro de 2010
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quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

CONTO DE NATAL 2010

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Deitada no sofá em posição fetal, aninhava-se, fechando-se sobre si própria, envolvendo-se cada vez mais na sua tristeza, no seu desespero, na incrível solidão que naquele momento vivia.

Dia 24 de Dezembro, véspera de Natal!

Naquela manhã tinha-se levantado decidida a de uma vez por todas confirmar ou não, aquilo que o seu coração há muito lhe dizia, mas ela não queria acreditar.

Feito o teste, a resposta era inequívoca: Estava grávida!

Naquele momento, sozinha na casa de banho, tinham passado pela sua cabeça e pelo seu coração, os mais incríveis pensamentos, os mais inexplicáveis sentimentos!

Por um lado pensara que não podia ser, não era possível, e de maneira nenhuma podia aceitar aquele facto, pelo que tinha de lhe pôr fim muito rapidamente.
Por outro lado, sentira um amor que se desprendia do seu coração e a levara a acariciar a barriga como se alguma coisa já lá se sentisse.

Saiu da casa de banho e dirigiu-se para o quarto, com o “coração aos saltos” de nervosismo, mas também com uma sensação de medo.

Como iria o seu namorado reagir aquela notícia?

Ao vê-la, ele logo percebeu que alguma coisa se passava, pelo que de imediato lhe perguntou o que a preocupava.

Numa voz sentida e baixa, repassada de ternura e medo, ela respondeu-lhe dizendo que estava grávida.

Não precisava da resposta dele, pois o olhar incrédulo e ao mesmo tempo furioso, revelou sem margem para dúvidas o que ele pensava.

Nem se queria lembrar da discussão, das incríveis coisas que ele disse, do ar ofendido e revoltado com que se lhe dirigiu, e sobretudo da tomada de posição ao dizer-lhe que ela tinha de imediatamente pôr fim à gravidez.

Lembrava-se de não saber o que lhe responder, pois nela havia um misto de decisões e indecisões, que iam desde o aceitar o que ele propunha, até ao sentimento maternal que falava mais alto, e lhe dizia ao coração que ela não podia terminar aquela gravidez.

Ainda estavam nos seus ouvidos a “explosão” do bater da porta da rua e as últimas palavras duríssimas que dele ouviu: Nunca mais me pões a vista em cima!

Tinha ficado ali, sem reacção, prostrada, imóvel, sem perceber o que tinha acontecido.

Tinham passado uma óptima noite, as promessas de amor eterno, o casamento a marcar e, de repente … o mundo desabava-lhe em cima!

Percebeu que no estado em que estava não podia passar a noite de Natal em casa dos seus pais. Eles perceberiam de imediato que alguma coisa de grave se passava, e ela não queria dar explicações nenhumas, nem queria ouvir fosse o que fosse naquele dia!

Muito a custo telefonou-lhes tentando fazer uma voz normal, e arranjou uma desculpa mais ou menos verosímil para não estar com a família nesse dia.

Agora estava sozinha!

Há horas que estava naquela posição. A noite tinha chegado e ela nada tinha comido durante todo o dia. Apetecia-lhe morrer e ao mesmo tempo apetecia-lhe viver.

Falava com a sua barriga como se alguém a escutasse, fazendo juras que sozinhos os dois, mãe e filho, haviam de conseguir. Percebeu então que uma decisão estava tomada: Aquele filho ia nascer, contra tudo e contra todos!

Ficou um pouco mais animada com a consciência da decisão tomada, mas logo a perspectiva do futuro lhe caiu em cima com uma tal força, que se sentiu fechada numa gruta funda, sem luz, sem ânimo e sem esperança.

Olhou para o pequeno presépio que tinha na sala, e lembrou-se da Missa do Galo!

Não faltava a essa Missa desde que se lembrava de si própria, e por isso mesmo, decidiu com grande esforço que iria participar nela, mas a uma igreja diferente da habitual, claro, pois não queria encontrar a sua família.

Saiu para o frio da rua, o que lhe deu um pouco de alento, tendo-a despertado do torpor em que se tinha deixado envolver.

Procurou um lugar na igreja onde ficasse só, pois não queria sorrir a ninguém, não queria cumprimentar ninguém, não queria falar a ninguém.

A Missa passou sem ela dar conta e apercebeu-se então que já tinha chegado o momento da Comunhão.
Lembrou-se com alguma mágoa que, de acordo com o que tinha aprendido na família e na catequese, não poderia comungar a hóstia consagrada, dada a vida que vivia.

Mas também se lembrou ter aprendido que Jesus nunca abandonava aqueles que a Ele se dirigiam de coração aberto.
Ajoelhou-se e entrando dentro de si, falou com Aquele Menino que há tantos anos “via nascer” no presépio de casa dos seus pais.

“Jesus, eu não sei o que acreditar, mas sinto que de alguma maneira estás aqui comigo e me fazes companhia. E agora, Jesus, o que hei-de eu fazer?
Eu só quero sentir amor, sentir que não estou só, e que tomei a decisão correcta.
Sabes, Jesus, ele ofendeu-me muito, mas não lhe desejo mal. Olha lembro-me das Tuas palavras na Cruz e apetece-me dizer o mesmo: Perdoa-lhe que ele não sabe o que faz.”

Sentiu uma mão no ombro, que suavemente lhe chamava a atenção, e uma voz terna que lhe dizia:
- Desculpe mas tem que sair. A Missa já acabou e temos de fechar a igreja.

Não se tinha apercebido do tempo passar!
Balbuciou uma qualquer desculpa e saiu rapidamente para a rua.

Um sorriso aflorou os seus lábios. Não sabia o que se passava, mas uma paz, uma tranquilidade, uma alegria, invadiam o seu coração. Pela primeira vez nesse dia não teve medo da decisão tomada e teve a certeza inexplicável de que tudo iria correr bem, mesmo com as provações normais que uma situação como aquela acarretava, e que ela tinha decidido viver.

Quase ao chegar a casa, reparou num vulto que estava sentado nos degraus da entrada do prédio, todo dobrado sobre si próprio, por causa do frio, claro.
Não teve medo, mas apenas pena daquele pobre desgraçado que não devia ter onde ficar, e pediu a Jesus que o ajudasse também.

Ao subir os degraus da entrada, o vulto levantou-se, e prostrou-se de joelhos diante de si, dizendo apenas:
- Perdoa-me! Perdoa-me que eu nem sei as asneiras que disse, o mal que te fiz! Perdoa-me!

Olhou para a cara dele. As lágrimas corriam-lhe pela face, mas ele não se importava. Apenas não conseguia olhá-la nos olhos, de tão envergonhado que estava.

Puxou-o para cima, pegou-lhe na cara com as duas mãos, e deu-lhe um terno beijo nos lábios.

Numa voz entrecortada pelo choro, ele apenas dizia:
- Eu amo-te, eu amo-te, e a melhor expressão do meu amor, do nosso amor, é este filho nosso que trazes em ti e que eu quero viver contigo! Como pude ser tão cego, tão desumano, tão desprezível! Casamos amanhã, casamos mal seja possível! Eu quero estar contigo e viver todos esses momentos da tua gravidez, e do nascimento do nosso filho!

E não se calava, até que ela suavemente lhe colocou a mão nos lábios e o empurrou para dentro de casa.

Olhou para ele, fixamente nos olhos, e disse com a voz cheia de amor e ternura:
- O amor tudo vence! O passado já passou e não volta mais! Vivamos agora o presente e o futuro!

Ele aquietou-se e ficaram abraçados por um longo período de tempo, apenas gozando e sentindo a companhia um do outro.

Ela afastou-se então um pouco e disse-lhe:
- Hoje ainda tens que fazer mais uma coisa comigo, por mim e por ti.

Ele anuiu, baixando a cabeça.

Aproximaram-se então de mão dada do pequeno presépio, e ela ajoelhou-se com ele, dizendo:
- Agradece comigo a Jesus, o Amor que nasce no coração dos homens e que hoje renasceu nos nossos corações!

Lá fora ouviam-se vozes de jovens que cantavam:

“Noite feliz, noite feliz!
O Senhor, Deus de Amor,
Pobrezinho, nasceu em Belém
Eis na lapa Jesus, nosso Bem
Dorme em paz, ó Jesus!
Dorme em paz, ó Jesus! ”

ou então … eram os ouvidos dos seus corações unidos que assim ouviam.


Monte Real, 21 de Dezembro de 2010


Com este Conto de Natal, desejo a todas as minhas amigas e todos os meus amigos que aqui costumam ajudar-me nesta caminhada para Deus, por Deus e com Deus, um SANTO e FELIZ NATAL e um ANO NOVO cheio das bençãos de Deus.
Este Conto de Natal, constitui também a minha participação do 25º Dia de Caminhada para o Natal, que amanhã prossegue com a Gisele.
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terça-feira, 21 de dezembro de 2010

SÚPLICA AO SENHOR NOSSO DEUS

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Senhor,

aquele a quem tu amas, aquele que tão bem conheces, aquele de quem Tu, Senhor, Te serves, tantas vezes, para evangelizar nestes meios da internet, está doente.

E nós, Senhor, que bebemos todos os dias da Tua água viva, que nos dás a conhecer pelo seu trabalho nestes meios de comunicação, queremos, unidos numa só fé, e numa só esperança, pedir-Te: Cura-o, Senhor, segundo a Tua vontade.

Um dia foste Tu mesmo, Senhor, que nos disseste:
«Digo-vos ainda: Se dois de entre vós se unirem, na Terra, para pedir qualquer coisa, hão-de obtê-la de meu Pai que está no Céu. Pois, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, Eu estou no meio deles.» Mt 18, 19-20

Assim, no cumprimento da Tua Palavra, aqui neste espaço de oração, reunimo-nos todos os que aqui vimos e pedimos-Te: Cura-o, Senhor, segundo a Tua vontade.

E damos-Te graças, Senhor, desde já, por tudo o que estás a fazer, e vais fazer na vida deste nosso irmão, porque tudo o que for de Tua vontade, é sempre o melhor para ele e para cada um de nós, pois é este o querer, é esta a certeza mais profunda da fé que nos deste: Fazer sempre a Tua vontade.

Tudo para Tua glória, Senhor!

Amen.


Nota:
Peço a todos que por aqui passarem, que unidos rezemos esta oração, por um irmão nosso que tem um importantíssimo trabalho de apostolado na internet.
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quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

NATAL NO IRAQUE

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No seu horizonte imediato
apenas uma bomba,
uma ameaça à sua vida,
algo que já viveu de facto,
naquela igreja,
naquele dia,
em que tentaram explodir Jesus.


E até explodiram um pouco,
naqueles que O celebravam,
na paz e na alegria,
e que com Ele partiram,
para o Reino do amor eterno,
levados na mesma Cruz,
em que Ele morreu um dia.


Mas não O mataram,
isso não,
como não mataram sequer,
aqueles que com Ele morreram,
porque aqueles que com Ele morrem,
com Ele ressuscitarão.


Mas é Natal,
a vinda do Deus Menino,
e ele quer dedicar-se ao bem,
enquanto outros apenas,
querem dedicar-se ao seu mal.


Dizem-lhe que fuja,
que desista,
que considere a causa perdida,
mas ele sem vacilar,
numa vontade de dentro,
diz forte vencendo o seu medo:
Como posso eu fugir,
como posso eu desistir,
dAquele que me dá a vida?


É que todo o meu horizonte,
não é bomba,
nem sequer bala que mata,
é a certeza que tenho,
tão dentro de mim mesmo,
que o Deus que me criou,
se faz vivo em mim,
por mim,
e se com Ele eu viver,
com Ele hei-de morrer,
e mesmo que os homens não queiram
com Ele hei-de renascer.


Aqui estou,
e aqui fico,
no lugar que me foi dado,
para viver o meu Senhor.


E mesmo que me odeiem,
alguns dos meus irmãos,
por eles eu hei-de pedir,
interceder, suplicar,
ao Céu levantarei as mãos,
numa oração permanente,
por eles,
por mim,
afinal por toda a gente.


E mesmo que os sinos não toquem,
e as portas não se abram,
mesmo que uns tantos me amem,
e outros me queiram mal,
os anjos hão-de cantar,
a paz e a boa vontade,
aos homens,
neste Natal.




Monte Real, 16 de Dezembro de 2010


Pobres versos inspirados na nota de Aura Miguel na RR, em 10 deste mês, intitulada “Natal no Iraque”.
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domingo, 12 de dezembro de 2010

A VARANDA DE DEUS

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Debruçado na varanda sobre o mundo, olhava, estupefacto com o que lhe era dado ver.

Tinha estado a rezar intensamente, pedindo a Deus que lhe desse compreensão para tantas coisas que aconteciam no mundo, e que ele não conseguia perceber.

Eram cataclismos, violências, guerras, ódios, crimes, enfim um nunca parar de coisas horrendas, pelas quais ele como tantos outros, perguntava amargurado:
- Meu Deus porquê? Porque permites tais coisas? Porque as deixas acontecer?

Deus respondeu-lhe então, numa voz muito audível ao seu coração, perguntando-lhe:
- Acreditas que eu fui o teu criador e o criador do mundo? E se acreditas nisso, acreditas que te criei em liberdade para que tu escolhas o teu caminho e a vida que queres viver?

Humildemente, baixou a cabeça e respondeu:
- Sim Senhor, acredito!

Foi então que se sentiu transportado para aquela varanda, podia chamar-lhe a “varanda de Deus”, porque tinha vista ao mesmo tempo sobre todo o mundo.

Deus disse-lhe suavemente, com a voz repassada de tristeza:
- Fica aqui por uns momentos, tantos quantos queiras, e vai reparando no que se passa no mundo, para que obtenhas respostas ao que me perguntaste.

Deixou-se então ali ficar, e começou a olhar, vendo o que se passava no mundo.
Era tudo tão nítido, tão perto, tão real, que tudo o que via o deixava verdadeiramente estupefacto, envergonhado, esmagado de tristeza.

Para todos os lados da terra para onde olhasse via homens a testarem armas, a prepararem-se para a guerra, a provocarem ódios e inimizades, e seguidamente a matarem-se “metodicamente” em batalhas que a nada levavam.

Via a homens a odiarem-se, a prepararem vinganças, a ofenderem-se, ferirem-se, a matarem-se, pelos motivos mais fúteis.

Via homens a exercerem violências inauditas sobre mulheres, sobre crianças, os mais fortes a dominarem os mais fracos.

Via gente cheia de tudo, gente a quem nada faltava e tudo sobrava, e mesmo ao lado gente faminta, nua, gente sem esperança.

Reparou em tantos homens e tantas mulheres, envolvidas em orgias de prazer mundano, depois reflectidas em profundas depressões.

Percebeu envergonhado na imensidade de grávidas que matavam os seus filhos no seu próprio ventre.

Via por todo o lado os homens de costas voltadas, os miseráveis pelo chão e ninguém se incomodar com eles.

Viu ainda tanta gente que andava pelo mundo á espera de uma palavra, de um sorriso, de um conforto, mas que afinal eram “transparentes”, aos olhos daqueles que por eles passavam.

Percebeu também, no meio de todo este horror, algumas ilhas de bondade, de uns poucos, no meio de tantos, que se preocupavam com tudo e queriam o bem de todos.

Não quis ver mais, porque a visão de tudo era insuportável aos seus olhos, ao seu coração, até porque sentia que também fazia parte de tudo aquilo.

Deus olhou para ele, com aqueles olhos imensos de amor eterno e perguntou-lhe:
- Não são todos criaturas minhas? Em alguma coisa os distingui entre os que fazem o bem e os que fazem o mal? Não são todos livres de fazerem a sua própria vontade?

Numa voz sumida e envergonhada apenas respondeu:
- Sim, Senhor.

Serenamente, Deus disse-lhe:
- Então que queres que Eu faça? Que lhes retire a liberdade? Que os obrigue a fazer a minha vontade? Para que lhes serve então a inteligência e a consciência que lhes dei?

Sem saber o que dizer, apenas abanava a cabeça, sem levantar os olhos para Deus.

Deus continuou:
- Se uns usam a liberdade que lhes dei para fazerem o bem, porque é que os outros não o fazem também?
Que têm feito os homens do mundo que lhes dei?
Não vês a destruição da natureza, da beleza da criação?
É vontade minha, por acaso?

Mas ele nada conseguia dizer, porque nada havia que protestar, ou contestar.

Deus disse-lhe então:
- Foi-te dado ver o que os homens fazem da liberdade que lhes dei. Foi-te dado perceber que uns a utilizam para o bem e outros para o mal.
Abre o meu Livro e perceberás que desde sempre peço ao homem para fazer a minha vontade, pois só assim encontrará a felicidade.
Até dei ao homem o Meu próprio Filho, para que lhe revelasse a minha vontade, mas torturaram-no e mataram-no!
Ressuscitou ao terceiro dia e deu provas da Sua Ressurreição e mesmo assim não acreditaram, não acreditam.
Ao longo dos tempos, e hoje ainda, sempre houve homens e mulheres testemunhas do bem e do amor, que viveram segundo a minha vontade, e também esses desprezaram e ainda desprezam, alguns até mataram e ainda matam.
Não sei castigar, apenas sei amar!
Que queres tu que Eu faça?

Humildemente, de cabeça baixa, disse:
- Que tenhas compaixão, Senhor!
Que continues a amar-nos com o Teu eterno amor!
Que nos perdoes quando Te perguntamos porque acontece isto ou aquilo, sabendo nós que a culpa é apenas nossa, é apenas da forma como usamos a liberdade que Tu mesmo nos deste.
E suscita, Senhor, mais homens e mulheres que levem a Tua Palavra, que falem da Tua vontade e que dêem testemunho da alegria e da felicidade que é a vida em Ti, conTigo e para Ti.

Deus abraçou-o então, e disse:
- Vai em paz meu filho. Uma coisa podes tu ter a certeza: faça o homem o que fizer, o meu amor por ele permanece inalterado, e os meus braços estarão sempre abertos para o receber.
A liberdade sempre a terá, porque essa é a prova mais pura do meu amor por ele.

Abriu os olhos, olhou em redor, e calmamente com uma grande paz no seu coração, deu graças a Deus.


Monte Real, 12 de Dezembro de 2010
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quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

À IMACULADA CONCEIÇÃO

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Ò Senhora minha,
ò minha Mãe,
aqui estou feito menino,
dá-me a tua mão
e ensina-me o caminho.


Entrego-te tudo que sou,
nada quero,
como Tu não querias,
ensina-me tão só a amar
Aquele que por nós se entregou.


Ensina-me ò Mãe
a viver,
as tristezas e alegrias,
encontrando em todas razão,
para prosseguir o caminho,
que me dita o coração.


Nada sou nem quero ser,
ensina-me a humildade,
o silêncio e a verdade,
a graça do sim,
da entrega da minha vida,
moldada à Sua vontade.


Mãe formosa,
Mãe tão Santa,
Mãe Imaculada,
e fonte de beleza tanta,
que não cesso de admirar,
a hora tão mais ditosa,
em que no mais puro amor,
nos deste do teu puro ventre,
a verdade mais preciosa,
o Filho de Deus vivo,
Jesus Cristo, o Salvador.




Marinha Grande, 8 de Dezembro de 2010
Festa da Imaculada Conceição da Virgem Santa Maria
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segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

9º Dia da Caminhada do Advento

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O Evangelho de hoje, Lc 5, 17-26, narra a “cura do paralítico”.

Esta cura é descrita nos três Evangelhos sinópticos, dos quais realço hoje, os seguintes versículos.

Mt 9,2 – Apresentaram-lhe um paralítico, deitado num catre. Vendo Jesus a fé deles, disse ao paralítico: «Filho, tem confiança, os teus pecados estão perdoados.»
Mc 2,3-5 – Vieram, então, trazer-lhe um paralítico, transportado por quatro homens. Como não podiam aproximar-se por causa da multidão, descobriram o tecto no sítio onde Ele estava, fizeram uma abertura e desceram o catre em que jazia o paralítico. Vendo Jesus a fé daqueles homens, disse ao paralítico: «Filho, os teus pecados estão perdoados.»
Lc 5,18-20 – Apareceram uns homens que traziam um paralítico num catre e procuravam fazê-lo entrar e colocá-lo diante dele. Não achando por onde introduzi-lo, devido à multidão, subiram ao tecto e, através das telhas, desceram-no com a enxerga, para o meio, em frente de Jesus. Vendo a fé daqueles homens, disse: «Homem, os teus pecados estão perdoados.»

Percebemos então que há uns homens, (seriam quatro), que trazem um paralítico a Jesus, para que Ele o toque, para que Ele o cure.
Percebemos também que os homens têm dificuldades em levar o paralítico à presença de Jesus.
Está muita gente, não conseguem passar, há dificuldades várias, mas eles não desistem, sobem ao tecto, abrem caminho e descem o paralítico até Jesus.
É ainda importante repararmos que, (pelo menos os textos não o dizem), os homens nada disseram, nada pediram, “limitando-se” a apresentarem o paralítico a Jesus, na convicção de que Ele sabia muito bem o que o homem precisava, e que faria o que Lhe aprouvesse e fosse melhor para aquele homem.
Perante tudo isto, Jesus sente e confirma a fé daqueles homens, levando-nos no entanto os textos a percebermos, que a fé estará naqueles que apresentam o paralítico a Jesus, e não nele próprio.
Ao “ver a fé daqueles homens”, como nos dizem os textos, Jesus trata primeiro de curar a vida interior daquele homem, perdoando-lhe os pecados, para depois, e perante a murmuração e incredulidade dos outros e muito provavelmente ainda do paralítico, o curar da doença física.
Mais vale entrar no Céu “paralítico”, do que ir para o Inferno a “correr”!
O homem tem agora uma vida nova!
Perdoado dos seus pecados, e curado da paralisia, pode agora caminhar interiormente e exteriormente, dando testemunho da graça que Jesus nele derramou.
Mas esta cura, interior e exterior, foi possível, para além da graça de Deus, porque houve alguém que levou o homem, que intercedeu pelo homem junto de Jesus.
Aqueles homens intercederam pelo “doente”, não desistindo perante as dificuldades!
Foram constantes, perseverantes e não se importaram se o homem tinha ou não fé em Jesus Cristo!
Esse era um problema que Jesus resolveria, bem como a cura da doença física!


É sublime a missão que o Senhor nos dá de intercedermos uns pelos outros!

E nesta caminhada do Advento o Senhor chama-nos a atenção que esta não é, nem pode ser, uma caminhada solitária.

Somos chamados a interceder pelos outros, a levá-los pelo nosso testemunho de vida ao encontro de Jesus, ao encontro do Deus Menino, que quer nascer nos corações dos homens.
E lembrarmo-nos que a nossa parte é levar os outros a Jesus, pela nossa intercessão em oração, pelas nossas palavras sensatas e oportunas, acompanhadas de um testemunho de vida cristão e católico, porque tudo o resto será o Senhor a fazer pela graça do Seu amor.

Senhor Jesus, que vens ao nosso encontro fazendo-Te um como nós, ensina-nos a também nós nos sabermos dar aos outros em amor.
Ensina-nos, Senhor, a orar por eles, por aqueles que ainda não Te conhecem.
Ensina-nos, Senhor, as palavras certas que movam os seus corações ao Teu encontro.
Ensina-nos, Senhor, nas nossas fraquezas, a darmos testemunho vivo e verdadeiro da Tua presença nas nossas vidas.
Ensina-nos, Senhor, a sermos perseverantes na oração, fiéis na palavra e constantes no testemunho.
Tudo para Tua honra e glória, Senhor.
Amen

Amanhã continuamos a nossa Caminhada do Advento com a Fa, no Partilhas em Fa menor
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quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

ADVENTO

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Sentado à beira da estrada,
espero.
Não me movo,
não faço nada,
apenas espero.
Perder este momento,
não quero!
Por isso me aquieto,
até os olhos fecho,
para que nada me distraia.
Perder este momento,
não quero!
Disseram-me que Ele vinha,
que havia de aqui estar,
no meio de nós,
como eu,
como tu,
como cada um de nós,
e eu…
perder este momento,
não quero!
Por isso aqui estou,
imóvel,
sentado na estrada,
à espera que Ele passe,
que Ele se mostre,
que Ele venha ao meu encontro,
porque…
perder este momento,
não quero!
Passa gente e mais gente,
mais apressados uns,
mais lentos outros,
e eu fico-me a pensar:
Será que não sabem que Ele vem?
Será que não sabem
que devem esperar?
Mas eu nada lhes digo,
nem de nada os informo,
não me quero distrair,
porque…
perder este momento,
não quero!
Passam as horas,
os dias também,
parece que já me falta o tempo,
mas eu,
imóvel,
espero,
porque…
perder este momento,
não quero!
Sinto uma mão no ombro,
alguém me quer distrair,
e olho com ar zangado,
para quem assim me interrompe,
sem deixar de estar sentado,
à beira daquela estrada,
porque…
perder este momento,
não quero!
Ouço então aquela voz,
que me diz em tom suave:
Que fazes aqui sentado,
imóvel,
sem fazer nada.
Já todos há muito partiram,
vão todos em caminhada,
vão correndo alegremente,
a ver onde o Rabi mora,
a ver onde Ele nasceu,
e tu aqui sentado!
Mas eu…
balbucio e digo:
Eu estou aqui parado,
quieto, imóvel,
é por Ele que eu espero,
porque…
perder este momento,
não quero!
A voz diz-me então
em tom suave mas firme:
Levanta-te homem,
e caminha!
Endireita as veredas,
prepara o Seu caminho!
Caminha sobre as pedras,
que não te poderão ferir,
sobe às montanhas mais altas,
aquelas que te não deixam ver,
endireita todas as curvas,
que insinuam a tua vida,
retira do teu olhar,
as traves que lá colocaste,
abre a tua boca e canta,
afoga o teu lamento,
abre-te tão livremente,
que nada te pese,
nem te segure
e deixa-te levar pelo Vento.
Não fiques à espera,
caminha,
parte ao Seu encontro,
porque sentado imóvel,
nada fazes,
nem fruto dás.
Porque para O encontrares,
e por Ele seres encontrado,
precisas de fazer o bem,
a ti,
e a quem está a teu lado.
Faz a viagem para fora,
caminha dentro de ti,
procura os outros,
encontra-te,
e então…
vais encontrá-Lo,
numas palhinhas deitado,
no mais bonito presépio,
que é o teu coração.




Monte Real, 30 de Novembro de 2010
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