sexta-feira, 30 de abril de 2010

CARTA ABERTA AO SENHOR PRESIDENTE DA REPÚBLICA

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Exmo. Senhor Presidente da República

Aparece nos órgãos de comunicação social a “notícia” de que V. Exa. estaria a preparar o veto à vulgarmente chamada, “Lei dos casamentos homossexuais”.

Com toda a sinceridade não acredito muito nessa hipótese.

Com efeito, e se olharmos para trás, percebemos que em todos os momentos em que foi preciso o Presidente da República ter uma intervenção a favor dos valores que enformam a sociedade portuguesa, V. Exa. sempre decidiu de acordo com a minoria que grita mais alto e que se arroga do direito, (com uma pretensão de modernidade), de mudar tudo o que faz parte da cultura e dos valores da Nação Portuguesa.

Foi assim com a “Lei do Aborto”, com a “Lei para facilitar os divórcios”, para apenas focar estas, mas, curiosamente, quando a “Lei do Estatuto Regional dos Açores” beliscou os poderes da Presidência da República, aí e nesse caso, tomou uma posição de força e “comprou” mesmo uma “guerra” com o Governo.

Por isso, e por este modo de proceder a que nos habituou, é que eu duvido muito que a referida “notícia” tenha alguma credibilidade.

Mas já agora aproveito para pedir a V. Exa. que nos poupe à leitura de uma qualquer nota que decida enviar à Assembleia da República, tal como fez quando da “Lei do Aborto”, pois essas notas não são mais do que um lavar de mãos, uma atitude do tipo: “Eu não concordo, mas assino”.

Tenho eu alguma coisa contra os homossexuais poderem viver juntos e até terem direitos reconhecidos por lei civil dessa mesma união?

Não, não tenho nada contra, pois essa é uma opção de cada um, que eu não julgo, nem tenho de julgar, embora vá contra a Doutrina e a Fé que eu professo na minha vida.

Posso afirmar essa Fé e essa Doutrina, testemunhando-a e tentando cumpri-la, mas não posso, não devo, nem quero impô-la a ninguém que a não queira aceitar e seguir.

Outra coisa bem diferente é aceitar que a instituição do Casamento, que desde sempre se entendeu como a união entre um homem e uma mulher, (escuso-me de pensamentos exaustivos sobre o assunto que já são do conhecimento de todos), para em circunstâncias normais constituírem uma família, seja posta em causa, apenas para tornar normal aquilo que o não é.

E o problema maior é que com estas leis que V. Exa. vai aprovando, (embora afirmando que o faz a contragosto), a sociedade portuguesa se vai desagregando e dando sinais de uma degradação progressiva.

Neste momento e julgo que nestes últimos dois anos, já morrem em Portugal mais Portugueses do que aqueles que nascem.
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O aborto que seria para as excepções, (se é que há excepções quando se trata de defender a vida humana?), tornou-se prática comum, de tal modo que constitui já, no fundo, um método anticoncepcional com a ironia, (se é que assim se lhe pode chamar), de o ser já depois da concepção.

Os compromissos assumidos num casamento, são menos importantes e defendidos em lei do que um vulgar contrato de trabalho, o que leva cada vez mais à desresponsabilização das pessoas, à destruição fácil das famílias, e ao cada vez mais periclitante desenvolvimento harmonioso das crianças e dos jovens, com as consequências que estão à vista na nossa sociedade.

Afirma-se em defesa da aprovação destas leis que as mesmas faziam parte dos programas dos partidos sufragados em eleições, como se algum Português que queira ser verdadeiro acredite que antes de votar, cada cidadão lê algum desses programas.

Mas a ser assim, e se essa fosse uma razão de peso para a aprovação dessas leis, também V. Exa. se poderá socorrer da sua condição de cristão e católico, pois que os Portugueses que em si votaram sabiam dessa sua “condição”, que V. Exa. não fez segredo nenhum em mostrar.

É que não se é cristão e católico para umas coisas e outras não!

Um cristão e católico deve pautar a sua vida pela Fé e pela Doutrina que afirma professar e tanto uma como a outra estão acima dos seus próprios interesses, ou mesmo os dos outros, quando os mesmos ferem e cortam a sua relação com Deus.

Foi por isso, por exemplo, que Pedro e João depois de proibidos pelo Sinédrio de falar ou ensinar em nome de Jesus Cristo, responderam:
«Julgai vós mesmos se é justo, diante de Deus, obedecer a vós primeiro do que a Deus. Quanto a nós, não podemos deixar de afirmar o que vimos e ouvimos.» Act 4, 19-20

Senhor Presidente da República

Este Governo e as leis que fez aprovar na Assembleia da República, verdadeiros atentados à vida, aos valores, à sociedade, irá ficar na história de Portugal como um dos períodos mais negros da sua existência.

As notas que V. Exa. enviou e enviar à Assembleia da República, invocando o seu tímido desacordo não passam disso mesmo: notas, que não ficarão para a posteridade!

Como tal, o que ficará na história será o facto de V. Exa. ter aprovado também essas leis iníquas, o que o torna conivente com a degradação da sociedade Portuguesa.

V. Exa. sabe bem que o referendo pedido por tantos Portugueses para esta lei nunca foi admitido, porque havia a certeza, pela parte dos fautores da lei, que o mesmo lhes seria adverso, pois basta ver e ler as sondagens que foram feitas sobre o assunto.

V. Exa. não tem que concordar com o Governo e as forças políticas que pouco a pouco vão destruindo a nossa sociedade, até porque uma maioria na Assembleia, não significa forçosamente uma maioria no País.

E depois, mesmo que houvesse uma maioria, a verdade é que há maiorias que se enganam.

Senhor Presidente da República, V. Exa. poderá ficar na história de Portugal de dois modos.

Ou como aquele que ratificou leis que destruíram a nossa sociedade, ou como aquele que teve a coragem de se lhes opor por um bem maior, sendo coerente com os seus princípios e com os valores da Nação Portuguesa.

Do primeiro modo, rapidamente será esquecido, do segundo será lembrado para sempre.

É certo que o veto poderá não impedir que a lei seja mais tarde novamente aprovada pela Assembleia da República e assim, (julgo eu), ter V. Exa. a “obrigação” de a ratificar.

Mas perante esse facto tem V. Exa. a oportunidade de demonstrar que a coerência de vida assente na Fé e Doutrina que afirma professar, fala mais alto que uma qualquer função pública, (por mais importante que ela seja), e então recusar-se novamente a ratificar a referida “lei”.

E se para tal, for preciso renunciar às suas funções como Presidente da República, faça-o, porque ganha o País ao passar-lhe V. Exa. uma tal imagem de coragem e coerência, ganhamos todos nós ao percebermos que afinal ainda há cristãos e católicos que não desistem de colocar «Deus acima de todas as coisas», e ganha com certeza o Aníbal Cavaco Silva a quem Deus abençoará na sua decisão e dando-lhe, em todos nós que acreditamos, o respeito e a admiração devidas por tal atitude.

Dará também aos Portugueses, que tanto andam deprimidos e desinteressados da vida Portuguesa, um novo alento, pois perceberão que ainda vale a pena lutar por uma sociedade mais justa, mas sem fazer concessões àqueles que no fundo a querem destruir, pensando apenas nos seus próprios interesses.

Muitos dirão que sou um sonhador!
Sê-lo-ei, sem dúvida, mas prefiro acreditar que ainda é possível testemunhar a coerência de tudo em que dizemos acreditar.

Se em algum momento desta carta, ofendo V. Exa. peço que me perdoe, pois não é nem foi esse o meu intuito.

Com os meus respeitosos cumprimentos.
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sexta-feira, 23 de abril de 2010

OS DOIS MARES

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No Sábado passado, fui ao Porto, participar na Assembleia Diocesana do Renovamento Carismático Católico, em que o pregador convidado era o Padre Raniero Cantalamessa, Pregador da Casa Pontifícia desde 1980, salvo o erro.

Homem sereno, percebendo-se mesmo sem um contacto directo uma simpatia e alegria tocantes, fala com profundidade, mas com uma simplicidade e humildade desconcertantes.

Nos intervalos “passeou” no meio das pessoas e com todas as que se lhe dirigiram falou sem constrangimentos.

Muito retive e todos retivemos do que nos ensinou, mas queria aqui neste escrito salientar uma “imagem” que apesar de já a ter ouvido, me tocou profundamente.

A imagem é esta:
O rio Jordão alimenta dois mares, o Mar de Tiberíades e o Mar Morto.
O primeiro cheio de vida, o segundo sem vida nenhuma.
No primeiro, o rio Jordão entra, alimenta o mar e sai novamente.
No segundo, o rio Jordão entra e fica, já não sai para lado nenhum.

Este é um ensinamento de vida, que nos serve sem dúvida para tudo o que devemos fazer da vida de cada um.

Se nos fechamos em nós próprios, no egoísmo, na avareza, no auto-prazer, no auto-elogio, na auto-comiseração, na pena de nós próprios, ficamos mortos e a nossa vida para nada serve, nem mesmo para nós.

Se pelo contrário, nos damos, nos entregamos, se partilhamos de nós e o nosso, a nossa vida torna-se fonte de alegria, de felicidade para os outros e para nós.

E se isto é verdade na nossa vida em sociedade, ainda se torna mais verdadeiro na nossa vida como filhos de Deus, que o devemos ser também em sociedade, claro.

Com efeito se a nossa vivência da Fé, (Dom de Deus), é partilhada, testemunhada, torna-se chamamento, exortação e ensinamento para os outros, dos quais recebemos também a mesma prática de vida.

Se pelo contrário nos fechamos e guardamos a sete chaves o tesouro da Fé, acabamos por estiolar, nada aprender, e perder a própria Fé que nos foi dada.

A vida e a fé são dons de Deus, talentos que Ele nos dá para serem colocados a render.
Se assim não for, nada rendem, perdem o valor e acabam por morrer. São o Mar Morto!

«Ninguém acende uma candeia para a cobrir com um vaso ou para a esconder debaixo da cama; mas coloca-a no candelabro, para que vejam a luz aqueles que entram. Porque não há coisa oculta que não venha a manifestar-se, nem escondida que não se saiba e venha à luz.
Vede, pois, como ouvis, porque àquele que tiver, ser-lhe-á dado; mas àquele que não tiver, ser-lhe-á tirado mesmo o que julga possuir.» Lc 8, 16-18 (Lc 19,26; Mt 25,29; Mc 4,25)

Por isso a Igreja, por isso sermos Igreja!

É em comunhão que devemos caminhar, à Luz de Cristo, dando-nos a todos e de todos recebendo, (os que estão em Igreja e os que estão fora), porque a salvação, (dádiva de Deus), não se alcança sozinho, mas sim na união fraterna em comunhão com Cristo.

Sejamos os Cireneus uns dos outros na procura e entrega a Jesus Cristo, (os que O conhecem e os que ainda d’ Ele não ouviram falar), porque só assim seremos Igreja e então, assim sendo, será novamente verdade o que se afirmava das primeiras comunidades cristãs.

«Eram assíduos ao ensino dos Apóstolos, à união fraterna, à fracção do pão e às orações. Perante os inumeráveis prodígios e milagres realizados pelos Apóstolos, o temor dominava todos os espíritos. Todos os crentes viviam unidos e possuíam tudo em comum. Vendiam terras e outros bens e distribuíam o dinheiro por todos, de acordo com as necessidades de cada um.
Como se tivessem uma só alma, frequentavam diariamente o templo, partiam o pão em suas casas e tomavam o alimento com alegria e simplicidade de coração. Louvavam a Deus e tinham a simpatia de todo o povo. E o Senhor aumentava, todos os dias, o número dos que tinham entrado no caminho da salvação.» Act 2, 42-47


Monte Real, 23 de Abril de 2010
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quinta-feira, 15 de abril de 2010

"LIVRA-NOS, SENHOR, DOS NOSSOS AMIGOS..."

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É muito “velha” a frase: «Livra-nos Senhor dos nossos amigos, porque com os inimigos podemos nós bem!»

Vem isto a propósito de uma “volta” que dei por diversos blogues cristãos católicos, (alguns de sacerdotes), em que me dei conta de que alguns enveredaram pelo caminho mais fácil, e, utilizando o menor denominador comum, embarcam afinal na campanha de ataque à Igreja Católica que está em curso na comunicação social.

Se juntarmos a isto, alguns textos de alguns sacerdotes, que se consideram “fazedores de opinião”, publicados em diversos jornais, a “velha” frase é perfeitamente compreensível.

Em primeiro lugar, afirmo desde já, que sou totalmente contra o encobrimento de actos ignóbeis, pecados graves, sejam eles pedófilos ou outros, cometidos por membros da Igreja contra a sociedade e sobretudo sobre os mais pequenos, não só em idade, mas também em formação e maturidade espiritual e física.

Mas também sou frontalmente contra a exploração para além dos limites, de uma culpa que é pessoal e não colectiva, e também do permanente “abrir ferida”, mesmo perante a assumpção da culpa e respectivo pedido de perdão e nalguns casos até condenação.

Mesmo na sociedade civil, o indivíduo depois de se reconhecer culpado e cumprir a pena imposta, tem direito a não ser permanentemente julgado na praça pública pelo crime que cometeu, já reconheceu e já pagou.

No ensinamento cristão, o perdão faz parte inalienável da Doutrina e depois de reconhecido, confessado o pecado e perdoado, deve apenas servir de reflexão para o próprio e não para recordação diária e constante dos outros, com o fim de "apedrejarem" o pecador.

Vivemos num tempo em que muitos citam Jesus Cristo, interpretando-O a seu belo prazer e segundo as suas conveniências, tentando que a Doutrina por Ele ensinada esteja de acordo com o pensamento geral do momento em que vivemos, afastado da moral e dos valores.

Compreende-se, é mais fácil assim, não exige luta diária contra o pecado, e, sobretudo, tem-se o elogio da dita sociedade, ganhando-se até um certo protagonismo.

E se esta prática já é condenável naqueles que se dizem cristãos e católicos é totalmente inadmissível naqueles que consagrados na Igreja, se servem até dessa posição para melhor serem ouvidos por toda uma sociedade que quer um deus e uma igreja à medida das suas conveniências.

E é de tal modo inebriante este protagonismo, e os elogios que vão recebendo, estes consagrados na Igreja, que partem às vezes para o insulto gratuito e descabido ao Papa e aos Bispos e até aos seus colegas Sacerdotes, colocando-se numa posição de superioridade que apenas lhe é conferida pelo seu auto-convencimento.

E recebem comentários e elogios ofensivos para a Igreja, para o Papa, para os Bispos, para os Sacerdotes, para os Leigos empenhados, e longe de se colocarem numa posição de bom senso e sobretudo de comunhão cristã, ainda “ajudam à festa”, indo por vezes mais longe que os próprios comentadores ou elogiadores.

Pois é, os tempos são difíceis!

Não é agora tão fácil ser cristão católico, pois para além da luta diária contra uma sociedade que se vai afastando todos os dias dos valores da dignidade da vida, tal como ela foi querida e criada por Deus, tem também de se arrostar com uma enorme quantidade de insultos, incompreensões e até perseguições, não só daqueles que querem “matar” Deus, mas também daqueles que se acham, mesmo dentro da Igreja por Ele fundada, detentores da verdade absoluta, colocando de lado toda a Tradição, todo o Magistério, toda a História da Igreja.

É, realmente é mais fácil assim!

É mais fácil estar em concordância com a “moral” vigente, do que ter de defender o Ensinamento de Cristo, do que ter de defender a Doutrina, do que ter de defender a Igreja e o seu Magistério.

E traz mais protagonismo, mais visibilidade, mais “amigos”, mais reconhecimento agora, claro, nestes tempos, porque como diz outra “velha” frase: «Dos fracos não reza a história!»

E acho extraordinário que estes consagrados não se perguntem porque é que são sempre chamados, escolhidos, para darem a sua opinião acerca dos assuntos da Igreja e da Doutrina?

Não pensam sequer, (muito me espanta com a sua inteligência), que se por acaso tivessem um discurso diferente, ou seja, um discurso coerente com a verdadeira Doutrina, seriam postos de lado tal como são postos de lado a, (graças a Deus), grande maioria dos consagrados fiéis a Jesus Cristo em comunhão de Igreja?

Ou pensam precisamente nisso, e por isso mesmo vão adaptando o seu discurso ao sabor do mundo, ao sabor do pensamento imoral da sociedade em que vivemos.

Mas curiosamente não abandonam a Igreja que eles tanto criticam e na qual só vêem erros e maldades!
Não, isso não fazem, porque sabem bem que perderiam o protagonismo, pois sendo cidadãos comuns já não teriam o mesmo peso as suas declarações e já ninguém os quereria ouvir.

Peço perdão a Deus pelos julgamentos que aqui faço de irmãos meus consagrados na Igreja, mas por vezes a revolta é mais forte que a contenção dos pensamentos e das palavras, e também porque é tempo de aqueles que são fiéis a Cristo em comunhão de Igreja, levantarem a sua voz para dizer que não pensam, nem vivem a Fé como esses “arautos de opinião”, embora saibamos bem que nunca teremos o mesmo “tempo de antena”, nem de projecção mediática, que têm aqueles que alinham com o “pensamento moderno” que julga que o homem pode construir um deus à sua maneira e para servir os seus interesses e conveniências.

Rezo por estes irmãos que induzem em erro tantos que os lêem, rezo pelas vítimas dos pecados de alguns irmãos meus da Igreja, rezo por esses irmãos que cometeram tais actos, rezo pelo Papa, pelos Bispos, pelos Sacerdotes, pelos Leigos, pela Igreja, enfim, e rezo por esta sociedade que se vai perdendo, porque todos os dias se afasta um pouco mais de Deus.

Monte Real, 15 de Abril de 2010
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sexta-feira, 9 de abril de 2010

A FALTA DE TEMPO!

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Aquela pessoa vagamente conhecida, chegou perto dele logo pela manhã e disse-lhe:
- Sabe, preciso de conversar um pouco. Preciso de desabafar. Ando tão sozinha e tão preocupada! Podemos conversar um pouco?
Fez um gesto de enfado e apressadamente disse:
- Agora não posso. Estou muito ocupado. Outro dia talvez. Depois telefone-me.
Afastou-se rapidamente e como cristão que é, olhou para o Céu e rezou:
- Senhor, desculpa, mas sabes bem que agora não tenho tempo!

Um pouco mais tarde na rua alguém lhe estendeu a mão.
Tentou disfarçar, mas era difícil, e então, entre dentes, disse para o pedinte um pouco incomodado:
- Desculpe, mas agora não tenho tempo. Fica para a outra vez!
Mais uma vez olhou para o Céu e rezou:
- Senhor, desculpa, mas sabes bem que agora não tenho tempo!

Finalmente no escritório, já sentado, bateram à porta e ele mandou entrar.
Era um dos seus empregados, talvez o mais tímido de todos, que lhe disse:
- Estou com um grave problema familiar. Preciso de ajuda. Pode ouvir-me por um instante.
Mesmo sem levantar os olhos dos seus papéis, falou num tom condescendente:
- Oh, homem, agora não que estou muito ocupado. Mas volte mais tarde.
Assim que se fechou a porta levantou mais uma vez os olhos ao Céu e repetiu:
- Senhor, desculpa, mas sabes bem que agora não tenho tempo!

Ao fim da tarde, chegou a casa e a mulher disse-lhe preocupada:
- Precisamos de falar por causa de uns problemas da nossa família.
Olhou para ela e disse com um ar enfadado:
- Ainda agora cheguei a casa! Tem paciência deixa-me descansar um pouco. Temos tempo para falar.
E afastando-se para o quarto, mais uma vez olhou para o Alto e rezou novamente:
- Senhor, desculpa, mas sabes bem que agora não tenho tempo!

Pouco depois, sentado na sala, frente à televisão, chegou o seu filho que lhe dá um beijo, dizendo:
- Oh pai, quero falar contigo por causa de uma coisa que aconteceu hoje na escola e me preocupa muito.
Sem tirar os olhos da televisão, dirigiu-se ao filho de uma maneira algo ríspida:
- Caramba, será que nem sequer posso ver as notícias na televisão? Com certeza que isso pode esperar, não?
O filho saiu cabisbaixo da sala e ele olhando mais uma vez para cima rezou:
- Senhor, desculpa, mas sabes bem que agora não tenho tempo!

Chega agora a sua hora de deitar.
Enquanto caminha para o quarto sente uma dor aguda no peito e percebe que o seu coração está a falhar.
Levanta os olhos ao Céu e reza angustiadamente:
- Senhor preciso de Ti! Ajuda-me depressa!
Ouve então uma Voz que lhe diz calmamente, repassada de amor:
- Não sei que resposta esperavas de Mim, mas para Ti, meu filho, estou sempre, sempre disponível, e pronto a ouvir-te e ajudar-te!


Monte Real, 25 de Março de 2010
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terça-feira, 6 de abril de 2010

OBRIGADO, SENHOR!

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Dou-te graças Senhor, pelo dom da vida, pelo dom do amor.

ConTigo, para Ti e em Ti, tudo quero viver.

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sexta-feira, 2 de abril de 2010

SEXTA-FEIRA SANTA

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Ó que tempo de amor silencioso!
Ó que tempo de paz e tranquilidade!
Ó que tempo de tão humilde serenidade!
Ó que tempo de um esperar tão ditoso!
Repousa agora o Senhor,
E a vida deita-se com Ele!
Tudo se faz silêncio
Pois o Senhor de todas as coisas
Repousa o sono dos justos.
No Céu prepara-se a festa
Que se há-de derramar na terra
Como promessa cumprida
Da esperança já esperada!
Tudo está em silêncio!
Mas não é silêncio de morte,
É um silêncio de vida,
Porque a morte nada pode,
Contra o Senhor da vida.
A Semente desceu à terra,
Morre agora para dar vida.
Sente-se que a esperança cresce,
Toda no amor envolvida.
A terra abriu os braços
Àquele que é o seu Senhor,
Toda ela se faz prenhe
Da vida e do amor.
Agora já nada podem
Aqueles que O querem matar
Porque ao darem morte à Vida,
Fizeram-na renascer,
Agora para não morrer.
Rasguem-se as vestes,
Abram-se os corações,
Choremos as lágrimas todas,
Que os olhos possam conter!
Porque num instante,
Numa eternidade,
A vida irá romper!
Gloriosa, vitoriosa, deslumbrante,
Já nada haverá a temer.
Repousemos também com Ele,
N’Ele deixemo-nos morrer,
Porque no terceiro dia,
O mundo se espantará,
Com a glória do Senhor!
E então quem n’Ele estiver,
Quem n’Ele permanecer,
Será vida para sempre,
No gozo eterno de Deus,
Que por amor aos homens,
Se deixou assim morrer.
Repara na brisa suave
Que passa por toda a terra,
Agita as plantas e árvores,
Passa nos vales e nos montes,
Mergulha nos rios e mares,
Toca todos os animais,
Do ar, da terra e do mar,
E vem direita ao coração
Do homem que quer amar.
Faz-se silêncio na terra,
Tudo se prostra e recolhe.
Já quer explodir a alegria
Que no peito incontida,
Quer gritar ao mundo todo:
«Eu sou a Ressurreição e a Vida»!

Monte Real, 2 de Abril de 2010

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