quarta-feira, 12 de agosto de 2020

PANDEMIA

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Entro na igreja, devagar, sem medo, embora o silêncio seja total.

Ponho um joelho em terra e digo cheio de esperança: Bom dia, meu Deus!

 

Dou mais uns passos, subo a coxia lateral, e encontro-me em frente do Sacrário onde pergunto a meia voz: Estás aí, Senhor?

Olho para o lado, vejo a luz acesa e percebo que a minha pergunta foi escusada.

 

Ajoelho-me e benzo-me em nome do Pai que me criou, do Filho que me salvou e do Espírito Santo que me há-de santificar … se eu deixar!!!!

 

Olhamo-nos, sorrimo-nos e pergunto-me interiormente se Lhe poderei dar um beijo apesar da pandemia.

Ele ri-se ao pensar nisso e faz-me rir a mim também!

 

Diz-me então com a sua voz ternurenta: Vem, podes vir beijar-me, que a única pandemia que Eu te posso passar é o amor!

 

Corro para Ele e digo-Lhe cheio de alegria: Ah, Senhor, essa pandemia eu quero!

 

Responde-me Ele abrindo os braços para mim: Esta pandemia só se “cura” contaminando toda a gente!

Deita fora as tuas máscaras, sejam elas quais forem, abre o teu coração, prepara o teu sorriso, deixa que o Espírito Santo te ensine palavras e, depois … depois contamina todos os que encontrares e se quiserem deixar contaminar.

 

Feliz, respondo-Lhe: Sinto-me “doente”, Senhor, da Tua pandemia. Oxalá muitos se deixem contaminar!!!!!

 

 

Marinha Grande, 12 de Agosto de 2020

Joaquim Mexia Alves

segunda-feira, 3 de agosto de 2020

BRINCAR SOBRE AS ÁGUAS DA FÉ

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Chamas-me de longe e eu salto do barco e fico de pé na água!

Parece que já nada me espanta quando estou contigo!!!

Dou saltos, cambalhotas, corro para Ti, parecendo uma criança que encontrou a plena felicidade!

Nada, nem um bocadinho de mim se afunda naquelas águas calmas em que ao longe, de pé, me esperas de braços abertos.

 

Surge uma pequena onda, quase nada, apenas uma “ruga” na água calma, mas eu hesito e começo a sentir os pés a afundarem-se na água.

Faço um esforço, olho ao longe e vejo-Te perto e redobra a confiança e continuo a minha caminhada sobre a água, alegre e feliz à procura dos Teus braços.

 

Levanta-se o vento, as ondas tomam tamanho e eu já não consigo vencer o medo!

Começo a afundar-me!

 

O meu coração grita-me bem alto: Confia, acredita, vais ver que consegues andar sobre as ondas. Ele espera-te!

 

Mas a cabeça deixa-se levar pelos pensamentos da minha vontade e diz-me com voz forte: Não vês que Ele está longe? Como queres tu chegar perto d’Ele sobre a água? Se Ele quiser, Ele que venha ter contigo!

 

Afundo-me!

A água já me dá pelo peito!

Ainda rezo, mas sem convicção, quase por rotina, e sinto já a água no meu pescoço, pronta para me engolir num todo.

 

Num derradeiro esforço, olho-Te nos olhos que sorriem para mim, estendo a minha mão e grito: Senhor, salva-me!

 

Estendes a Tua mão, agarras a minha, puxas-me para Ti e junto comigo, como crianças, corremos, damos saltos e cambalhotas sobre as águas, sobre as ondas e Tu abraças-me e dizes-me ao ouvido, repassado de amor: Homem de pouca fé!

 

E eu envergonhado, mas feliz respondo: É verdade, Senhor, Tu nunca nos faltas mesmo nas ondas mais alterosas. Obrigado, Senhor!

 

 

Marinha Grande, 3 de Agosto de 2020

Joaquim Mexia Alves


domingo, 2 de agosto de 2020

«À IMAGEM E SEMELHANÇA DE DEUS»

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«Deus disse: “Façamos o homem à nossa imagem, à nossa semelhança”. Deus criou o homem à sua imagem, criou-o à imagem de Deus; Ele os criou homem e mulher» (Gn 1, 26-27).

 

Fomos criados à imagem e semelhança de Deus, mas, (correndo o risco de cometer alguma heresia), reflicto que esta não é uma verdade “final”, ou seja, que o homem para ser à imagem e semelhança de Deus tem de continuar um caminho que cada vez mais o aproxime dessa imagem e dessa semelhança.

 

Quando nascemos somos, mais ou menos, parecidos com o pai ou com a mãe, mas isso não significa que iremos ser suas imagens ou suas semelhanças, não só fisicamente, como, sobretudo, em feitio, em modo de vida, em valores, etc.

Sim somos dotados da inteligência e liberdade que definem “grosso modo” essa nossa imagem e semelhança com Deus, mas essa imagem e semelhança seriam incompletas se não quiséssemos imitar, ou melhor, perseguir a “perfeição” de Deus ao longo das nossas vidas, para assim sermos verdadeiramente Sua imagem e semelhança.

 

«Portanto, sede perfeitos como é perfeito o vosso Pai celeste.» Mt 5, 48

 

Nós não podemos “melhorar” a imagem e semelhança de Deus, mas podemos melhorar-nos para sermos cada vez mais essa imagem e essa semelhança de Deus e com Deus.

 

De que me serve ser criado à imagem e semelhança de Deus, se não transmito aos outros, se não dou testemunho aos outros dessa imagem e semelhança?

Como posso ser livre, se não considerar a liberdade dos outros, por exemplo?

Como posso amar, se não considerar primeiro o amor de Deus em mim?

Como posso ser semelhante a Deus, se não servir, como Cristo serviu totalmente?

 

Ser criado à imagem e semelhança de Deus é uma verdade absoluta, mas só se completa. (quanto a mim, claro), quando eu tento ao longo da minha vida ser essa imagem e essa semelhança, ou seja, fazer a vontade de Deus, como Cristo fez a vontade do Pai.

 

Com todo este “arrazoado” de palavras reflectidas e escritas, quero no fundo dizer, (sobretudo para mim próprio), que eu não sou criado à imagem e semelhança de Deus, que eu não sou cristão católico, e “prontos”, está resolvido!

 

Quero dizer que sim, que fui criado à imagem e semelhança de Deus, mas que essa imagem e essa semelhança têm que ser vividas todos os dias, nas minhas palavras, nas minhas atitudes, no meu testemunho, em tudo e com todos na minha vida todos os dias.

 

Só assim poderei dizer verdadeiramente que fui criado à imagem e semelhança de Deus.

 

Glória a Ti, meu Deus e Senhor!

 

 

Marinha Grande, 2 de Agosto de 2020

Joaquim Mexia Alves