terça-feira, 14 de maio de 2024

PORQUÊ PEDIR O ESPÍRITO SANTO?

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Neste Domingo celebra-se a Solenidade de Pentecostes.

Porquê pedir o Espírito Santo, hoje e sempre?

Todos nós que somos baptizados recebemos o Espírito Santo pelo Baptismo, (tornámo-nos templos do Espírito Santo), pelo Crisma, e obviamente em cada celebração de um Sacramento em que participamos, celebrando, recebemos também e sempre o mesmo Espírito de Deus que constantemente se derrama na/em Igreja.

Porquê então pedi-Lo novamente, todos os dias das nossas vidas?

Em determinado momento da minha vida trabalhei em Angola, em duas fábricas, uma de tubo de aço e outra de chapa de zinco. Em ambas as fábricas existiam aquilo a que chamávamos tinas de galvanização.
Que me perdoem a explicação os experts na matéria, (e a falta de memória, já lá vão mais de trinta anos), as tinas de galvanização continham zinco em estado líquido, porque eram aquecidas por uma fonte de calor, que mantinha esse zinco nesse estado líquido.
Então, os tubos e chapas eram mergulhados nessas tinas, e, revestidos desse zinco líquido eram retirados e colocados a “secar”, digamos assim.
Obviamente, o aspecto desses tubos e chapas melhorava imenso, pois tornavam-se mais brilhantes, reflectindo a luz que neles incidisse, e, mais ainda, protegia-os da corrosão, da ferrugem, dos elementos exteriores que podiam alterar a sua “essência” e a missão para que tinham sido fabricados.

Ora nós cristãos, alguns de nós ou muitos de nós, somos um pouco assim como essas tinas de galvanização.

Pelo Baptismo recebemos o Espírito Santo e Ele está em nós, mas está muitas vezes como esse zinco líquido nas tinas de galvanização, “inerte”, não sendo utilizado.
Somos cristãos, temos o Espírito Santo, mas Ele não actua em nós, nada transforma, nada converte, sobretudo porque d’Ele muitas vezes não temos consciência e não a tendo, não O deixamos actuar nas nossas vidas.
Assim somos cristãos cinzentos, sem brilho, e nem reflectimos a luz que nos vem de Deus para sermos testemunhas da Luz.

Mais do que isso, não tomando consciência do Espírito Santo em nós, não O deixando actuar em nós, estamos desprotegidos perante as ameaças do mundo, (as tentações, os vícios, os rancores e ressentimentos, etc.), e por isso mesmo nos deixamos corromper, vivendo em pecado, e ao vivermos em pecado não cumprimos a missão que Ele nos deixou, perdendo-nos no mundo e muitas vezes fazendo perder aqueles que nos rodeiam.

Temos o Espírito Santo em nós, mas ninguém O “vê”, porque d’Ele não damos testemunho, porque não deixamos que Ele nos converta, nos transforme e nos guie.

Então este pedir o Espírito Santo todos os dias, (dado que já está em nós desde o Baptismo), é afinal pedir que Ele actue em nós, que Ele nos encha por completo, que Ele nos mostre o caminho, que Ele nos ilumine na Palavra, que Ele nos faça ver com os olhos da fé, (meu Senhor e meu Deus!), que Ele nos converta e conduza, que Ele nos santifique, não apenas para nossa salvação, mas também sobretudo para que sejamos testemunhas da Boa Nova e assim possamos ser “ocasião” para salvação de outros.

Então, para O recebermos, ou melhor, para que Ele seja presença viva nas nossas vidas, precisamos de nos abrir a Ele, porque abrindo-nos a Ele, abrimo-nos ao próprio Deus, e abrir-nos a Deus é abrir-nos ao amor, à conversão, à mudança de vida, é «renascer de novo», é querermos fazer em tudo e sempre a vontade de Deus.

Então, tudo se transforma, porque é Ele que ora em nós, é Ele que lê e medita connosco a Palavra de Deus, é Ele que nos abre o entendimento para que possamos reconhecer Jesus ao “partir do Pão”, é Ele que, dando-nos esse reconhecimento, nos leva a amar como Ele nos amou, fazendo assim de nós filhos de Deus reunidos e chamados a construir a Igreja.

E, afinal, pedir o Espírito Santo é fazer já a vontade de Deus, porque só Ele sabe o que nós precisamos e o que é melhor para nós.

«Digo-vos, pois: Pedi e ser-vos-á dado; procurai e achareis; batei e abrir-se-vos-á; porque todo aquele que pede, recebe; quem procura, encontra, e ao que bate, abrir-se-á.
Qual o pai de entre vós que, se o filho lhe pedir pão, lhe dará uma pedra? Ou, se lhe pedir um peixe, lhe dará uma serpente? Ou, se lhe pedir um ovo, lhe dará um escorpião?
Pois se vós, que sois maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o Pai do Céu dará o Espírito Santo àqueles que lho pedem!» Lc 11, 9-13


Vem Espírito Santo,
faz-me dócil às tuas moções, renova-me em cada momento, ora em mim, abre o meu entendimento à Palavra de Deus, faz-me sentir o amor do Pai, faz-me reconhecer Jesus nos Sacramentos, na Igreja, em cada irmã e em cada irmão, faz em mim e de mim a Tua vontade, para que eu seja nada e Tu, Espírito Santo, sejas tudo em mim, em cada momento da vida que Tu mesmo me dás.
Amen.





Marinha Grande, 14 de Maio de 2024 
Joaquim Mexia Alves

terça-feira, 7 de maio de 2024

O LOUVOR LIBERTA

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«Por volta da meia-noite, Paulo e Silas, em oração, entoavam louvores a Deus e os outros presos escutavam-nos.
De repente, sentiu-se um tremor de terra tão grande que abalou os alicerces da prisão. Todas as portas se abriram e soltaram-se as cadeias de todos os presos.»
Act 16, 25-26 - 1ª Leitura de hoje


Tantas vezes na minha vida que, perante problemas, tribulações e preocupações, em vez de pedir, ou melhor, em vez de só pedir, louvo a Deus pela situação que vivo, pedindo que me dê forças para aceitar e, se for de Sua vontade, tudo seja ultrapassado.

E tantas vezes me esqueço o fazer perante tantas situações dessas, e me desdobro em pedir, em me lamentar e até em reclamar.

A verdade é que sempre que, perante tais situações, louvo primeiro a Deus e depois peço ajuda, a paz e a serenidade tomam conta de mim, e assim consigo enfrentar essas situações com confiança e esperança renovadas.

E mesmo que algumas dessas situações não tenham o desfecho que, na minha fraqueza humana, julgo ser o melhor, a verdade é que aceito de coração aberto essas situações e tento tirar delas alguma lição para a vida, guiado pelo Espírito Santo.

A verdade é que sempre que assim procedo, é como se as “portas” e “cadeias” que me querem amarrar a essas situações, deixando-me triste e frustrado, se abram, e assim vivo na confiança e na esperança que me vem de Deus.

E porque não procedo sempre assim em todas essas situações?

Ah, isso não sei, não consigo explicar, mas talvez seja fruto de um qualquer cepticismo, de alguma fraqueza que nesses momentos me “ataca” e eu me deixo cair apenas em mim, olhando para mim, fechando-me em mim e não dando assim “espaço” a que Ele no Seu infinito amor acalme a “tempestade” na minha vida.

Sim, o louvor liberta e, mais do que liberta, enche de confiança, de esperança, de alegria, de paz e de vida.

Louvado sejas, Senhor, porque acalmas os mares revoltos das nossas vidas quando a Ti nos entregamos.






Marinha Grande, 7 de Maio de 2024
Joaquim Mexia Alves

quinta-feira, 2 de maio de 2024

TEMPO

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Não tenho tempo, dizes-me Tu, com esse Teu olhar de quem ensina quem Te quer escutar.

Mas eu não percebo e pergunto-Te como podes Tu não ter tempo, se Tu és o Senhor do tempo.

O Teu olhar fixa-se em mim, o Teu sorriso é agora uma brisa que me toca, e perguntas-me, cheio de amor, se por acaso o meu tempo, o tempo que Tu me dás, também não sou eu que o devo gerir.

Desconcertas-me, mas rapidamente a minha pretensa sabedoria responde, dizendo que Tu sabes bem melhor do que eu o que é o meu tempo e como afinal o meu tempo é Teu.

Não desarmas, e com toda a bondade colocas o Teu braço sobre os meus ombros, e convidas-me a viver o meu tempo como se ele fosse o Teu tempo, para que eu não diga mais de quando em vez que não tenho tempo para Ti.

Eu, pobre de mim, não percebo e com todo o cuidado pergunto-Te o que queres dizer com aquilo que me dizes.

Tu abraças-me, e dizes-me que se o meu tempo afinal Te pertence, apenas me basta oferecer-Te o meu tempo em tudo aquilo que faço no meu dia a dia.

Então pergunto-Te como posso eu fazer isso.

E Tu respondes-me que basta viver o meu tempo fazendo tudo o que faço, como sendo o Teu tempo, acreditando que Tu estás sempre no meu tempo, que é afinal o tempo que Tu me dás

Baixo os braços ou melhor levanto-os para Te abraçar e digo rendido ao Teu amor:
Toma, Senhor, o meu tempo, porque ele é o tempo que Tu me dás, para viver o Teu amor amando sempre em cada tempo a Ti, e em Ti os outros que trazes à vida que me dás.





Marinha Grande, 2 de Maio de 2024
Joaquim Mexia Alves