Cura do cego de Betsaida - Mc 8, 22-26
Chegaram a Betsaida e trouxeram-lhe um cego, pedindo-lhe que o tocasse.
Jesus tomou-o pela mão e conduziu-o para fora da aldeia.
Deitou-lhe saliva nos olhos, impôs-lhe as mãos e perguntou: «Vês alguma coisa?»
Ele ergueu os olhos e respondeu: «Vejo os homens; vejo-os como árvores a andar.»
Em seguida, Jesus impôs-lhe outra vez as mãos sobre os olhos e ele viu perfeitamente; ficou restabelecido e distinguia tudo com nitidez.
Jesus mandou-o para casa, dizendo: «Nem sequer entres na aldeia.»
Uma cura a “dois tempos”!
É um milagre inédito nos Evangelhos, feito a “dois tempos”.
Há alguém que traz este cego a Jesus, há alguém que intercede junto de Jesus por este homem, o que nos leva de imediato a percebermos a importância da nossa intercessão pelos outros, independentemente da sua fé.
Porque realmente não é o cego que pede a cura a Jesus, ele simplesmente deixa-se levar.
Não é uma fé como a de Bartimeu, («Jesus, filho de David, tem piedade de mim» Mc 11, 46-52), ou de tantos outros exemplos nos Evangelhos, como Jairo Lc 8, 40-56, ou o Centurião Lc 7, 1-10.
Assim, Jesus como que o prepara para receber a graça, primeiro da fé, (cura interior), e depois da cura física.
Jesus tem esse primeiro encontro com ele, impõe-lhe as mãos, (dá-lhe algo de Seu, a saliva), faz que o cego perceba que Ele, Jesus, é o Senhor, Aquele para quem nada é impossível.
E quando se tem este primeiro encontro pessoal com Jesus, deixando-nos tocar pelo Seu amor, (a “saliva” da Sua bondade), tudo muda nas nossas vidas.
Aquilo que não víamos antes, porque tínhamos os olhos do coração fechados à beleza de Deus, ao Seu amor, passamos a ver, e começamos então a perceber que a nossa vida só tem sentido vivida nEle, por Ele e com Ele, numa abertura e entrega aos outros em que Ele se faz presença.
O cego ergue os olhos, mas verdadeiramente não vê “fisicamente”.
Vê sim, a humanidade criada por Deus, que caminha para Ele, como árvores, as árvores que cresceram da semente por Deus plantada e que hão-de dar fruto, muito fruto.
O seu interior fica então curado, e Jesus, cheio de amor e compaixão, confirma com a cura física, « ficou restabelecido e distinguia tudo com nitidez», o caminho de salvação deste homem.
Já na cura do paralítico Lc 5, 17-26, (que também é levado por outros ao encontro do Senhor), Jesus começa pela cura interior: «Homem, os teus pecados estão perdoados», para depois, perante a incredulidade de uns tantos, “confirmar” o Seu poder salvífico com a cura física: «Levanta-te, pega na enxerga e vai para casa».
No fim de tudo, Jesus manda o homem curado para casa, dizendo: «Nem sequer entres na aldeia.»
Já no início, Jesus o tinha tomado pela mão e conduzido para fora da aldeia.
Aquela aldeia era a vida, era o ambiente, eram as certezas que aquele homem vivia, e só saindo dela, podia sair de si próprio a abrir-se à graça de Deus, alcançando assim a cura interior e física, que é a vida completa que Deus sempre quis para os Seus filhos, por Ele criados.
Aquela última frase de Jesus, soa como: «Vai e de agora em diante não tornes a pecar.» Jo 8, 11
Quantos de nós não precisamos sair das nossas “aldeias”, das nossas “seguranças”, dos nossos “medos”, das nossas “vergonhas”, e abrir-nos confiantemente à graça de Deus, ao Seu amor, à Sua misericórdia, para alcançarmos a “cura”, a cura da vida plena, a cura da vida em abundância, a cura da Salvação.
Nós cremos Senhor, mas aumenta a nossa Fé.