quinta-feira, 27 de novembro de 2014

CHAMASTE-ME, SENHOR?

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Chamaste-me, Senhor?

Pareceu-me ouvir a tua voz
vinda de dentro de mim,
da mente, do coração,
do centro do amor e da paz,
da minha vida,
do meu eu,
onde Tu estás.

Chamaste-me, Senhor?

É que ouvi um sussurro,
num fugidio momento,
um canto, uma melodia,
um suspiro,
parecia levado p’lo vento,
tão repleto de alegria,
que respondo ao chamamento.

Chamaste-me, Senhor?

É que senti no coração
um amor tão grande e puro,
que logo me apercebi,
sendo eu assim tão impuro,
que esse amor feito oração,
só podia vir de Ti.

Chamaste-me, Senhor?

Aqui estou ajoelhado,
esperando que me levantes,
assim por Ti abraçado,
cheio da tua bondade,
abrindo-me todo a Ti,
para fazer a tua vontade.

Chamaste-me, Senhor?

Aqui estou!
Enche-me do teu amor,
e envia-me,
porque por Ti, Senhor,
eu vou!



Marinha Grande, 27 de Novembro de 2014

Joaquim Mexia Alves
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quinta-feira, 20 de novembro de 2014

DIÁLOGOS COM O SENHOR DEUS (6)

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Joaquim, «desce depressa, pois hoje tenho de ficar em tua casa».

Mas, Senhor, desço de onde?

Da árvore a que subiste!

Mas eu estou com os pés na terra, não estou em cima de nenhuma árvore!

Tens a certeza? Tenho que te explicar tudo? Não queres pensar um pouco?

Bem, Senhor, eu acho que já não preciso subir à árvore para Te ver. Já Te vejo bem na minha vida.

Pois Eu digo-te que estás em cima de uma árvore e assim não Me podes ver, como Eu gostaria que me visses.

Bem, Senhor, pões-me a pensar de que cimo de árvore Te verei eu.

Então pensa bem, (com a ajuda do Espírito Santo que te dou), e depois «desce depressa, pois hoje tenho de ficar em tua casa.»

É verdade, Senhor, afinal estou em cima de uma árvore e não Te consigo ver bem! Está a imagem um pouco desfocada, não consigo alcançar todo o teu amor, toda a tua vontade.

Então e porquê, Joaquim?

Oh, Senhor, porque estes ramos me tapam a vista, aliás, percebo agora que esta ramagem me prende e não me deixa descer ao teu encontro.

Olha bem para esses ramos, analisa-os, e depois perceberás o que precisas fazer para deles te libertares.

Reconheço agora, Senhor, um ramo de orgulho, ali ao lado um outro ramo de vaidade, ainda outro de autoconvencimento, mais um de ânsia de protagonismo, ai, Senhor, e um ramo de crítica e maldizer que me agarra com tanta força que não me deixa mover.

Percebes agora em que árvore te encontras, que não te deixa ver-me como Eu quero que me vejas, e não te deixa descer ao meu encontro?

Percebo, Senhor, percebo! E agora, como faço para me libertar desta árvore em que me encontro?

Dar-te-ei o que precisas: Toma o meu amor, para que ames sem orgulho, toma a minha simplicidade, para que te sintas igual aos outros, toma o meu discernimento, para que saibas que tudo o que tens te vem de mim, toma a bacia em que lavei os pés dos meus Apóstolos, e serve-te dela para servires os outros, toma a minha humildade, para que vejas em ti primeiro todos os defeitos e ao rezares por eles, rezes também pelos dos outros.

Oh, Senhor, começam a desprender-se os ramos deixando-me descer da árvore para ir ao teu encontro! Mas alguns ainda vêm muito agarrados a mim.

Não te preocupes! «Desce depressa, pois hoje tenho de ficar em tua casa», e se nela me deixares fazer morada, todos esses ramos serão queimados no fogo que arde sem consumir.

Obrigado, Senhor, obrigado. Que a minha vida seja a tua morada para sempre.


Marinha Grande, 18 de Novembro de 2014
Joaquim Mexia Alves
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quinta-feira, 13 de novembro de 2014

DIÁLOGOS COM O SENHOR DEUS (5)

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«Bom Mestre, que devo fazer para alcançar a vida eterna?» *

«Falta-te apenas uma coisa: vai, vende tudo o que tens, dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no Céu; depois, vem e segue-me.» **

Mas, Senhor, Tu sabes que depois de todos aqueles problemas porque passei, fiquei praticamente sem nada! E sabes também que de algum modo ainda tento dar alguma coisa do pouco que me ficou e vou conseguindo ganhar, que, reconheço, é apesar de tudo bem mais do que o que muitos têm!

Eu sei que tu já não tens esses bens, que também já não tens essa tal posição social que esses bens te davam, que vives com o que tens e que ainda partilhas alguma coisa daquilo que possuis, mas meu filho, continuas agarrado ao que tiveste, de tal modo que colocas em tudo isso, numa qualquer possibilidade da recuperação de tudo o que possuíste, a tua felicidade no futuro!

Mas, Senhor, é errado sonhar com voltar a ter aquilo que já tive?

Não, meu filho, não é errado! Mas ganhas alguma coisa em sonhar assim? Afinal em que acreditas tu? Acreditas que são os bens do mundo que te levam à felicidade, à vida eterna, ou que esse caminho é seguires-me com a vida que Eu te dou - agora - e encho do meu amor, aceitando o teu dia-a-dia no trabalho que coloco nas tuas mãos?

Mas sabes, Senhor, por vezes tenho medo do futuro, tenho medo de ficar sem o pouco que ainda tenho, tenho medo de não saber como fazer, de não saber como viver!

Alguma vez te faltei? Alguma vez te faltei naquilo que é realmente importante na tua vida? Alguma vez não me sentiste ao teu lado? Até mesmo naqueles momentos de secura, não acreditaste sempre que Eu estava ali contigo, embora não Me sentisses?

Não, Senhor, sempre acreditei que estavas comigo em todos os momentos, embora por vezes me sentisse só!

Lembras-te quando tudo aconteceu, como sentiste o teu mundo desmoronar-se? Lembras-te como Me procuraste em cada momento, em cada palavra, em cada sinal, em cada celebração? Lembras-te que Me procuravas, mais procurando o meu amor para alcançares a paz, a aceitação de tudo, do que para pedires o retrocesso do que tinha acontecido? Naquela altura querias sentir apenas o meu amor, a minha presença junto de ti. Porque é que agora não te chega o meu amor?

É que tenho medo, Senhor! Ou será orgulho e vaidade? Ou será tudo misturado? Parece-me que aquilo que tinha era meu por direito, que fazia parte tão importante da minha vida que me é impossível separar-me de tudo, nem que seja mesmo só sonhando!

Não vês, meu filho, que todos aqueles bens são perecíveis, são efémeros? Não percebes que te entregas agora muito mais a Mim do que naquele tempo? Podes por acaso comprar nem que seja um pouco da vida eterna com aqueles bens? O que te falta? Falta-te amor? Falta-te a família? Faltam-te amigos verdadeiros? Falta-te algo verdadeiramente imprescindível na tua vida? Não me tens a Mim sempre junto de ti e entregando-me a ti e por ti na Eucaristia?

Vai, repousa no meu amor, confia em Mim, recorda o teu passado como algo de muito bom que te dei, mas confia agora apenas no futuro que em ti coloco, em tudo o que te dou, e … «depois, vem e segue-me.»

  *Mc 10,17
** Mc 10, 21


Marinha Grande, 13 de Novembro de 2014
Joaquim Mexia Alves


“Remeditado” e reescrito com base num texto de 2012
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quarta-feira, 5 de novembro de 2014

«O SENHOR PRECISA DELE»

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«E se alguém vos perguntar: 'Porque o soltais?', respondereis assim: 'O Senhor precisa dele.'» Lc 19,31

Jesus ensinava os dois discípulos a quem tinha enviado a buscar o jumentinho em que havia de montar, para entrar em Jerusalém.

Ao ler este versículo veio-me ao coração um pensamento que me fez sorrir.

Lembrei-me do Padre José Lapa, do Padre António Fernandes e de tantos outros que me reconduziram a Deus e à Igreja.

A minha imaginação levou-me a “ver” as forças do mal a perguntarem a todos esses que tanto me ajudaram: «Porque o soltais?» «Porque lhe dais razões, motivos, forças, para ele se libertar das cadeias do pecado, das correntes dos vícios, das amarras do mundo?»

E eles sem dúvida convictos terão também respondido: «O Senhor precisa dele.»

«Levaram-no a Jesus e, deitando as capas sobre o jumentinho, ajudaram Jesus a montar.» Lc 19,35

Se a primeira parte deste versículo, «levaram-no a Jesus», é verdadeira na minha história, já a segunda não corresponde ao que aconteceu.

O que aconteceu foi que me ajudaram a retirar as capas que estavam sobre mim, capas do mundo que não me deixavam ser livre, livre para seguir Jesus, para deixar que Ele “montasse” na minha vida.
Livre dessas capas, Jesus pode então servir-se de mim.

Quisera eu ser esse jumentinho dócil que levou Jesus em Jerusalém, mas infelizmente sou um jumento teimoso, que por vezes dá tais pinotes, que faço Jesus cair da minha vida.

Mas depois arrependo-me e grito: «Bendito seja o Rei que vem em nome do Senhor!»

Ele monta novamente, e alegremente pede-me que O leve a todo o lado onde eu for.
E eu assim tento fazer.

A Ele toda a honra, toda a glória e todo o louvor!


Marinha Grande, 5 de Novembro de 2014
Joaquim Mexia Alves
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