quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

DIÁLOGOS COM O SENHOR DEUS (20)

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Então, meu filho, este ano está a acabar. O que Me queres dizer sobre ele?

Oh, Senhor, foi um ano complicado, com tantas coisas que não correram bem e sobretudo esta pandemia. Mas houve coisas muito boas, sem dúvida!

Então e nessas coisas que não correram tão bem, encontraste algo para a tua vida?

A pandemia, Senhor, fez-me reflectir na nossa fragilidade, na nossa pequenez!

Afinal um vírus, coisa tão ínfima, coloca em perigo a humanidade, o Homem, que se julga tantas vezes invencível.

Mas Eu estou sempre convosco, sabes bem!

Sim, Senhor, eu sei e acredito firmemente que sim.

E toda esta situação faz-me pensar, (e espero bem que os outros também assim pensem), em como na nossa sociedade, apesar de tantas promessas de solidariedade, afinal íamos/vamos ficando cada vez mais individualistas, egoístas, “frios” nos sentimentos, e com as distâncias obrigatórias da pandemia, percebemos agora como nos fazem falta os afectos, os abraços, os sorrisos, (agora tapados por máscaras), enfim, os toques de amor entre nós.

É verdade, meu filho, o homem só é feliz em comunidade, em comunhão de amor, coMigo e com os outros e por isso precisa sempre de gestos, atitudes e palavras.

Senhor, neste novo ano que vai começar, afasta de nós esta pandemia, mas sobretudo, afasta de nós o individualismo, o egoísmo, a indiferença, que tantas vezes fazemos sentir aos outros, principalmente àqueles que mais necessitam, quer materialmente, quer emocionalmente.

Para isso, meu filho, voltai-vos para Mim, e «tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração e encontrareis descanso para o vosso espírito. Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve.»* Enfim, meu filho, procurai em tudo fazer a Minha vontade.

Obrigado, Senhor, nas Tuas mãos entrego este novo ano, o meu e o de todos os homens.

 

Marinha Grande, 31 de Dezembro de 2020

Joaquim Mexia Alves

 

*Mt 11, 29-30

segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

O NATAL É SEMPRE QUE O HOMEM … O DEIXAR SER!!!

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Passado o Natal, (no entender de alguns), o presépio ainda lá continua, mas provavelmente passamos por ele e já nem o olhamos, quanto mais reflectirmos sobre ele, sobre o Nascimento do Salvador.

Parece que o deixamos sair do nosso coração, (onde devia ter nascido e continuar a nascer todos os dias), e partir para o Egipto, isto é, para um sítio onde não “incomode”, não nos “obrigue” a mudar nada.

Sabemos que lá está, mas não influi na nossa vida.

«E Jesus crescia em sabedoria, em estatura e em graça, diante de Deus e dos homens.» Lc 2, 52

E se o Nascimento de Jesus fosse também para cada um de nós ocasião para crescermos em “sabedoria”, conhecendo melhor as coisas de Deus, em “estatura”, da nossa fé, e em “graça”, lutando cada vez mais contra o pecado e vivendo mais e mais o amor?

«Depois desceu com eles, voltou para Nazaré e era-lhes submisso.» Lc 2, 51

Para isso será então necessário “descermos” do nosso eu, “voltarmos” a ser Igreja, e sermos submissos à vontade de Deus.

Então o Natal será sempre presente na nossa vida, o presépio será uma constante dos nossos dias, porque o Menino “regressará dos nossos egiptos” para morar entre nós, para morar em nós.

Então sim, o Natal será sempre que o Homem … o deixar ser Natal!

 


Marinha Grande, 28 de Dezembro de 2020

Joaquim Mexia Alves

quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

CONTO DE NATAL 2020

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Olhavam um para o outro com a tristeza nos olhos.

Como seria possível, com a situação de pandemia, juntar os seus dois filhos e as suas famílias no Natal, como sempre faziam todos os anos.

Vivendo longe uns dos outros, era a única noite do ano em que a família toda se juntava, pais, filhos e netos.

 

Decidiram então propor a todos que cada um tomasse a decisão de vir, (ou não), passar o Natal, na certeza de que a sala da casa, sendo grande, dava para todos estarem à distância necessária com as máscaras colocadas.

Seria muito estranho, mas ao menos, poderiam olhar-se nos olhos.

Quanto à ceia de Natal, haveria uma mesa no meio da sala, e cada um iria servir-se e voltava para o lugar marcado para cada família e afastados uns dos outros.

Quanto mais pensavam naquilo, mais achavam estranha a situação, mas ficaram felizes quando todos disseram que viriam, então, passar o Natal.

O dia 24 chegou e com ele começaram a chegar os filhos e as suas famílias, para dar vida aquele casarão enorme, que normalmente estava vazio só com eles os dois.

Foram muito emocionais as chegadas, tanto mais que os cumprimentos eram “longínquos”, para não colocar em risco quer as crianças, quer os mais velhos.

Era uma coisa muito confusa pois pareciam famílias dentro de uma família!

Quando chegou a hora da ceia e já estavam todos na sala nos lugares previamente designados para cada família, (com as crianças um pouco irrequietas, o que era normal), ele, o pai da família, pediu a todos que, depois de irem buscar a comida e quando tirassem as máscaras para comer, fizessem um momento em que todos olhariam uns para os outros e sorririam de modo a que se pudessem ver sem a barreira da máscara.

E assim foi.

Depois de se servirem, estando todos nos seus lugares, tiraram as máscaras e olharam uns para os outros, sorrindo e com algumas lágrimas incontidas correndo por algumas caras.

As crianças, claro que achavam tudo aquilo muito estranho, mas a visão dos presentes junto ao presépio, ultrapassavam a sua estranheza.

Então ele, o pai da família, pediu a todos que rezassem um Pai Nosso pela família e também por todos os que não tinham Natal.

E foi extraordinário, porque parecia que todos estavam de mãos dadas e que uma só voz fazia subir a oração ao Céu.

E o mais pequenito, que já falava, gritou de alegria: Que bom é o Natal!

 

Marinha Grande, 12 de Novembro de 2020

Joaquim Mexia Alves

NOTA: Com este Conto de Natal desejo a todos quantos por aqui passarem um Santo Natal e um Feliz Ano Novo cheio das bênçãos de Deus.

A fotografia é do presépio da nossa igreja paroquial da Marinha Grande.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

«FAZEI TUDO QUE ELE VOS DISSER!»

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Olhava embevecida para o Menino que dormia calmo e sereno sobre as palhas da manjedoura.

 O Salvador do mundo!!!

Sorria interiormente ao pensar nas surpresas de Deus, e esta era sem dúvida uma “surpresa surpreendente”!

 E veio-lhe ao pensamento uma frase pequena e que tanto peso tinha para Ela: Mãe do Salvador!

Um arrepio incómodo perturbou-a sem Ela perceber porquê, pois estava tudo bem com o Menino.

Olhou-O uma vez mais e foi então que sentiu a razão do arrepio que a tinha perturbado.

Naquele Menino, sentiu Ela, estavam todos os meninos, todos os adultos, todos os velhos que existiam e haviam de existir e percebeu que, de alguma forma, Ela era a Mãe de todos!

Estremeceu, perturbou-se mais uma vez, e perguntou em surdina ao Menino que ali estava deitado: O que quer isto dizer? Como é possível ser Mãe de todos sendo Tua Mãe?

Ouviu uma voz no seu coração que lhe dizia: Não te preocupes, Maria, a Deus nada é impossível!

Serenou, acalmou o seu coração e ficou a pensar: Como posso eu ser Mãe de todos e o que lhes hei-de dizer em cada momento?

O Menino mexeu-se e Ela parece que ouviu a sua voz dizer-lhe ao coração: Diz-lhes apenas para fazerem a Minha vontade, sempre.

Ela assentiu logo que sim, que o importante era todos fazerem o que o Menino lhes dissesse para fazerem.

Tomou-O ao colo, recostou-lhe a cabeça no seu peito e docemente adormeceu olhando aquela face tão bela.

Enquanto adormecia, um sorriso aflorou aos seus lábios, porque teve o pensamento de que um dia ainda havia de dizer a alguém: Fazei tudo o que Ele vos disser!

 

Marinha Grande, 21 de Dezembro de 2020

Joaquim Mexia Alves

sábado, 19 de dezembro de 2020

APETECE-ME ESCREVER!!!

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Sento-me frente ao computador e penso que hoje gostava de escrever sobre o que me vai no íntimo, no coração.

E penso em todas as coisas que uns e outros vão dizendo, escrevendo sobre a Igreja, sobre o Papa Francisco, sobre os Bispos ou os Padres, sejam eles “conservadores” ou “progressistas” e concluo que, pela graça de Deus, “sei” amar a “minha” Igreja em toda a sua diversidade, desde que assente em Jesus Cristo, no Papa e no Magistério, e, portanto, não é sobre isso que quero escrever.

Ah, mas então penso na misericórdia de Deus, infinita, sem limites, para os pecadores, (afinal somos todos pecadores), mas também descanso na certeza de que a misericórdia de Deus é para todos, desde que os todos, ou cada um, a queira reconhecer e aceitar.

Penso então nas celebrações, na liturgia, nas mais “formais” e nas mais “criativas”, e também descanso, na certeza de que todas aquelas que forem celebradas em comunhão com a Igreja, com a Santa Sé, com o Papa e o Magistério, são celebrações queridas por Deus, quer eu goste mais de umas ou de outras.

Depois penso ainda nos tais “assuntos fracturantes”, que dominam as notícias, e descanso também, porque sirvo-me do Catecismo, do ensinamento do Papa e do Magistério, e ajo, e sinto-me de acordo com eles, portanto, em comunhão de Igreja.

E penso em tantas outras coisas e descanso mais uma vez, porque sou intransigente comigo mesmo, ao tentar, (sim, tentar, porque nem sempre sou capaz), seguir o que me diz a Igreja da qual quero ser sempre pedra viva, e assim sendo, sigo a Verdade e a Verdade fará de mim um discípulo, embora pecador.

 

E assim, o que me resta para escrever?

Apenas uma oração que me vai vindo ao coração.

 

Obrigado Pai

que nos enviaste o Teu Filho Jesus Cristo para se fazer homem como nós excepto no pecado, para dar a vida por nós, para nos libertar do pecado e da morte eterna.

O Teu Filho, que contigo Pai, derramou em nós o Espírito Santo, que nos conduz na revelação do Vosso Amor, que faz de nós filhos de Deus muito amados.

Obrigado por fazeres de mim Igreja, (pedra pequenina, mas que não queres dispensar), e sendo Igreja, ser Teu discípulo, ser Tua testemunha, ser um pouco de Ti para os outros como os outros são um pouco de Ti para mim.

Obrigado, meu Deus, porque me parece que escrevi o que querias de mim, pelo menos para mim.

Sou Teu, independentemente da minha teimosia, do meu pecado, do meu eu, porque cada vez que por Ti chamo me estendes a mão e me dizes: “Porque temes, homem de pouca fé.”

Obrigado, meu Senhor e meu Deus!

 

 

Marinha Grande, 19 de Dezembro de 2020

Joaquim Mexia Alves

sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

DIÁLOGOS COM O DIABO (15)

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Diz ele: Não te sentes sozinho, por vezes, como se ninguém se importasse com os teus problemas?

Digo eu: Sim, é verdade, por vezes parece-me estar só no meio de tantas coisas que me incomodam e fazem ansiedade.

Diz ele: Então mas Ele não disse que estava sempre convosco, contigo?

Digo eu: Disse e é verdade, eu é que muitas vezes me afasto dEle e me deixo levar pelos meus sentimentos de descrédito.

Diz ele: Ah, então não acreditas nEle???

Digo eu: Não, eu acredito firmemente nEle, não acredito é muitas vezes em mim e no meu amor por Ele.

Diz ele: Então se acreditasses em ti e nEle, tudo Ele resolveria para teu descanso?

Digo eu: Não, Ele quer que eu faça a minha parte, que me entregue, que me deixe conduzir, que confie e espere e, então sim, segundo a Sua vontade, ultrapassarei os problemas da vida.

Diz ele: Pois, está bem! Ele que podia resolver tudo de uma penada, sem problemas, acaba por te deixar viver esses momentos que abalam a tua vida.

Digo eu: Tudo está nas minhas mãos, mas suportado por Ele se a Ele me entregar. E Ele não é nenhum  mágico para resolver tudo com toques de varinha de condão. Mágico és tu, que queres transformar o bem, o amor, no mal e no abandono. Vai-te, que me estás a tentar!

 

Monte Real, 11 de Dezembro de 2020

Joaquim Mexia Alves

domingo, 29 de novembro de 2020

TEMPO DE ADVENTO, TEMPO DE ESPERA

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Começa o Tempo do Advento, o tempo da espera.

Esperar O que há-de vir, mas que já está entre nós.

 

Mas não é um uma espera passiva, “sentados num sofá”, à espera que Ele venha.

 

«Preparai os caminhos do Senhor», diz João Baptista.

 

Portanto este é um tempo de espera activa, de empenhamento total, de reflexão e ao mesmo tempo de acção.

Devemos “construir” a “manjedoura” que O vai receber, ou seja, sermos pedras vivas da Igreja na sua construção.

Devemos encontrar as “palhas” em que Ele se vai reclinar, ou seja, “fazer o bem sem olhar a quem”.

Devemos ser “pastores”, ou seja, estar sempre de partida à Sua procura, para nos extasiarmos com a Sua vinda e o louvarmos, bendizermos e adorarmos.

Devemos ser “magos”, ou seja, deixarmo-nos guiar pela Sua Luz, oferecendo-nos como presentes vivos a Ele e, depois do encontro, deixarmos que Ele nos faça “regressar” por diferente caminho.

 

Enquanto há tempos de espera em que não temos a certeza de que chega ou não o que esperamos, este é um tempo de espera seguro, pois sabemos, acreditamos, que Ele sempre chegará, que Ele já está no meio de nós.

 

Jesus,

aqui estou!

Quero despir-me de mim, de tudo aquilo que não me deixa esperar-Te de coração puro, simples e aberto ao Teu amor.

Já me encontraste, Senhor, e eu deixei-me encontrar, mas quero, melhor peço-Te, que esse encontro seja permanente e para sempre.

Que eu sempre Te espere, porque sempre me encontras.

Sou pobre, Jesus, de fé e de obras, mas ofereço-me a Ti como presente vivo para fazer a Tua vontade.

Obrigado, Jesus.

 

 

Marinha Grande, 29 de Novembro de 2020

Joaquim Mexia Alves

domingo, 18 de outubro de 2020

OLHAR E OLHARES

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Hoje, na homilia da Missa Dominical, o Pe Rui Ruivo, Vigário da nossa paróquia, falou-nos do olhar e dos olhares, para além, obviamente, de todo o significado das Leituras e Evangelho de hoje e como elas nos chamam a perceber o que é de Deus, e como tal, o que deve ser prioritário para cada cristão.

Realmente, nunca como hoje, o olhar, os olhares, foram tão importantes nas relações entre os homens.

Usamos máscaras, (e aqui não no significado metafórico, mas real), e como tal, do nosso rosto, das nossas expressões, apenas se vê o nosso olhar, os nossos olhares.

«Pedro respondeu: «Homem, não sei o que dizes.» E, no mesmo instante, estando ele ainda a falar, cantou um galo. Voltando-se, o Senhor fixou os olhos em Pedro; e Pedro recordou-se da palavra do Senhor, quando lhe disse: «Hoje, antes de o galo cantar, irás negar-me três vezes.» E, vindo para fora, chorou amargamente.» Lc 22, 60-62

O olhar de Jesus fez Pedro perceber o seu pecado, a sua negação e levou-o ao arrependimento, ao caminho que era vontade de Deus para ele.

Percebemos então que o olhar, os olhares, são importantes para aqueles com quem nos cruzamos na vida, no dia a dia.

E são tantas as expressões que o demonstram: “os olhos são o espelho da alma ou o olhar é o espelho da alma”, “olha-me nos olhos e diz a verdade”, “tens um olhar triste”, “tens um olhar calmo”, “a sinceridade do teu olhar”, etc., etc.

Então, por maioria de razão, neste tempo de uso de máscaras o nosso olhar, os nossos olhares falam por nós.

Não tenhamos dúvidas que se quisermos, o nosso olhar, os nossos olhares, “contam” aos outros as nossas tristezas e alegrias, a nossa sinceridade e a nossa mentira, o nosso ser e nosso parecer, o nosso acreditar e o nosso rejeitar.

Mais do que nunca o nosso olhar nos olhos de cada um que com que connosco se cruzam, é o testemunho vivo daquilo que somos.

É que é muito difícil olhar com bondade os outros, ao mesmo tempo que, por detrás da máscara, lhe fazemos uma careta de desprezo.

Até se costuma dizer que a tua boca diz uma coisa, mas os teus olhos dizem outra diferente, ou seja, dizem a verdade.

Hoje, nessa mesma Missa Dominical, quando distribuía Jesus Cristo na Hóstia consagrada, (o que normalmente faço com um sorriso franco), pretendia que os meus olhos fizessem passar esse mesmo sorriso, mesmo que a minha boca estivesse tapada pela máscara que obrigatoriamente tinha de usar.

Não sei se consegui, mas acredito que o Espírito Santo, a quem nada é impossível, transmitiu essa mensagem de alegria, de paz e de amor, que é e leva consigo a Comunhão Eucarística.

Daí ficar a reflectir como é importante neste tempo o nosso olhar, os nossos olhares, para que os outros percebam que vivendo em Cristo, o “medo da máscara”, é superado pelo amor de Deus, que nos traz paz, serenidade e certeza de salvação, se a Ele nos entregamos.

Peçamos então a Deus que o nosso olhar, os nossos olhares, reflictam a presença de Deus em nós, o Seu amor em nós, para os outros, como testemunho vivo da nossa fé e do nosso viver com Cristo, por Cristo e em Cristo, no caminho da salvação, que é para todos, em Igreja.

 

Marinha Grande, 18 de Outubro de 2020

Joaquim Mexia Alves 

quinta-feira, 15 de outubro de 2020

DIÁLOGOS COM O DIABO (14)

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Diz ele: Essas tuas críticas aos outros são muito importantes para mudar as coisas e até para os mudar a eles.

Digo eu: Ainda bem que falas nisso, porque se me elogias é porque essas críticas que faço da “boca para fora” devem estar erradas, com certeza, na minha forma de proceder.

Diz ele: Não, não. São importantes para fazer mudança, tais como aquelas que pensas na tua cabeça sobre os outros.

Digo eu: Agora não tenho dúvidas! Essas críticas são más, da maneira que as faço, principalmente as que faço na minha cabeça. E nada mudam, nem transformam, nem constroem! Só podem vir de ti!

Diz ele: Eu só quero ajudar, para que percebas onde os outros estão errados e assim os poderes ajudar.

Digo eu: Podes enganar-me em muitas coisas, mas nesta já estou a perceber o que faço quando critico publicamente os outros sem discernimento e sem razão. É apenas má língua! Antes de falar tenho que pedir conselho a quem me possa ajudar a ver mais claro.

Diz ele: Não, não. Não precisas de conselhos. Tu já sabes tantas coisas. Por isso és capaz de aferir o que podes criticar e como criticar os outros.

Digo eu: Com elogios desses já te entendo bem! Assim não me enganas! Sozinho não sou nada. Aliás sozinho não te consigo combater, por isso vai-te que desta vez não me enganas e até me ajudaste a perceber que tantas críticas que faço são um péssimo testemunho para os outros.

Diz ele: Tu é que sabes. Mas eu estou aqui se precisares de mim.

Digo eu: Não sei não! Sozinho nada sei, mas Deus ajuda-me a discernir cada momento se a Ele me entregar. Ah, e eu sei bem que estás aí e que eu tenho de estar atento às tuas investidas. Vai-te que eu sou de Cristo e só a Ele pertenço.

 

 

Marinha Grande, 15 de Outubro de 2020

Joaquim Mexia Alves

terça-feira, 13 de outubro de 2020

DIÁLOGOS COM O SENHOR DEUS (19)

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Noto em ti alguma tristeza, meu filho. O que se passa?

 Ó Senhor, então não sabes o que se passa?

 Eu sei, meu filho, mas gostava que me dissesses.

 Sabes, Senhor, é tão difícil às vezes lidar com certas situações que envolvem outros e querer manter o sorriso, a boa vontade, a concórdia.

 Eu sei, meu filho, lembra-te do que passei nas mãos daqueles que Me ofendiam e batiam e no entanto guardei no coração tudo isso e transformei-o em perdão.

 Pois é, Senhor, mas Tu tinhas a certeza de que nada tinhas feito para que tal acontecesse e eu tenho sempre a sensação que nalgum tempo concorri para aquilo que se passa comigo nestas situações.

Mas, meu filho, tu não és perfeito, sabes bem. E os outros também não o são. Aos teus olhos parece-te injustiça, pior, sentes como injustiça, mas para os outros talvez não seja esse o seu sentimento, porque não conseguem perceber as razões que te moveram.

Mas dói, Senhor, apetece desistir, não me preocupar mais com essas situações e viver a vida que me deste em paz, contigo.

E julgas, meu filho, que poderás viver em paz comigo se não estiveres em paz com os outros?

Pois, Senhor, por isso Te digo que é tão difícil!

Olha, meu filho, faz primeiro as pazes contigo, depois tenta colocar-te na pele dos outros, a seguir perdoa as más interpretações dos outros, (afere também se foste claro e transparente), e depois … depois enquanto tentas resolver tudo, coloca nas minhas mãos, reza, confia e espera, sabendo que Eu estou contigo e com os outros também.Hoje é dia da Minha Mãe em Fátima, por isso coloca no seu regaço todas as tuas intenções e situações e não te esqueças que Eu disse: «Mulher, eis o teu filho!» Jo 19, 26

 Obrigado, Senhor, abriste um sorriso no meu coração e na minha boca!

 

 Monte Real, 13 de Outubro de 2020

Joaquim Mexia Alves

quarta-feira, 7 de outubro de 2020

NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO

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Nas tuas mãos desfias o Rosário

e em cada conta

colocas o operário,

o patrão,

o empregado,

o carpinteiro,

a dona de casa,

todos enfim,

até o desempregado.

 

Nos teus braços o Menino,

olha para todos e sorri,

para o mais velho,

para o mais pequenino.

Aquele a quem todos se deu

encosta-se ainda mais a Ti,

no regaço da Sua Mãe,

Mãe que Ele próprio escolheu.

 

As contas do teu Rosário,

que desfias sem cessar,

são gotas do teu amor,

são pérolas da tua ternura,

que consegues derramar,

em cada um de nós,

que se aproxima de Ti,

para conhecer melhor,

o teu Filho muito amado,

Jesus Cristo,

Nosso Senhor.

 

 

Marinha Grande, 7 de Outubro de 2010

Joaquim Mexia Alves

domingo, 4 de outubro de 2020

PASSEIO PELA MEMÓRIA

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E de repente um passeio pela memória!

Tenho 71 anos e não sei se na sociedade em que vivo sou um velho, um idoso, ou alguém já descartável, como quem já não tem nada para dar.

Não me sinto assim, antes pelo contrário, mas esta sociedade quase me obriga a sentir assim.

 

Nunca se falou tanto em liberdade como agora e nunca me pareceu haver tanta falta de liberdade como agora!

A liberdade de pensamento é coertada pelo “politicamente correcto”, a liberdade do que trabalha é-lhe negada pela pressão do trabalho, a liberdade do ser é abstraída pela “necessidade” do parecer.

 

Ah, no meu tempo!!!

Não, porque o tempo é o tempo, e já não volta, por isso é preciso aproveitar o tempo.

 

Tive uma infância feliz, cheia de amor, de pais fantásticos e de nove irmãos, todos diferentes, mas todos iguais no amor.

E deles foram nascendo sobrinhas e sobrinhos e deles, sobrinhas e sobrinhos netos e qualquer dia sobrinhos trinetos, que francamente já não sei se já tenho.

Quatro filhos, quatro netos, para já, e uma vida cheia.

 

Erros, asneiras, comportamentos indevidos, provocando a vida, provocando Deus e no fim, (deste período, claro), um Deus que me diz estou aqui e sempre aqui estive.

Uma guerra, (que me marcou sem dúvida), e um regressar que ainda talvez não se tenha feito completo, pois ainda percorro muitas vezes, pela noite, as picadas da Guiné.

Claro que a família que me rodeava e rodeia afastam de mim os maiores fantasmas, mas ficam aqueles em que me sinto incapaz ou inútil de ajudar, que tendo sido meus camaradas de armas continuam a sofrer na pele quase todos os dias o abandono a que foram e são votados.

 

Não vás ao hospital, porque lá se estão borrifando para ti.

Já não idade para ser curado, tens apenas idade para morrer!

Drástico, não é, mas tão real!

 

Se julgam que estou deprimido, estão muito enganados, porque a minha esperança está em Deus, e Deus não abandona ninguém!

Aliás, para o coração de Deus, eu sou uma criança, sem idade, sem passado e sem futuro, porque tudo isso a Ele pertence, porque lho entrego nas Suas mãos.

E Ele perdoa o que é para perdoar, e ama incondicionalmente o meu ser e o meu fraco amor.

 

Esquerda, direita, um, dois, parece que estamos na tropa, mas o que verdadeiramente interessa é querer o bem dos outros e hoje em dia a política parece querer apenas o “bem” dos que a utilizam para os seus fins.

 

De derrotismo em mim não há nada, mas sim determinação de não me calar, sobretudo para testemunhar que só em Deus encontrei e todos encontraremos a verdadeira liberdade, o verdadeiro amor.

 

E apetece-me terminar como José Régio no seu “Cântico Negro”: «E o mais que faço não vale nada.»

 

Porque se testemunhar Jesus em mim, como Ele próprio afirmou, também Ele testemunhará junto do Pai, com o Espírito Santo, que eu Lhe pertenço, pela inteira liberdade que Deus me deu.

 

 

Marinha Grande, 4 de Outubro de 2020

Joaquim Mexia Alves

domingo, 27 de setembro de 2020

“MÁSCARAS”!

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Missa dominical das onze horas na igreja matriz da Marinha Grande.

Como Ministro Extraordinário da Comunhão estou sentado junto ao Sacrário, por detrás do celebrante, Pe Rui Ruivo, e vejo, portanto, todos os fiéis sentados nos bancos, cumprindo as normas de segurança à distância permitida e todos de máscara na cara, tal como eu.

Esta imagem impressiona-me, pois com 71 anos, nunca tinha assistido a tal coisa, ou seja, uma igreja cheia de gente com máscaras na cara.

Para além do facto da pandemia, razão de ser de tal imagem, reflicto sobre o que estou a ver, mais numa reflexão espiritual do que no estranho que tudo aquilo me parece.

E o pensamento que me vem ao coração e à mente, é que é tempo, cada vez mais, de deixarmos as “máscaras”!

Este deixar de usar as “máscaras” surge muito claramente como um pensamento espiritual que o Espírito Santo coloca no meu coração e que diz que é sempre tempo, mas mais ainda agora, dos cristãos católicos, deixarem as “máscaras” e afirmarem-se corajosamente como tal, não só na e em Igreja, como muito especialmente na sociedade, que cada vez mais precisa de valores da vida, de valores verdadeiros, de valores de amor a Deus e aos outros.

Não me canso da frase, «vede como eles se amam”, e envergonhadamente penso na máscara que uso por causa da pandemia e nas “máscaras” que uso como cristão católico, que bate no peito, que clama, Senhor, Senhor, mas que não ama ainda Deus e os outros, como Ele nos ama.

Talvez nunca como agora, o mundo precise tanto de cristãos católicos convictos, empenhados, enfim, verdadeiros discípulos e missionários, amando sem medida como Ele nos ama.

E lembro-me daqueles que são perseguidos nos seus países por serem cristãos católicos e que esses sim, talvez devessem usar máscaras para não serem reconhecidos e perseguidos, mas que não têm medo, (ou mesmo que o tenham), retiram as suas “máscaras” e afirmam a sua fé.

Preciso, precisamos, cada vez mais ainda retirar as “máscaras” que ainda tenho, que ainda temos, e amar sem medida a Deus e aos outros, afirmando-nos sempre testemunhas fiéis, “contagiando” os outros com a “pandemia” do amor de Deus.

Só assim poderemos ouvir um dia a tal frase: «Vede com eles se amam»!

 

Marinha Grande, 27 de Setembro de 2020

Joaquim Mexia Alves

segunda-feira, 14 de setembro de 2020

PERDOAR E PEDIR PERDÃO

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Durante o fim de semana reflectimos e falámos, em Igreja, sobre o perdão e o perdoar a quem nos ofende.

Fiquei a pensar nisso mesmo e percebi que falamos muito sobre perdoar quem nos ofende, (e ainda bem, graças a Deus), mas pouco falamos de pedir perdão a quem nós ofendemos, excepto quando nos referimos ao sacramento da Reconciliação e, claro, nesse caso é para pedir perdão a Deus pelas nossas ofensas.

 

Perguntei-me o que seria mais difícil: Perdoar ou pedir perdão?

 

Assim de repente, para o meu orgulho, pareceu-me que será bem mais difícil pedir perdão do que perdoar.

É que no fundo, e com toda a simplicidade, pedir perdão é reconhecer que errei, que ofendi o outro, enquanto perdoar é, digamos assim, reconhecer, sentir a falta do outro e perdoá-la.

Ora reconhecer os nossos erros, parece-me bem mais difícil do que reconhecer os erros dos outros, por isso também nesta semana ouvimos que «temos de tirar primeiro a trave dos nossos olhos antes de querermos tirar o argueiro dos olhos dos outros».

 

E isso é tão verdade, simplesmente falando, que nós tentamos sempre arranjar desculpas para as nossas faltas, as nossas ofensas, mas raramente procuramos desculpas para as faltas dos outros em relação a nós.

E curiosamente, essas desculpas que tentamos arranjar para as nossas faltas, acabam por implicar sempre o outro, ou seja, o querer transformar o outro no “culpado” da nossa ofensa: Se ele não tivesse feito assim, eu não tinha feito aquilo!!!

Faz lembrar a história do sacerdote que dizia a alguém que se confessava a ele: Bem, agora que já me contou os pecados dos outros, reconheça lá os seus!!!

 

Pedir perdão é um “baixar a cabeça”, não como humilhação, mas como acto de humildade, como um acto de reconhecimento que fomos fracos e ofendemos, (ofender alguém é sempre, para mim, um acto de fraqueza da nossa parte), sem tentar arranjar desculpas para a nossa falta.

 

Mas, curiosamente, perdoar é também um “baixar a cabeça”, um acto de humildade, pois colocamo-nos ao “nível” de quem nos ofendeu, deixando o nosso orgulho de lado.

E perdoar é sempre um acto de fortaleza, sobretudo nos dias de hoje em que se confunde perdoar com fraqueza perante os outros que nos ofenderam.

 

Talvez seja confuso o que escrevo, (até porque não consigo exprimir escrevendo o que sinto), mas isso não me/nos deve impedir de reflectir que muitas vezes não reconhecemos as nossas faltas, desvalorizamo-las e por isso mesmo não pedimos perdão por elas, sobretudo aquelas que nos parecem mais pequenas, “sem importância”.

Ora, penso eu, há-de ser muito difícil perdoar verdadeiramente se não somos capazes de pedir perdão, porque ao longo das nossas vidas somos muitas vezes ofendidos, mas também ofendemos muitas vezes.

 

É preciso, sobretudo, passar das palavras aos actos, ou seja, procurar no nosso íntimo a quem devemos perdoar e procurar quem ofendemos para pedir perdão pelas nossas ofensas.

Só assim, arrisco a escrever, o perdão será completo.

 

E depois pedir perdão a Deus e confiar que Ele nos dará sempre forças, (se quisermos ser sinceros no coração), para perdoar e pedir perdão.

 

 

Festa da Exaltação da Santa Cruz

Marinha Grande, 14 de Setembro de 2020

Joaquim Mexia Alves 

terça-feira, 1 de setembro de 2020

SENSAÇÃO

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Há dias assim em que acordamos com a sensação de que algo não vai correr bem.

São dias em que parece que nem sequer me atrevo a pedir a Jesus para ir ter com Ele sobre as águas, porque tenho já aquela sensação de que me vou afundar.

E depois a sensação perdura, vai tomando conta de nós, e acaba por transformar um dia que seria normal, num dia sem sentido, sem alegria, sem vida verdadeira.

 

Calmamente invoco o Espírito Santo, tento entregar-me a Ele, deixo que Ele me vá aquietando e me fale ao coração, até ouvir o sussurro de Deus: Porque temes homem de pouca fé? Alguma vez te faltei? Vá, acredita e vem ter comigo sobre as águas das tuas inquietações.

 

Fecho os olhos, coloco-me em pé sobre as águas e digo uma velha e rotineira frase mas que agora tem todo o sentido: Seja o que Deus quiser!

 

E vou, primeiro devagar, depois a correr, depois afundo-me, depois a mão d’Ele levanta-me e eu continuo a correr, a andar, semeando a alegria com algumas lágrimas, plantando no meio do bem estar algumas dores, tentando sempre fazer mais o bem do que o mal, e repetindo sempre para mim: Homem de pouca fé!

 

E Ele ri-se e eu rio-me com Ele!

 

De mãos dadas atravessamos campos de flores e desertos de areia, caminhamos sobre o mar calmo e sobre a tempestade alterosa, banhamo-nos na chuva e secamo-nos ao sol, sentimos a brisa suave e suportamos o vento ciclónico, e por fim Ele pergunta-me: Onde está a sensação que sentias hoje de manhã?

 

E eu respondo-lhe com as lágrimas da maior ternura que eu possa ter: Está contigo, Senhor! Ficaste com ela quando Te entreguei o dia que me deste!

 

 

Monte Real, 2 de Setembro de 2020

Joaquim Mexia Alves

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quarta-feira, 12 de agosto de 2020

PANDEMIA

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Entro na igreja, devagar, sem medo, embora o silêncio seja total.

Ponho um joelho em terra e digo cheio de esperança: Bom dia, meu Deus!

 

Dou mais uns passos, subo a coxia lateral, e encontro-me em frente do Sacrário onde pergunto a meia voz: Estás aí, Senhor?

Olho para o lado, vejo a luz acesa e percebo que a minha pergunta foi escusada.

 

Ajoelho-me e benzo-me em nome do Pai que me criou, do Filho que me salvou e do Espírito Santo que me há-de santificar … se eu deixar!!!!

 

Olhamo-nos, sorrimo-nos e pergunto-me interiormente se Lhe poderei dar um beijo apesar da pandemia.

Ele ri-se ao pensar nisso e faz-me rir a mim também!

 

Diz-me então com a sua voz ternurenta: Vem, podes vir beijar-me, que a única pandemia que Eu te posso passar é o amor!

 

Corro para Ele e digo-Lhe cheio de alegria: Ah, Senhor, essa pandemia eu quero!

 

Responde-me Ele abrindo os braços para mim: Esta pandemia só se “cura” contaminando toda a gente!

Deita fora as tuas máscaras, sejam elas quais forem, abre o teu coração, prepara o teu sorriso, deixa que o Espírito Santo te ensine palavras e, depois … depois contamina todos os que encontrares e se quiserem deixar contaminar.

 

Feliz, respondo-Lhe: Sinto-me “doente”, Senhor, da Tua pandemia. Oxalá muitos se deixem contaminar!!!!!

 

 

Marinha Grande, 12 de Agosto de 2020

Joaquim Mexia Alves

segunda-feira, 3 de agosto de 2020

BRINCAR SOBRE AS ÁGUAS DA FÉ

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Chamas-me de longe e eu salto do barco e fico de pé na água!

Parece que já nada me espanta quando estou contigo!!!

Dou saltos, cambalhotas, corro para Ti, parecendo uma criança que encontrou a plena felicidade!

Nada, nem um bocadinho de mim se afunda naquelas águas calmas em que ao longe, de pé, me esperas de braços abertos.

 

Surge uma pequena onda, quase nada, apenas uma “ruga” na água calma, mas eu hesito e começo a sentir os pés a afundarem-se na água.

Faço um esforço, olho ao longe e vejo-Te perto e redobra a confiança e continuo a minha caminhada sobre a água, alegre e feliz à procura dos Teus braços.

 

Levanta-se o vento, as ondas tomam tamanho e eu já não consigo vencer o medo!

Começo a afundar-me!

 

O meu coração grita-me bem alto: Confia, acredita, vais ver que consegues andar sobre as ondas. Ele espera-te!

 

Mas a cabeça deixa-se levar pelos pensamentos da minha vontade e diz-me com voz forte: Não vês que Ele está longe? Como queres tu chegar perto d’Ele sobre a água? Se Ele quiser, Ele que venha ter contigo!

 

Afundo-me!

A água já me dá pelo peito!

Ainda rezo, mas sem convicção, quase por rotina, e sinto já a água no meu pescoço, pronta para me engolir num todo.

 

Num derradeiro esforço, olho-Te nos olhos que sorriem para mim, estendo a minha mão e grito: Senhor, salva-me!

 

Estendes a Tua mão, agarras a minha, puxas-me para Ti e junto comigo, como crianças, corremos, damos saltos e cambalhotas sobre as águas, sobre as ondas e Tu abraças-me e dizes-me ao ouvido, repassado de amor: Homem de pouca fé!

 

E eu envergonhado, mas feliz respondo: É verdade, Senhor, Tu nunca nos faltas mesmo nas ondas mais alterosas. Obrigado, Senhor!

 

 

Marinha Grande, 3 de Agosto de 2020

Joaquim Mexia Alves


domingo, 2 de agosto de 2020

«À IMAGEM E SEMELHANÇA DE DEUS»

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«Deus disse: “Façamos o homem à nossa imagem, à nossa semelhança”. Deus criou o homem à sua imagem, criou-o à imagem de Deus; Ele os criou homem e mulher» (Gn 1, 26-27).

 

Fomos criados à imagem e semelhança de Deus, mas, (correndo o risco de cometer alguma heresia), reflicto que esta não é uma verdade “final”, ou seja, que o homem para ser à imagem e semelhança de Deus tem de continuar um caminho que cada vez mais o aproxime dessa imagem e dessa semelhança.

 

Quando nascemos somos, mais ou menos, parecidos com o pai ou com a mãe, mas isso não significa que iremos ser suas imagens ou suas semelhanças, não só fisicamente, como, sobretudo, em feitio, em modo de vida, em valores, etc.

Sim somos dotados da inteligência e liberdade que definem “grosso modo” essa nossa imagem e semelhança com Deus, mas essa imagem e semelhança seriam incompletas se não quiséssemos imitar, ou melhor, perseguir a “perfeição” de Deus ao longo das nossas vidas, para assim sermos verdadeiramente Sua imagem e semelhança.

 

«Portanto, sede perfeitos como é perfeito o vosso Pai celeste.» Mt 5, 48

 

Nós não podemos “melhorar” a imagem e semelhança de Deus, mas podemos melhorar-nos para sermos cada vez mais essa imagem e essa semelhança de Deus e com Deus.

 

De que me serve ser criado à imagem e semelhança de Deus, se não transmito aos outros, se não dou testemunho aos outros dessa imagem e semelhança?

Como posso ser livre, se não considerar a liberdade dos outros, por exemplo?

Como posso amar, se não considerar primeiro o amor de Deus em mim?

Como posso ser semelhante a Deus, se não servir, como Cristo serviu totalmente?

 

Ser criado à imagem e semelhança de Deus é uma verdade absoluta, mas só se completa. (quanto a mim, claro), quando eu tento ao longo da minha vida ser essa imagem e essa semelhança, ou seja, fazer a vontade de Deus, como Cristo fez a vontade do Pai.

 

Com todo este “arrazoado” de palavras reflectidas e escritas, quero no fundo dizer, (sobretudo para mim próprio), que eu não sou criado à imagem e semelhança de Deus, que eu não sou cristão católico, e “prontos”, está resolvido!

 

Quero dizer que sim, que fui criado à imagem e semelhança de Deus, mas que essa imagem e essa semelhança têm que ser vividas todos os dias, nas minhas palavras, nas minhas atitudes, no meu testemunho, em tudo e com todos na minha vida todos os dias.

 

Só assim poderei dizer verdadeiramente que fui criado à imagem e semelhança de Deus.

 

Glória a Ti, meu Deus e Senhor!

 

 

Marinha Grande, 2 de Agosto de 2020

Joaquim Mexia Alves