quarta-feira, 1 de abril de 2020

AINDA HÁ MUITO POR FAZER


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Tomas-me pela mão e levas-me contigo pelo jardim adentro.
Paras, olhas para mim e dizes-me para ficar ali vigiando um pouco, enquanto vais rezar.

Recosto-me na árvore, balbucio umas orações, mas rapidamente me deixo vencer pelo sono e só acordo quando sinto a Tua mão no meu ombro e o Teu olhar triste, mas compreensivo dizendo-me: Não pudeste vigiar e orar nem um pouco? Como queres tu não cair em tentação?

Afasta-se novamente de mim, mas deste vez sigo-O escondido no silêncio. A Sua cara transforma-se numa tristeza indescritível, o Seu corpo fecha-se sobre Si próprio como numa dor insuportável, todo Ele treme, (mas sem um queixume), e da testa vejo caírem grossas gotas de sangue como de suor se tratasse.

A imagem esmaga-me e sinto-me impotente, sinto-me nada, sinto-me quase perdido sem saber o que fazer.
O sofrimento d’Ele esgota-me totalmente.

Pergunto-Lhe docemente, em sussurro, quase a medo, os olhos rasos e lágrimas: Porquê, Senhor, porquê???

Olha-me com um olhar de compaixão que me trespassa inteiramente de um misto de vergonha, mas de esperança também.

E diz-me com aquela Sua voz que se devia ouvir por todo o mundo, mas que infelizmente só alguns corações abertos querem ouvir:
É por ti, meu filho!

Estremeço de dor e quero protestar, mas Ele continua:
É por ti, porque é por todos.

Diz-me para eu ver, mas eu não consigo ver, pois a visão não se forma na minha incredulidade e Ele vai-me descrevendo tudo o que se passa por diante dos Seus olhos:
As crianças arrancadas do ventre das suas mães, os homens que se matam por coisa nenhuma, as mulheres violentadas e desprezadas, os velhos abandonados e mais do que isso, condenados à morte por leis iniquas, os que sofrem por todo o lado, doenças, abandono, desprezo, indiferença.
Fala-me das crianças violentadas tantas vezes por aqueles em quem mais deviam confiar, e com horror maior ainda os que são mortos invocando infamemente o Seu Nome.
As famílias desagregadas, os filhos abandonados, os dirigentes que roubam, membros da Sua Igreja que cometem faltas horríveis, a destruição do mundo e sobretudo isto e muito mais, alguém que se ri desmesuradamente porque julga que já venceu e que o mundo já é dele.

Mais não, grito eu, mais não!!!!!

E Ele responde-me: Aquilo que tu e tantos outros já não conseguem suportar, nem mesmo imaginar, suporto-o Eu nesta hora e na Minha Cruz por todos vós.

Timidamente, de cabeça baixa, pergunto-lhe em voz sussurrada: Que posso eu fazer, Senhor, para Te consolar, Te amparar, te ajudar, para, sei lá, enxugar as Tuas lágrimas.

E Tu respondes-me com o sorriso de amor mais lindo que alguma vez vi:
Acorda e ora, com todos! Vigiai, não baixeis os braços. Eu já vos dei a vitória. Tomai conta dela e exibi-a sem medo, sem respeitos humanos, pelas casas, pelas praças, pelas ruas. O vosso testemunho tem que ser o Meu amor, porque nunca vos esqueçais que o meu amor já venceu, sempre vencerá e sempre permanecerá.

Tomando-me pelo braço disse-me com voz de Deus: Agora vamos que há muito por fazer!



Marinha Grande, 1 de Abril de 2020
Joaquim Mexia Alves
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