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Sentei-me na minha sala,
pronto para “assistir” à Missa de Domingo de Ramos da minha paróquia da Marinha
Grande.
Na “minha” igreja, estavam o
Pe Rui a presidir, o Pe Patrício a concelebrar, duas acolitas, o nosso maestro,
(que por si só é um coro), uma fiel paroquiana e julgo que o homem da câmara,
mas que não estava visível.
A igreja assim vazia, apenas
com estas pessoas, fazia impressão de recolhimento, de silêncio, mas ao mesmo
tempo, transmitia uma certa dignidade a toda aquela celebração, a todo aquele
momento.
Em nome do Pai e do Filho e do
Espírito Santo.
Amen.
A graça de Nosso Senhor Jesus
Cristo, o amor do Pai e a comunhão do Espírito Santo estejam convosco.
Foi nessa altura que ao
respondermos «Bendito seja Deus, que nos reuniu no amor de Cristo», o milagre
aconteceu.
De repente a igreja ficou
cheia de Igreja, não havia lugares para mais ninguém, pois estavam os que
costumam estar, alguns que não costumam estar, outros que já não podem estar e
sobretudo, por cima de todos nós miríades de anjos, (os anjos da guarda, com
certeza e não só),
que entoavam louvores a Deus,
inaudíveis aos nossos ouvidos, mas sentidos no coração.
Atrás do Altar, aos pés da
Cruz de Cristo, estava ajoelhada a Nossa Senhora do Rosário, entregando ao crucificado
todos os seus filhos.
E foi a Primeira Leitura que, quanto
a mim, não foi lida, mas sussurrada aos ouvidos do leitor, por um anjo do
Senhor.
Veio outro anjo e servindo-se
da voz do cantor cantou/rezou o Salmo, de uma tal beleza que nos sentimos
transportados ao momento.
Novo anjo sussurrou aos
ouvidos da leitora a mensagem de Deus e todos a ouviram num silêncio meditado.
Chegada a altura do Evangelho,
o espaço da igreja abriu-se para dar lugar a todas as figuras da Palavra de
Deus, desde Jesus Cristo, ao humilde Cireneu.
Quando o Pe Patrício chegou ao
ambão para ler, em lugar do Evangelho estava o próprio Cristo que lhe disse:
Lê-me!
Olhou para os ouros que o iam
acompanhar na narração e percebeu que a todos estava a acontecer a mesma coisa.
Calma e serenamente toda
aquela multidão ouviu e perguntou-se no silêncio instalado: E seu lá estivesse
deixava que tal acontecesse? Zombaria de Jesus Cristo? Escolheria Barrabás? Levantaria
ao menos a minha voz para protestar?
Ao fundo, a um canto da igreja
ouve-se a voz forte de um homem que grita indignado: Eu não O conheço, eu não O
conheço?
E quantos de nós j assim pensámos,
quantas vezes já o dissemos: Eu não O conheço!
Não passou muito tempo até ver
aquele homem rude, chorando copiosamente, num desalento, numa vergonha
insuportável., que só o olhar de Cristo acalmou, porque era só compaixão, amor
e perdão.
O padre tomou então o pão e o
vinho, e iluminado pelo Espírito Santo vê aqueles dons transformarem-se no
Corpo e Sangue de Cristo.
Mas não é só ele, pois todos
os que ali estão de coração aberto vêem o mesmo Cristo a entregar-se por cada um
de nós.
Entretanto os anjos não param
de louvar, de cantar, de dançar, de fazer a festa de Deus!
Então o Pai, com Jesus Cristo
e o Espírito Santo, no centro do altar, dão as mãos àqueles sacerdotes, que as
dão a todos os outros e, acompanhados pelas melodias dos anjos, rezam
ferverosamente o Pai Nosso.
Chega a altura da Comunhão e o
Pe Rui confidencia ao Pe Patrício: As hóstias não vão chegar! Olha para a
igreja cheia a deitar por fora?
O Pe Patrício, cheio de calma
com o seu optimismo diz-lhe: Quem enche uma igreja assim de Igreja, também dá
alimento a todos os que se queiram alimentard’Ele!
E a fila é interminável e em
cada um que comunga, Cristo faz-se comunhão com todos, ali na igreja ou nas
casas de cada um.
Serenamente o “Jesus escondido”
recolhe-se, e cada um fica com Ele no coração.
Então e mais uma vez, o Pai, o
Filho e o Espírito Santo, servindo-se das mãos do seu sacerdote, a todos
abençoam em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo.
Feliz e sorridente o Pe Rui
diz: Ide em paz o Senhor vos acompanhe!
E sobre todas as vozes que
respondem, sobrepõe-se as vozes da Trindade Santa que diz: Não te preocupes,
Nós vamos com eles!
Domingo de Ramos
Marinha Grande, 5 de Abril de
2020
Joaquim Mexia Alves
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