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Desde há muito tempo que escrevo sobre os sacerdotes, sobretudo sobre a, nem lhe chamo necessidade, mas sim reconhecimento, pela extraordinária entrega que a enorme maioria deles faz da sua vida pelos outros.
Escrevi várias vezes sobre como são tantas vezes menosprezados, criticados, e até às vezes quase considerados culpados dos “males” da Igreja, até pela própria hierarquia que os devia acarinhar, elogiar e, sem dúvida, ajudar a corrigir o seu caminho sacerdotal, a sua missão, mas devendo ter sempre bem presente a sua vida social, que a maior parte das vezes é o menos visível aos olhos dos outros
E este ter sempre presente também a vida social dos sacerdotes não é responsabilidade apenas da hierarquia da Igreja, mas também dos leigos, sobretudo os paroquianos, a quem esses sacerdotes servem, quase sempre colocando de lado a sua própria vida.
Quem vive e trabalha mais de perto com os sacerdotes, especialmente numa comunidade paroquial, percebe com facilidade quantas vezes são tratados como meros “funcionários” administradores de sacramentos, criticados por tudo ou por nada e como o seu feitio, (eles são homens como os outros com feitios diferentes), bom ou mau, é sempre motivo de conversa critica.
Esquecem-se, esquecemo-nos, de que também os sacerdotes têm famílias a que pertencem, e que, muitas vezes, as doenças e outros males também tocam as suas famílias, e que nesses momentos eles precisam tanto como cada um de nós de um ombro amigo, de uma palavra de consolo, e até de uma ajuda qualquer mais especifica.
Vem isto a propósito de diversos textos que li sobre o jovem sacerdote italiano que se suicidou, (a palavra a usar é infelizmente mesmo esta), que prova, digamos assim, que o que está escrito acima é uma realidade bem presente na vida dos sacerdotes, e que muito falta fazer por eles, quer ao nível da hierarquia da Igreja, quer ao nível dos fiéis leigos que usufruem espiritualmente e não só, da sua entrega ao sacerdócio.
Mas infelizmente, (e posso estar enganado), não li em nenhum desses textos algo que me parece muito importante, ou melhor, importante para a vivência da fé cristã que afirmamos professar.
É que, apontando as razões bem verdadeiras para a morte do referido sacerdote, e nada mais dizendo, quase parece “legitimar-se” o suicídio, o que é particularmente grave.
Acredito que alguém que comete tal acto, não estará na posse de todas as suas faculdades de correcto discernimento, mas o acto não deixa de ser algo que a Doutrina da Igreja afirma e bem, ser pecado e pecado grave, porque a vida só a Deus pertence.
Diz-nos o Catecismo da Igreja Católica:
2280. Cada qual é responsável perante Deus pela vida que Ele lhe deu, Deus é o senhor soberano da vida; devemos recebê-la com reconhecimento e preservá-la para sua honra e salvação das nossas almas. Nós somos administradores e não proprietários da vida que Deus nos confiou; não podemos dispor dela.
E mais adiante:
2283. Não se deve desesperar da salvação eterna das pessoas que se suicidaram. Deus pode, por caminhos que só Ele conhece, oferecer-lhes a ocasião de um arrependimento salutar. A Igreja ora pelas pessoas que atentaram contra a própria vida.
E mais não escrevo, porque nada mais há a dizer a não ser que cada um de nós todos devemos ter consciência de que os nossos sacerdotes precisam tanto de nós como nós precisamos deles e, se mais nada pudermos fazer, teremos sempre as nossas orações diárias por eles e por este jovem sacerdote que tanto precisou dos outros e não encontrou o tal “ombro amigo” disponível para ele.
Que o Espírito Santo proteja, ilumine e guie os nossos sacerdotes, e a todos nós também, para que todos possamos ser “ombros amigos” uns para os outros.
Monte Real, 14 de Julho de 2025
Joaquim Mexia Alves
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