segunda-feira, 17 de outubro de 2022

EM IGREJA, HUMILDEMENTE

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Seria muito mais fácil dizer que assim não pode ser, que é tudo uma vergonha e abandonar, sair, deixar de ser Igreja, do que humildemente envergonhar-me porque alguns, (uma minoria), cometeram actos inomináveis, inclassificáveis, terríveis, de uma dimensão para além de toda a condenação, e manter-me firme percebendo que a Igreja não é do homem, mas de Deus, e que o homem é pecador e muitas vezes se deixa cair no mal.

E então não devo criticar, denunciar, fazer tudo para levar a julgamento aqueles que cometeram tais actos inclassificáveis e aqueles que os acobertaram, para que enfrentem as consequências dos seus actos?

Claro que sim que devem ser levados a julgamento, não só na justiça canónica, mas também na justiça civil, para sofrerem as consequências daquilo que fizeram conscientemente, porque tais actos não podem ser, de modo nenhum, classificados de inconscientes ou passíveis de alguma desculpa seja ela qual for.

E em primeiro lugar, nós Igreja, que nos envergonhamos de tais actos embora não cometidos por nós, devemos ter sempre presente nas nossas orações e preocupações as vítimas, não só na sua vida presente, mas também em tudo aquilo que marca definitiva e indelevelmente as suas vidas também no futuro.

Mas o nosso Deus é um Deus de misericórdia, que à nossa humanidade por vezes até nos parece “exagerada”, mas a verdade é que não há pecado que, perante o arrependimento sincero e propósito de emenda, não seja perdoado
Se assim não fosse não seria Deus, porque então o seu amor teria limites, o que a própria essência de Deus nega.

Devemos também, por isso, rezar pelos prevaricadores, para que tenham consciência dos actos praticados, deles se arrependam verdadeiramente, e se apresentem perante a justiça da Igreja e da sociedade civil, humildemente aceitando as penas a que forem condenados
Rezemos para que sejam eles mesmos a apresentar-se, acusando-se a si próprios, para que a Igreja que um dia disseram querer servir, em Deus, por Deus e com Deus, se continue a mostrar isenta de culpa, que realmente não lhe pertence

E nós Igreja viva, saibamos humildemente reconhecer que alguns que connosco eram Igreja, cometeram tais actos que nos envergonham, mas que sendo nós igreja, continuamos a acreditar e a viver a Fé na Santíssima Trindade, única razão de ser da igreja.

Com serenidade aceitemos até as recriminações e até os insultos que a nós, que nos mantemos fiéis a Cristo, poderão ser feitos, rezando por aqueles que os fazem e sabendo que Deus não faltará àqueles que nEle confiam e esperam.

De coração sangrando, mas cheio de compaixão, mostremos com o nosso testemunho verdadeiro, “que uma árvore não faz a floresta”, e que Deus é infinitamente maior do que o pecado de cada um.

Só em Deus, em Igreja, encontraremos razões e forças para ultrapassar estes terríveis tempos, e só em Deus, em Igreja, encontraremos a paz e a salvação prometidas em Jesus Cristo.




Marinha Grande, 17 de Outubro de 2022
Joaquim Mexia Alves