quarta-feira, 10 de maio de 2023

«NÃO ESTÁ AQUI: RESSUSCITOU!»

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Senhor, sinto hoje um vazio dentro de mim.
Parece que Te afastaste de mim e eu não sinto a Tua presença.

Eu sei, Senhor, que talvez procure mais consolações para mim do que caminho árduo e difícil, do caminho que és Tu e não eu.

E, no entanto, avisaste-nos de que o caminho não era fácil, tinha tribulações, tinha dificuldades, tinha curvas e contracurvas, incompreensões, que a “porta é estreita”, que é como passar pelo “buraco da agulha”, mas que, e isso é o mais importante, Tu estás sempre connosco e é contigo que devemos fazer o caminho, porque o Caminho és Tu.

Acredito, Senhor, que estás aqui a meu lado enquanto escrevo estas palavras, estas linhas de pensamento, e me dizes ao mesmo tempo que, se não estivesses aqui, como poderia eu sequer falar contigo, escrevendo?

Ah, Senhor, e eu posso ter essa certeza que estás comigo, porque creio em Ti, e creio que tudo o que dizes é verdade e por isso nunca nos abandonas.

Já Tu, Senhor, naquela noite percebeste e sentiste que todos se afastavam de Ti e Te deixavam entregue à Tua “sorte”.
Mas sabias também que não estavas sozinho, porque o Pai velava por Ti e o Espírito Santo te envolvia e fazia sentir o Teu próprio amor.

Caminhas sobre as águas da minha escuridão momentânea, tomas-me pela mão, e dizes-me cheio de amor: «Sou Eu, não tenhas medo!» (Jo 6, 20)

E o caminho alarga-se, enche-se de luz, tiro a capa que me isola e parece que salto (Mc 11, 50) para Te encontrar, porque Tu me chamas para Ti e juntos partimos estrada fora, enquanto me vais explicando a Palavra que Tu és, para depois me deixares ver-Te com o coração e me alimentares no Teu amor. (cf Lc 24, 25-32)

E eu, feliz por Te teres feito presente em mim, (afinal era eu que estava longe de Ti), também sorrio e digo a quem quiser ouvir: «Porque buscais o Vivente entre os mortos? Não está aqui: ressuscitou!» Lc 24, 5-6)





Marinha Grande, 10 de Maio de 2023
Joaquim Mexia Alves

domingo, 7 de maio de 2023

A MÃE...NO DIA DA MÃE

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Seguia cabisbaixo para casa.
As coisas não estavam a correr lá muito bem neste início de semana!
Tinha na mochila um teste com uma negativa muito “feia” e já receava pelas consequências desse facto.

Nos últimos tempos o seu comportamento na escola e as suas notas deixavam muito a desejar, e o seu pai já cansado de tanto o avisar tinha-lhe dito da última vez que tinha trazido para casa uma nota baixa:
«Aparece-me em casa com outra negativa e nem sabes o que te faço!»

E ele não era para brincadeiras!
Era justo nos castigos que dava, mas tinha a mão pesada.
Não que lhe batesse, mas os castigos que dava eram sempre muito penosos de cumprir.

Ainda para mais, no fim de semana depois da Catequese, tinha tido aquela discussão estúpida com eles!
É pá, ele não compreendia aquela história da Virgem Maria, da Mãe do Céu, como Lhe chamavam!
Se havia Deus, o Pai, o Filho e o Espírito Santo, e já eram orações que chegassem, para quê agora também Maria, a Mãe de Jesus!
E tinha sido malcriado a ponto do pai se irritar e o mandar calar!

Chegou à porta de casa e entrou em silêncio, dizendo apenas um, “boa tarde mãe”, e escapuliu-se para o quarto.
Tinha de pensar numa maneira de resolver as coisas com um mínimo de problemas.

A mãe entrou no quarto e perguntou-lhe o que se passava, pois não tinha ido dar-lhe um beijo, como fazia sempre que chegava a casa.
Disse-lhe que não, que estava tudo bem, mas ela sentou-se a seu lado e disse-lhe:
«Eu conheço-te. A mim não podes mentir. Passa-se alguma coisa contigo.»

Ele pensou rapidamente e chegou à conclusão que se havia alguém que acalmasse o pai quando lhe desse a noticia da negativa, era, com certeza, a mãe.
Cabeça baixa, disse quase em surdina:
«Ó mãe, tive outra negativa.»

Ela pegou-lhe na cara e fê-lo olhá-la nos seus olhos.
Os olhos dela estavam tristes, mas cheios de uma ternura imensa, de tal modo que não resistiu e umas lágrimas correram-lhe pela cara.

Antes que ela dissesse alguma coisa, ele começou a falar com a voz embargada:
«Ó mãe, eu não sei o que se passa comigo! Quero portar-me bem, quero estudar, quero agradar-vos e só faço asneiras! Ajuda-me mãe!»

Ela olhou-o mais uma vez e disse com voz terna:
«Meu filho eu amo-te muito e estou aqui para te ajudar. Conta-me tudo e vamos arranjar uma maneira de encontrares um caminho diferente daquele que estás a seguir».

Abriu o coração à sua mãe e disse tudo o que lhe veio à cabeça, das suas dificuldades, das amizades não muito boas, do despertar da adolescência, de todas as coisas que parecia o impeliam a não ser aquilo que ele até gostaria de ser.
Ela ouvia-o cheia de atenção, enquanto ternamente lhe passava as mãos pelo cabelo.
«Eu compreendo-te meu filho e se confiares em mim, se me fores contando o que se vai passando na tua vida, eu ir-te-ei ajudando a corrigires comportamentos, a descobrires caminho.»

Agradecido pela sua mãe tão compreensiva, não esqueceu, no entanto, que ainda tinha de “enfrentar” o pai e disse pegando-lhe nas mãos:
«E o pai, mãe? E o pai?»

Ela fazendo-lhe uma festa, respondeu:
«Não te preocupes, eu falo com ele. Claro vais ter um castigo, mas eu vou dizer-lhe que já falaste comigo, que estás arrependido, que prometeste portar-te bem e que eu confio em ti. Vais ver que te vai ralhar certamente, mas como ele sabe que eu tomo conta de ti e confia em mim, vai dar-te um castigo, com certeza, mas vai ficar à espera da tua mudança de vida».

Olhou-a profundamente nos olhos, agarrou-se a ela cheio de ternura agradecida e disse-lhe ao ouvido:
«Ó mãe, obrigado. O que é que eu faria sem ti, sem o teu amor, sem os teus conselhos, sem a tua ajuda junto do pai?»

Ela levantou-se e saiu do quarto com um sorriso.
Aquele sorriso que as mães têm quando sentem os filhos perto delas.

O resto foi mais fácil.

O pai chegou, a mãe falou com ele e depois foi chamá-lo ao quarto para falar com o pai.
O pai olho-o, com um amor firme e profundo, e disse-lhe:
«A tua mãe já falou comigo. Estou triste, meu filho, pelo modo como te comportaste, mas ao mesmo tempo contente pela conversa que tiveste com a tua mãe e as promessas que lhe fizeste, que nos fizeste. Vais ficar de castigo, mas eu confio que de agora em diante tudo vai melhorar. Agora dá-me um beijo e podes ir.»

Tranquilo deu um beijo ao pai, e quando ia a sair da sala ele chamou-o novamente dizendo-lhe:
«Percebes agora como nos faz falta a Virgem Maria, a Mãe de Jesus, a Mãe do Céu?»



Marinha Grande, 7 de Maio de 2023
Joaquim Mexia Alves

Nota: Neste Dia da Mãe revi este texto escrito há alguns anos atrás.

sexta-feira, 28 de abril de 2023

“MOMENTO SAMUEL” *

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Acordo de madrugada, muito cedo, ou és Tu que me acordas, nunca sei bem.
Acreditando que és Tu que me acordas, (assim é mais fácil não me incomodar por não conseguir dormir), começo a falar conTigo, ou seja, começo a rezar.

E dou-Te graças pela cama em que estou deitado, pelo seu aconchego, pela sua comodidade, pedindo logo por aqueles que não têm nem cama, nem quarto, nem casa sequer, cujo colchão é o empedrado duro de uma qualquer rua e os limites do quarto são as paredes dos prédios a que se encostam.

Depois sinto as dores nas costas, (coisas da idade), e dou-Te graças por elas e ofereço-tas por aqueles que sofrem incomparavelmente mais nas camas dos hospitais, nas suas casas, no seu dia a dia.

Percebo na casa em que vivo a presença da família, e dou-Te graças por ela, por aqueles que me deste e com quem partilho a minha vida e peço-Te por aqueles que estão sós, abandonados, nas suas casas, nos lares e, tantas vezes, nas ruas.

Começo as minhas orações de cada dia, (ai a rotina, meu Deus, que faz as minhas orações “frias”), e vou pedindo por todos os que colocas no meu coração e, nesses todos, todos os que não conheço mas precisam das orações, também.

Peço ao meu Anjo da Guarda que se una aos Anjos da Guarda daqueles por quem rezo e assim unidos em louvor, peçam por nós a Deus, segundo a Sua vontade.

Peço também aos Arcanjos Miguel, Gabriel e Rafael que me protejam e protejam todos aqueles por quem peço, do mal e das tentações.

Abro ainda mais o coração e chamo pela Mãe do Céu, para que Ela receba todas as minhas orações no seu colo e as leve ao seu Filho que, se calhar, lhe responde «Mulher, que tem isso a ver comigo?» (cf Jo 2, 4), mas depois lá lhe faz a vontade, segundo a Sua vontade.
Claro que logo a seguir A ouço dizer-me baixinho: «Faz tudo o que Ele te disser!» (cf Jo 2, 5)

Já que estou a falar com a Mãe, levo a minha mão à mesa de cabeceira e pego no terço, para o ir recitando no silêncio da noite.
Os Mistérios sucedem-se numa cadência serena, não há muita meditação, mas a cada Avé Maria rezada sinto o afago da Mãe, a cada Pai Nosso sinto-me ao colo do Pai, a cada Glória o Filho e o Espírito Santo tomam conta de mim e, de mão dada, levam-me a continuar em oração.

Lentamente os olhos interiores vão-se fechando, o ímpeto da oração vai diminuindo, a tranquilidade vai tomando conta de mim, o sono vai abrindo caminho e, como está findo o Rosário, vou-me deixando levar.

Sinto-me criança ao colo do Pai, de mão dada com o Filho, envolto no Espírito Santo, enquanto a Mãe, com um largo sorriso, vai olhando para nós.

Parece-me ouvir os Três a cantar, (não sabia que Deus cantava!), com a Mãe a acompanhar:

Dorme, meu menino,
repousa agora,
és sempre para Nós pequenino
e tomamos conta de ti
sempre e a toda a hora.

E eu vou repetindo baixinho, embalado no sono divino:
Obrigado, meu Deus, obrig………




Marinha Grande, 27 de Abril de 2023
Joaquim Mexia Alves


Nota: * sem qualquer comparação, pobre de mim, chamo a estes momentos que vou tendo “momentos Samuel” lembrando-me de 1 Sm 3, 1-10

quarta-feira, 26 de abril de 2023

VIVER!

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É uma onda que nunca acaba
um vento que não pára de soprar
um sol que não cessa de aquecer
um rio que não se esgota no mar
uma montanha que não me canso de subir
um caminho que sempre quero percorrer
um milagre que me é dado ver
um sopro que me faz respirar
uma flor sempre a desabrochar
uma ave que se lança a voar
um leão de quem se ouve o rosnar
um silêncio que nos faz aquietar
uma alegria que afasta a tristeza
um bálsamo que acalma a dor
um sonho feito certeza
um sentimento repleto de amor
uma estrada percorrida
uma meta atingida
um salto no infinito
um suspiro que é um grito
um sorriso que abafa o pranto
um tempo em felicidade
uma certeza de vida
no Pai,
no Filho,
no Espírito Santo.




Monte Real, 26 de Abril de 2023
Joaquim Mexia Alves

segunda-feira, 24 de abril de 2023

A LIBERDADE “LIVRE”!

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Fala-se hoje em dia muito em liberdade.
Mas quanto mais penso no mundo e nas coisas do mundo, menos sinto liberdade, porque o mundo, (entenda-se sociedade), me condiciona, ou pretende condicionar, cada vez mais, o meu pensamento, a minha forma de agir, o meu comportamento, (e não me refiro a “bom comportamento), o meu vestir, até o meu ensinar ou estudar, etc., etc.

E, no entanto, nunca se falou tanto em liberdade como hoje em dia, e nunca se condicionou tanto a liberdade como hoje em dia.
Pode não se condicionar pela força das armas, (excepto nalguns lugares), mas condiciona-se pelo pensamento do “politicamente correcto”, de uma suposta maioria que não foi eleita por ninguém, de uns valores sem qualquer valor, que se pretendem impor à sociedade.
Pode pensar-se que não advém daí nenhum mal para aqueles que não querem viver o “pensamento correcto”, mas a verdade é que podem sofrer e sofrem no acesso a empregos, nas promoções em empregos, na comunicação social, etc., etc.

Por isso cada vez mais percebo que a única liberdade verdadeira, é a liberdade de Deus.

O Deus que nos criou é o Deus que nos dá inteira liberdade e só nEle encontramos a verdadeira liberdade.
Aponta-nos caminho, mas não nos obriga a fazê-lo.
Dá-nos a salvação, mas não nos obriga a sermos salvos.
Ama-nos infinitamente, mas não nos obriga a amá-lO.
Dá-nos amor para nos amarmos uns aos outros, mas não nos obriga a amarmos o outro.
Dá-nos a Igreja, mas não nos obriga a sermos Igreja.

Esta liberdade de Deus, esta liberdade que Deus nos dá, tem um nome: Amor.

Para aqueles que acreditam em Deus, foi Deus quem nos amou primeiro e assim nos ensinou, nos deu a graça, nos concedeu o dom do amor.
Ora o amor de Deus é livre, é inteira doação, que nada exige em troca.
Deus que nos criou, ama-nos de tal maneira, que nos dá total liberdade de O amarmos ou não.

Assim, o amor verdadeiro é totalmente livre, não é um pensamento, uma ideia, um “politicamente correcto”, não é sequer uma qualquer falsa maioria, mas sim em todos os momentos, uma total abertura, porque está aberto ao amor na relação a dois, na relação com os outros e na relação com Deus que é amor.
O amor nunca se completa se não for para além da relação a dois, ou seja, quando se abre ao amor aos filhos, ao amor aos outros, ao amor a Deus, que é fonte de amor.
Só assim o amor é verdadeiro amor, porque é assente na liberdade que constrói o amor.

O amor existe e acontece, não porque há um pensamento único ou um modo de ser e agir único, mas sim porque ele se renova todos os dias, no respeito mútuo, porque a liberdade do amor faz dele um sentimento de graça, de dom, mas também da vontade.
O amor não tem “peso”, porque quem ama, ama para além das circunstâncias, ama porque é livre.

E o amor verdadeiramente livre é o amor que vem de Deus, porque só Deus é verdadeiramente livre e por isso mesmo, só Ele nos faz verdadeiramente livres.

«O amor jamais passará.» 1 Cor 13.8



Monte Real, 24 de Abril de 2023
Joaquim Mexia Alves

terça-feira, 18 de abril de 2023

NASCER DE NOVO

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«Não te admires por Eu te haver dito que todos devem nascer de novo. O vento sopra onde quer; ouves a sua voz, mas não sabes donde vem nem para onde vai. Assim acontece com todo aquele que nasceu do Espírito». Jo 3, 7-8


Passam hoje 74 anos sobre o meu Baptismo.

A passagem acima citada do Evangelho do dia de hoje, não podia ser mais propositada do que é, para a comemoração deste dia.

Dou-Te graças, Senhor, pelos pais que me deste e me levaram ao Baptismo em que me tornei filho de Deus e templo do Espírito Santo.

Dou-Te graças, Senhor, pelos meus pais, irmãs e irmãos, sacerdotes, educadores, que me levaram a conhecer a Doutrina, que me conduziram em Igreja, que me levaram aos Sacramentos, presença viva de Ti para a queles que de Ti se aproximam.

Dou-Te graças até, Senhor, por tantos anos que vivi afastado de Ti, numa vida dissoluta sem sentido, mas em que, sei-o agora, me protegeste de mim próprio e da perdição total do mal.

Dou-Te graças, Senhor, porque me levaste a procurar-Te e logo Te fizeste encontrado, para que eu pudesse nascer de novo, para viver em Teu Nome, no amor do Pai, deixando-me conduzir pelo Espírito Santo.

E é tudo perfeito em mim?
Claro que não!
Mas o Teu coração, sempre aberto para mim, o amor do Pai envolvendo-me sempre, o poder do Espírito Santo defendendo-me e libertando-me do mal, é tudo o que necessito para ser um homem novo, nascido do Espírito, para vida eterna.

Dou-Te graças, Senhor, hoje e sempre pelos tempos sem fim.




Marinha Grande, 18 de Abril de 2023
Joaquim Mexia Alves

segunda-feira, 17 de abril de 2023

PROCLAMAR A PALAVRA COM DESASSOMBRO!

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«Agora, Senhor, tem em conta as suas ameaças e concede aos teus servos poderem anunciar a tua palavra com todo o desassombro, estendendo a tua mão para se operarem curas, milagres e prodígios, em nome do teu Santo Servo Jesus.»
Tinham acabado de orar, quando o lugar em que se encontravam reunidos estremeceu, e todos ficaram cheios do Espírito Santo, começando a anunciar a palavra de Deus com desassombro. 
Act 4, 29-31 ( Leitura de hoje)


Naquele tempo ou até bastante mais do que agora, os cristãos eram perseguidos e não podiam anunciar a Palavra de Deus, porque eram presos, torturados, mortos das mais terríveis maneiras.

Hoje também somos perseguidos em tantos lugares do mundo e mesmo nas civilizações ocidentais já somos muitas vezes “apontados a dedo”, (nalguns casos, infelizmente, por causa de alguns da Igreja que caíram gravemente no pecado), e isso tantas vezes nos impede, com medo do mundo, de anunciarmos a Palavra e darmos testemunho do amor de Deus nas nossas vidas.

E que fazemos nós?

Procuramos descobrir, elaborar projectos, acções, planos para levarmos ao mundo a Palavra de Deus, mas esquecemo-nos a maior parte das vezes do mais importante, ou seja, que tudo isso seja feito e pensado em oração contínua, com a permanente entrega ao Espírito Santo, com o sentido de que a Igreja é Cristo, e que só no amor do Pai podemos amar como Jesus nos ama.

Pois, naquele tempo os cristãos rezavam, acreditavam no amor e no poder de Deus, porque sabiam que esses poderosos sinais com que Deus, no Seu infinito amor, tocava os homens, movia os corações e os levava a acreditar nAquele que é a nossa verdadeira e única salvação.

Acreditamos nós hoje nas «curas, milagres e prodígios» de Deus, no nosso tempo?

Rezamos tão pouco!

Rezamos, sobretudo, para pedir para nós, pelas nossas “coisas”, as nossas necessidades, as necessidades daqueles que nos são próximos, e tão pouco pedimos que o Senhor «conceda aos seus servos poderem anunciar a sua palavra com todo o desassombro, estendendo a sua mão para se operarem curas, milagres e prodígios, em nome do seu Santo Servo Jesus»!

E estes servos somos todos nós que nos dizemos Igreja, mas que damos tão pouco testemunho de o sermos.

A Igreja é ponto de partida para o anúncio da Palavra com as nossas próprias vidas, não é esconderijo para nos “escondermos” com medo do mundo.

Por isso a nossa primeira oração deve ser sempre, «concede aos teus servos poderem anunciar a tua palavra com todo o desassombro, estendendo a tua mão para se operarem curas, milagres e prodígios, em nome do teu Santo Servo Jesus» para que «cheios do Espírito Santo possamos anunciar a palavra de Deus com desassombro»!




Marinha Grande, 17 de Abril de 2023
Joaquim Mexia Alves

quinta-feira, 13 de abril de 2023

RESSURREIÇÃO!

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Esta coisa da ressurreição de Jesus Cristo é coisa que não me entra na cabeça!

Pensava ele como os “seus botões”, enquanto caminhava para o restaurante onde ia almoçar.
O anterior Domingo tinha sido o Domingo de Páscoa e ele tinha almoçado com a família, mas neste Domingo apetecia-lhe almoçar sozinho, e esperava bem que o restaurante não tivesse muita gente.

Entrou e viu uma mesa com vista para o mar, (o restaurante era numa praia), e sentou-se feliz por perceber que o local estava praticamente vazio.
Escolheu um peixe grelhado para almoçar, (se estava junto ao mar o peixe havia de ser bom), e deixou-se ficar à espera, olhando as ondas, enquanto aquele pensamento da ressurreição de Jesus não lhe saía da cabeça.

Ele até queria acreditar porque isso faria toda a diferença na fé cristã que há pouco tempo tinha começado e queria viver, mas era muito difícil conceber aquela ressurreição.

Trouxeram-lhe o peixe grelhado, mas mesmo comendo, o pensamento da ressurreição de Jesus tomava conta dele.

Passado pouco tempo apercebeu-se de alguém que se sentava do outro lado da mesa, e, levantando os olhos, deu com um homem ainda relativamente novo, com um sorriso cativante.
Embora surpreso com aquela situação estranha, não sabia porquê, mas agradava-lhe aquela companhia e por isso perguntou-lhe quem era e o que queria.

Ele respondeu-lhe com um sorriso ainda maior:
Não sabes quem eu sou? Mas só tens pensado em mim! Olha bem para mim, para as minhas mãos, para os meus pés, e, abrindo a camisa, acrescentou, e aqui para o meu lado!

Os seus olhos detinham-se extasiados nas feridas que via nas mãos, pés e lado daquele homem, mas mesmo assim, mesmo perante a evidência de que tudo aquilo lhe mostrava Jesus Cristo, continuava a duvidar da presença verdadeira do ressuscitado.

Então o Filho do Homem disse-lhe:
Não sejas incrédulo! Dá-me um pouco do teu peixe para Eu comer!
Metendo a mão no prato, o Filho do Homem comeu com gosto um pouco do peixe grelhado.

As dúvidas tinham desaparecido e ele, sem se importar do local onde estava, prostrou-se de joelhos e disse:
Meu Senhor e meu Deus!

Foi então que lhe tocaram no ombro e disseram:
Acorda que ainda tens que te vestir para chegares a tempo à Missa! Lembra-te que foste tu que insististe que querias ir à Missa no Domingo!

Percebeu então perfeitamente o sonho que tinha tido e exclamou:
Aleluia! Jesus Cristo ressuscitou! Aleluia!




Marinha Grande, 13 de Abril de 2023
Joaquim Mexia Alves

terça-feira, 11 de abril de 2023

A MORTE VENCIDA

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Estavas tu ó morte
toda convencida
e contente
quando ouviste a natureza gritar
num instante
num repente:
Ressuscitou!
O Senhor ressuscitou
vencendo a morte
e sendo vida para sempre.

Qual morte
qual pecado
qual derrota
qual crucificação.
A vida não é algo acabado
é tempo
é vitória
é ressurreição
em Cristo Jesus
nossa salvação.

Remete-te à tua pequenez
ó morte
porque a vida
acontece uma só vez
para sempre
e é tempo de esperança
é amor
e coisa terna
que se vive na confiança
e na esperança
em Jesus Cristo
vida eterna.




Marinha Grande, 9 de Abril de 2023
Joaquim Mexia Alves

domingo, 9 de abril de 2023

DOMINGO DE PÁSCOA 2023! ALELUIA!

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Jesus Cristo ressuscitou! Aleluia! Aleluia!

Que noite de Vigília Pascal Tu nos deste, Senhor!

A igreja cheia, o povo cantando e respondendo em uníssono com voz forte e bem audível, as Leituras lidas perfeitamente, os Salmos cantados primorosamente, um coro perfeitamente afinado e belíssimo, uma homilia profunda “pintada” de alegria e amor, os acólitos, em grande número, cumprindo na perfeição a sua missão, a alegria da Fé totalmente presente e viva numa comunidade paroquial que cresce em amor e em missão.

E depois, Senhor, depois o Baptismo de quatro adultos e uma criança.
Mais uma graça Tua à nossa Igreja.

E ainda, Senhor, a emoção carregada de fé do Baptismo da Ana, que me quis escolher para seu padrinho.
Que caminho de fé, Senhor, suscitastes e continuas a suscitar na sua vida!

Que alegria profunda ver um culminar de um caminho de entrega a Ti, que agora continua depois de baptizada em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo e depois de crismada e cheia do Espírito Santo, Te receber na Sagrada Comunhão.

Por Tua graça, sem dúvida, deste-me ainda a sublime missão, a mim pobre pecador, de pelas minhas mãos pecadoras, Te dares como alimento divino àqueles que de Ti se abeiram, em Ti acreditam, e de Ti recebem o amor para se amarem uns aos outros.
Ver os sorrisos nas caras de todos eles, a alegria contida com que Te recebem, é milagre maior aos meus olhos.

E os escuteiros ainda presentearam todos com uma concorrida ceia num convívio vivido numa comunidade paroquial viva e pujante.

Obrigado, Senhor, obrigado!

Jesus Cristo ressuscitou! Aleluia! Aleluia!




Marinha Grande, 9 de Abril de 2023
Joaquim Mexia Alves

sábado, 8 de abril de 2023

SEMANA SANTA 2023 VII

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A natureza está em silêncio.

As aves no céu, os animais sobre a terra, os peixes no mar, todos se calam num silêncio profundo.

As montanhas inclinam-se, as planícies elevam-se, o mar acalma-se, o vento sopra sem ruído, o trovão deixa de se ouvir e as estrelas cadentes no céu são como lágrimas de Deus derramadas sobre a terra.

O Senhor de todas as coisas repousa agora no seu túmulo.

O mal sente-se vitorioso e a morte julga que venceu a vida.

Mas a promessa vai crescendo, aumentando com a certeza de que a Deus nada é impossível

A humanidade aquieta-se e no meio das dúvidas, do cepticismo, a confiança cresce e torna-se cada vez mais realidade.

A espera é breve, porque nunca deixou de ser encontro permanente.

Prepara-se o grito, já se ouve o clamor, está a chegar a hora de ouvir por todo o universo que ressuscitou o Senhor!



Marinha Grande, 8 de Abril de 2023
Joaquim Mexia Alves

sexta-feira, 7 de abril de 2023

SEMANA SANTA 2023 VI

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«Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?» (Mt 27, 46)

Meu Deus, meu Deus, porque me salvaste?
A mim, Senhor, pobre pecador que tanto te negou e nega, tão fraco de merecimentos, tão convencido de si mesmo, tão indigente de amor.

Do alto da Cruz, onde Te crucificaram, (ou terei sido eu quem o fez), olhas-me, pelo meio do sangue que corre na tua face, e sorris-me no meio de tão horrível sofrimento.

E eu quero olhar-Te também, mas sinto-me tão vil, tão indigno, que baixo a cabeça e apenas Te digo como a voz sumida que Te amo e quero amar acima de todas as coisas.

Ouço a Tua voz que me diz:
É por ti, meu filho! É por ti e por todos!

E eu respondo-Te angustiado:
Mas, Senhor, não queria ver este Teu terrível sofrimento. Deixavas que me perdesse nas minhas vontades e enganos e assim não sofrerias o que sofres.

E Tu, Jesus, com a maior ternura respondes-me dizendo:
Sabes, meu filho, se Te perdesses, se se perdessem todos, sem Eu ter feito tudo o que podia, sem Eu ter dado a minha vida por ti e por todos, o Meu sofrimento seria bem maior.

Digo-Te então:
Deixa então, Senhor, que junte os meus ínfimos sofrimentos aos Teus, que os una à Tua Cruz, e, aceitando tudo o que possa sofrer em mim, me entregue também eu ao Teu amor, para que assim me entregue também por amor a todos e a cada um.

Sorris-me, mais uma vez, e dizes-me em amor:
Deixa que sofra Um, pelos sofrimentos de todos!

E eu, baixo os olhos, entro no meu coração onde Tu estás, e rezo:
Obrigado, Senhor, obrigado!




Marinha Grande, 7 de Abril de 2023
Joaquim Mexia Alves

quinta-feira, 6 de abril de 2023

SEMANA SANTA 2023 V

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Sentas-Te à mesa, Senhor, com os Doze e nesses Doze estamos todos nós.

É a Ceia maior, porque é a Ceia do amor!

Nessa Ceia, Senhor, lavas os pés a todos aqueles que ali estão, e até os lavas a Judas que bem o sabes Te vai trair.
E quando lavas os pés a Judas, lava-los também a mim, que tantas vezes Te traio com o meu pecado.

Ensinas-nos, Senhor, a “lavarmos os pés” dos outros, e tantas vezes, também, Senhor, eu me esqueço daqueles que precisam de mim.

Depois dás-nos a prova do Teu infinito amor por nós, e tomando um pouco de pão e um pouco de vinho, por Tua graça e mistério, fazes deles a Tua própria carne e o Teu próprio sangue, para seres para nós alimento divino, alimento de vida eterna, para sempre.

Permite, Senhor, que me sente à mesa Contigo, que «abra a minha porta» para que Tu «ceies comigo e eu Contigo». (cf Ap 3, 20)

Eu sei, Senhor, eu acredito firmemente, Senhor, que estás sempre connosco, e nos dás em todos os momentos a Tua presença, o Teu amor e que na Eucaristia és Tu realmente presente como naquela Última Ceia, que continua pelos séculos dos séculos.

Hoje, Senhor, é um dia extraordinário para festejar os setenta e quatro anos que me deste.

Sobretudo festejar o meu Baptismo, a minha Confissão, a minha Comunhão, o meu Crisma, o meu Matrimónio, frutos da Tua graça, da Tua enorme paciência para comigo, do infinito amor que me tens.

Como tantas vezes Te digo, Senhor, eu não duvido do Teu amor por mim, duvido sim do meu amor por Ti.

Obrigado, Senhor, pela Tua Ceia que hoje vou celebrar em alegria contida, mas cheio de confiança e vestido de esperança.



Marinha Grande, 6 de Abril de 2023
Joaquim Mexia Alves

quarta-feira, 5 de abril de 2023

SEMANA SANTA 2023 IV

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«Eles olham para mim cheios de espanto!» Sl 22, 18

Levanto os meus olhos e olho para Ti, Senhor, e já Te vejo na Cruz.
O meu espanto é uma comoção profunda por me sentir inundado pelo Teu amor!

Muitos se sentirão espantados por olhar o Deus que se deixa crucificar, que se deixa morrer, por todos nós, até por aqueles que O crucificaram e crucificam todos os dias.

Muitos se sentirão espantados por este caminho que fazes agora para Jerusalém, de livre vontade, sabendo bem que Te espera a prisão, a humilhação, a tortura, a crucificação e a morte, porque Tu mesmo no-lo dizes por palavras Tuas: «Vamos subir a Jerusalém e o Filho do Homem vai ser entregue aos sumos sacerdotes e aos doutores da Lei, que o vão condenar à morte.» (Mt 20, 18)

Mas continuas o caminho da nossa salvação, da salvação daqueles que amas com infinito amor.

E ainda queres celebrar com os Teus uma Última Ceia, (e os Teus somos todos nós por quem Te dás), porque Te queres deixar ficar presente, para sempre, no Mistério insondável da Eucaristia.

Ah, Senhor, dá-me a graça de quando olhar para Ti na Eucaristia também ficar cheio de espanto, por sentir o Teu infinito amor!

É tão fácil, Senhor, agora eu dizer que Te acompanharei em todo o Teu caminho.

No conforto da minha vida prometer-Te a minha companhia, a minha entrega, parece tão fácil e, no entanto, tantas vezes Te deixo sozinho, tantas vezes me afasto do caminho para Jerusalém, porque julgo encontrar, pobre de mim, um caminho mais fácil.

Mas Tu nunca desistes, e sabendo que esse é um caminho errado, olhas-me com olhar terno e dizes-me estendendo a Tua mão: «Levanta-te, vamos!» (Mt 26, 46)

Ah, Senhor, que eu olhe sempre para Ti com o espanto do amor!



Monte Real, 5 de Abril de 2023
Joaquim Mexia Alves

terça-feira, 4 de abril de 2023

SEMANA SANTA 2023 III

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«Judas recebeu o bocado de pão e saiu imediatamente. Era noite.»

Naquele pão, Judas recebeu todo o amor de Jesus, mas mesmo assim não compreendeu, não se moveu da intenção que o mal tinha colocado no seu coração, deixando-se levar pela tentação.

Era de noite e fez-se ainda mais noite na vida de Judas!

A tentação da traição por dinheiro tinha-o arrastado para aquela noite interior de onde não conseguiu mais sair.
Embora se tenha arrependido mais tarde, e desprezado o vil dinheiro da traição, não compreendeu que o amor de Jesus era muito maior do que o seu pecado, e esse terrível pecado de não acreditar no perdão de Deus, (maior do que o próprio pecado da traição), levou-o a destruir a sua própria vida, afastando-se irremediavelmente de Deus.

E, afinal, o perdão de Deus é muito maior do que o nosso pecado.

Não perdoou Ele a Pedro que O negou três vezes?
Não perdoou Ele a Paulo que O perseguiu, prendeu, torturou e matou em todos aqueles que O seguiam?
Não perdoou Ele ao ladrão que a Seu lado sofria, pendido numa cruz?
A lista seria interminável!

Era noite!

Quantas vezes eu deixo que a “noite” tome conta de mim quando nego a Cristo com o meu pecado?
Quantas vezes eu deixo que o dinheiro, os bens, o poder, a importância social, a vaidade, o orgulho, tomem conta de mim e coloquem a “noite” na minha vida?
Quantas vezes não olho para aquele que ao meu lado precisa de mim e lhe sou indiferente, passando por ele sem ver, não percebendo que nele está o próprio Cristo que me estende a mão, e assim me deixo envolver na “noite” do meu egoísmo?

Ah, Senhor, poderia ficar aqui a escrever resmas e resmas de papel, reflectindo sobre todas as vezes em que deixo a “noite” entrar em mim, e «saio imediatamente» com vergonha de mim próprio.

Mas a Tua graça alcança-me e eu deixo-me então tocar por Ti.

E a Tua graça leva-me a afastar a “noite” de mim, leva-me a procurar-Te dentro de mim, leva-me a deixar-Te colocar em mim o arrependimento, e procuro-Te então na Confissão, agarrando-me com toda a confiança à mão que me estendes, (como estendeste a Pedro que se afundava na “noite” das águas (Mt 14, 30)), e olhando para Ti, «chorando amargamente» (Lc 22, 62) , levanto-me Contigo e “recomeço” de novo a vida nova que sempre me dás.

Não deixes, Jesus, que eu alguma vez me desespere por causa dos meus pecados, mas sempre, sempre, olhe para Ti, receba o Teu olhar, me acerque de Ti, e por Ti me deixe perdoar para «ir e não voltar a pecar». (Jo 8, 11)



Monte Real, 4 de Abril de 2023
Joaquim Mexia Alves

segunda-feira, 3 de abril de 2023

SEMANA SANTA 2023 II

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Um bom amigo enviou-me há dias um vídeo com a história do cântico natalício, “Noite Feliz”, que me comoveu até às lágrimas.

A história é de uma simplicidade extraordinária e mostra como da mais pequena contrariedade, Deus, (se assim quisermos acreditar), pode fazer e faz coisas maravilhosas.

Lembrei-me imediatamente das Bodas de Caná!

A história que me foi dado ver, relata como da avaria de um órgão, o padre dessa igreja, na Áustria, ficou preocupado porque o mesmo não poderia ser utilizado para acompanhar os cânticos nessa noite de Natal.
Lembrou-se então de um pequeno poema que tinha escrito anos antes e levou-o a um músico da aldeia, para ele compor uma música que pudesse ser tocada e cantada nessa noite de Natal.
E assim aconteceu tendo sido cantado pela primeira vez a “Noite Feliz”, que depois percorreu todo o mundo, e será sem dúvida hoje em dia, o cântico natalício mais conhecido no mundo inteiro.

É tudo muito simples, o poema, a melodia, a história que leva a que tal acontecimento se desse.

E, afinal, tudo isto se encaixa perfeitamente na simplicidade de Deus.

Tantas vezes complicamos Deus, quando Ele é apenas e só amor.

E o amor, contrariamente ao que se diz, é simples, porque todo ele é dar e receber sem esperar mais nada que o próprio amor.
Claro que este amor, digamos perfeito, é o amor de Deus, e, por isso mesmo, só amando-O primeiro, podemos amar com o Seu amor todos os outros que Ele coloca no nosso caminho.

Estamos na Semana Santa, na qual vivemos o incrível amor de Deus que se dá por aqueles que Ele ama infinitamente no Seu coração, e que somos todos nós.
Devemos estremecer quando lermos, mais do que lermos, vivermos, a Paixão de Cristo, deixando-nos levar pelo amor que entrará nos nossos corações e nos fará sentir esse entrega total de Deus por cada um de nós.

A alguns de nós virão as lágrimas aos olhos quando vivermos o relato da Paixão, mas não serão lágrimas de tristeza, mas sim lágrimas de compaixão, lágrimas de amor, lágrimas de confiança porque sabemos e acreditamos que Aquele que morreu por cada um de nós, se vai levantar de entre os mortos e ressuscitar verdadeiramente, cumprindo assim a promessa da vida eterna junto de Deus, no amor perfeito, dada aos homens de boa vontade que O quiserem seguir, segundo a Sua vontade.

E é curioso também ter recebido esta história de Natal, quando estamos a viver os momentos que antecedem a Páscoa.

Realmente sem Natal, não haveria Páscoa, porque o Natal deve sempre levar-nos à Páscoa.

Realmente o Filho de Deus encarnou e fez-se homem, mas Ele mesmo nos disse que «O Filho do Homem tem de sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos … tem de ser morto e, ao terceiro dia, ressuscitar.» Lc 9, 22



Marinha Grande, 3 de Abril de 2023
Joaquim Mexia Alves

terça-feira, 28 de março de 2023

MOISÉS E A IGREJA

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Releio e medito nos primeiros Livros da Bíblia, no Pentateuco.

Para além do muito que vou reaprendendo, que vou reflectindo, que vou percebendo da Fé que me move e que é uma continuidade desde o primeiro versículo ao último da Bíblia, encontro, de repente, uma semelhança, uma comparação, um simbolismo, (não sei o que lhe hei-de chamar), entre Moisés e a Igreja.

Naqueles tempos antigos foi Moisés que conduziu aquele povo ao encontro de Deus, segundo a vontade de Deus, de modo a levá-lo até à Terra Prometida.

E fê-lo perguntando a Deus, escutando Deus, intercedendo junto de Deus, aceitando a vontade de Deus e comunicando ao povo a vontade de Deus.

Comunicou àquele povo a Lei de Deus, indicou àquele povo o caminho que Deus tinha para ele, alertou aquele povo para os seus erros, para as suas idolatrias, para os seus desvios, e rogou insistentemente a Deus por aquele povo, sempre que o mesmo desprezava Deus e se afastava de Deus, ficando assim sujeito a todo o mal que lhe pudesse acontecer.

Deus ouvia-o nessas suas preces e perante o arrependimento daquele povo, restabelecia a Sua aliança com o povo e protegia-o de todos os males.

E percebe-se pela leitura e reflexão daqueles Livros, como Moisés sofreu pelos erros do povo e até pelos erros de alguns que estavam ao serviço de Deus nas celebrações e rituais do culto de então.

Mas Moisés continuou sempre a acreditar e o povo sempre viu nele essa fé inquebrantável que os conduzia no caminho.

E, para terminar, Moisés não entrou na Terra Prometida apesar de ter conduzido o povo até ela.

Quero perceber então, como a Igreja Militante, a Igreja que peregrina, a Igreja destes nossos tempos, tal como Moisés naquele tempo, também nos conduz ao encontro com Deus, o Pai, O Filho e o Espírito Santo, para nos levar até à Terra Prometida, ou seja, à vida eterna junto de Deus.

E a Igreja fá-lo, também, perguntando a Deus, escutando Deus, intercedendo junto de Deus, aceitando a vontade de Deus e comunicando a vontade de Deus.

E a Igreja comunica também aos seus peregrinos neste mundo, (que somos todos nós), a Doutrina ensinada por Cristo na Sua Palavra, indica o caminho que leva ao encontro com Cristo, alerta-nos para os erros que praticamos, para as idolatrias em que de quando em vez nos deixamos envolver, para os desvios “doutrinais” que praticamos para fazermos a nossa vontade, e roga por nós, oferece o Sacrifício do Altar por nós todos os dias e em todos os lados, dá-nos os Sacramentos, presença viva de Deus entre nós, para que assim, em comunhão com Deus e com os irmãos, estejamos protegidos do mal do mundo que nos quer fazer perder.

E a Igreja também alcança de Deus o perdão para aqueles que, arrependidos dos seus erros, os confessam, prometendo emendar-se, restabelecendo assim a relação de amor eterno com os homens que, por sua culpa, tantas vezes quebram.

E também a Igreja sofre com os nossos erros e com os erros de alguns daqueles que foram escolhidos para servir a Deus como ministros ordenados e se perderam nos vícios do mundo.

E a Igreja é depósito da Fé e é nEla que podemos confiar para nos conduzir por Deus, com Deus e em Deus.

E também esta Igreja Militante não “entra” na Terra Prometida, pois lá passa a ser a Igreja Triunfante, nessa Terra onde nada falta porque é “só” e “apenas” Amor de Deus.

Obrigado, meu Deus, por Moisés!
Obrigado, meu Deus, pela Igreja!




Marinha Grande, 28 de Março de 2023
Joaquim Mexia Alves

segunda-feira, 20 de março de 2023

OS PADRES E O CELIBATO

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«sua insondável vida interior, da qual provêm ordens e consolações singularíssimas; dela decorrem também a lógica e a força nas grandes decisões, próprias das almas simples e límpidas, como foi a de colocar imediatamente à disposição dos desígnios divinos a própria liberdade, a sua legítima vocação humana e a sua felicidade conjugal, aceitando a condição, a responsabilidade e o peso de uma família e renunciando, por um incomparável amor virginal, ao natural amor conjugal que constitui e alimenta essa mesma família» (São Paulo VI, alocução 19 de março de 1969).

Leio hoje estas palavras de Santo Paulo VI e quero ver nelas o que vai para além da figura extraordinária de São José, o pai por excelência.

Num tempo em que tanto se fala no celibato dos padres, sou levado a ver na vida de São José um exemplo extraordinário dessa entrega a Deus na totalidade.

Sim, São José teve uma mulher, Maria, e teve um filho adoptivo, Jesus, Filho de Deus, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem, constituindo assim uma família.

Mas para dizer sim, também, a Deus, como Maria sua esposa, renunciou ao «natural amor conjugal», (no dizer de Paulo VI), e assim permaneceu em toda a sua vida.

Assim ao colocar nas mãos de Deus a sua liberdade de homem, libertou-se verdadeiramente de tudo, para melhor servir a Deus, como homem escolhido para O servir de forma singular.

São José foi pai, e a palavra padre vem do latim pater, que significa pai, também.

Os padres, então, também os podemos ver como pais, irmãos, família e talvez, mesmo por isso, Jesus nos diz:
«Em verdade vos digo: quem deixar casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos ou campos por minha causa e por causa do Evangelho, receberá cem vezes mais agora, no tempo presente, em casas, e irmãos, e irmãs, e mães, e filhos, e campos, juntamente com perseguições, e, no tempo futuro, a vida eterna.» Mc 10, 29-30

Na sua entrega, então, a Deus, também os padres na sua liberdade, como São José, se libertam do «natural amor conjugal», para totalmente livres, servirem a Deus servindo os outros.

Obviamente que estas reflexões são fruto do meu permanente querer ver em tudo a mão de Deus, talvez uma visão pessoal que partilho com os outros, e não um qualquer “tratado” seja do que for, para o qual não estou habilitado.

Que São José rogue por todos nós, especialmente pelos pais e muito pelos Padres, para que todos encontremos na figura e exemplo de vida deste grande Santo o caminho e entrega que todos devemos ter à vontade de Deus, dizendo-Lhe o sim incondicional de Maria e de José.




Monte Real, 20 de Março de 2023
Joaquim Mexia Alves

terça-feira, 14 de março de 2023

SETENTA VEZES SETE

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Não, não lhe posso perdoar, pensava ele enquanto caminhava pela rua ao encontro daquele que o tinha ofendido.

A ofensa tinha sido gravíssima, tinha-o magoado profundamente e a dor da revolta ainda vivia permanentemente nele.

Reparou que estava a passar numa igreja e, sendo cristão, decidiu entrar e fazer uma oração para pedir a Deus forças para aquele encontro tão difícil.
A igreja estava praticamente vazia e ele sentou-se num banco falando em surdina com Deus.

- Ó, Senhor, percebes, com certeza, porque não posso perdoar àquele que tanto me ofendeu?
Não tenho forças em mim para o fazer.

Não sentiu nenhuma resposta e por isso continuou.

- Doeu-me e dói-me tanto, Senhor. Ele prejudicou tanto a minha vida! Como posso eu encontrar em mim razões para o perdoar?

O silêncio exterior e interior permaneciam e ele percebeu que afinal, dentro de si, procurava uma resposta de Deus que o ajudasse naquele problema que ele não conseguia resolver.

- Senhor, (disse ele baixinho para que os poucos que ali estavam não ouvissem), ajuda-me a perceber a Tua vontade neste meu problema.

Ouviu então claramente, dentro de si, uma voz que dizia:
«Perdoa-lhes, Pai, porque não sabem o que fazem.» (Lc 23, 34)

Lembrou-se imediatamente da frase e do seu contexto e por isso ficou estático, admirado, sem saber o que fazer, sem saber o que dizer.

No entanto “arriscou” responder, dizendo:
Mas, Senhor, Tu és Deus e o Teu amor é infinito!

Sentiu novamente no seu coração aquela voz que lhe dizia:
Meu filho, se Me procuras é porque queres ouvir a Minha resposta, saber da Minha vontade.
Então lembra-te do que Eu disse a Pedro: ««Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete.» (Mt 18, 22)

- Mas eu não consigo, Senhor, não tenho amor em mim que chegue para esse perdão!

E novamente ouviu:
Percebes então porque vos digo para que Me amem acima de tudo?
É porque só no Meu amor e com o Meu amor tereis amor suficiente para vos amardes uns aos outros, e assim vos poderdes perdoar, mesmo nas piores ofensas.

- Ah, Senhor, dá-me então do Teu amor para eu poder perdoar, pois não quero viver no rancor nem no ressentimento que envenenam a vida.

- O teu desejo de perdoar é o primeiro passo para poderes perdoar.
Agora pede por aquele que te ofendeu, mesmo que isso te custe e até te pareça que não é muito sincero. À medida que o fores fazendo o amor, o Meu amor, irá sarando a ofensa, irá abrindo o teu coração ao perdão e, finalmente, poderás perdoar e perceber o outro como teu irmão em Mim.

- Obrigado, Senhor, acredito que sim, porque já sinto dentro de mim a paz que necessito para poder ter uma primeira conversa com o meu ofensor e sinto, por Tua graça, que o amor e o perdão tomarão conta de mim e eu perdoarei a quem me ofendeu.

Saiu da igreja e caminhou apressado, com um sorriso nos lábios, ao encontro daquele que o tinha ofendido, (pelo qual rezou em surdina um Pai Nosso), sentindo uma paz e serenidade que há muito não sentia.

Dentro de si apenas repetia:
Obrigado, Senhor! Obrigado, Senhor! Obrigado, Senhor!



Monte Real, 14 de Março de 2023
Joaquim Mexia Alves

terça-feira, 7 de março de 2023

A RECTA CONSCIÊNCIA

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Hoje, Senhor, trazes a consciência à minha reflexão diária.

Docemente, como sempre fazes, dizes-me ao coração:
Sabes, meu filho, como se fala sempre de que a consciência está primeiro e deve reger a vida de cada um.

E é verdade, mas a consciência deve ser formada, (embora ela esteja no coração do homem como uma lei escrita pelo próprio Deus), ou seja, deve ser uma recta consciência.

A consciência, sobretudo do cristão, deve ser formada no amor de Deus, no dom da Fé e na Doutrina da Igreja, porque só assim, a consciência nos pode guiar segundo a vontade de Deus.

Por isso o homem deve procurar sempre a verdade e o bem.

E, meu filho, se tens que tomar uma decisão e pretendes iluminar a tua consciência segundo a verdade e o bem, procura conselho, mas não procures inúmeros conselhos até encontrares um coincidente com a tua vontade, porque então estarás a tentar enganar a tua consciência, procurando fazer a tua vontade e não a vontade de Deus escrita indelevelmente na tua consciência.

Fico a meditar no que me dizes, e peço-Te:
Leva-me, Senhor, a procurar formar a minha consciência segundo a verdade e o bem, segundo a Tua vontade.

Que eu não queira nunca manipular a minha consciência para fazer a minha vontade, mas sim que procure sempre o bom conselho e o siga, mesmo que me custe e não seja aquilo que eu julgo desejar para a minha vida.

Que eu deixe sempre o Espírito Santo iluminar a minha consciência para que em tudo eu faça apenas e só a Tua vontade.

Obrigado, Senhor, pela consciência que me dás e dás a cada um.



Marinha Grande, 7 de Março de 2023
Joaquim Mexia Alves


Nota: «No fundo da própria consciência, o homem descobre uma lei que não se impôs a si mesmo, mas à qual deve obedecer; essa voz, que sempre o está a chamar ao amor do bem e fuga do mal, soa no momento oportuno, na intimidade do seu coração: faze isto, evita aquilo. O homem tem no coração uma lei escrita pelo próprio Deus; a sua dignidade está em obedecer-lhe, e por ela é que será julgado. A consciência é o centro mais secreto e o santuário do homem, no qual se encontra a sós com Deus, cuja voz se faz ouvir na intimidade do seu ser. Graças à consciência, revela-se de modo admirável aquela lei que se realiza no amor de Deus e do próximo. Pela fidelidade à voz da consciência, os cristãos estão unidos aos demais homens, no dever de buscar a verdade e de nela resolver tantos problemas morais que surgem na vida individual e social. Quanto mais, portanto, prevalecer a recta consciência, tanto mais as pessoas e os grupos estarão longe da arbitrariedade cega e procurarão conformar-se com as normas objectivas da moralidade. Não raro, porém, acontece que a consciência erra, por ignorância invencível, sem por isso perder a própria dignidade. Outro tanto não se pode dizer quando o homem se descuida de procurar a verdade e o bem e quando a consciência se vai progressivamente cegando, com o hábito do pecado.» Guadium et Spes (16)

domingo, 5 de março de 2023

IRMÃS CLARISSAS DE MONTE REAL

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Alertado por uma publicação das Irmãs Clarissas de Monte Real, recordo hoje a chegada das mesmas Irmãs a Monte Real para darem início ao seu projecto, (projecto de Deus, sem dúvida), de construção de um Mosteiro em Monte Real.

Instalaram-se num edifício das Termas de Monte Real, e ali começaram a viver em comunidade, que já prefigurava o Mosteiro em que hoje em dia adoram continuamente Deus, no Santíssimo Sacramento da Eucaristia, e intercedem por todos nós perseverantemente, em contínua oração.

Muitos frutos essa adoração e intercessão nos dá a todos, e a mim em particular a certeza, (como já tantas vezes afirmei), de que as suas orações por mim, (a pedido de minha mãe), alcançaram a graça de Deus para a minha vida e me transformaram no homem que hoje em dia sou, pecador, mas procurando sempre no amor de Deus a redenção e tentando sempre servi-Lo, servindo os outros, em tudo aquilo que gratuitamente Deus, na Sua infinita bondade coloca em mim, pobre servo inútil que tento ser.

A serenidade, a paz, a bondade, que cada vez que visito aquele Mosteiro sinto naquelas Irmãs, é uma prova mais que evidente, da presença de Deus nas suas vidas e no meio de nós.

É que a felicidade com que vivem só pode vir de Quem é a verdadeira felicidade!

E hoje, neste Domingo da Quaresma, em que lemos e meditamos na Transfiguração de Nosso Senhor Jesus Cristo, vem ao meu coração que aquelas Irmãs Clarissas todos os dias sobem a «um alto monte» (Mt 17, 1) e ali, desprendidas de tudo e até delas próprias, rezam como Pedro dizendo «Senhor, como é bom estarmos aqui! Se quiseres, deixa-nos fazer aqui tendas para todos aqueles por quem rezamos», (cf Mt 17, 4) e acrescentam: para que estando mais junto de Ti, Te encontrem e vivam no e do Teu amor.

Uma dessas “tendas” por elas construídas em oração, abrigou-me e abriga-me ainda, e eu feliz dou graças a Deus pelas “minhas” queridas Irmãs Clarissas de Monte Real.

Tudo e sempre para a maior glória de Deus!




Marinha Grande, 5 de Março de 2023
Joaquim Mexia Alves