sexta-feira, 28 de abril de 2023

“MOMENTO SAMUEL” *

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Acordo de madrugada, muito cedo, ou és Tu que me acordas, nunca sei bem.
Acreditando que és Tu que me acordas, (assim é mais fácil não me incomodar por não conseguir dormir), começo a falar conTigo, ou seja, começo a rezar.

E dou-Te graças pela cama em que estou deitado, pelo seu aconchego, pela sua comodidade, pedindo logo por aqueles que não têm nem cama, nem quarto, nem casa sequer, cujo colchão é o empedrado duro de uma qualquer rua e os limites do quarto são as paredes dos prédios a que se encostam.

Depois sinto as dores nas costas, (coisas da idade), e dou-Te graças por elas e ofereço-tas por aqueles que sofrem incomparavelmente mais nas camas dos hospitais, nas suas casas, no seu dia a dia.

Percebo na casa em que vivo a presença da família, e dou-Te graças por ela, por aqueles que me deste e com quem partilho a minha vida e peço-Te por aqueles que estão sós, abandonados, nas suas casas, nos lares e, tantas vezes, nas ruas.

Começo as minhas orações de cada dia, (ai a rotina, meu Deus, que faz as minhas orações “frias”), e vou pedindo por todos os que colocas no meu coração e, nesses todos, todos os que não conheço mas precisam das orações, também.

Peço ao meu Anjo da Guarda que se una aos Anjos da Guarda daqueles por quem rezo e assim unidos em louvor, peçam por nós a Deus, segundo a Sua vontade.

Peço também aos Arcanjos Miguel, Gabriel e Rafael que me protejam e protejam todos aqueles por quem peço, do mal e das tentações.

Abro ainda mais o coração e chamo pela Mãe do Céu, para que Ela receba todas as minhas orações no seu colo e as leve ao seu Filho que, se calhar, lhe responde «Mulher, que tem isso a ver comigo?» (cf Jo 2, 4), mas depois lá lhe faz a vontade, segundo a Sua vontade.
Claro que logo a seguir A ouço dizer-me baixinho: «Faz tudo o que Ele te disser!» (cf Jo 2, 5)

Já que estou a falar com a Mãe, levo a minha mão à mesa de cabeceira e pego no terço, para o ir recitando no silêncio da noite.
Os Mistérios sucedem-se numa cadência serena, não há muita meditação, mas a cada Avé Maria rezada sinto o afago da Mãe, a cada Pai Nosso sinto-me ao colo do Pai, a cada Glória o Filho e o Espírito Santo tomam conta de mim e, de mão dada, levam-me a continuar em oração.

Lentamente os olhos interiores vão-se fechando, o ímpeto da oração vai diminuindo, a tranquilidade vai tomando conta de mim, o sono vai abrindo caminho e, como está findo o Rosário, vou-me deixando levar.

Sinto-me criança ao colo do Pai, de mão dada com o Filho, envolto no Espírito Santo, enquanto a Mãe, com um largo sorriso, vai olhando para nós.

Parece-me ouvir os Três a cantar, (não sabia que Deus cantava!), com a Mãe a acompanhar:

Dorme, meu menino,
repousa agora,
és sempre para Nós pequenino
e tomamos conta de ti
sempre e a toda a hora.

E eu vou repetindo baixinho, embalado no sono divino:
Obrigado, meu Deus, obrig………




Marinha Grande, 27 de Abril de 2023
Joaquim Mexia Alves


Nota: * sem qualquer comparação, pobre de mim, chamo a estes momentos que vou tendo “momentos Samuel” lembrando-me de 1 Sm 3, 1-10

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