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Fechamos os olhos, deixamos que a música, o Requiem de Mozart nos entre pelos ouvidos, passe pela nossa mente e chegue ao nosso coração.
Deixamo-nos tocar por Deus que deu ao homem tais talentos que o leva compor música de uma tal grandeza que percebemos que vai para além da humanidade, pois transporta-nos para outro espaço que não dominamos, mas antes vivemos numa profunda interioridade.
Talvez até uma lágrima ou outra despontem nos nossos olhos, mas deixamo-las correr, deixamos que elas lavem pelo menos por um escasso tempo tudo o que é fealdade no mundo.
Sim, não faz mal nenhum deixarmo-nos transportar para um universo de melodia, de força, de energia, de algo que nos leva a perceber, atendida as necessárias e percebidas diferenças, como este conjunto de notas musicais nos levam a viver o universo criado por Deus, entre estrelas, planetas, galáxias que perfeitamente se encaixam umas nas outras.
Pelo menos a mim a música, esta música, leva-me sempre ao encontro com Deus, porque esta perfeição apenas pode ser graça d’Ele ao homem.
E o caminho de Quaresma?
Por este tempo efémero, como é o nosso tempo físico, deixo que o meu caminhar no deserto seja acompanhado por esta música, por esta exaltação que sinto, porque ao ouvi-la me sinto pequeno, um quase nada e me maravilho pensando como é possível que um homem, ser tão finito no tempo físico, ser capaz de compor algo que vai para além do tempo e se transporta e nos transporta para todo o tempo.
Eterno e infinito é Deus, mas quando Ele nos criou à Sua imagem e semelhança, também nos fez participes dessa Sua eternidade, (se com Ele quisermos viver para sempre), e a música, esta música como outras de grandiosidade inquestionável, tornam-se também quase eternas, porque vindas d’Ele para o homem, podem levar o homem para Ele, ao reconhecer que tudo o que é bom nos vem apenas e só de Deus.
De olhos fechados, levado pelos passos da música, apenas abro o coração e repito sem cessar, num silêncio que não quer quebrar a harmonia:
Aqui estou, Senhor!
Leva-me pelo deserto, guia-me no caminho, dá-me a mão, faz-me viver o Teu amor, a Tua graça.
Perdoa-me porque tantas vezes não vejo a beleza da Tua criação, a beleza e perfeição de tudo o que criaste para o homem e pelo homem.
Ensina-me a encontrar-Te em mim, no amor, na humildade, na entrega, na doação.
Leva-me à oração contínua como se fosse música para os Teus ouvidos.
Faz de mim o quiseres e faz-me viver cada passo no deserto como uma nota de música em que Te fazes presente para mim e para todos.
Marinha Grande, 26 de Fevereiro de 2024
Joaquim Mexia Alves
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