terça-feira, 6 de fevereiro de 2024

O CRISTÃO E A ALEGRIA

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Do livro do Papa Bento XVI, “Jesus de Nazaré – A infância de Jesus”:

«Na saudação do anjo impressiona o facto não dirigir a Maria a habitual saudação judaica Shalom -a paz esteja contigo - mas a fórmula grega khaire que se pode tranquilamente traduzir por Avé como sucede na oração Mariana da igreja formada com palavras extraídas na narração da Anunciação.
Mas é justo individuar neste ponto o verdadeiro significado da palavra khaire: alegra-te!
Com este voto do anjo podemos dizer começa propriamente um Novo Testamento.
A palavra volta a aparecer na noite Santa nos lábios do anjo que diz aos pastores: «anuncio-vos uma grande alegria.» (Lc 2, 10)
Aparece em João por ocasião do encontro com o ressuscitado: «os discípulos encheram-se de alegria por verem o Senhor» (Jo 20, 20)
Nos discursos de despedida, em João, aparece uma teologia da alegria, que esclarece, por assim dizer, as profundezas desta palavra: «Eu hei-de ver-vos de novo! Então o vosso coração há de alegrar-se e ninguém vos poderá tirar a vossa alegria» (Jo 16, 22)»

Poderíamos acrescentar ainda versículos da Bíblia onde a alegria é citada como uma constante que deve fazer parte inerente do ser cristão.

«E donde me é dado que venha ter comigo a mãe do meu Senhor? Pois logo que chegou aos meus ouvidos a tua saudação o menino saltou de alegria no meu seio» (Lc 1, 43-44)

«Manifestei-vos estas coisas para que esteja em vós a minha alegria e a vossa alegria seja completa» (Jo 15, 11)

«Alegrai-vos sempre no Senhor! De novo o digo: alegrai-vos!» (Fl 4, 4)

Mas quando nos confrontamos com a realidade do ser cristão hoje em dia, é muito difícil reconhecer esta alegria de que tanto nos fala a Palavra de Deus.

Obviamente que a alegria de que nos fala a Bíblia, não é a alegria ruidosa da gargalhada fácil, da anedota engraçada, de um qualquer humor corriqueiro.

Não, esta alegria de que nos fala a Bíblia, é a alegria do amor de Deus, que gera confiança, que enche de esperança, que nos deve preencher totalmente por acreditarmos que Ele está connosco desde sempre e para sempre e que nunca nos abandona.

É a alegria que nos é dada pela confiança de acreditarmos que, como no episódio da cura da sogra de Pedro (Mc 1, 30-31), Ele nos toma pela mão e nos ajuda a ultrapassar as contrariedades, as dificuldades, as doenças, enfim, todas as vicissitudes inerentes à vida, mas que não são, afinal, a vida que Ele mesmo nos dá.

Esta alegria de Deus e em Deus, porque vinda do Seu amor, é contagiante, e por isso é testemunho imprescindível do ser cristão, porque se assim não for, então Deus mais parecerá um peso do que uma libertação, do que a verdadeira salvação.

E esta alegria tantas vezes não se reflecte na nossa face, no nosso sorriso, na nossa calma perante as dificuldades, mas também nas nossas palavras, nas nossas respostas, que são tantas vezes esmorecedoras para os outros, quando nos queixamos por tudo e por nada, quando passamos a imagem de que nada está bem connosco, porque muitas vezes usamos expressões demasiado arreigadas às conversas habituais, sem cuidarmos de perceber que passamos afinal uma imagem negativa da nossa vida.

Isso quer dizer que não devemos ligar às contrariedades da vida, às tristezas, às doenças, etc.?
Claro que não, mas sim não fazer de tudo isso uma espécie de predestinação que é em tudo contrária ao amor e à liberdade que Deus nos dá.

Quando nos deixamos tocar, envolver, iluminar, conduzir pelo Espírito Santo, tudo se modifica e nos faz encontrar razões para lutar esperando e acreditando que em Deus temos sempre a vida verdadeira, que é vida em plenitude, «já e ainda não».

«Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância.» Jo 10, 10






Marinha Grande, 6 de Fevereiro de 2024
Joaquim Mexia Alves

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