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Nestes últimos dias surgiu nas redes sociais uma suposta mensagem do Papa Francisco sobre o jejum.
Basta ler os termos usados na mensagem para se perceber de imediato que a mesma não pode ser do Papa, que é aliás “alvo” de muitas destas mensagens, que são sempre uma deturpação daquilo que ele disse.
O que é interessante, é perceber, do meu ponto de vista, claro, como nos apressamos a dar como certo algo que nos parece afinal mais fácil do que aquilo que a Igreja ao longo dos tempos nos pede como caminho para e com Deus, muito especialmente neste tempo da Quaresma.
Obviamente que um cristão que coloca em prática a Palavra de Deus no seu dia a dia, que se deixa guiar pelo Espírito Santo, sabe perfeitamente que o jejum, ou seja, a contenção na comida, a abstinência de comer carne, etc., não tem “efeito” na nossa vida a não ser que seja acompanhado com uma verdadeira interioridade espiritual, com uma forte vontade de contrição e conversão, com um entregar-se decididamente à vontade Deus, e que, se assim for, nos abre sem dúvida nenhuma aos outros, sobretudo àqueles que mais necessitam, seja material ou espiritualmente.
Porque o Espírito Santo conduz-nos sempre à caridade, não à “caridadezinha”, mas à caridade/amor, que é sempre doação de cada um ao outro, em Jesus Cristo.
E a caridade não se impõe, é livre, é vontade de cada um e como tal não se pode reduzir a um preceito apenas, mas sim, que esse preceito, essa prática, seja vivida como fonte de vida, como entrega a Deus nos outros, com a alegria serena de quem quer fazer a vontade de Deus, porque acredita que só vivendo assim pode alcançar a vida plena prometida por Jesus Cristo, desde sempre e para sempre.
E a caridade que não se impõe, que é livre, que é vontade de cada um, só o é verdadeiramente na medida em que estamos em comunhão com a Caridade perfeita que é Deus em todas as coisas, e assim, não procuramos apenas cumprir um preceito, mas sim porque queremos procurar e encontrar Deus na doação da nossa vontade, na doação de nós próprios.
E, (sem grandes “teologias” para as quais não tenho conhecimentos), os preceitos, as práticas existem para nos lembrar que, se queremos viver em plenitude a vida que Deus nos dá, apenas o podemos fazer em comunhão com Ele, e essa comunhão com Deus é sempre, mas mesmo sempre, comunhão com os outros, não só em Igreja, mas também com todos os que ainda não estão, não são, Igreja.
É tão mais fácil procurar mensagens, frases, atitudes, que parecem aliviar-nos de uma qualquer “carga” que nos parece colocarem em nós.
Mas em Deus e com Deus nada se faz por obrigação, mas sim por amor, porque se amamos, ou queremos amar verdadeiramente Deus, então tudo em nós é feito por amor, para que esse amor seja cada vez mais completo e mais vida em nós.
Então, digamos assim, não há preceito, nem prática, como obrigação imposta, mas sim como caminho que procura cada vez mais o amor de Deus para sermos de Deus e com Deus e em Deus para os outros.
Quanto à tal falsa mensagem do Papa Francisco, que realmente nos chamou a atenção, mas de modo bem diferente, para uma prática de jejum correcta, nada trouxe de novo, digamos assim, porque se realmente entrarmos no nosso íntimo, se inquirirmos o nosso coração, se nos deixarmos guiar pelo Espírito Santo, imediatamente percebemos que o jejum só tem sentido quando vivido na caridade e na entrega a Deus e aos outros.
Até porque essa tal falsa mensagem passa a ideia de que não precisamos de fazer jejum nem abstinência se formos “bonzinhos” para os outros!
Marinha Grande, 22 de Fevereiro de 2024
Joaquim Mexia Alves
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