quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

CARTA A JESUS NUMA QUINTA-FEIRA

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Meu querido Jesus

Hoje é Quinta-feira, dia da semana em que a Igreja faz memorial da instituição da Eucaristia, a graça imensa que nos quiseste dar durante a Última Ceia.

Por isso mesmo, querido Jesus, quero-te pedir perdão por todas as vezes em que participo na Santa Missa e apenas está presente o meu corpo, porque a minha cabeça, os meus pensamentos e às vezes até o meu coração, vagueiam pelos meus problemas do dia-a-dia, por tantas situações que nada têm a ver com aquele momento, e por isso mesmo não me deixo envolver na Tua presença de amor.

Peço-Te perdão também, por todas as vezes em que Te recebo como alimento para a vida de fé que me deste, e o faço de um modo rotineiro, como se de um hábito “mecânico” se tratasse, quase não dando conta do extraordinário Mistério que nos deixaste para nossa Salvação, não realizando sequer que és Tu mesmo que Te dás como Alimento a mim, pobre pecador.

Peço-Te perdão ainda, querido Jesus, porque às vezes, depois de Te receber em mim, em vez de Te adorar, amar e louvar, apenas penso em pedir, pedir para mim e para os outros, querendo mais ser consolado do que consolar.

Querido Jesus, perdoa-me também, por todas as vezes em que tenho tanta pressa para me ir embora, quase não deixando a Santa Missa acabar, e sobretudo não Te agradecendo a graça de mais uma Eucaristia a que me chamaste a participar, a celebrar, para por mim e por todos Te entregares.

E também, meu adorado Jesus, perdoa-me por tantas vezes criticar o Sacerdote, porque demora muito ou pouco, porque a homília não me agrada, e até pela crítica e julgamento que tantas vezes faço daqueles que acolitam, lêem, ou ajudam na distribuição da Comunhão.

Pobre de mim, que mesmo na Tua presença real e verdadeira, tantas vezes me deixo levar pelos meus orgulhos e vaidades, em vez de baixar a cabeça e humildemente dizer: «Senhor, eu não sou digno…».

Tem piedade, querido Jesus, deste pobre pecador, que apesar da sua fraqueza, crê em Ti, confia em Ti e Te agradece pelo Teu infinito perdão, pelo Teu eterno amor, pela Tua entrega permanente, por todos e por mim, ao Pai.

Dá um beijo a Tua Mãe e diz-lhe que eu confio muito n’Ela, e que preciso muito que me guie no caminho da humildade, no caminho do Sim.

Intercede por todos e por mim junto do Pai Criador e não Te esqueças, querido Jesus, de derramares em todos e em mim, como eu fracos e pecadores, o Espírito Santo que coloca a oração em nós e nos ensina, (como ensinou Tomé), a dizer: «Meu Senhor e meu Deus!»

Um abraço e um beijo deste Teu irmão muito pequenino, pobre pecador, que Te quer amar cada vez mais e Te pede a Tua Bênção de amor.

Joaquim

06.07.2006

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quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

CARTA A JESUS NUMA QUARTA-FEIRA

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Meu querido Jesus

Hoje é Quarta-feira, e vem à minha memória a Quarta-feira de Cinzas, o arrependimento, a conversão.

Obrigado, adorado Jesus, porque não permitiste que me perdesse e apesar de ter vivido tantos anos afastado de Ti, quando foi o Teu tempo chamaste-me, docemente fizeste-me encontrar-te, tomaste-me nos Teus braços, acarinhaste-me, seduziste-me, e deste-me esta intimidade pessoal contigo, de tal maneira intensa que não me posso apartar de Ti.

E obrigado, Jesus, porque não quiseste saber dos meus muitos, enormes e continuados pecados, mas apenas estendeste a Tua mão, olhaste-me nos olhos, (terá sido assim que fizeste a Pedro daquela vez?), e, tocado pela Tua ternura, fizeste o meu coração arrepender-se, voltar-se para Ti, e com os olhos cheios de lágrimas dizer-te: «Perdoa-me Jesus, que eu não sabia o que fazia.»

E logo os Teus braços se abriram, (não Jesus, já estavam abertos, estão sempre abertos), e abraçaste-me com tanto amor, que as minhas barreiras caíram e logo decidi que a minha vida Te pertencia, em tudo a que me chamasses.

E agora, amado Jesus, já não peco, já não duvido, já não Te volto as costas, nunca?
Ah, Jesus, era tão bom que assim fosse!
Mas não, continuo pecador, fraco, um pouco incrédulo e às vezes até ainda fujo de Ti.

Mas Tu, querido Jesus, não desistes, corres para mim, (porquê Jesus, porque Te voltas para este nada?), e chamas-me, e dizes-me ao ouvido: «Amo-te, quero precisar de ti».
De mim, Jesus, pobre de mim!

Mas aqui estou, adorado Jesus, de mão dada contigo, no caminho da conversão diária, na luta constante com a minha fraqueza, por Tua graça, Jesus, por Tua graça.

«Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim». Alguma vez Jesus amado, poderei dizê-lo verdadeiramente?
Pede a Tua Mãe que nos ajude, que me ajude neste caminho de conversão, une-nos, une-me, contigo no amor do e ao Pai, e encharca-nos, encharca-me, no Espírito Santo, porque só na Sua força, a conversão será verdadeira e constante.

Beijo os Teus pés Jesus, porque é a Teus pés que eu quero viver o nosso amor.

Joaquim

12.07.2006
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sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

A "PREOCUPAÇÃO" E O "TRABALHO" DE DEUS

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Hoje de manhã, quando estava nas minhas orações matinais vieram ao meu coração, estes dois pensamentos:
Temos um Deus cuja única “preocupação” é a nossa salvação.
Temos um Deus que “trabalha” a tempo inteiro para nós.

Fiquei, logicamente, a pensar nisto.

Realmente, deixando de lado o conceito muito humano de “preocupação” e “trabalho”, a verdade é que podemos afirmar isto mesmo, ou seja, Deus “preocupa-se exclusivamente com a nossa salvação e “trabalha” exclusivamente para isso mesmo!

E como o conceito de tempo, (dias, noites, horas, minutos, etc.), não se aplica a Deus, podemos mesmo afirmar, julgo eu, que esta Sua “preocupação” e “trabalho” é constante e eterna.

E sendo assim, como é, como podemos nós não agradecer e louvar em permanência o nosso Deus, em todos os momentos da nossa vida, fazendo dela uma oferta permanente ao Senhor?
E sendo assim, como é, como podemos nós sequer pensar em prescindir deste Deus que nos ama de tal forma?

Realmente há algum amor maior do que o amor do nosso Deus, que se entrega totalmente e exclusivamente, (humanamente falando), à criatura que criou e ama eternamente?

De tal modo a Sua “preocupação” é total com o homem e a sua salvação, que não hesitou em vir ter com o próprio homem, fazendo-se igual à criatura criada, em todas as coisas, excepto no pecado.

Aliás, sendo o pecado uma rotura com o amor de Deus, o Deus feito homem nunca poderia romper consigo próprio.

Mas é fantástico, extraordinário, percebermos e reconhecermos, que o nosso Deus depois de nos ter criado se dedicou inteiramente a amar-nos, a fazer-nos conhecer o amor, a ensinar-nos o caminho da salvação.

Que posso eu temer deste mundo, se o meu Deus está comigo?

Que posso eu temer das tentações, se o meu Deus está comigo e nunca me abandona?

E aqui está outra coisa extraordinária de Deus: nunca nos abandona!

Podemos renegá-Lo, desprezá-Lo, colocá-Lo fora da nossa vida, mas Ele não deixa de se “preocupar”, de “trabalhar”, de estar connosco, amando-nos e mostrando-nos o caminho da salvação.

Não contente com tudo isto, (perdoem-se-me as expressões humanas), e como para Ele o tempo não existe, faz-se presente à vista, ao toque, e até como alimento, transubstanciando-se todos os dias na humildade, do mais humilde dos alimentos: o Pão.

E nós em vez de O procurarmos para recebermos do Seu amor e Lhe darmos o amor que coloca em nós, vamos apenas e a maior parte das vezes pedindo e pedindo, mais como queixando-nos, do que aceitando as adversidades de um caminho, que sendo difícil, nos leva à meta mais almejada que é a vida eterna na felicidade do gozo de Deus.

Realmente, se Deus nos criou por amor, se nos ama com total dedicação e entrega, (e acreditamos e sabemos que assim é), como poderá Ele não saber do que necessitamos para em cada dia, em cada momento, correspondermos ao Seu amor!

Preocupamo-nos, queixamo-nos, vivemos tristes e acabrunhados, vivemos com medo de tanta coisa, desde espíritos, superstições até horóscopos desfavoráveis, quando afinal nada disso tem qualquer valor, ou pode sequer interferir connosco, se estivermos unidos ao nosso Deus que é vivo e presente nas nossas vidas em todos os momentos.

A nossa vida deve ser então e sempre «Procurar antes o seu Reino, porque tudo o mais nos será dado por acréscimo.» Lc 12,31

Obrigado meu Deus, por cada um e eu próprio sermos a Tua preocupação e trabalho permanentes.
Obrigado por teres criado cada um e eu próprio para Ti e para vivermos e usufruirmos do Teu amor.
Coloca meu Deus, no coração de cada um e no meu coração, essa certeza inabalável de que estás sempre connosco e que “todos os cabelos da nossa cabeça estão contados por Vós”. (Mt 10,30)
Louvado sejas, meu Senhor e meu Deus.



Monte Real 29 de Janeiro de 2010
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sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

ONDE ESTÁ DEUS?

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Onde está Deus?
Perguntam tantos,
Quando vêem a terra tremer,
As águas a chover,
E os ventos a rugirem,
Contra as casas,
Contra as árvores.
Onde está Deus?
Perguntam tantos
Quando desperta a dor,
Acontece a adversidade,
Os olhos se enchem de água,
E a morte traz a saudade.
Onde está Deus?
Perguntam tantos,
Quando nos batem e ofendem,
Nos pisam e humilham,
Mesmo que façamos o bem,
Mesmo sem olhar a quem.
Onde está Deus?
Perguntam tantos,
Quando predomina a guerra,
Os homens se dão à morte
E parece que sobre a terra,
Já não há sul, já não há norte.
Onde está Deus?
Perguntam tantos,
Quando a criança tem fome,
E aos olhos suplicantes,
Parece que nada responde,
Nem mesmo por um instante.
Onde está Deus?
Perguntam tantos,
Porque têm os olhos fechados,
O coração encarcerado,
Num peito que o aperta,
Os braços sempre cruzados,
Num pensamento encerrado.
Onde está Deus?
Perguntam tantos,
Temendo que Ele os ouvisse!
E Ele sempre presente,
Em todo e cada momento,
Em cada um,
Em toda a gente.
Vai-se dando e entregando,
Assim todo e só amor,
Na tempestade
E na bonança,
No vento forte
E na brisa,
Em cada momento de dor,
Em cada morte,
Dando vida.
Sendo batido e ofendido,
Espezinhado e humilhado,
Mas dando sempre a mão
Fazendo-se sempre alcançado.
Está na guerra,
Pela paz,
E ilumina e conduz,
Cada homem sobre a terra.
Está no coração das crianças,
Em cada olhar suplicante,
A todos abraça e conforta,
Sobretudo ao homem errante.
E para O ver e sentir,
É preciso pouca coisa:
Descruzar os braços e sorrir,
Libertar o pensamento,
Deixar o seu coração voar,
Nas asas do eterno amor,
Acolher cada irmã
Abraçar cada irmão,
E amar, amar, amar….


Monte Real, 21 de Janeiro de 2010

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sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

DEUS NÃO MUDA AO SABOR DOS TEMPOS!

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Leio algumas notícias, textos e comentários, quer na comunicação social, quer em espaços na net, e apercebo-me de algo que acho extraordinário, nesta “escalada” que o homem vai fazendo, afastando-se decididamente de Deus, ou pelo menos tentando fazer um deus à sua maneira.

Não bastavam as leis iníquas ao avesso da moralidade e defesa da família, elaboradas e aprovadas à pressa por políticos que apenas buscam protagonismo pessoal e “tapar o sol com a peneira”, vêm também alguns, apelidando-se de cristãos e católicos, fazer coro com os mesmos, arvorando-se em detentores da “verdadeira” doutrina do cristianismo.

A pretexto de que Jesus Cristo veio para todos, (o que é uma verdade), e que convivia com os pecadores, (com quem havia Ele de conviver se todos somos pecadores), a pretexto de uma igualdade, (que existe enquanto filhos de Deus), ou de outro tipo de argumentos, (normalmente baseados em textos de dissidentes da Igreja), pretende-se convencer-nos que certos actos deixaram de ser pecado, (falo em linguagem cristã católica), porque feitas em nome de um pretenso amor, de uma pretensa liberdade de consciência.

Mas a verdade é que se caminharmos esse caminho, então tudo é possível, e o pecado deixa de existir, (o que é uma “reivindicação” antiga daqueles que não querem viver o «convertei-vos»), pois para tudo e para todos os actos haverá sempre um modo de o homem dar a volta, adaptando a sua consciência às atitudes que toma.

Continua a querer confundir-se os pecadores com o pecado, e se àqueles o Senhor abraça e perdoa perante o arrependimento e o propósito de emenda, (já sei que são “conceitos retrógrados”), ao pecado o Senhor não o tolera, porque aliena e escraviza o homem na sua liberdade de filhos de Deus.

Pretendem assim alguns, afirmando-se cristãos e até católicos, adaptar a Doutrina às suas ideias, às suas conveniências, para, julgam eles, poderem verdadeiramente descansar as suas consciências e, à vontade, poderem tomar as atitudes e praticar os actos que mais lhes agradam, e que a maior parte das vezes são tão difíceis de combater num caminho de conversão.

Julgam que, com discussões de frases grandiloquentes, com conceitos estudados até à exaustão, convencidos da sua enorme capacidade de raciocinar, com os seus profundos e permanentes estudos, sobretudo daqueles teólogos dissidentes da Igreja, podem levar à mudança da Doutrina, convencidos que estão da sua superioridade.

Mas estão enganados, muito enganados, porque se os políticos podem de “uma penada” mudar as leis e adaptá-las ao seu gosto e ao gosto dos seus apoiantes, já Deus não muda e não é adaptável às conveniências de cada um!

Frases como, “a Igreja tem de adaptar-se aos tempos modernos”, não têm qualquer significado, porque a Igreja não é detentora de algo que Ela mesmo tenha inventado, mas de algo que lhe foi transmitido na Revelação do próprio Deus e como tal, e se for preciso, contra tudo e contra todos, continuará a proclamar a Verdade.

Foi assim nos primeiros tempos, foi e é assim ainda hoje em dia nalguns sítios deste mundo!
Houve muitas mulheres e homens que morreram por essa Verdade e ainda hoje há com certeza muitos dispostos a morrerem também, pelo Deus Único que pode dar a vida, e que é a Verdade.

Mas porquê esta vontade, esta luta permanente de tentarem mudar a Igreja, naquilo em que Ela é mais pura e consistente e que é a Doutrina?

Julgarão por acaso que, se por um terrível erro os homens da Igreja decidissem mudar a Doutrina, (fazendo a vontade aos “tempos”), Ela mudaria só porque os homens queriam?

Ou que Deus se “adaptaria” a essa nova doutrina?

Julgarão que, se por um acaso a Doutrina fosse de acordo com a vontade dos homens, ela levaria à salvação?

Se a Doutrina mudasse de acordo com a vontade dos tempos, nada daquilo que Jesus Cristo nos veio dizer seria hoje Doutrina, mas a mesma seria estabelecida pela vontade dos homens, vogando ao sabor dos tempos e das inclinações de cada um e não constituindo mais do que isso mesmo, ou seja, a vontade dos homens.

Envolvem-se muitas vezes em discussões intermináveis, em que à frente do coração e da fé, da entrega e da oração, da procura da condução do Espírito Santo, está o seu próprio pensamento cheio de certezas, tentando convencer os outros de que sabem muito melhor interpretar a vontade de Deus, do que aqueles que, vivendo a Tradição, vão lutando pela pureza da Doutrina, não deixando nunca de considerar em cada momento a melhor e mais perfeita forma de a entender, ensinar e viver.

Não se pode então discutir?
Claro que se pode e deve discutir, mas sempre na entrega de amor que leva a obediência a ser uma realidade que liberta e dá paz.
Pode-se discutir com certeza, mas não com argumentos que pretendem levar a uma suposta superioridade na interpretação da vontade de Deus, tornando Deus perfeitamente “dispensável”, pois o homem por si mesmo sabe muito bem o que Deus quer, o que não seria mais do que viver segundo a própria vontade do homem.

Também Jesus Cristo teve discussões e sempre respondeu com a simplicidade mais desconcertante, que é exactamente o que está muitas vezes arredado dessas discussões, onde pretende imperar uma suposta superioridade intelectual.

Talvez se fossemos mais humildes, se como Jesus Cristo nos retirássemos mais vezes para rezar e se em vez de querermos interpretar a Palavra proclamada, a nosso belo prazer, A vivêssemos no Espírito Santo, nos sentíssemos mais livres, mais em paz, mais em amor e muito mais capazes do caminho de conversão e entrega por amor, que é proposto, oferecido e desejado para cada um, por Jesus Cristo Nosso Senhor e Salvador, que deu a vida por nós cumprindo a vontade do Pai.

Monte Real, 15 de Janeiro de 2010
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quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

EPIFANIA DO SENHOR

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«Ao ver a estrela, sentiram imensa alegria; e, entrando na casa, viram o menino com Maria, sua mãe. Prostrando-se, adoraram-no; e, abrindo os cofres, ofereceram-lhe presentes: ouro, incenso e mirra.» Mt 2,10-11

Ao ler toda a narração do encontro dos magos com o Menino Jesus, detenho-me em algo tão simples como isto:
«Prostrando-se, adoraram-no; e, abrindo os cofres, ofereceram-lhe presentes: ouro, incenso e mirra.»

Perante Aquele Menino e a luz que d’Ele emana, a luz que Ele próprio é, (a estrela que os guia), cheios de alegria naquela presença, “apenas” se prostraram, adoraram e ofereceram presentes!

“Esqueceram-se” de pedir, de querer receber, de querer alguma coisa para eles!

Pelo menos os Evangelhos não nos dão nenhum sinal de que o tenham feito.

Diante daquele Menino, que eles já reconheciam como Rei, «prostrando-se, adoraram-no», e como Rei que era, com poder, sem dúvida, ofereceram-Lhe dádivas que essa realeza representam, mas nada pediram para eles mesmos, ou para outros.

Quantas vezes somos nós capazes de, num encontro pessoal com Jesus Cristo, na Comunhão por exemplo, nos prostrarmos, adorarmos, nos oferecermos e nada pedirmos?

Deixo-me levar pelo coração, e mesmo que exegetas da Bíblia possam dizer que é menos correcta a minha meditação, quero perceber, ou melhor, “escutar” o que Ele me quer dizer com estes factos que assim são narrados.

Será que na presença de Cristo, tão plena de alegria e luz, nos esquecemos de nós próprios, ou será que o reconhecimento dessa presença viva no meio de nós nos faz sentir “apenas” confiança e esperança, de tal modo que em nós sentimos, sabemos que, tudo o que precisamos Ele conhece, e não deixará de nos dar o que for verdadeiramente necessário para a nossa felicidade?

Ou será que as duas atitudes são somadas e por isso mesmo, esse caminho que percorremos de coração aberto até ao nosso encontro com Ele, (Jesus Cristo faz-se sempre encontrado, nós é que não O procuramos), arrostando com passadas nem sempre bem dadas, com as dificuldades de cada momento, (como Herodes na caminhada dos magos), tem de culminar com essa certeza de que o encontro pessoal com Cristo, tem de ser um momento de entrega total, de despojamento de tudo, de confiança inabalável, de esperança já cumprida, embora ainda não.

É porque se assim for, também nós seremos “avisados” pelo amor que despontará em nós, a não continuarmos pelo mesmo caminho, mas sim pelo caminho diferente e novo, que todos aqueles que com Ele se encontram de coração aberto, são convidados a seguir.

É que então já não é uma estrela exterior que nos guia, mas a luz interior, que é a Sua presença viva em nós, que nos vai iluminando os passos a dar, a estrada a percorrer, a nossa entrega a completar.

E não “precisaremos” mais de pedir, porque então entenderemos perfeitamente o que Ele mesmo nos diz:
«Não vos inquieteis com o que haveis de comer ou beber, nem andeis ansiosos, pois as pessoas do mundo é que andam à procura de todas estas coisas; mas o vosso Pai sabe que tendes necessidade delas. Procurai, antes, o seu Reino, e o resto vos será dado por acréscimo. Não temais, pequenino rebanho, porque aprouve ao vosso Pai dar-vos o Reino.» Lc 12, 29-32

Claro que poderemos continuar a pedir, mas agora já nesta certeza de que obteremos tudo aquilo que for bom, para fazermos a Sua vontade em nós e nos outros.

Não nos afadiguemos a procurar o Menino, a procurar Jesus Cristo para pedir, para obter, para receber, mas sim a querermos que aconteça verdadeiramente nas nossas vidas o encontro pessoal com Ele, que nos levará pelo Caminho Novo, que nos dará a confiança segura, que é assente na esperança viva que se cumpre todos os dias.

E então sim, viverei eu, viverás tu, viveremos todos nós, a Epifania do Senhor, que se faz presença viva permanente nas nossas vidas.

Monte Real, 6 de Janeiro de 2010
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quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

ANO VELHO, ANO NOVO

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Será que é mesmo um ano velho que se desapega de nós, para dar lugar a um novo ano, ou será que os dias continuam iguais e a coisa nova só acontece quando nós nos abrimos ao Novo?
Que interessa verdadeiramente que um ano acabe e outro comece, se em nós tudo continua igual e os momentos se sucedem numa continuidade de noites e dias, em que tudo permanece igual e a rotina se instala?
E podemos nós fazer diferente, sentir diferente, viver diferente?
E podemos nós fazer de cada momento um tempo novo, cheio de novidade, de confiança, de esperança?
Não, nunca o poderemos fazer, sentir ou viver se continuarmos a confiar apenas em nós, nas nossas capacidades, no nosso querer!
Não nunca o poderemos fazer, sentir ou viver, porque somos seres diminutos, num mundo enorme que não nos olha, não nos conhece, que nos toma a todos como coisa igual e sempre efémera!
Onde está então o golpe de asa que faz de nós mais além, que faz de nós coisa nova sempre diferente, que faz de nós iguais nessas diferenças, que faz de nós senhores do mundo e da nossa liberdade?
Está ali, está aqui, está em todo o lugar e em todo o momento, está em cada um, e em todos ao mesmo tempo!
Não se agarra, não se possui, mas sente-se e vive-se em cada um!
Se retido no egoísmo perde-se e não se encontra, se dado no amor, transforma-se e faz-se encontrado na vida!
Se vivido, comungado, partilhado, faz-se Um em todos e todos no Um, e vive-se na alegria da paz serena, porque é confiança e esperança sem fim!
Por isso, o ano velho não acaba em Dezembro, tal como o ano novo não começa em Janeiro!
O ano velho acaba quando saímos de nós, e o ano novo começa quando O deixamos viver em nós!
Porque então é tudo novo!
A tristeza que era só triste, veste-se agora de esperança, a alegria que era só ruído, torna-se agora paz e serenidade!
A saúde que era estar bem, agradece-se e faz-se graça, a doença que era dor, entrega-se agora, e faz-se amor!
A adversidade que era triste companheira, faz-se agora apenas coisa passageira, e a felicidade que era efémera, faz-se agora coisa eterna!
Até a vida que parecia acabar na morte, percebe agora a morte como passagem para a vida!
Ah sim, acaba então o ano velho, do passado sem vida, da igualdade dos dias à espera do esperado fim, para começar o ano novo, vivido na esperança de cada novo e diferente dia, na confiança do prometido amanhã!
E tudo isto porque o Jesus que nasceu, para todos e cada um, se faz assim Deus entregue, dado por simples amor, para ser vida em nós todos, por ser vida em cada um.
E então não há mais ano velho, porque tudo n’Ele é sempre novo!
Podemos mudar os dias, fazê-los sempre diferentes, podemos viver o mundo, vivendo em liberdade, podemos ser todos diferentes, fazendo-nos mais iguais, e podemos tudo isto, tudo isto e muito mais, porque nós nada fazemos, a não ser darmos o que somos, para que Ele tudo faça em nós, e nos demais.
Já não tenho ano velho, nem dele me posso desapegar, porque em mim é ano novo, ano novo permanente, porque é assim que Ele me transforma, a mim e a toda a gente, que a Ele se quer entregar!


Monte Real, 30 de Dezembro de 2009
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quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

NATAL - AMOR DE DEUS

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Quem já esteve com um recém-nascido ao colo apercebe-se bem da pequenez, da fragilidade, da simplicidade desse pequenino ser que, envolvido nas nossas mãos, ali se deixa estar, muito mais confiante, do que se estiver no berço, mesmo que seja o mais rico e confortável.

Lembro-me que, tendo eu umas mãos grandes, a minha mulher sorria ao ver os nossos filhos deitados na palma de uma das minhas mãos.

Tão frágeis, tão à mercê do mundo, tão sensíveis a tudo quanto à sua volta acontece, e no entanto tão confiantes naqueles que os rodeiam.

Penso então neste Menino que é Natal para cada um de nós e fico extasiado perante o amor de Deus.

O Deus Pai que nos criou e nos conhece bem melhor do que nós nos conhecemos, que conhece as nossas qualidades e os nossos defeitos, que percebe as nossas infidelidades e inconstâncias, ama-nos de tal modo que confia absolutamente em nós.

Se assim não fosse, como daria Ele o Seu Filho ao mundo, não para nascer como um rei de poder imenso, mas com a fragilidade de um recém-nascido que em tudo depende dos seus pais, daqueles que o rodeiam, que se deixa tocar e se sente confiante nas mãos dos homens que O tocam.

Este Filho que tem logo, desde o inicio da Sua vida no mundo, de fugir para não perecer pela maldade dos homens.

Este Filho que, tendo nascido como nós, é também um recém-nascido frágil e à mercê de tudo aquilo que qualquer homem queira fazer d’Ele.

Que amor, que humildade, que simplicidade, que entrega, é este nosso Deus em tudo o que se revela.

Podemos imaginar Aquele Menino nos braços de Sua mãe, na palma da mão de Seu pai na terra, e percebemos toda a fragilidade e simplicidade com que se entrega.

Transportemo-nos para o aqui e agora.
Outro tanto não é a Eucaristia?
Não se faz Ele pedaço de Pão, que colocado nas nossas mãos fica ao sabor da nossa vontade?
Não é Aquele pedaço de Pão nas nossas mãos, tão frágil como aquele Menino nos braços de Sua mãe?

Queria tanto conseguir explicar o que sinto, o que me vai na alma, o que me vai no coração, mas não encontro palavras, talvez porque não haja palavras, ou talvez porque qualquer palavra já seja demais para transmitir o que é o amor, a humildade, a simplicidade de Deus.

Perdemo-nos às vezes em discussões intermináveis sobre as coisas de Deus, tentamos fazer vingar os nossos pontos de vista, queremos mudar os outros com as nossas palavras e não entendemos que enquanto não alcançarmos a humildade, enquanto não nos deixarmos atingir pela simplicidade, enquanto não formos feitos de amor, nada do que dissermos fará sentido, nada do que dissermos transmitirá Deus aos outros, nada do que vivermos será testemunho de Deus em nós.

Se Jesus Cristo não fosse assim, Homem de pé no chão, feito de oração, amor transmitido em palavras simples, mais humilde do que os humildes, vergando-se à vontade dos homens, alguma vez as Suas Palavras teriam chegado tão longe?

Não, com certeza que não, porque o Pai nos conhece tão bem, que sabe muito bem que só na fragilidade os homens são tocados, só na simplicidade os homens melhor entendem, só na humildade os homens se tornam Homens.

Saberemos nós, verdadeiramente, alguma coisa de Deus, para além de sabermos que Ele nos ama e quer a nossa Salvação, a nossa felicidade?

Provavelmente não, mas afadigamo-nos em construir tantas vezes um deus à nossa medida, um deus que sirva a nossa vontade, que nem nos apercebemos que se a nossa vontade for o amor, for a humildade, for a simplicidade, Ele fará sempre a nossa vontade.

Então façamos nós ao contrário agora:
Façamo-nos nós recém-nascidos nos braços de Deus, deixemos que Ele nos coloque na palma das Suas mãos, façamo-nos frágeis, humildes, simples, e assim confiadamente abandonemo-nos n’Aquele que tudo pode e nada de mal nos acontecerá, e as nossas vidas serão testemunho, e os nossos gestos serão amor, e o nosso viver será humildade, e as nossas palavras serão simplicidade, porque serão d’Ele que fala por nós, tal como a mãe e o pai falam pelo seu filho que ainda não sabe falar.

Então poderemos dizer em Igreja e com a Igreja:
Vem Senhor Jesus, que eu quero renascer em Ti, por Ti e para Ti.


Monte Real, 24 de Dezembro de 2009
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segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

CONTO DE NATAL 2009

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Curvado, mais pelo frio do que pelo peso da idade, caminhava apressado, arrastando os pés pela rua molhada, nem sequer sentindo que a água entrava pelos buracos dos sapatos já velhos e rotos.

Fosse esse o seu pior mal!

Tinha perdido a noção das horas e dos dias já há muito tempo, mas esta noite ele sabia qual era, e uma profunda tristeza juntava-se ao desespero da sua vida.

Era noite Natal, não tinha dúvidas, pois bastava olhar para as pessoas que por ele passavam, para perceber isso mesmo.

Enquanto caminhava naquela noite fria e chuvosa, a memória transportou-o para uma sala, onde uma lareira grande aquecia a casa e os corações à sua volta.
Mesmo ao lado da lareira o presépio, feito com todo o esmero, com musgo como deve ser, e com as figuras tradicionais que representavam aquilo que deviam representar.
No canto esquerdo da sala, a árvore de Natal, simples e discreta, porque devia ser o presépio a ocupar o lugar de destaque.
Por baixo da árvore, embrulhos de todas as cores e feitios, os presentes de Natal.

Não tinha a certeza, mas pareceu-lhe que, por debaixo da barba por fazer há tanto tempo, um sorriso se tinha aproximado dos seus lábios.

Pieguices, pensou ele, coisas do passado que já não voltam!

Mas isso obrigou-o a recordar a sua infância no Natal em casa dos seus pais, à volta do presépio, e a voz profunda do seu pai repetindo todos os anos:
Se deixarmos Jesus nascer nos nossos corações e se com Ele vivermos, nada nem ninguém nos pode tirar a paz e a alegria, e Ele nunca nos deixará sozinhos.

Tretas, disse ele entre dentes, tretas, basta bem olhar para mim!

Lembrou-se então que tinha seguido o conselho do seu pai durante uns anos.
O curso acabado, o primeiro trabalho, a primeira empresa, o seu casamento, a filha e o filho, a casa boa e a boa vida, uma aparente felicidade e a certeza de que nada lhe faltaria.
Algures durante esses anos afastou-se do conselho do pai e Jesus deixou de fazer parte da sua vida, embora, claro, comemorasse o Natal, tentando dar sempre os melhores presentes, até para mostrar como estava bem na vida.

E depois veio aquele ano terrível!
As finanças entraram em colapso, as encomendas deixaram de existir, deixou de haver dinheiro para os ordenados e finalmente os bancos exigiram o pagamento dos valores que tinha pedido para investir na empresa.
Num instante viu-se na rua, sem empresa, sem casa, sem nada e com uma vergonha impossível de suportar.
O mundo tinha-se abatido sobre ele e nada nem ninguém o podia ajudar!
Achava-se um nada, um ninguém, uma vida sem sentido e só a falta de “coragem” é que o impedia de pôr fim à vida.

Um dia não podendo suportar mais a vergonha, afastou-se definitivamente da família, dos filhos, e embrenhou-se na rua, onde passou a viver da esmola, da caridade, dos expedientes de momento, sem qualquer rumo, sem qualquer sentido, esperando apenas que a morte o levasse.

Tinha desistido de si próprio!

Tinha reparado como esta vida de rua, onde andrajoso e sujo agora vivia, podia transformar um homem em coisa nenhuma.
Havia pessoas que ele conhecia e passavam por ele na rua e, se ao princípio lhe parecia que o evitavam, rapidamente começou a perceber que agora nem o reconheciam, aliás, era um sentimento como se não existisse, ou seja, viam-no, mas era como se ele fosse transparente.

Já não havia nada a fazer, já não era ninguém, já não tinha sequer existência!

Lembrou-se então, nem percebia porquê, do conselho do seu pai, e pensou na sua miséria:
Será que se eu tivesse continuado a deixar nascer Jesus no meu coração, e a viver com Ele todos os dias, agora estaria melhor? Seria verdade que Ele estaria sempre comigo, até aqui na rua onde estou?

Voltou-lhe ao pensamento a frase que há um pouco tinha sussurrado entre dentes:
Tretas, basta bem olhar para mim!

Mas levado não sabia bem porquê, num murmúrio para si, quase desafiou Jesus dizendo:
Olha Jesus, hoje é noite de Natal. Por aqueles tempos em que Te segui arranja lá qualquer coisa que me faça sentir melhor!

Riu-se de si próprio, pensando que agora já não estava apenas só e sem nada, agora também estava louco!

Continuou a caminhar apressado, pois sabia bem que a carrinha daqueles jovens que lhes levavam à noite, comida e bebida quentes, devia estar a chegar ao sítio do costume, e ele queria ser dos primeiros, para ainda ter de beber e de comer.

Chegou enfim ao local quase ao mesmo tempo em que a carrinha aparecia, e reparou que felizmente ainda estavam poucos colegas de infortúnio à espera da distribuição da comida e da bebida.

Olhou para a carrinha e reparou que eram dois rapazes e duas raparigas que faziam a distribuição, mas logo desviou o olhar, porque se tinha vergonha de tudo, dos jovens ainda pior, talvez porque apesar de tudo, sentisse que lhes estava a dar um mau testemunho de vida, a eles que afinal ainda tinham a vida toda pela frente.

Aproximou-se de cabeça baixa e recebeu das mãos de uma das jovens uma caneca fumegante e um pedaço de pão com carne.
A jovem disse-lhe então com uma voz suave:
Ao menos olhe para mim!

Num momento fugaz levantou a cabeça de olhos fechados, com vergonha, e baixou-a imediatamente, afastando-se rapidamente do local.

Não tinha dado três passos sentiu uma mão no ombro e ouviu uma voz que lhe dizia agora mais insistentemente, quase numa súplica:
Olhe para mim!

Havia naquela voz algo familiar que o levou a levantar a cabeça e olhar nos olhos da jovem que lhe tocava.

Nesse momento ouviu outra vez aquela voz que lhe atingiu o coração, e dizia agora repassada de tristeza e alegria ao mesmo tempo:
Pai, ó pai, és tu?!

Deixou cair tudo no chão, pois aqueles braços apertavam-no de tal maneira que ele não podia quase respirar.

Abraçou-se a ela também, tremendo, a garganta seca, não o deixava proferir palavra.

Ouviu então novamente a voz da sua filha que lhe dizia:
Anda pai, vamos para casa. Temos estado todos os dias à tua espera!

Aquelas e aqueles que ali estavam à volta daquela cena, podiam jurar que naquele momento tinham ouvido um coro celestial que cantava:
Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens por Ele amados!


Monte Real, 3 de Dezembro de 2009
Com este Conto de Natal, quero desejar um SANTO NATAL a todas e todos os que visitam este espaço, comentando ou não.
Que o Nosso Salvador, Jesus Cristo Senhor, vos cubra e às vossas famílias, de bençãos, de paz, de alegria.
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segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

SÃO JOSÉ

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Fico assim a olhar para as figuras do Presépio e os meus olhos detêm-se na figura de São José.

Quantas vezes meditamos na vida de São José?

Claro que o nascimento de Jesus Cristo prevalece sobre todos, sobre tudo e sobre todas as coisas.
Claro que a Virgem Maria é figura incontornável, porque disse sim, porque é a Mãe de Jesus Cristo, o Salvador.

E São José?

Podemos não compreender o Mistério da Encarnação de Cristo, a Sua concepção por obra e graça do Espírito Santo, pelo sim de Maria, mas compreendemos que nos planos de Deus estava o Nascimento do Seu Filho, como Homem igual em tudo e a todos, excepto no pecado.

Ora esse plano teria que incluir uma família, humanamente simbolizada num pai e numa mãe.

Temos então que nos deter também na grandeza de alma, na humildade e na entrega de José, que também ele disse sim à vontade de Deus, que também ele se entregou para que fosse feita na sua vida a vontade do Pai.

E não era fácil naquele tempo, como não é agora, saber que a sua noiva está grávida e que eles ainda não se «conheceram». Lc 1,34; Mt 1,25

Calculemos nós o que terá vivido José naquele tempo?
As suas dúvidas, as suas angústias, o seu receio de magoar Maria com uma lei que mandava apedrejar as mulheres adulteras.
E no entanto, muito provavelmente no seu coração vivia o sentimento de que tudo aquilo ultrapassava a sua compreensão, e que devia vir de Deus.

Homem justo, de oração e temente a Deus, tinha com certeza o seu coração aberto à vontade de Deus, pelo que a aparição do anjo em sonhos, Lc 2,20-24, o leva, do mesmo modo que Maria, a dizer sim à vontade do Pai.

E se José tivesse dito não?
Como seria possível a vinda do Salvador no seio de uma família?

Comparável à humildade de Maria, só a humildade de José, que em tudo se entrega para fazer a vontade de Deus.

E não era despicienda a figura de José, porque Deus o encarrega efectivamente de velar por aquela família, pois é a José que são mostrados os caminhos que devem percorrer para proteger Jesus Cristo, para proteger Maria, como na fuga para o Egipto, Lc 2, 13-15 e no regresso a casa, Lc 3, 19-21 e até e ainda onde a família devia morar Lc 3, 22-23.

E José era efectivamente na terra o pai de Jesus, pois Ele lhe era submisso. Lc 3, 51

E depois, nada mais os Evangelhos nos dizem sobre José, que tendo assistido ao Nascimento de Jesus, que tendo visto as maravilhas operadas no Seu Nascimento, já não tinha dúvidas no seu coração, e no entanto permaneceu na sombra, na humildade, na doação total da sua vida.

Como temos nós tanto a aprender com São José, que de tão humilde e entregue a Deus, ainda hoje passa tantas vezes despercebido em toda a vivência do Natal!
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segunda-feira, 30 de novembro de 2009

ONDE ESTÁ, Ó MORTE, A TUA VITÓRIA?

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Durante este ano fui por várias vezes confrontado com a morte de pessoas muito queridas e de algumas que conheci desde sempre.

Estes factos levaram-me a reflectir na minha própria morte, não como qualquer drama ou medo que hoje em dia não sinto, mas como análise da minha vida, do que fiz, do que faço e do que posso fazer ainda.

Isso levou-me também, (depois de ter participado em tantos funerais), a pensar o que desejaria eu que fosse o meu próprio funeral.

E cheguei á conclusão de que desejo muito pouco!

Aliás o meu único verdadeiro desejo é que seja uma festa, porque se o for, então é porque vivi a missão que o Senhor me deu, é porque vivi o mais possível segundo a Sua vontade.

Explico:

A minha família, os meus amigos e até os meus inimigos são convidados por este escrito, a acompanharem de perto a minha vida e exorto-os a que, sempre que me afastar do caminho de Deus, sempre que me deixar levar pelas minhas fraquezas, sempre que não perdoar prontamente as ofensas, sempre que não pedir perdão imediato pelas ofensas que cometo, sempre que discriminar alguém, sempre que fizer juízos de alguém, sempre que não amar alguém, pelo menos com o amor que Deus me dá, sempre que não tiver tempo para os mais velhos e compreensão e paciência para os mais novos, sempre que não corrigir o que sei estar errado em mim, sempre que tiver medo ou vergonha de testemunhar a fé na Santíssima Trindade, sempre que criticar a Igreja apenas para fazer coro com outros, enfim, sempre que não seja um verdadeiro filho de Deus, me avisarem, me corrigirem, me chamarem a atenção.

E se eu persistir no erro peço-vos que não desistam e que não me larguem até eu reconhecer o meu erro e consequentemente emendar a minha vida.

É que eu não quero que o meu funeral seja triste e dramático, e a verdade é que se eu me afastar do caminho que Deus sonhou para mim, sou eu que deliberadamente me afasto de Deus e me expulso a mim próprio do Paraíso que é o gozo eterno de Deus.

E então sim, tendes razão para chorar e vos lamentardes, porque aquele de quem vós gostáveis, se perdeu de Deus e se condenou irremediavelmente por sua própria vontade.

Mas se eu vos ouvir e passo a passo for procurando a vontade de Deus para a minha vida, se em todos os momentos for ramo da Videira nela permanecendo, se em cada dia e em cada hora for um verdadeiro testemunho do amor de Deus, se souber em cada momento sair de mim, para ser de Deus para os outros, então alegrai-vos e fazei a festa, uma grande festa, porque eu alcancei a maior e mais perfeita meta, que é a vida eterna na presença de Deus.

Nada em toda a vida que eu vivi, vivo ou ainda hei-de viver será comparável a esse momento em que me encontrarei com a felicidade perfeita e eterna.

Podereis alguma vez desejar coisa melhor para mim?

É que então o dia da minha morte, será o dia mais feliz da minha vida!

Então nesse dia peço-vos que abandoneis o preto, que as vossas vestes sejam cores e movimento, que os vossos cânticos sejam expressão de alegre louvor ao Nosso Deus, e que nas vossas caras esteja estampado o sorriso dos pais perante o recém-nascido.

É que se assim for, minha família, meus amigos, meus inimigos, eu alcancei a felicidade e quero apenas que a partilhem comigo na certeza de que junto de Deus, por Sua graça, não vos esqueço, e por vós esperando, intercedo continuamente, na comunhão de Todos os Santos, num canto de puro louvor ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo.




E depois de escrever este texto, fiquei a pensar no início do Advento e no sentido que para mim faz, a morte ser um novo nascimento para um encontro total e definitivo com o Deus de amor que me criou, se na liberdade que me concedeu, eu souber viver segundo a Sua vontade.
Como tal, só pode ser um momento de real e inimaginável felicidade!
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terça-feira, 24 de novembro de 2009

O TEU ABRAÇO, SENHOR

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O Teu abraço, Senhor,
é muito maior do que mundo.
Estendem-se os Teus braços de tal modo
que tudo,
mas mesmo tudo, e todos,
eles contêm e podem conter.
Contêm aqueles que Te amam,
e os que Te não têm amor;
Cabem neles os que riem,
e neles são aconchegados os que choram;
Recebes neles os que têm saúde,
e neles envolves os que padecem;
Neles estão os que batem com a mão no peito
e neles apertas os que Te repudiam;
Com eles guias os que aqui vivem,
neles recebes os que contigo já moram.
Por isso me sinto assim,
tão dentro do Teu abraço.
Porque quase sempre Te amo,
mas há momentos em que Te esqueço;
Porque há horas em que contigo rio,
e há tempos em que choras comigo;
Porque Te agradeço a saúde,
e Te louvo na doença;
Porque recebo o Teu perdão,
mas por vezes me escondo de Ti;
Porque por Ti me deixo guiar,
na esperança de contigo,
eternamente morar.
Os Teus braços, Senhor,
assim abertos na Cruz,
foste Tu que os abriste,
apenas para me abraçar,
e apertado a Ti,
junto ao Teu coração,
todo repleto de amor,
a Ti todo me entregar.

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terça-feira, 17 de novembro de 2009

SÓ POR ELE, SÓ COM ELE, SÓ N' ELE

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O que leva cerca de duas mil pessoas a saírem de suas casas e passarem um fim-de-semana em oração, ouvindo ensinamentos sobre a Palavra de Deus e a vivência diária da fé?

O que leva um sacerdote a viajar desde a longínqua África, deixando os seus muitos afazeres, para vir pregar a essas pessoas o amor de Deus?

O que leva essas mesmas duas mil pessoas a acreditarem que algo pode mudar as suas vidas, lhes pode trazer paz e alegria e até mesmo a cura dos seus males, psíquicos e físicos?

O que leva esse mesmo sacerdote, franzino e frágil fisicamente por algumas doenças, a disponibilizar-se inteiramente para ouvir, falar e rezar, por todos aqueles que dele se aproximam, apesar de cansado pelas pregações, numa total disponibilidade da sua vida?

O que leva essas pessoas a abrirem-se à misericórdia de Deus de tal modo, que as suas vidas mudam, que de uma vida conflituosa, renasce uma vida de conciliação e amor, e que algumas delas testemunham curas físicas mesmo diante dos nossos olhos?

O que leva essas pessoas a levantarem os seus braços para louvar, para cantar, para rezar, sem respeitos nem vergonhas humanas, como a lembrar-nos: «Como se tivessem uma só alma, frequentavam diariamente o templo, partiam o pão em suas casas e tomavam o alimento com alegria e simplicidade de coração.»Act 2,46?

O que leva um homem de 44 anos, (como eu tinha então), com vinte e cinco anos de vida sem sentido, perdida nos prazeres do mundo, a mudar radicalmente todas as prioridades da sua vida e a encontrar a paz, a esperança e a confiança no meio de imensas tribulações, que longe de desesperarem ensinam a caminhar?

E a resposta é simples, muito simples, e está ao alcance de todos com muito mais facilidade que a compra de livros de uns quaisquer gurus, ou meditações profundas, ou cursos complicados de auto satisfação!
A resposta é tão só e simplesmente:

Jesus Cristo, o Filho de Deus, que se fez Homem como nós, nascido de Mulher como nós, que se alegrou e entristeceu, que riu e chorou, que comeu e teve sede, que se cansou e descansou, que falou e orou, e que no fim, por amor a todos e cada um de nós, padeceu, foi crucificado, morreu e ressuscitou, apenas e tão só por amor, para nos salvar, já, aqui e agora, porque «Ninguém tem mais amor do que quem dá a vida pelos seus amigos.» Jo 15,13
E também porque dentro do coração daqueles que acreditam há muito mais do que a esperança, há a certeza de que Ele está vivo, se entrega todos os dias nos altares em cada canto do mundo, e por isso mesmo, está sempre presente no meio de nós e em nós.
E essa certeza, essa Verdade, nada nem ninguém no-la pode tirar!

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Passei este fim-de-semana em Fátima, numa Assembleia do Renovamento Carismático Católico, Comunidade Pneumavita, orientada pelo Padre Alfredo Neres, Comboniano.
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quarta-feira, 11 de novembro de 2009

AMAR A DEUS ACIMA DE TODAS AS COISAS

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Seguiam com ele grandes multidões; e Jesus, voltando-se para elas, disse-lhes:
«Se alguém vem ter comigo e não me tem mais amor que ao seu pai, à sua mãe, à sua esposa, aos seus filhos, aos seus irmãos, às suas irmãs e até à própria vida, não pode ser meu discípulo.
Quem não tomar a sua cruz para me seguir não pode ser meu discípulo. Lc 14, 26-27

Palavras duras, quase incompreensíveis, quase inaceitáveis para a nossa humanidade, para o nosso modo de pensar no dia-a-dia.

Como pode Jesus Cristo dizer-nos que O devemos amar acima daqueles que Ele mesmo nos deu, acima da vida que Ele mesmo criou em nós?

Parece quase um acto possessivo, ciumento, impossível de aceitação por nós, homens!

E no entanto são palavras de amor e revestidas de amor!

Poderíamos dizer tanto, meditar tanto sobre estas palavras, mas detenhamo-nos apenas naquilo que é mais directo às nossas vidas, ao nosso viver, aos nossos anseios e esperanças.

Se construímos as nossas vidas tendo em primeiro lugar o amor àqueles que nos rodeiam, sejam eles nossos pais, nossos filhos, nossa família, nossos amigos, estamos a construir a vida sobre algo que acaba, sobre algo que tem fim aqui neste mundo, e então quando esses nos faltam a nossa vida desmorona-se, torna-se quase impossível de viver, porque lhe falta tudo aquilo sobre que foi construída e vivida.
Sabemos bem que alguns até se desesperam, não conseguem reagir e assim sendo nunca mais têm alegria na vida, depois da morte de um ente querido.

Se construímos as nossas vidas colocando em primeiro lugar a nossa vida, ou seja, se é na nossa vida que colocamos toda a nossa esperança, todos os nossos anseios, toda a nossa confiança, estamos a construir a vida sobre algo muito frágil, e quando a doença acontece, quando o insucesso bate à porta, tudo se desmorona e não temos mais em que acreditar, em que confiar, em que esperar, por isso não aceitamos o que nos acontece, e são tantos os que põe termo à vida nessas circunstâncias.

É por isso que Jesus nos diz que Lhe devemos ter mais amor e acima de tudo o resto.

Porque é o Seu amor por nós e o nosso amor por Ele que devem iluminar e dar sentido a todos os nossos “outros amores”.
Com efeito, se amarmos os outros, a nossa vida, com o amor que nos vem de e com Cristo, impregnados do Seu amor, então tudo pode acabar, mas o amor não acaba, porque o amor de Deus é eterno.
E os outros, e a nossa vida, tudo se reveste de esperança, porque tudo está envolvido no amor comunhão com Deus e como sabemos e acreditamos quem morrer com Cristo, com Ele viverá.
«Mas, se morremos com Cristo, acreditamos que também com Ele viveremos.» Rm 6,8

Então vivendo em primeiro lugar esse amor a Deus, tudo tem sentido, até mesmo a partida daqueles que nos são queridos e que envolvidos por nós no amor de Deus, continuam por nós a serem amados na esperança sempre viva de que não morreram, vivos no amor e na paz de Deus.

E a nossa vida pode sofrer doenças, dificuldades, problemas, insucessos, porque muito mais do que a própria vida, vive em nós o amor de Deus e a Deus, e assim tudo isso que possa acontecer nos serve de caminho, nos serve de ensinamento, nos serve para percebermos que mesmo na adversidade, Deus nos ama, e que se O amarmos também com todas as nossas forças, tudo é vida, tudo é confiança, tudo é esperança.

Todos e tudo aquilo que nós possamos amar, os nossos pais, os nossos esposos, os nossos filhos, a nossa família, os nossos amigos, até o nosso trabalho e aquilo que temos, é fruto do amor de Deus, por isso só tem sentido se amarmos primeiro…o Amor que os criou.


Senhor,
ensina-nos a amar-Te acima de todas as coisas.
A amar-Te com o Teu amor,
a tudo amarmos com o Teu amor,
para que no Teu amor, tudo o que amamos,
seja vida e presença Tua
connosco e em nós.
Amen.
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sexta-feira, 6 de novembro de 2009

OS CRUCIFIXOS, AS ESCOLAS E O QUE ESTÁ POR DETRÁS

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Será muito importante para os cristãos, para os católicos, para a Igreja, a retirada dos crucifixos das escolas?
Correndo o risco de estar em desacordo com a maioria dos que lêem este espaço, acho que não, acho que até nem me incomoda muito esse facto, a concretizar-se.
É importante, isso sim, que esse crucifixo, ou melhor, que tudo aquilo que o crucifixo representa esteja bem vivo no coração, na vida de cada um, e não só no seu olhar.

Outra coisa bem diferente é a atitude subjacente à exigência dessa decisão do Estado, por imposição de uns quantos.
É que não nos enganemos, essa atitude é a continuação de todo o ataque que tem vindo a ser feito contra a religião cristã e particularmente a Igreja Católica, e aos seus valores, ao longo destes últimos anos.

Se olharmos para trás vamos vendo toda uma série de tomadas de posição com o intuito de afastar as pessoas da religião, (sobretudo cristã e católica), ao princípio tomadas “encapotadamente”, mas, perante a passividade dos cristãos, dos católicos, da própria Igreja, (por vezes preocupada com o politicamente correcto de “César”), exigidas agora com uma força e uma violência que vem do facto de se sentirem a desbravar terreno sem oposição.

E são muitos os que o fazem, ou exigem estas decisões?
Estou em crer que são bem poucos, (perante a "enorme" maioria daqueles que se afirmam cristãos e católicos), mas com uma força e uma perseverança que, ó ironia, Jesus Cristo pede aos seus discípulos.

Mas reparemos que estas tomadas de posição não são isoladas, não são momentâneas, mas sim fazem parte de toda uma acção, mais ou menos concertada e consciente, de afastar “de vez” os homens de Deus, porque sabem bem que nunca conseguirão afastar de vez ... Deus dos homens.

Ou julgamos nós que episódios como os de Saramago, ou de um qualquer político que se diz cristão e católico, mas a favor do aborto, etc., não fazem parte dessa mesma orquestração?

Vão-nos querendo impor restrições ao pensamento e à acção, com teorias de liberdade ditas democráticas, para que temerosos de sermos considerados fundamentalistas, ou qualquer outro palavrão parecido, nos fiquemos por uma “revolta” de silêncio, apenas com os mais chegados, e demos de barato tudo aquilo em que dizemos acreditar.

A Igreja, (que eu amo com todas as minhas forças e que eu sou também), tem a obrigação, o dever, de ser forte guia, clara no pensamento e na Doutrina, sem ambiguidades, que longe de ajudarem, apenas baralham os fiéis, (os verdadeiramente fiéis), na sua acção e no seu testemunho.

Nem por um momento podemos pensar que ao cedermos em determinadas coisas nos podemos manter em “exercício”, porque se cedermos no que parece “acessório”, muito rapidamente seremos obrigados a ceder no essencial.

Porque ao não mostrarmos a nossa forte indignação pela decisão de retirar os crucifixos das escolas, (que até pode ser uma decisão que em nada afecta a vivência da fé), estamos a caminhar muito rapidamente para as decisões que proibirão as procissões nas ruas publicas, e até, porque não, a retirada dos crucifixos e símbolos religiosos das frontarias das igrejas de culto, a proibição do uso de símbolos religiosos por parte dos cristãos, quem sabe até a proibição de um Bispo poder sair à rua nas suas vestes episcopais!

Ah pois, estou a exagerar!
Pois é precisamente com essa atitude que eles contam, a atitude do “não exageremos”, a atitude do politicamente correcto, a atitude de querermos viver a fé como se de coisa mundana e só mundana se tratasse.

Não, não sou adepto de guerras religiosas, nem de confrontos físicos, (já estive numa guerra, chegou-me bem), mas sou adepto, isso sim, de um testemunho forte e coeso dos cristãos, dos católicos reunidos em Igreja e por Ela acarinhados e defendidos.

Ou talvez não, (perdoem-me a “ironia”), talvez seja melhor deixar tudo andar até à proibição total, para que depois a Igreja sofredora e perseguida se erga na força do Espírito Santo, na força dos que derramam o seu sangue pacificamente pelo Deus de amor em que acreditam.
E hoje há muitas maneiras de derramar o “sangue”, mesmo sem ser o propriamente dito!

Volto ao princípio para dizer que não me incomoda particularmente a retirada dos crucifixos das escolas, mas sim que me incomoda e muito o que está por detrás dessa exigência, que me incomoda e muito a passividade dos cristãos e católicos, (nos quais me incluo), que me incomoda e muito a falta de uma tomada de posição firme e clara, da hierarquia da Igreja, que nos ajude e conduza no testemunho de vivência da Fé em Jesus Cristo, que dá sentido à vida humana, à vida que foi criada pelo Pai, no Espírito Santo, à Sua imagem e semelhança.


Dia de São Nuno de Santa Maria
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segunda-feira, 2 de novembro de 2009

TODOS OS SANTOS OU TODOS SANTOS

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Lemos muitas vezes e detemo-nos nas vidas dos Santos.

Empolgam-nos essas vidas e sempre sentimos um sentimento de amor por eles e sobretudo pelo Nosso Deus que constrói e se faz presente nessas vidas.

Só que muitas vezes também, ligamos mais ao “acessório” que ao essencial. Quedamo-nos maravilhados com os milagres operados pela sua intercessão, (e não nos esqueçamos que os milagres são de Deus e que os Santos “apenas” intercedem), que passam a fazer parte da nossa memória, e repetimo-los vezes sem conta àqueles com quem conversamos, para tentarmos mostrar o amor e o poder de Deus vivo e presente no meio de nós e em nós.

E não tem mal nenhum fazê-lo, antes pelo contrário, são sinais da presença e do amor de Deus, mas temos de ir muito para além disso.

Com efeito, ao lermos e meditarmos na vida dos Santos, temos de ter sempre presente em nós, que o maior milagre que Deus faz, é a vida de cada um, e que as vidas dos Santos nos devem servir de testemunho, de exemplo, de guia.

Como se comportam os Santos perante as contrariedades?
Como vivem os Santos as alegrias?
Como enfrentam os Santos as tristezas?
Como aceitam e vivem os Santos o sofrimento?
Como vivem os Santos as suas vidas de oração?
Como vivem os Santos no seu dia a dia, (sobretudo estes Santos nossos contemporâneos), a sua entrega a Jesus Cristo e O reflectem para os outros?
Quais as atitudes dos Santos perante as questões da vida, na família, na sociedade e até na política?

A lista seria interminável, mas cada um de nós deve na especificidade da sua vida, de família, de trabalho, de sociedade, encontrar na vida dos Santos a resposta que deram e viveram cada situação, iluminados pela graça de Deus.

E que diferença fazem os Santos de cada um de nós?
Não nasceram como nós de um pai e de uma mãe?
Não passaram pelas mesmas fases de crescimento?
Não tiveram que aprender tudo como cada um de nós?
Foi-lhes dada por Deus alguma coisa mais que a cada um de nós não tenha sido dado?

Sabemos bem a resposta a estas perguntas e que nos leva, quer queiramos quer não, a sabermos que os Santos foram em tudo iguais a nós, mulheres e homens frágeis e pecadores como cada um de nós, mas que viveram tendo como Mestre e Senhor das suas vidas Jesus Cristo, e que em cada momento das suas vidas tudo Lhe entregaram e confiaram, desde o momento mais importante, à decisão mais simples e comezinha.

Então, se permaneciam na Videira, se eram verdadeiramente os ramos da Videira, recebiam da sua seiva e deixavam-se podar de tudo aquilo que precisava ser podado.
Nesta comunhão diária, feita de amor, de entrega e oração, é então Deus que se revela neles, que se revela nos sinais que opera através deles, pois estão-Lhe tão próximos que não os pode deixar de ouvir e atender e porque essa proximidade, essa intimidade, os leva sempre a pedir aquilo que é da vontade de Deus.

E nós não o podemos fazer? Não podemos viver assim também?
Claro que sim, que podemos, mas para isso temos de sair de nós próprios, dos nossos medos, dos nossos confortos, (sejam eles quais forem), das nossas certezas e sobretudo percebermos que cada um de nós é santo por vontade de Deus e que por isso mesmo basta aceitá-la e vivê-la, amando-O acima de todas as coisas, e ao próximo como a nós mesmos.

Em cada momento das nossas vidas “fazer” Cristo presente, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na família e no trabalho, nas decisões mais importantes e nas decisões mais simples, sermos Igreja em cada momento, porque em Igreja, Deus está sempre presente e o Seu Espírito Santo ilumina, fortifica e conduz.

Ser santo é ser filho de Deus e fazer a Sua vontade em tudo.
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segunda-feira, 26 de outubro de 2009

«Em que deis muito fruto...» Jo15,8

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Hoje nas minhas orações da manhã li um pensamento do Santo Padre Pio.

Diz ele o seguinte:
«Já viste uma grande seara em tempo de colheita? Poderás observar que certos caules são altos e exuberantes; outros, ao contrário curvam-se até tocar o chão. Se experimentares colher esses caules mais altos, mais vaidosos, verás que estão vazios, enquanto os mais baixos, mais humildes, estão carregados de grãos.»

Reparemos no fariseu que entra no templo, alto e direito no seu orgulho e vaidade de se considerar justo, tão digno que se permite olhar Deus “olhos nos olhos”, e no entanto a sua oração de nada serve, é vazia de frutos.
Mas o publicano, curvado, envergonhado, humilde, que nem sequer se considera digno de ali estar, oferece a Deus uma oração que dá frutos, não só para ele mas também para nós que agora meditamos nessa atitude.

Quantas vezes em Igreja não estamos frente a alguém que se considera muito sabedor, muito bom orador, que do alto da sua importância dirige palavras aos fiéis e que no entanto no fim nada fica, nada constrói, nada frutifica?
Mas quantas vezes também não estamos frente a alguém, que reconhecendo-se no seu nada, entrega o seu saber Ao que tudo pode, e hesitando nas palavras, não tendo um discurso “perfeito”, toca os nossos corações e semeia sementes que dão muito fruto?

Curiosamente os bens materiais não pesam nas nossas vidas, não nos curvam pelo seu peso, antes pelo contrário, (quando mal aproveitados), fazem-nos mais altos, mais direitos, mais importantes, e no entanto vazios, vazios de amor, vazios de caridade, vazios de ternura e não dão paz nem fruto, mas apenas preocupação e solidão.
“Era tão pobre, tão pobre, que só tinha dinheiro!”
No entanto, aqueles que os não têm, (ou que tendo-os, os sabem aproveitar), andam mais curvados para estarem mais atentos às necessidades dos outros, e dão-se, e têm e recebem amor, e o pouco que têm e que dão, frutifica e dá muito fruto.

Senhor,
ensina-nos a humildade de sabermos que só unidos a Ti podemos dar fruto e fruto abundante.
Ensina-nos a sermos nada, para em Ti sermos tudo.
Amen.
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segunda-feira, 19 de outubro de 2009

QUEM DIZES TU QUE EU SOU?

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«Quem dizes tu que Eu sou?»,
perguntas-me Tu Senhor,
com os Teus olhos fixos nos meus
com esse Teu jeito de amor.
Eu olho-Te então também
e receoso da resposta,
pouco forte e convicta,
respondo-Te muito baixinho:
«Tu és o Filho de Deus,
o meu Deus e meu Senhor.»
Mas Tu olhas-me outra vez,
e com redobrado amor,
perguntas-me novamente:
«Mas quem foi que to revelou?
Foi Meu Pai que está no Céu,
ou foi o teu coração,
que procura a Verdade?»
E eu pequenino respondo-Te,
a voz como num fio,
não fosses Tu ouvir-me:
«Ó Senhor,
eu sou tão fraco!
Como querias Tu meu Senhor
que eu sozinho pudesse,
saber assim toda a Verdade?
Que Tu és o Filho de Deus,
o Messias enviado,
o meu Deus e meu Senhor
que na Cruz crucificado,
se entregou por mim,
por todos nós,
só por simples e puro amor.»
Abre-se o Teu sorriso,
aliás nunca fechado,
e é um sol,
uma luz resplandecente,
que me atinge em todo o ser.
Aclara-se-me então a voz,
torna-se mais forte a fé,
perco o medo, o temor,
e grito mais alto que o mundo,
por cima da criação,
com esta voz que Tu enches:
«Jesus Cristo é o Senhor,
o Filho de Deus vivo,
nascido e feito Homem,
em tudo igual a nós,
excepto no pecado.
Que se entregou por amor,
numa Cruz crucificado,
trespassado o coração,
pela maldade dos homens.
E que tendo sido morto
por fim foi sepultado,
para ressuscitar glorioso,
vencida que foi a morte,
vencido que foi o pecado.
Mas que ficou entre nós,
na humildade do Pão,
para ser alimento e vida,
dos que buscam salvação.»
E nada nem ninguém,
mesmo culto e inteligente,
pode negar e mudar,
esta verdade tão simples,
que nos fala ao coração,
por Ele em todos criado:
«Jesus Cristo é o Senhor,
o Filho de Deus vivo,
Palavra de eternidade
que nos conduz ao amor
e encerra toda a Verdade.»

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Texto que me foi suscitado pelas inauditas e insultuosas palavras de José Saramago.
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segunda-feira, 12 de outubro de 2009

CAMINHAR EM IGREJA

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No Domingo dia 7 fui incumbido pela minha Comunidade Luz e Vida, de fazer o ensinamento da “Tarde de Louvor”, que celebramos em Albergaria dos Doze, todos os primeiros Domingos de cada mês.

Porque à última hora não foi possível a quem o ia fazer estar presente, foi-me pedido pouco tempo antes, que me preparasse para falar às irmãs e irmãos presentes, vindos de vários pontos do país.

Coloquei-me nas mãos de Deus e pedi ao Espírito Santo que me iluminasse, pois se não fosse Ele a falar em mim, de nada serviriam as palavras que eu dissesse.

Recentemente o nosso Bispo, D. António Marto, escreveu uma lindíssima e sobretudo profunda Carta Pastoral, que intitulou “Ir ao coração da Igreja”, pelo que fui levado a falar sobre a Igreja.

À medida que ia falando sobre a Igreja, sobretudo no sentido de que todos somos Igreja, e que a Igreja não dever ser entendida de forma redutora como sendo só a hierarquia, e muito menos ainda como se de uma instituição humana pura e simples se tratasse, ia vivendo no meu coração o episódio bíblico da cura do paralítico narrada em Lc 5, 17-26.

Deixei-me levar por essa imagem daqueles quatro homens que levavam o paralítico a Jesus e encontrei aí as similitudes com a Igreja.

No fundo a Igreja é, ou melhor, somos todos nós representados naqueles quatro homens e naquele paralítico, embora não se esgote nesta imagem.

Com efeito, movidos pela fé caminhamos para Jesus e com Jesus, levando connosco aqueles que mais precisam, levando connosco aqueles que precisam ter um encontro pessoal com Cristo, para que nesse encontro a sua vida seja tocada e renovada por Ele.

E nessa caminhada enfrentamos obstáculos, muitos e variados, não só para nos chegarmos a Ele, mas também para levar os outros a Ele.

Mas aqueles homens ensinam-nos, porque não desistiram mesmo perante a multidão “de dificuldades”, e abrindo caminhos novos, subindo ao alto, rompendo as barreiras, (tecto), colocaram aquele por quem pediam frente a Jesus.
E ali ficaram, pedindo com certeza, sem desfalecer, porque Lucas nos diz que Jesus «viu a fé daqueles homens», e perante essa fé, perante essa perseverança, tocou a vida daquele que eles traziam.

Quantas vezes nós pedimos e perante as dificuldades logo desistimos!? Quantas vezes os nossos pedidos, as nossas orações são apenas por nós e pelas nossas necessidades!? Quantas vezes nos entregamos à rotina e não descobrimos caminhos novos para viver a fé todos os dias!? Quantas vezes não nos pomos nós de lado, como se nada fosse connosco, como se não fossemos também nós Igreja!?

É que ser Igreja é isto também: ir ao encontro de Cristo, mas não ir sozinho.
É ir em comunidade e levar connosco aqueles que precisam, aqueles que O não conhecem e precisam de O conhecer para que as suas vidas tenham sentido como as nossas têm, de tal modo que não desistimos de acreditar que Ele tudo pode.

É levar connosco aqueles que não conseguem perdoar, aqueles que julgam não poderem ser perdoados, aqueles que estão oprimidos e injustiçados, aqueles que se sentem escorraçados, desprezados, aqueles que estão doentes e precisam de viver a esperança que dá sentido ao próprio sofrimento.

Claro que há aqueles que criticam, que tentam impedir, que dizem que Jesus Cristo não é o Filho de Deus, que dizem que não vale a pena, que afirmam que a Confissão não existe e que nos devemos confessar directamente a Deus e tantas, tantas coisas que são entraves ao caminho.

Mas a esses, unidos em Igreja, com Jesus Cristo no meio de nós, («onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, Eu estou no meio deles» Mt 18,20), nós respondemos em e com a Igreja que Deus é perdão e que não há nada que o homem faça que Deus não perdoe perante o seu arrependimento, e que Deus faz muito mais do que isso, porque o Seu perdão é sempre acompanhado da paz que leva muitas vezes à cura, para que os homens tenham «vida e a tenham em abundância.» Jo 10,10

Sim aqueles cinco homens representam muito bem a Igreja e o que Ela faz!

Umas vezes somos os quatro que intercedem, outras vezes somos o paralítico que precisa de ajuda, mas sempre, sempre a Igreja em Nome de Jesus Cristo nos administra o perdão, nos leva ao encontro de Cristo, nos leva ao encontro da vida nova que nos é dada na Mesa da Eucaristia, nos transporta á vivência do Deus vivo que se revela nos Sacramentos.

Então aí, perante a evidência da presença de Deus e das graças que derrama em nós, também nós «ficamos estupefactos e glorificamos a Deus dizendo cheios de temor: Hoje vimos maravilhas!» Lc 5,26


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Não foi só isto com certeza que disse, ou melhor que o Espírito Santo disse pela minha voz, nem a Igreja é só isto, mas estas palavras escritas já nos dão sem dúvida muito caminho para reflectir, muito coisa para corrigir, muita oração para orar, muita vida verdadeira para viver, ao encontro de Deus que é e se faz Igreja connosco.
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sexta-feira, 2 de outubro de 2009

O ORGULHO

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Pois é, Senhor, por muito que nos chames a atenção, que nós entendamos e reflictamos no que nos dizes ao coração, acabamos por cair tantas vezes nos mesmos defeitos.

O orgulho, Senhor!

O orgulho obnubila-nos o pensamento, a razão, e somos então presas fáceis do inimigo que nos quer enganar.

É que o orgulho afasta-nos de Ti, da Tua Palavra, do Teu conselho, pois leva-nos a acreditar que somos capazes sozinhos, que somos melhores do que os outros, que fomos escolhidos por nós próprios, pelas nossas capacidades, para uma determinada missão, como se aquilo que somos, ou temos, não fosse dom de Ti.

Tu, Senhor, não Te afastas de nós, (não o podes fazer porque nos amas e és sempre fiel), mas nós é que fechamos os ouvidos do coração, do pensamento, a Ti, porque eles estão cheios dos nossos ouvidos que só se ouvem a si próprios.

Tu estás ali, sempre, e vais-nos avisando com pequenos pormenores, mas nós, cheios de nós próprios, das nossas certezas, não queremos ouvir, não queremos ver, não queremos perceber, e vamo-nos afundando e mergulhando no nosso orgulho, que se vai rindo de nós e arrastando-nos para o erro e a mentira.

Mas Tu não desistes dos Teus, e vais insistindo, até que num determinado momento uma luz desponta e se faz ver por cima do orgulho, a razão prevalece, e envergonhados percebemos como o orgulho nos cegou.

E voltamos à luta, e aceitamos a lição, e conscientemente sabemos que a luta é diária e que ainda vamos cair mais vezes.

Mas a maior, a mais importante e definitiva certeza, Senhor, é que Tu nos amas com amor eterno, que o Teu perdão é infinitamente maior que o nosso pecado, e que Tu nunca, nunca nos abandonas porque és sempre fiel e não podes deixar de o ser.
«Se formos infiéis, Ele permanecerá fiel, pois não pode negar-se a si mesmo.» 2 Tm 2,13

Senhor, falo-te no plural, mas a confissão é minha!

Ajuda-me Senhor, para que o orgulho não esmoreça a Fé que me concedeste, não abafe a razão com que me criaste.
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terça-feira, 22 de setembro de 2009

OS CRISTÃOS E AS ELEIÇÕES

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Falta menos de uma semana para irmos a votos no nosso Portugal.

Escrevo então, o mais humildemente que me é possível, para os cristãos deste nosso país que porventura me leiam.

Por vezes esquecemo-nos que ser cristão representa não só a adesão a Cristo, mas também por força disso mesmo, a missão de levarmos Cristo aos outros e os outros a Cristo, de lutarmos por um mundo mais fraterno, que viva do amor e no amor que Jesus Cristo nos veio revelar e que é e tem de ser sempre a matriz do nosso viver, do nosso pensar, do nosso agir cristão.

E um dos direitos de que todos os homens são detentores, (ou deveriam ser), é o de concorrerem pelo exercício da sua liberdade, na escolha daquelas e daqueles que devem governar as nações.

Mas para nós cristãos este não é só um direito, mas também um dever, porque se o somos verdadeiramente, devemos viver neste mundo e ajudar a transformá-lo, a conformá-lo à vontade de Deus, porque acreditamos que só a vontade de Deus é o melhor para o Homem, qualquer Homem.

Esquecemo-nos muitas vezes dos pecados por omissão e omissão é com certeza não nos empenharmos na construção de um mundo mais fraterno e harmonioso, que como nós sabemos e acreditamos, tem de ser edificado segundo a Palavra de Deus, que é Deus de todos e não só de alguns.

E devemos exercer esse direito e dever livremente, sem impor nada a ninguém, mas não deixando de dar testemunho daquilo em que acreditamos, para que outros possam tomar conhecimento e acreditar no Deus que nos criou.

Poderemos pensar e até dizer que o temos feito, mas isso não é verdade, pois basta ver o resultado do referendo ao aborto para percebermos que muitos cristãos pensaram que não era nada com eles, ou então ingenuamente julgaram que Deus faria aquilo que eles não se predispuseram a fazer.

Ou então, ainda, eram cristãos só de “apelido” e não conheciam verdadeiramente a Palavra de Jesus Cristo, pelo que, em vez de se conformarem com a Palavra, quiseram conformar a Palavra com aquilo que era sua vontade, quiseram que a Palavra fosse para servir os seus interesses.

E temos muito em que pensar, ou até talvez não!

Com efeito andam para aí uns partidos que arrogando-se de defenderem os “fracos e oprimidos” pareceria que defendiam aquilo que Jesus Cristo nos veio ensinar, mas nada mais falso, porque a coberto dessa capa têm escondido o ataque mais insidioso à célula mais importante da sociedade que é a família, para além de muitas outras coisas.

E não se coíbem de citar pessoas da Igreja com um despudor inadmissível, para servir os seus propósitos, interpretando a seu belo prazer aquilo que homens da Igreja disseram.

Chegam ao cúmulo de afirmar que têm padres nas suas fileiras, padres esses que tendo-se separado da Igreja continuam no entanto a usar esse “título”, porque se assim não fizessem, ninguém os ouviria.

E quando dizemos que a Igreja deveria ser bem mais clara, aconselhando os cristãos e chamando-lhes a atenção para a falta de valores cristãos da maior parte desses programas de “governo”, ainda pretendem citar Jesus Cristo dizendo: «A César o que é de César e a Deus o que é de Deus».

Mas então interpretemos literalmente como eles pretendem a Palavra, e logo reparamos que a Deus não interessam as “moedas de César” e que são de César, a Deus interessa a vida que é de Deus e que eles desde logo negam a partir da sua concepção.

Não nos deixemos enganar, porque esta suposta defesa dos direitos do homem, não passa de uma arrogância sem limites que afinal atenta contra o próprio homem, atenta contra a dignidade do homem, atenta contra a vida do homem.

Hoje, já bastante às claras, o ataque à Igreja e aos cristãos é visível em todo o lado, mas ainda é pouco, pois a sua vontade é destruir tudo o que vem de Deus, para que alguns homens possam dominar o homem.

Então pergunto eu, seremos nós cristãos que lhes daremos o poder, para que eles nos possam destruir?

Temos dúvidas?

Não sabemos se este ou aquele partido serve aquilo em que acreditamos, se é conforme ao que de mais profundo queremos viver nas nossas vidas, se é um partido que quer servir o homem enquanto filhos de Deus?

É muito simples a solução:
A Bíblia numa mão, o Catecismo na outra, para lermos e vivermos no Espírito Santo e não no nosso fraco espírito, no coração a fé, a confiança que nos anima, juntamente com a coragem que nos vem pela graça de Deus, e vamos lá colocar a cruzinha naqueles que defendem os valores da vida e do amor, para que não venha depois uma cruz bem maior sobre os nossos ombros e sobre as nossas consciências.
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quarta-feira, 16 de setembro de 2009

OLHO PARA DENTRO DE MIM

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Olho para dentro de mim,
tomo o peso do meu coração,
meço a paz que está no meu ser,
verifico se a vida que vivo,
é vida em abundância,
e descanso no Senhor.
Se o coração está pesado,
faço um exame profundo,
pois fico preocupado.
É que o amor não pesa,
e se o peso é demasiado,
então é porque me pesa o mundo,
muito mais que o meu Senhor,
que é no tudo e no todo,
“apenas” e só amor.
É que o amor dá-nos asas,
para voarmos com os pés no chão,
mas o mundo, só pelo mundo,
prende-nos, amarra-nos,
pesa-nos no coração,
e não nos deixa voar,
ao encontro do amor.
Por isso,
meu Deus e Senhor,
entrego-me todo a Ti,
para que o mundo que vivo,
seja leve como o vento,
tão leve que a minha vida,
nas tristezas e alegrias,
seja vida em abundância,
vivida no Teu amor.

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sábado, 5 de setembro de 2009

EFFATHÁ!

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Effathá!
Dizes-nos Tu Senhor,
permanentemente,
e nós continuamos calados,
sem falarmos do Teu amor a toda a gente.
Effathá!
Dizes-nos Tu Senhor,
permanentemente,
e nós continuamos surdos,
sem queremos ouvir a Tua voz.
Effathá!
Dizes-nos Tu Senhor,
permanentemente,
e nós continuamos de coração fechado,
sem deixarmos que habites em nós.
Effathá!
Dizes-nos Tu Senhor,
permanentemente,
e nós continuamos de mente fechada,
tentando controlar a fé,
com a razão.
Effathá!
Dizes-nos Tu Senhor,
permanentemente,
e nós continuamos ausentes,
longe da Tua Palavra,
longe da oração.
Effathá!
Dizes-nos Tu Senhor,
permanentemente,
e nós continuamos de braços fechados,
sem acolher o nosso irmão.
Mas Tu Senhor não desistas,
de abrir as nossas bocas,
de abrir os nossos ouvidos,
de abrir os nossos corações,
de abrir as nossas mentes,
de abrir os nossos braços.
Que em cada hora e minuto,
Do tempo que a Tua vida nos dá,
nós possamos sempre ouvir,
a voz do teu amor,
que nos diz permanentemente,
Effathá!
Effathá!
Effathá!

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terça-feira, 1 de setembro de 2009

CAMINHO DE CONVERSÃO 17

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Terça feira, 30 de Dezembro de 2003

Obrigado Senhor por mais este dia e por tudo quanto nele me deste.

Obrigado Senhor por todos estes dias, por todo este ano que agora finda.
Obrigado Senhor por tudo quanto neste ano me deste: as alegrias e as tristezas que permitiste em mim, tudo o que correu bem e tudo quanto foram provações, contrariedades, adversidades, dores e sofrimentos.
Obrigado Senhor!

Obrigado Senhor porque me quiseste ensinar aquilo que verdadeiramente sou: nada, sem Ti, não sou nada!

Permitiste que eu ficasse sem tantas coisas de que eu tanto gostava, para me dizeres que só Tu me bastas.

Permitiste que fosse humilhado, sobretudo perante aqueles de quem eu pensava ser superior, para me mostrares que todos somos iguais e que eu sou tão fraco e pobre como os mais fracos e pobres, pois só em Ti posso encontrar força e riqueza.

Permitiste que me angustiasse, que quase me revoltasse, para me dizeres que só em Ti devo depositar a minha confiança, a minha esperança.

Permitiste que tivesse de depender de outros, para me mostrares que sozinho nada sou, e que aquilo que são certezas do mundo, são coisas frágeis e perecíveis, pois só as coisas do Céu são eternas.

Permitiste que tivesse de sair da minha casa, da minha terra, para me mostrares que aquilo que eu achava meu por direito próprio, nada mais era que graça da Tua bondade, pois tudo Te pertence e só por graça o colocas nas nossas mãos.

Permitiste momentos de aridez, de secura, e permitiste momentos de oração íntima, de paz interior, de elevação da alma.

Permitiste as minhas fraquezas, mas deste-me sempre forças para as superar.

Permitiste dores e sofrimentos, mas deste-me sempre meios para os enfrentar.

Permitiste que por vezes me afastasse de Ti, mas correste sempre ao meu encontro e abriste-me sempre os Teus braços.

Permitiste o orgulho e a vaidade em mim, mas mostraste-me sempre o caminho da humildade.

Obrigado Senhor pelo Teu amor, pelo Teu carinho, pela Tua ternura, pela Tua paz, pelo Teu perdão, pela Tua misericórdia, pela Tua piedade, pela Tua compaixão, pela Tua fidelidade, pelos Teus braços abertos para mim.

Obrigado pela fé, pela perseverança, pela fortaleza. Pela oração, pelo louvor, pela adoração, pela Palavra, pela exortação, pela Comunhão, pela Confissão, pela libertação.

Obrigado Senhor, porque apesar de fraco, pobre e por vezes desiludido e angustiado, nunca deixaste de querer confiar em mim.

Obrigado Senhor, porque apesar de nada valer, quiseste precisar de mim, quiseste servir-te de mim.

Obrigado Senhor, porque apesar de casmurro e teimoso, quiseste fazer de mim um homem mais cordato e conciliador.

Obrigado Senhor, porque apesar de eu nada Te ter dado, Tu a mim me deste tudo.

Obrigado Senhor, porque apesar do meu coração duro, fizeste mais forte em mim o amor por Tua Mãe.

Obrigado Senhor, porque eu sou Teu, porque eu Te pertenço, porque tudo o que tenho e sou, é Teu para sempre.

Ajuda-me e ensina-me Senhor, a viver sempre e cada vez mais para Ti, por Ti e em Ti.

Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo.

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quarta-feira, 26 de agosto de 2009

CAMINHO DE CONVERSÃO 16

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Sábado, 20 de Dezembro de 2003

Obrigado Senhor por este dia e por tudo quanto nele me deste.
Cada vez mais Senhor, percebo que sozinho nada sou, que só contigo posso esperar ser alguma coisa útil aos outros e a mim próprio.

Aproxima-se o Natal e parece que cada vez tenho menos tempo para falar contigo, escrevendo estas coisas que me vêm ao coração.

Queria um Natal diferente, um Natal Teu, verdadeiramente Teu.

Queria pertencer ao teu Presépio, estar com os pastores em adoração, estar assim nu de todo o mundo, nu de todas as coisas que me preocupam, vazio de todos os orgulhos, vaidades, ciúmes, liberto dos maus pensamentos.
Queria Senhor estar limpo, nu de tudo, para Te receber no meu coração, para Te receber na minha vida.

Receber-Te a Ti, Menino Jesus, fazendo-me menino também, puro e simples, num amor sem acessórios, numa entrega sem reticências.

Queria Jesus, que nascesses no meu coração, verdadeiramente fizesses morada no meu coração, na minha vida, e que me ajudasses e ensinasses a receber-Te, a viver-Te, a comungar-Te, a seguir-Te, a agradar-Te, a servir-Te, a sofrer contigo, a encontrar em Ti toda a razão da minha existência, fazendo do Teu anúncio a primeira razão do meu viver.

Queria estar ali, naquele momento, como o mais humilde pastor, prostrado, sem ousar levantar os olhos para Ti, mas sentindo a Tua presença no mundo, na minha vida, e nunca, nunca mais me apartar de Ti.

Queria olhar para Ti Jesus, para Tua Mãe e para José e cantar de alegria:
«Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens por Ele amados».

Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo.
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terça-feira, 18 de agosto de 2009

CAMINHO DE CONVERSÃO 15

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Quarta feira, 17 de Dezembro de 2003

Obrigado Senhor por este dia, por todas as graças que me deste, pela oração da noite e pelo amor e paz que me fizeste sentir.

Perdoa-me Senhor, porque mais uma vez me deixei levar pela inveja e pelo ciúme.
Deixei que o meu coração, a minha mente se perturbasse e fizesse criticas e julgamentos aos meus irmãos em Ti, Senhor.
Eu não quero ser assim, Senhor, mas tantas vezes não consigo!
Ajuda-me Senhor, porque só Tu podes vencer em mim estes terríveis defeitos, que me envenenam o coração, que me envenenam a mente, que me envenenam a vida.

Senhor, quero ser humilde, tudo suportar e tudo calar, deixar que sejas Tu, pela voz dos outros a solicitar-me para o que de mim precisares e não deixar que o meu coração se inquiete por ver outros fazerem coisas que eu gostaria de fazer, de julgar que dão mais atenção a outros do que a mim, ou de fazer juízos em que me julgo superior aos outros.
Quero calar-me e tudo aceitar, se for essa a Tua vontade.

Assim, Senhor, a partir de hoje, ajuda-me a não deixar que o meu coração se perturbe e que eu não queira fazer mais do que aquilo que me pedes pela voz de outros, a não me sentir ofendido nem diminuído se não for chamado para nada.
Que eu possa sentir no meu coração que és Tu, Senhor, que permites que assim seja para que eu aprenda a humildade e o serviço a Deus e nos/aos outros.

Ajuda-me Mãe, modelo de humildade e serviço, a viver para o Teu Filho, conforme a vontade do Pai, guiado pelo Espírito Santo.
Dá-me a mão Mãe e guia-me a vida.

Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo.
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quarta-feira, 12 de agosto de 2009

CAMINHO DE CONVERSÃO 14

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Quarta feira, 26 de Novembro de 2003

Obrigado Senhor por este dia e os dois dias anteriores. Obrigado Senhor pelas horas difíceis de Segunda feira e porque estiveste comigo e me deste força.
Obrigado Senhor, por continuares a derramar o dom da fé na minha vida.

Que seria de mim sem Ti, Senhor? Como poderia eu passar horas tão amargas, tão difíceis, se Tu, Senhor, não estivesses comigo?
Obrigado Senhor pelo Teu amor.

Reconheço que sem Ti nada sou, e que todo o orgulho e vaidade do ter, querer e poder, para nada servem quando as provações, as contrariedades, as adversidades nos batem à porta.
Só contigo, Senhor, se podem atravessar “vales tenebrosos”, pois só em Ti podemos confiar e esperar.

Pobre e fraco que sou, demoro muito tempo a aprender que só em Ti devo esperar e confiar, mas peço-Te Senhor, não desistas de mim, não desistas de mudar o meu coração, a minha cabeça, porque eu quero ser Teu, Senhor.

Abandono-me aTi e com medo, mas confiante, peço-Te Senhor, a Ti que me conheces, se o meu coração ainda não percebeu, se a minha vida ainda não mudou, continua Senhor a provar-me até que tudo em mim clame por Ti, até que tudo em mim Te pertença e eu esteja todo entregue a Ti.

Mãe, minha querida Mãe, ajuda-me, ensina-me a dizer sim, como tu disseste sim, porque acreditaste que do Pai só vem o melhor para nós.
Mãe, minha Mãe do Céu, ensina-me a humildade e o silêncio que levam à santidade.

Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo.
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quinta-feira, 6 de agosto de 2009

CAMINHO DE CONVERSÃO 13

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Terça feira, 4 de Novembro de 2003


Obrigado Senhor por mais este dia e por todas as graças que durante ele derramaste em mim.
Não sei Senhor quais foram, provavelmente nem as senti, mas creio Senhor que nunca abandonas os Teus e por isso estás sempre a derramar o Teu amor em cada um de nós.
Concedeste-me, com certeza, a grande graça de afastares de mim o mal e me dares forças para resistir a muitas tentações.
Glória a Ti, Senhor.

«Sede alegres na esperança, pacientes na tribulação, perseverantes na oração» Rm 12,12
Obrigado Senhor por esta Palavra, por este conselho, por esta advertência.
Tantas vezes que me deixo levar pela “desesperança” e tantas vezes, mesmo esperando, me deixo arrastar pela tristeza, como se realmente nada esperasse.
Senhor eu creio em Ti, creio que estás sempre comigo e creio que só fazes ou permites o que é melhor para mim, por isso tenho de esperar em Ti, e esperar alegremente. Dá-me Senhor da Tua alegria.

Tantas vezes que reclamo das tribulações, das adversidades, das provações, e afinal, Senhor, também são caminhos para encontrar a humildade, para encontrar-Te e perceber que sem Ti nada posso.
Dá-me Senhor, o dom da paciência, para que possa viver as tribulações pacientemente esperando em Ti.

Tantas vezes oro, e me canso de orar, como se houvesse um espaço de tempo para me responderes e que no fim desse tempo eu já nada deveria esperar.
Às vezes é tão difícil, Senhor, perseverar.
Estou a orar correctamente? Estou a fazer o que Deus quer?
Se essas perguntas se me põe é porque estou a pensar em mim e não me estou a abandonar a Ti, para que seja o Teu Espírito Santo a orar em mim.
Dá-me o dom da perseverança, para que a minha vida seja oração, que me leve à paciência na tribulação e à alegria na esperança.

Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo.
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