quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

O DEMÓNIO E AS TENTAÇÕES (3)

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É curioso percebermos que o Demónio é sempre retratado como uma figura horrenda, que só de olhar mete medo.

Se tal figura nos aparecesse pela frente, com certeza que a nossa imediata reacção seria fugir, nem sequer olhar, nem ouvir, e só faríamos o que o Demónio quisesse, por medo, por um profundo e terrível medo.
E, claro, na primeira oportunidade tentaríamos fugir dele, e procurar refúgio junto que quem nos pudesse defender de tal criatura horrenda.

E o retrato deste Demónio é o erro em que muitas vezes caímos, por pensarmos que ele assim nos aparece, ou que é assim que ele nos tenta.
A verdade é que se ele assim se apresentasse, poucos de nós nos deixaríamos tentar, e sem dúvida nenhuma procuraríamos Deus, com uma ânsia imensa de nos libertarmos de tal visão e presença assustadora.

Claro que se procurássemos Deus apenas por medo ao Demónio, assim que nos víssemos livres dele, (julgaríamos nós), logo a relação com Deus acabaria, porque acabava o motivo, a razão para tal relação.

Nada mais errado do que imaginarmos o Demónio como essa figura horrenda, assustadora, da qual apenas queremos fugir.

O Demónio apresenta-se-nos sempre cheio de uma beleza sedutora, na figura de um pretenso bem, na representação de uma pretensa consciência individual correcta e pura.

O Demónio não nos contradiz, não “luta” contra nós, pelo contrário, toma aquilo em que acreditamos, (às vezes de forma tão superficial), e tenta-nos a fazer o que ele quer, convencidos, (porque não reflectimos verdadeiramente), de que estamos a fazer o bem.
E por vezes caímos nesse erro tempos infindos, até nos apercebermos, ou melhor, sermos levados, (pelo amor de Deus), a perceber o erro em que nos deixámos viver.

Tantas vezes que procuramos em nós aquilo que consideramos os “grandes pecados” e não os reconhecendo nas nossas vidas, nos convencemos que o caminho é seguro, e que a conversão é real e está “concluída”.

Mas se reflectirmos sobre o que acima se escreve, percebemos que o Demónio não age, (de um modo geral), sobre aquilo que é fácil para nós detectarmos como pecado, como erro, como fraqueza.
Assim seria muito “fácil” para nós resistirmos às tentações.

Não, o “trabalho” do Demónio é um “trabalho” discreto e continuado, servindo-se das coisas mais simples, para depois do hábito criado, partir para as coisas maiores.

Uma mentira pequena não é pecado, ouvimos nós tantas vezes dizer.
Claro que não é um pecado grave, (depende da mentira, claro, e do mal que ela possa causar noutros ou em nós próprios), mas não deixa de ser mentira e portanto uma coisa má, de que nós com certeza não nos orgulhamos.
Nenhum mentiroso começa uma vida de mentira, por grandes mentiras, mas sim por coisas tão pequenas, que parecem não ter importância, mas depois se vão tornando hábito e, claro, para cobrir uma mentira é sempre preciso continuar a mentir.
Rapidamente quem assim vive, torna-se dependente da mentira, e, como tal, vive sempre na insegurança, no medo de ser “apanhado” e envergonhado, portanto muito longe de uma vida serena, tranquila, de uma vida em liberdade, que o Senhor na Verdade quer dar a cada um.

Podemos transportar este exemplo para as nossas vidas e tentarmos perceber em que é que nos deixamos tentar e cedemos com facilidade, tentando convencer-nos de que não estamos a errar, mas em que afinal estamos verdadeiramente presos, porque se tornou num vício para nós.

Outro modo de o Demónio nos tentar, é fazer-nos desviar do centro das nossas vidas, que é Deus sem dúvida, para, enganando-nos com um pretenso bem, fazer-nos colocar o nosso acreditar, a nossa esperança, a nossa confiança, naquilo que sendo de Deus, não é o próprio Deus.
Reparemos como tantos de nós usamos expressões tais como: eu tenho muita fé em Santo António, em Santa Rita, neste ou naquele Santo, nesta ou naquela oração ou novena, etc., etc.
Então deixamo-nos levar por “orações infalíveis”, “novenas cem por cento seguras”, e normas e conceitos que nada têm a ver com Deus, ou melhor, que nos retiram o pensamento, a confiança, a esperança no amor misericordioso de Deus, para os colocarmos nessas “orações” e “rituais”.
Assim somos nós que queremos “controlar” aquilo que Deus nos pode dar e nós queremos obter, como por exemplo, a “obrigatoriedade” de Deus nos conceder o que pedimos, se rezarmos uma qualquer oração trinta vezes, se fizermos vinte e cinco fotocópias duma pagela, ou se não quebrarmos uma qualquer “corrente de oração”, e reenviarmos determinada mensagem.
Claro que podemos e devemos orar, fazer novenas, e pedir a intercessão dos Santos, mas a nossa fé, a nossa confiança, a nossa esperança é sempre no Deus que nos criou e ama, porque se assim não for, se assim não vivermos, estamos desde logo a falhar no primeiro e mais importante Mandamento:
«Amarás ao Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com toda a tua mente.» Mt 22, 37

E se a nossa fé, a nossa confiança, a nossa esperança não estão em Deus, nunca compreenderemos que aquilo que pedimos não nos seja concedido, porque não conseguimos perceber que a vontade de Deus é sempre o melhor para nós, e assim, afastamo-nos “zangados”, rompendo com a aliança de amor que Deus fez connosco, e cedendo, sem dúvida, à tentação da qual nem sequer nos apercebemos.
E essa tentação leva-nos a procurar em “espiritualidades”, práticas e lugares errados, aquilo que pensamos não ter obtido de Deus, deixando-nos envolver em coisas que nos tiram a liberdade e nos amarram a situações que nos destroem.

Mas também o Demónio se serve da nossa consciência, tentando manipulá-la para seu “proveito”, que é sempre afastar o homem de Deus.
Deus criou-nos livres e deu-nos uma consciência livre, de tal modo que está na nossa vontade aceitar o amor de Deus e retribuí-lo, ou rejeitá-lo e negá-lo.
Mas Jesus Cristo também nos deixou a Igreja e nela e com ela, a Sua Palavra, a Doutrina, a Tradição que devem sempre nortear a nossa vida e serem o guia seguro do Caminho que o Senhor mesmo nos preparou e deu a conhecer.
E aí, na nossa consciência, o Demónio “valoriza” a nossa liberdade como estando acima do próprio Deus.
Claro que não o faz claramente, mas levando-nos a pensar que mais importante do que tudo, é a nossa consciência, e que mesmo que ela não esteja de acordo com o que nos ensina a Igreja, sendo “livre” e “correcta” para nós, é sempre correcta e agrada a Deus.
Assim o “verdadeiro juiz” das nossas acções passamos a ser nós mesmos, o que acaba por nos constituir como deuses de nós próprios, e nós sabemos bem que juiz em causa própria é sempre “justiça” errada.
Assim o Sacramento da Confissão deixa de “fazer sentido”, e lá estaremos nós a dizer ao mundo que apenas nos confessamos a Deus.
Claro que somos livres por vontade de Deus, claro que a nossa consciência é livre por vontade de Deus, mas a nossa vida e a nossa consciência só são verdadeiramente livres quando são iluminadas pela Verdade, quando vivem no amor com e a Deus, e aos outros, porque é em Deus que está a Verdade, porque Deus é a Verdade, e só a Verdade nos libertará.
«Se permanecerdes fiéis à minha mensagem, sereis verdadeiramente meus discípulos, conhecereis a verdade e a verdade vos tornará livres.» Jo 8, 31-32

Quase que poderíamos dizer que assim é impossível resistir ao Demónio e às suas tentações! Claro que não!

Porque se a nossa vida, a nossa consciência, estiverem em comunhão permanente com Deus, é por Ele, pelo Espírito Santo, que são iluminadas, e em todo o tempo Ele nos mostrará a insidia do Demónio, e nos dará forças para vencermos as tentações.
E mesmo que caiamos, uma e outra vez, sabemos, porque acreditamos, que a misericórdia de Deus é infinitamente maior do que o nosso pecado, e procurando o Sacramento da Confissão, reconciliamo-nos, por Sua graça, com Deus e com os irmãos.

Não é em vão que Jesus Cristo nos diz repetidamente para não nos deixarmos adormecer (Lc 22,46), para não sermos cristãos “mornos” (Ap 3,16), mas sim para vigiarmos e orarmos constantemente (Lc 21,36), porque é Ele mesmo que nos promete o envio do Espírito Santo, que recebemos no Baptismo, porque é Ele mesmo, o Espírito Santo, que nos iluminará, nos guiará, e até por nós falará (Mt 10,20), se a Ele nos entregarmos confiadamente.

«mas o Paráclito, o Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, esse é que vos ensinará tudo, e há-de recordar-vos tudo o que Eu vos disse.» Jo 14, 26



Monte Real, 26 de Janeiro de 2011
(continua)
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quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

O DEMÓNIO E AS TENTAÇÕES (2)

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Não pretendo, obviamente, com estes textos, fazer nenhum “tratado” sobre o Demónio, ou “estudo” sobre a Demonologia, (pois para isso há diversos livros que poderei indicar), mas tão só reflectir e partilhar, (em pensamentos e palavras simples), sobre aquilo que no dia-a-dia nos é dado a conhecer e viver sobre este assunto.

Partindo do texto anterior é-nos dado perceber que hoje em dia, muitas pessoas atribuem ao Demónio, acontecimentos, acções e atitudes, que depois de bem analisadas, percebemos que são afinal “coisas” do dia-a-dia, do viver de cada um.

A procura de justificações para coisas que não parecem à partida “normais”, o sentido da procura do sobrenatural que hoje em dia tantos vivem, (tantas vezes de maneira errada), os discursos “inflamados” de alguns para tentarem levar as pessoas a Cristo por medo ao demónio, leva a que muitas pessoas não analisem com bom senso os factos de que são “vítimas”, (e de que não poucas vezes são os próprios “culpados”), a atribuírem ao Demónio coisas que, como dizia acima, são factos do dia-a-dia.

Contribui, aliás, certamente para tudo isto, a invasão diária pela televisão e outros meios, de cartomantes, videntes, médiuns, e tantas coisas mais, que nos levam a olhar para o sobrenatural como algo que nos mete medo, e que influencia as nossas vidas sem nos podermos defender.

A título de exemplo conto, que há poucos anos, veio uma pessoa ter comigo pedindo conselho e oração, pois tinha a certeza que o Demónio estava a influenciar a sua vida, (tal como pessoas “amigas” lhe diziam e afirmavam), e ela já não colocava em dúvida, estando assustada e em certo sentido “desesperada” sem saber o que fazer.

Resumindo a conversa, forçosamente longa, os factos mais importantes desenvolviam-se numa semana e eram os seguintes: tinham assaltado a sua casa, a sua filha tinha abortado naturalmente e o seu neto tinha tido um acidente de automóvel.

Conversámos sobre a vida que essa pessoa levava, sobretudo da sua vivência cristã, e depois analisámos calmamente os factos que a levavam a pensar que o Demónio andava a “atormentar” a sua vida.

A casa tinha sido assaltada, quando essa pessoa se deslocou ao supermercado por 10 minutos e deixou as janelas abertas. Só que demorou mais de uma hora e quando regressou a casa tinha sido roubada.
A filha tinha abortado naturalmente, mas já era a terceira vez, (tendo apesar de tudo já um filho, salvo o erro), e já tinha sido alertada pelo seu médico, pois tinha alguns problemas físicos que podiam provocar precisamente o aborto natural.
O neto tinha 18 anos, carta de condução recente, e o acidente tinha acontecido numa madrugada de sábado.

Obviamente que a pessoa, colocada perante os argumentos, percebeu que tudo o que tinha acontecido era “normal” na vida do dia-a-dia, e que não era o Demónio que se andava a encarniçar contra ela.

Mas a verdade é que, (por força do que lhe tinham dito e da sua própria “convicção” induzida pelo que ouvia), essa pessoa tinha vivido dias verdadeiramente assustada com a possibilidade de o Demónio estar na sua vida.

Com isto quero eu dizer que o Demónio não pode actuar e influenciar a vida das pessoas?
De modo nenhum o quero dizer, ou afirmar, mas sim que devemos ter sempre a perspectiva correcta daquilo que realmente se passa, e sobretudo não nos deixarmos influenciar por quem em tudo vê o Demónio.

Fomos criados por Deus em liberdade, e é em liberdade, perante Deus, que tomamos as nossas decisões, e que fazemos as nossas acções.

Podemos ser tentados a fazer o mal?
Sim, com certeza!
Mas só o fazemos, se verdadeiramente nos dispusermos a fazê-lo.

Eu posso ser tentado a beber demasiadamente e ficar bêbado, mas não é o Demónio que me senta ao volante do meu carro.
Eu posso ser tentado a cometer um aborto, mas não é o Demónio que toma a decisão e me leva a essa acção.
Eu posso ser tentado a mentir, mas não é o Demónio que fala pela minha boca.

Com certeza que aqui não estamos a falar de possessões demoníacas, (muito raras entre nós), mas sim na acção tentadora do Demónio que apenas se torna efectiva pela nossa vontade, pelo nosso querer.

Lembremo-nos sempre:
«Não vos surpreendeu nenhuma tentação que tivesse ultrapassado a medida humana. Deus é fiel e não permitirá que sejais tentados acima das vossas forças, mas, com a tentação, vos dará os meios de sair dela e a força para a suportar.» 1 Cor 10, 13

Por isso a vigilância constante, permanente, que passa pela vida de oração, pela leitura orante e o estudo da Palavra de Deus, pelos Sacramentos, mormente a Confissão e a Eucaristia, (com a Comunhão Eucarística), com o aprofundar da fé, ouvindo a Igreja que ensina pela voz dos seus membros, pelos documentos colocados à disposição dos fiéis, pela voz do Santo Padre, lendo livros reconhecidamente católicos e pedindo conselho a quem efectivamente os pode dar, como os sacerdotes e leigos empenhados e reconhecidos como tal.

«No entanto, o poder de Satanás não é infinito. Satanás é uma simples criatura, poderosa pelo facto de ser puro espírito, mas, de qualquer modo, criatura: impotente para impedir a edificação do Reino de Deus.» Catecismo da Igreja Católica 395


Monte Real, 20 de Janeiro de 2011
(continua)
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quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

O DEMÓNIO E AS TENTAÇÕES (1)

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Muito se fala do demónio nestes tempos actuais.

Uns, tentando afirmar a sua não existência, convencidos que, por muito o afirmarem, ele deixa de existir.
Nunca uma mentira, por muito sustentada que seja, se torna verdade, e afirmar que o demónio não existe, é mentir.

Outros afirmando a sua existência, mas de tal modo, que mais parece ser o demónio quem dirige ou permanentemente interfere nas nossas vidas, e em tudo o que acontece no dia-a-dia.

Realmente o demónio existe, como nos diz o Catecismo da Igreja Católica, e assim sendo é para nós cristãos católicos, Doutrina em que devemos acreditar

II. A queda dos anjos

391. Por detrás da opção de desobediência dos nossos primeiros pais, há uma voz sedutora, oposta a Deus (266), a qual, por inveja, os faz cair na morte (267). A Escritura e a Tradição da Igreja vêem neste ser um anjo decaído, chamado Satanás ou Diabo (268). Segundo o ensinamento da Igreja, ele foi primeiro um anjo bom, criado por Deus. «Diabolus enim et alii daemones a Deo quidem natura creati sunt boni, sed ipsi per se facti sunt mali – De facto, o Diabo e os outros demónios foram por Deus criados naturalmente bons; mas eles, por si, é que se fizeram maus» (269).

392. A Escritura fala dum pecado destes anjos (270). A queda consiste na livre opção destes espíritos criados, que radical e irrevogavelmente recusaram Deus e o seu Reino. Encontramos um reflexo desta rebelião nas palavras do tentador aos nossos primeiros pais: «Sereis como Deus» (Gn 3, 5). O Diabo é «pecador desde o princípio» (1 Jo 3, 8), «pai da mentira» (Jo 8, 44).

393. É o carácter irrevogável da sua opção, e não uma falha da infinita misericórdia de Deus, que faz com que o pecado dos anjos não possa ser perdoado. «Não há arrependimento para eles depois da queda, tal como não há arrependimento para os homens depois da morte» (271).

414. Satanás ou Diabo e os outros demónios são anjos decaídos por terem livremente recusado servir a Deus e ao seu desígnio. A sua opção contra Deus é definitiva. E eles tentam associar o homem à sua revolta contra Deus.

Mas o que me leva hoje a escrever sobre o demónio, não é afirmar a sua existência, que acima é confirmada pelo Catecismo, e portanto, para nós cristãos católicos é uma realidade, mas sim o modo como, por alguns, é afirmada esta existência e a sua influência na vida do mundo e de cada um.

É que muitas vezes tenta incutir-se um medo irracional ao demónio, atribuindo-lhe tudo o que de mal acontece, como se da nossa parte não houvesse qualquer responsabilidade no mal que por vezes fazemos ou sofremos.

Em primeiro lugar, a meu ver, este é um caminho errado para tentar levar alguém ao amor, (Deus), por medo do ódio, (demónio).

É que ouve-se e assiste-se não poucas vezes a discursos inflamados, tentando levar as pessoas a Deus, apenas ou tendo como razão, a “fuga” ao demónio, à protecção da influência do demónio.

Ora ninguém ama porque tem medo!
A comunhão com Deus é sempre uma comunhão de amor, e não uma relação de interesse próprio num só sentido.
Não se ama a Deus, porque se tem medo do demónio, mas quando muito, por medo ao demónio, “rezam-se” orações intermináveis e repetitivas, caindo em superstições, para pedir a Deus que nos proteja do maligno.
Mas assim não há uma relação de amor com Deus, mas apenas uma relação de interesse da nossa parte, para que Aquele que consideramos mais poderoso, nos proteja daquele de quem temos medo.
É pouco, muito pouco, para uma relação do amado, (o homem), com o amor, (Deus), pois o amor alimenta-se e vive do amor, e não do medo.

Nenhum pai, nenhuma mãe, incute medo ao seu filho para que ele os ame!
Quando muito esse filho, assim, poderá afirmar pela boca um amor, que afinal é só medo também.

O amor de Deus pelo homem  não se consubstancia de modo algum apenas na vontade de Deus proteger o homem dos ataques do maligno, mas sim na vontade de Deus, expressa no Seu infinito amor pelo homem, amor que tudo perdoa, para que, pela graça da salvação, o homem possa gozar da felicidade eterna na e da presença do Criador.

Porque a resposta pelo homem ao amor de Deus, tem de ser sempre o amor do homem a Deus, e só nesta comunhão de amor o homem está protegido do mal, pelo amor de Deus, não só dando-lhe forças para vencer as tentações, mas também e sobretudo pelo infinito perdão de Deus ao homem, sempre que este se deixa cair em tentação.

Não dão um pai e uma mãe as suas vidas por um filho em perigo?

Então que medo podemos nós ter, se o nosso Deus de amor já deu a vida por nós?

Ao dar a Sua vida por nós e ao ressuscitar, Jesus Cristo, Nosso Deus e Senhor, venceu o mal, venceu a morte, e por isso mesmo, quem permanece em Cristo, Cristo permanece nele, e se Cristo permanece nele, quem pode alguma coisa contra ele, em quem Cristo permanece.

Conforme afirma São Paulo:

«Que mais havemos de dizer? Se Deus está por nós, quem pode estar contra nós? Ele, que nem sequer poupou o seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós, como não havia de nos oferecer tudo juntamente com Ele?
Quem poderá separar-nos do amor de Cristo?
A tribulação, a angústia,
a perseguição,
a fome, a nudez,
o perigo, a espada?
De acordo com o que está escrito:
Por causa de ti, estamos expostos à morte o dia inteiro,
fomos tratados como ovelhas destinadas ao matadouro.
Mas em tudo isso saímos mais do que vencedores,
graças àquele que nos amou.
Estou convencido de que nem a morte nem a vida,
nem os anjos nem os principados,
nem o presente nem o futuro,
nem as potestades,
nem a altura, nem o abismo,
nem qualquer outra criatura
poderá separar-nos do amor de Deus
que está em Cristo Jesus, Senhor nosso.» Rm 8, 31-39

Outra coisa que se revela de importância decisiva, é a nossa constante, permanente, vigilância sobre as nossas fraquezas, para que não caiamos em tentação e para que caindo, não cortemos da nossa parte a aliança com Deus, pois da parte d’Ele, a aliança permanece intacta, porque Ele é sempre fiel, mesmo quando somos infiéis.

«Se formos infiéis, Ele permanecerá fiel, pois não pode negar-se a si mesmo.» 2 Tm 2,13

Monte Real, 13 de Janeiro de 2011

(continua)
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sábado, 8 de janeiro de 2011

SALMO DE UM CEGO

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Senhor,
prostrado por terra,
ergo as minhas mãos para o Céu.

De onde me vem o auxílio?
De onde me vem a paz,
a serenidade, e a vida?

Apenas de Ti,
Senhor.

Cego pela luz do mundo,
avanço aos tropeções,
quero ver,
mas não vejo,
porque não acredito verdadeiramente.

Só Tu,
Senhor,
és a luz que rompe as trevas,
da minha cegueira.

Abre,
Senhor,
os olhos do meu coração,
para que,
acreditando no amor,
Te possa eu ver,
Senhor.



Monte Real, 7 de Janeiro de 2011
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quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

O CORAÇÃO ENDURECIDO

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Jesus obrigou logo os seus discípulos a subirem para o barco e a irem à frente, para o outro lado, rumo a Betsaida, enquanto Ele próprio despedia a multidão. Depois de os ter despedido, foi orar para o monte. Era já noite, o barco estava no meio do mar e Ele sozinho em terra. Vendo-os cansados de remar, porque o vento lhes era contrário, foi ter com eles de madrugada, andando sobre o mar; e fez menção de passar adiante. Mas, vendo-o andar sobre o mar, julgaram que fosse um fantasma e começaram a gritar, pois todos o viram e se assustaram. Mas Ele logo lhes falou: «Tranquilizai-vos, sou Eu: não temais!» A seguir, subiu para o barco, para junto deles, e o vento amainou. E sentiram um enorme espanto, pois ainda não tinham entendido o que se dera com os pães: tinham o coração endurecido. Mc 6, 45-52

Diz-nos o Evangelho de hoje que eles ainda não tinham entendido o milagre da multiplicação dos pães, pois tinham o coração endurecido.

E nós, cristãos católicos deste tempo, entendemos nós o Alimento Divino que todos os dias nos é dado e nunca acaba?

Entendemos nós já, nos nossos corações, nas nossas vidas, o Jesus Eucarístico que todos os dias se dá aos homens para a sua salvação?

Parece-me bem que continuamos com o coração endurecido, talvez até mais do que tinham aqueles discípulos, pois eles ainda se espantaram com o poder do Senhor, que sobre as águas vencendo o vento contrário, vinha ao seu encontro.

Nós, neste tempo, parece que com nada do Senhor nos espantamos, e caímos na rotina de uma prática religiosa, afastada do amor, (a Deus e aos outros), arredada do testemunho diário em todos os momentos do dia-a-dia, iludidos pela convicção das nossas próprias capacidades e deixando-nos levar pelo “canto das sereias”, daqueles que pretendem fazer de Deus, da religião e da Igreja, uma “coisa” apenas pessoal, reservada, e que cada um pode interpretar e seguir como melhor entender, indo buscar o que lhe interessa, e repudiando o que lhe custa viver.

E, no entanto, o Senhor é o mesmo, e continua a caminhar sobre as águas das nossas dificuldades, contra o vento das nossas adversidades, e continua a dizer-nos todos os dias:
«Tranquilizai-vos, sou Eu: não temais!»

Mas nós temos receio, somos fracos, deixamo-nos levar pela corrente daqueles que não têm convicções e que fazem da Fé uma “fezada”, ou que nos rotulam como “indigentes mentais”, “manipulados” pela Igreja.

Vamos á Missa, em vez de participarmos, de celebrarmos a Missa.
Batemos com a mão no peito e pedimos perdão pelas nossas faltas e depois no dia-a-dia apoiamos aqueles que legislam o pecado e a ignomínia.

Deixamo-nos convencer de que a religião deve apenas ocupar o espaço reservado da nossa relação com Deus e não se deve reflectir na nossa conduta em sociedade.

Porquê?
Porque temos medo, porque temos vergonha, porque temos respeito humano, porque não somos capazes de enfrentar as nossas fraquezas e julgamos que obedecendo a leis civis iníquas, nenhuma falta nos pode ser assacada!

Mas qual é a nossa primeira condição:
Somos primeiro filhos de Deus, ou cidadãos do Estado?

É que se somos bons filhos de Deus, seremos sempre bons cidadãos do Estado, mas nem sempre os que são “bons” cidadãos do Estado, são bons filhos de Deus.

O Estado, se formos bons cidadãos, até nos pode pagar o funeral, mas a sua responsabilidade cessa a partir daí, pois nada mais pode fazer.

Mas a Deus interessa-nos o nosso todo, e mesmo depois da nossa morte física, continua a dar-nos a vida, e a vida em abundância.

Hoje pergunta-se muitas vezes as razões para que haja uma diminuição da vivência da fé em comunhão de Igreja.

Ora o Senhor é o mesmo, ontem, hoje e sempre.
A Igreja é a mesma, embora mudando os homens que nela comungam.
Se os tempos hoje são de perseguição envolvendo as mais diversas formas, também o eram nos primeiros tempos e a Fé e a Igreja cresciam todos os dias.

Julgo então que a resposta é só uma:
Falta de testemunho dos discípulos de Jesus Cristo, de hoje, que são todos os baptizados.

Naquele tempo, aqueles primeiros discípulos podiam ter o coração endurecido, mas davam testemunho do amor de Deus, entre eles e com os outros.

Nós hoje, continuamos com o coração endurecido, mas fechamo-nos naquilo que tantos chamam a “minha fé”, e o nosso testemunho é pobre e sem efeitos práticos, porque não nos deixamos “espantar” com as coisas de Deus.

Claro que no meio de nós, humanidade, há testemunhos heróicos, de verdadeiros martírios por causa da fé.
Mas a maioria esmagadora de todos nós, filhos de Deus em Igreja, vivemos acomodados nas nossas maneiras muito particulares e privadas de vivermos a fé, e como tal o nosso testemunho não existe e nada transmite aos outros, nem os exorta a procurarem o Senhor que caminha sobre as águas e espanta os homens com o Seu amor, dizendo-lhes:
«Tranquilizai-vos, sou Eu: não temais!»

Monte Real, 5 de Janeiro de 2011
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sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

ANO VELHO 2010, ANO NOVO 2011

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Aproxima-se o fim do ano de 2010 e como tal o começo do novo ano de 2011.

Muitos aproveitam estes tempos de final e recomeço de ano para passarem mensagens “apocalípticas” de cenários de “fim do mundo”, de desgraças eminentes, de castigos e vinganças “divinas”, como se houvesse na nossa vida, na vida do mundo, uma hora marcada para tal acontecer.

O que sabemos sobre isso é tão pouco, que se resume praticamente a isto:
«Quanto àquele dia e àquela hora, ninguém o sabe: nem os anjos do Céu nem o Filho; só o Pai.» Mt 24, 36

Importante sim é estar preparado, porque esse dia e essa hora, para cada um de nós, pode ser em qualquer momento, seja fim de ano, ou não.

E isso leva-nos a outra reflexão, que é o colocarmo-nos perante as promessas que tantas vezes fazemos a nós próprios, (e às vezes até a Deus), de tantas mudanças que nos propomos fazer no ano que está a chegar.

Mas se vamos fazer mudanças na nossa vida, é porque alguma coisa está mal!
Então porquê esperar para mudar o que está mal? Porque não começar já, aqui e agora essa mudança?

Porque se alguma coisa está mal na nossa vida e não a mudarmos já, podemos “ser apanhados” desprevenidos antes do tal começo do novo ano, e partirmos deste mundo agarrados à “coisa má” e não à “coisa boa”!

A mudança que eu preciso fazer na minha vida, e que julgo todos temos de fazer, é amarmos e confiarmos cada vez mais em Deus, e dispormo-nos a fazer mais a Sua vontade do que a nossa, colaborando com a nossa entrega em família, no trabalho, no lazer, na construção de um mundo melhor, mais fraterno, mais de Deus, com Deus e para Deus, num permanente testemunho de vivência da fé cristã católica.

E para isso, é só preciso fazermos de nós próprios “barro mole”, pronto a ser moldado pelas mãos de Deus, porque é Ele mesmo que nos diz, precisamente no Livro do Apocalipse:
«Eu renovo todas as coisas.» Ap 21,5


Um bom Ano Novo para todos, cheio das bençãos de Deus.

Marinha Grande, 31 de Dezembro de 2010
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quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

CONTO DE NATAL 2010

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Deitada no sofá em posição fetal, aninhava-se, fechando-se sobre si própria, envolvendo-se cada vez mais na sua tristeza, no seu desespero, na incrível solidão que naquele momento vivia.

Dia 24 de Dezembro, véspera de Natal!

Naquela manhã tinha-se levantado decidida a de uma vez por todas confirmar ou não, aquilo que o seu coração há muito lhe dizia, mas ela não queria acreditar.

Feito o teste, a resposta era inequívoca: Estava grávida!

Naquele momento, sozinha na casa de banho, tinham passado pela sua cabeça e pelo seu coração, os mais incríveis pensamentos, os mais inexplicáveis sentimentos!

Por um lado pensara que não podia ser, não era possível, e de maneira nenhuma podia aceitar aquele facto, pelo que tinha de lhe pôr fim muito rapidamente.
Por outro lado, sentira um amor que se desprendia do seu coração e a levara a acariciar a barriga como se alguma coisa já lá se sentisse.

Saiu da casa de banho e dirigiu-se para o quarto, com o “coração aos saltos” de nervosismo, mas também com uma sensação de medo.

Como iria o seu namorado reagir aquela notícia?

Ao vê-la, ele logo percebeu que alguma coisa se passava, pelo que de imediato lhe perguntou o que a preocupava.

Numa voz sentida e baixa, repassada de ternura e medo, ela respondeu-lhe dizendo que estava grávida.

Não precisava da resposta dele, pois o olhar incrédulo e ao mesmo tempo furioso, revelou sem margem para dúvidas o que ele pensava.

Nem se queria lembrar da discussão, das incríveis coisas que ele disse, do ar ofendido e revoltado com que se lhe dirigiu, e sobretudo da tomada de posição ao dizer-lhe que ela tinha de imediatamente pôr fim à gravidez.

Lembrava-se de não saber o que lhe responder, pois nela havia um misto de decisões e indecisões, que iam desde o aceitar o que ele propunha, até ao sentimento maternal que falava mais alto, e lhe dizia ao coração que ela não podia terminar aquela gravidez.

Ainda estavam nos seus ouvidos a “explosão” do bater da porta da rua e as últimas palavras duríssimas que dele ouviu: Nunca mais me pões a vista em cima!

Tinha ficado ali, sem reacção, prostrada, imóvel, sem perceber o que tinha acontecido.

Tinham passado uma óptima noite, as promessas de amor eterno, o casamento a marcar e, de repente … o mundo desabava-lhe em cima!

Percebeu que no estado em que estava não podia passar a noite de Natal em casa dos seus pais. Eles perceberiam de imediato que alguma coisa de grave se passava, e ela não queria dar explicações nenhumas, nem queria ouvir fosse o que fosse naquele dia!

Muito a custo telefonou-lhes tentando fazer uma voz normal, e arranjou uma desculpa mais ou menos verosímil para não estar com a família nesse dia.

Agora estava sozinha!

Há horas que estava naquela posição. A noite tinha chegado e ela nada tinha comido durante todo o dia. Apetecia-lhe morrer e ao mesmo tempo apetecia-lhe viver.

Falava com a sua barriga como se alguém a escutasse, fazendo juras que sozinhos os dois, mãe e filho, haviam de conseguir. Percebeu então que uma decisão estava tomada: Aquele filho ia nascer, contra tudo e contra todos!

Ficou um pouco mais animada com a consciência da decisão tomada, mas logo a perspectiva do futuro lhe caiu em cima com uma tal força, que se sentiu fechada numa gruta funda, sem luz, sem ânimo e sem esperança.

Olhou para o pequeno presépio que tinha na sala, e lembrou-se da Missa do Galo!

Não faltava a essa Missa desde que se lembrava de si própria, e por isso mesmo, decidiu com grande esforço que iria participar nela, mas a uma igreja diferente da habitual, claro, pois não queria encontrar a sua família.

Saiu para o frio da rua, o que lhe deu um pouco de alento, tendo-a despertado do torpor em que se tinha deixado envolver.

Procurou um lugar na igreja onde ficasse só, pois não queria sorrir a ninguém, não queria cumprimentar ninguém, não queria falar a ninguém.

A Missa passou sem ela dar conta e apercebeu-se então que já tinha chegado o momento da Comunhão.
Lembrou-se com alguma mágoa que, de acordo com o que tinha aprendido na família e na catequese, não poderia comungar a hóstia consagrada, dada a vida que vivia.

Mas também se lembrou ter aprendido que Jesus nunca abandonava aqueles que a Ele se dirigiam de coração aberto.
Ajoelhou-se e entrando dentro de si, falou com Aquele Menino que há tantos anos “via nascer” no presépio de casa dos seus pais.

“Jesus, eu não sei o que acreditar, mas sinto que de alguma maneira estás aqui comigo e me fazes companhia. E agora, Jesus, o que hei-de eu fazer?
Eu só quero sentir amor, sentir que não estou só, e que tomei a decisão correcta.
Sabes, Jesus, ele ofendeu-me muito, mas não lhe desejo mal. Olha lembro-me das Tuas palavras na Cruz e apetece-me dizer o mesmo: Perdoa-lhe que ele não sabe o que faz.”

Sentiu uma mão no ombro, que suavemente lhe chamava a atenção, e uma voz terna que lhe dizia:
- Desculpe mas tem que sair. A Missa já acabou e temos de fechar a igreja.

Não se tinha apercebido do tempo passar!
Balbuciou uma qualquer desculpa e saiu rapidamente para a rua.

Um sorriso aflorou os seus lábios. Não sabia o que se passava, mas uma paz, uma tranquilidade, uma alegria, invadiam o seu coração. Pela primeira vez nesse dia não teve medo da decisão tomada e teve a certeza inexplicável de que tudo iria correr bem, mesmo com as provações normais que uma situação como aquela acarretava, e que ela tinha decidido viver.

Quase ao chegar a casa, reparou num vulto que estava sentado nos degraus da entrada do prédio, todo dobrado sobre si próprio, por causa do frio, claro.
Não teve medo, mas apenas pena daquele pobre desgraçado que não devia ter onde ficar, e pediu a Jesus que o ajudasse também.

Ao subir os degraus da entrada, o vulto levantou-se, e prostrou-se de joelhos diante de si, dizendo apenas:
- Perdoa-me! Perdoa-me que eu nem sei as asneiras que disse, o mal que te fiz! Perdoa-me!

Olhou para a cara dele. As lágrimas corriam-lhe pela face, mas ele não se importava. Apenas não conseguia olhá-la nos olhos, de tão envergonhado que estava.

Puxou-o para cima, pegou-lhe na cara com as duas mãos, e deu-lhe um terno beijo nos lábios.

Numa voz entrecortada pelo choro, ele apenas dizia:
- Eu amo-te, eu amo-te, e a melhor expressão do meu amor, do nosso amor, é este filho nosso que trazes em ti e que eu quero viver contigo! Como pude ser tão cego, tão desumano, tão desprezível! Casamos amanhã, casamos mal seja possível! Eu quero estar contigo e viver todos esses momentos da tua gravidez, e do nascimento do nosso filho!

E não se calava, até que ela suavemente lhe colocou a mão nos lábios e o empurrou para dentro de casa.

Olhou para ele, fixamente nos olhos, e disse com a voz cheia de amor e ternura:
- O amor tudo vence! O passado já passou e não volta mais! Vivamos agora o presente e o futuro!

Ele aquietou-se e ficaram abraçados por um longo período de tempo, apenas gozando e sentindo a companhia um do outro.

Ela afastou-se então um pouco e disse-lhe:
- Hoje ainda tens que fazer mais uma coisa comigo, por mim e por ti.

Ele anuiu, baixando a cabeça.

Aproximaram-se então de mão dada do pequeno presépio, e ela ajoelhou-se com ele, dizendo:
- Agradece comigo a Jesus, o Amor que nasce no coração dos homens e que hoje renasceu nos nossos corações!

Lá fora ouviam-se vozes de jovens que cantavam:

“Noite feliz, noite feliz!
O Senhor, Deus de Amor,
Pobrezinho, nasceu em Belém
Eis na lapa Jesus, nosso Bem
Dorme em paz, ó Jesus!
Dorme em paz, ó Jesus! ”

ou então … eram os ouvidos dos seus corações unidos que assim ouviam.


Monte Real, 21 de Dezembro de 2010


Com este Conto de Natal, desejo a todas as minhas amigas e todos os meus amigos que aqui costumam ajudar-me nesta caminhada para Deus, por Deus e com Deus, um SANTO e FELIZ NATAL e um ANO NOVO cheio das bençãos de Deus.
Este Conto de Natal, constitui também a minha participação do 25º Dia de Caminhada para o Natal, que amanhã prossegue com a Gisele.
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terça-feira, 21 de dezembro de 2010

SÚPLICA AO SENHOR NOSSO DEUS

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Senhor,

aquele a quem tu amas, aquele que tão bem conheces, aquele de quem Tu, Senhor, Te serves, tantas vezes, para evangelizar nestes meios da internet, está doente.

E nós, Senhor, que bebemos todos os dias da Tua água viva, que nos dás a conhecer pelo seu trabalho nestes meios de comunicação, queremos, unidos numa só fé, e numa só esperança, pedir-Te: Cura-o, Senhor, segundo a Tua vontade.

Um dia foste Tu mesmo, Senhor, que nos disseste:
«Digo-vos ainda: Se dois de entre vós se unirem, na Terra, para pedir qualquer coisa, hão-de obtê-la de meu Pai que está no Céu. Pois, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, Eu estou no meio deles.» Mt 18, 19-20

Assim, no cumprimento da Tua Palavra, aqui neste espaço de oração, reunimo-nos todos os que aqui vimos e pedimos-Te: Cura-o, Senhor, segundo a Tua vontade.

E damos-Te graças, Senhor, desde já, por tudo o que estás a fazer, e vais fazer na vida deste nosso irmão, porque tudo o que for de Tua vontade, é sempre o melhor para ele e para cada um de nós, pois é este o querer, é esta a certeza mais profunda da fé que nos deste: Fazer sempre a Tua vontade.

Tudo para Tua glória, Senhor!

Amen.


Nota:
Peço a todos que por aqui passarem, que unidos rezemos esta oração, por um irmão nosso que tem um importantíssimo trabalho de apostolado na internet.
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quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

NATAL NO IRAQUE

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No seu horizonte imediato
apenas uma bomba,
uma ameaça à sua vida,
algo que já viveu de facto,
naquela igreja,
naquele dia,
em que tentaram explodir Jesus.


E até explodiram um pouco,
naqueles que O celebravam,
na paz e na alegria,
e que com Ele partiram,
para o Reino do amor eterno,
levados na mesma Cruz,
em que Ele morreu um dia.


Mas não O mataram,
isso não,
como não mataram sequer,
aqueles que com Ele morreram,
porque aqueles que com Ele morrem,
com Ele ressuscitarão.


Mas é Natal,
a vinda do Deus Menino,
e ele quer dedicar-se ao bem,
enquanto outros apenas,
querem dedicar-se ao seu mal.


Dizem-lhe que fuja,
que desista,
que considere a causa perdida,
mas ele sem vacilar,
numa vontade de dentro,
diz forte vencendo o seu medo:
Como posso eu fugir,
como posso eu desistir,
dAquele que me dá a vida?


É que todo o meu horizonte,
não é bomba,
nem sequer bala que mata,
é a certeza que tenho,
tão dentro de mim mesmo,
que o Deus que me criou,
se faz vivo em mim,
por mim,
e se com Ele eu viver,
com Ele hei-de morrer,
e mesmo que os homens não queiram
com Ele hei-de renascer.


Aqui estou,
e aqui fico,
no lugar que me foi dado,
para viver o meu Senhor.


E mesmo que me odeiem,
alguns dos meus irmãos,
por eles eu hei-de pedir,
interceder, suplicar,
ao Céu levantarei as mãos,
numa oração permanente,
por eles,
por mim,
afinal por toda a gente.


E mesmo que os sinos não toquem,
e as portas não se abram,
mesmo que uns tantos me amem,
e outros me queiram mal,
os anjos hão-de cantar,
a paz e a boa vontade,
aos homens,
neste Natal.




Monte Real, 16 de Dezembro de 2010


Pobres versos inspirados na nota de Aura Miguel na RR, em 10 deste mês, intitulada “Natal no Iraque”.
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domingo, 12 de dezembro de 2010

A VARANDA DE DEUS

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Debruçado na varanda sobre o mundo, olhava, estupefacto com o que lhe era dado ver.

Tinha estado a rezar intensamente, pedindo a Deus que lhe desse compreensão para tantas coisas que aconteciam no mundo, e que ele não conseguia perceber.

Eram cataclismos, violências, guerras, ódios, crimes, enfim um nunca parar de coisas horrendas, pelas quais ele como tantos outros, perguntava amargurado:
- Meu Deus porquê? Porque permites tais coisas? Porque as deixas acontecer?

Deus respondeu-lhe então, numa voz muito audível ao seu coração, perguntando-lhe:
- Acreditas que eu fui o teu criador e o criador do mundo? E se acreditas nisso, acreditas que te criei em liberdade para que tu escolhas o teu caminho e a vida que queres viver?

Humildemente, baixou a cabeça e respondeu:
- Sim Senhor, acredito!

Foi então que se sentiu transportado para aquela varanda, podia chamar-lhe a “varanda de Deus”, porque tinha vista ao mesmo tempo sobre todo o mundo.

Deus disse-lhe suavemente, com a voz repassada de tristeza:
- Fica aqui por uns momentos, tantos quantos queiras, e vai reparando no que se passa no mundo, para que obtenhas respostas ao que me perguntaste.

Deixou-se então ali ficar, e começou a olhar, vendo o que se passava no mundo.
Era tudo tão nítido, tão perto, tão real, que tudo o que via o deixava verdadeiramente estupefacto, envergonhado, esmagado de tristeza.

Para todos os lados da terra para onde olhasse via homens a testarem armas, a prepararem-se para a guerra, a provocarem ódios e inimizades, e seguidamente a matarem-se “metodicamente” em batalhas que a nada levavam.

Via a homens a odiarem-se, a prepararem vinganças, a ofenderem-se, ferirem-se, a matarem-se, pelos motivos mais fúteis.

Via homens a exercerem violências inauditas sobre mulheres, sobre crianças, os mais fortes a dominarem os mais fracos.

Via gente cheia de tudo, gente a quem nada faltava e tudo sobrava, e mesmo ao lado gente faminta, nua, gente sem esperança.

Reparou em tantos homens e tantas mulheres, envolvidas em orgias de prazer mundano, depois reflectidas em profundas depressões.

Percebeu envergonhado na imensidade de grávidas que matavam os seus filhos no seu próprio ventre.

Via por todo o lado os homens de costas voltadas, os miseráveis pelo chão e ninguém se incomodar com eles.

Viu ainda tanta gente que andava pelo mundo á espera de uma palavra, de um sorriso, de um conforto, mas que afinal eram “transparentes”, aos olhos daqueles que por eles passavam.

Percebeu também, no meio de todo este horror, algumas ilhas de bondade, de uns poucos, no meio de tantos, que se preocupavam com tudo e queriam o bem de todos.

Não quis ver mais, porque a visão de tudo era insuportável aos seus olhos, ao seu coração, até porque sentia que também fazia parte de tudo aquilo.

Deus olhou para ele, com aqueles olhos imensos de amor eterno e perguntou-lhe:
- Não são todos criaturas minhas? Em alguma coisa os distingui entre os que fazem o bem e os que fazem o mal? Não são todos livres de fazerem a sua própria vontade?

Numa voz sumida e envergonhada apenas respondeu:
- Sim, Senhor.

Serenamente, Deus disse-lhe:
- Então que queres que Eu faça? Que lhes retire a liberdade? Que os obrigue a fazer a minha vontade? Para que lhes serve então a inteligência e a consciência que lhes dei?

Sem saber o que dizer, apenas abanava a cabeça, sem levantar os olhos para Deus.

Deus continuou:
- Se uns usam a liberdade que lhes dei para fazerem o bem, porque é que os outros não o fazem também?
Que têm feito os homens do mundo que lhes dei?
Não vês a destruição da natureza, da beleza da criação?
É vontade minha, por acaso?

Mas ele nada conseguia dizer, porque nada havia que protestar, ou contestar.

Deus disse-lhe então:
- Foi-te dado ver o que os homens fazem da liberdade que lhes dei. Foi-te dado perceber que uns a utilizam para o bem e outros para o mal.
Abre o meu Livro e perceberás que desde sempre peço ao homem para fazer a minha vontade, pois só assim encontrará a felicidade.
Até dei ao homem o Meu próprio Filho, para que lhe revelasse a minha vontade, mas torturaram-no e mataram-no!
Ressuscitou ao terceiro dia e deu provas da Sua Ressurreição e mesmo assim não acreditaram, não acreditam.
Ao longo dos tempos, e hoje ainda, sempre houve homens e mulheres testemunhas do bem e do amor, que viveram segundo a minha vontade, e também esses desprezaram e ainda desprezam, alguns até mataram e ainda matam.
Não sei castigar, apenas sei amar!
Que queres tu que Eu faça?

Humildemente, de cabeça baixa, disse:
- Que tenhas compaixão, Senhor!
Que continues a amar-nos com o Teu eterno amor!
Que nos perdoes quando Te perguntamos porque acontece isto ou aquilo, sabendo nós que a culpa é apenas nossa, é apenas da forma como usamos a liberdade que Tu mesmo nos deste.
E suscita, Senhor, mais homens e mulheres que levem a Tua Palavra, que falem da Tua vontade e que dêem testemunho da alegria e da felicidade que é a vida em Ti, conTigo e para Ti.

Deus abraçou-o então, e disse:
- Vai em paz meu filho. Uma coisa podes tu ter a certeza: faça o homem o que fizer, o meu amor por ele permanece inalterado, e os meus braços estarão sempre abertos para o receber.
A liberdade sempre a terá, porque essa é a prova mais pura do meu amor por ele.

Abriu os olhos, olhou em redor, e calmamente com uma grande paz no seu coração, deu graças a Deus.


Monte Real, 12 de Dezembro de 2010
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