«Se alguém vem ter comigo e não me tem mais amor que ao seu pai, à sua mãe, à sua esposa, aos seus filhos, aos seus irmãos, às suas irmãs e até à própria vida, não pode ser meu discípulo.
Quem não tomar a sua cruz para me seguir não pode ser meu discípulo. Lc 14, 26-27
Palavras duras, quase incompreensíveis, quase inaceitáveis para a nossa humanidade, para o nosso modo de pensar no dia-a-dia.
Como pode Jesus Cristo dizer-nos que O devemos amar acima daqueles que Ele mesmo nos deu, acima da vida que Ele mesmo criou em nós?
Parece quase um acto possessivo, ciumento, impossível de aceitação por nós, homens!
E no entanto são palavras de amor e revestidas de amor!
Poderíamos dizer tanto, meditar tanto sobre estas palavras, mas detenhamo-nos apenas naquilo que é mais directo às nossas vidas, ao nosso viver, aos nossos anseios e esperanças.
Se construímos as nossas vidas tendo em primeiro lugar o amor àqueles que nos rodeiam, sejam eles nossos pais, nossos filhos, nossa família, nossos amigos, estamos a construir a vida sobre algo que acaba, sobre algo que tem fim aqui neste mundo, e então quando esses nos faltam a nossa vida desmorona-se, torna-se quase impossível de viver, porque lhe falta tudo aquilo sobre que foi construída e vivida.
Sabemos bem que alguns até se desesperam, não conseguem reagir e assim sendo nunca mais têm alegria na vida, depois da morte de um ente querido.
Se construímos as nossas vidas colocando em primeiro lugar a nossa vida, ou seja, se é na nossa vida que colocamos toda a nossa esperança, todos os nossos anseios, toda a nossa confiança, estamos a construir a vida sobre algo muito frágil, e quando a doença acontece, quando o insucesso bate à porta, tudo se desmorona e não temos mais em que acreditar, em que confiar, em que esperar, por isso não aceitamos o que nos acontece, e são tantos os que põe termo à vida nessas circunstâncias.
É por isso que Jesus nos diz que Lhe devemos ter mais amor e acima de tudo o resto.
Porque é o Seu amor por nós e o nosso amor por Ele que devem iluminar e dar sentido a todos os nossos “outros amores”.
Com efeito, se amarmos os outros, a nossa vida, com o amor que nos vem de e com Cristo, impregnados do Seu amor, então tudo pode acabar, mas o amor não acaba, porque o amor de Deus é eterno.
E os outros, e a nossa vida, tudo se reveste de esperança, porque tudo está envolvido no amor comunhão com Deus e como sabemos e acreditamos quem morrer com Cristo, com Ele viverá.
«Mas, se morremos com Cristo, acreditamos que também com Ele viveremos.» Rm 6,8
Então vivendo em primeiro lugar esse amor a Deus, tudo tem sentido, até mesmo a partida daqueles que nos são queridos e que envolvidos por nós no amor de Deus, continuam por nós a serem amados na esperança sempre viva de que não morreram, vivos no amor e na paz de Deus.
E a nossa vida pode sofrer doenças, dificuldades, problemas, insucessos, porque muito mais do que a própria vida, vive em nós o amor de Deus e a Deus, e assim tudo isso que possa acontecer nos serve de caminho, nos serve de ensinamento, nos serve para percebermos que mesmo na adversidade, Deus nos ama, e que se O amarmos também com todas as nossas forças, tudo é vida, tudo é confiança, tudo é esperança.
Todos e tudo aquilo que nós possamos amar, os nossos pais, os nossos esposos, os nossos filhos, a nossa família, os nossos amigos, até o nosso trabalho e aquilo que temos, é fruto do amor de Deus, por isso só tem sentido se amarmos primeiro…o Amor que os criou.
Senhor,
ensina-nos a amar-Te acima de todas as coisas.
A amar-Te com o Teu amor,
a tudo amarmos com o Teu amor,
para que no Teu amor, tudo o que amamos,
seja vida e presença Tua
connosco e em nós.
Amen.