segunda-feira, 19 de agosto de 2013

ORAÇÃO DA “DÚVIDA”

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Quantas dúvidas, quantas incertezas, Senhor!
Não duvido de Ti, Senhor, como é também uma certeza inabalável no meu coração a Tua presença em mim, nos outros e no meio de nós!
 
As minhas dúvidas e as minhas incertezas, residem na minha relação conTigo.
 
É que sabes, Senhor, gostava de viver por Ti um amor puro, isento de qualquer interesse, um amor adoração, porque a Ti, Senhor, posso adorar.
 
Gostava de rezar, mas sem o sentimento de que o faço para Te agradar.
Gostava de rezar, mas sem Te pedir nada, por acreditar que sabes o que preciso.
Gostava de Te seguir, “apenas” porque és Tu a vida, e não esperar outra recompensa que não seja a minha constante gratidão por me deixares seguir-Te, Senhor.
Gostava que cada passo que dou, fosses Tu a dá-lo em mim, de modo a que o caminho que percorro, seja o caminho que me dás para caminhar.
Gostava de Te ver em todos os que comigo se cruzam, de modo a que amasse cada um sem passado, (bom ou mau tanto me faz), mas apenas com o amor com que Tu nos amas, sempre.
Gostava de olhar para Ti e ver-Te como Tomé, num grito que saia dentro de mim exclamando em alta voz: meu Senhor e meu Deus!
Gostava de Te comungar e deixar que tomasses conta de mim, do meu todo, de cada nervo, de cada órgão, de cada gesto, de cada sentimento, que não fosse apenas um momento, mas uma continuidade, que tornasse bem real a frase de Paulo na vida que Tu me dás: «Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim.»*
 
E tão longe estou, Senhor, tão longe!
 
Quanto mais me aproximo de Ti, mais parece que me afasto.
Quanto mais falo contigo, mais surdo pareces à minha voz.
Quanto mais luto contra o pecado, mais pecador eu me sinto.
Quanto mais subo a escada para o Céu, mas degraus nela colocas.
Quanto mais me ajoelho e humilho, mais orgulhoso e soberbo me pareço.
Quanto mais sinto que Te amo, mais fraco e volúvel me parece o meu amor.
 
Pois, não é pelos meus méritos, pois não, Senhor?
Mas apenas e só por Tua graça!
 
Então, Senhor, continua a provar-me, coloca pedras no meu caminho, mais uns degraus na escada, dá-me mais esta sensação de que estou longe, para que eu não adormeça, e não me julgue aquilo que eu não sou.
 
E se num momento qualquer, eu me começar a afundar no mar da vida, estende-me a mão, Senhor, e diz-me olhos nos olhos: «Homem de pouca fé, porque duvidaste?»**
 
 
 
*Gal 2, 20
**Mt 15,31
 
 
Monte Real, 19 de Agosto de 2013
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segunda-feira, 12 de agosto de 2013

JESUS CRISTO ROMPEU O TEMPO MORTAL

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«Cristo, por ter ressuscitado, abriu uma brecha no muro do tempo mortal», frase do livro "A fonte da Liturgia» de Jean Corbon.
 
 
Desde que li esta frase, o meu entendimento sobre a presença real de Jesus Cristo na Eucaristia, bem como a sua frase, «E sabei que Eu estarei sempre convosco até ao fim dos tempos.» Mt 28, 20, passou a ser bem mais perceptível, não só pela fé, mas também pelo entendimento.
 
Com efeito, tendo Jesus Cristo morrido e ressuscitado, quebrou a cadeia do tempo mortal, do tempo do mundo, e, pela sua ressurreição, vencendo a morte, tornou-se presente para sempre.
 
Percebo então melhor a frase dos anjos para as mulheres na manhã do Domingo da Ressurreição, «Porque buscais o Vivente entre os mortos?» Lc 24, 5
 
Deus é dono do tempo e por isso mesmo só Ele pode romper o tempo e tornar eterno o que se tornou finito.
O homem criado «à imagem e semelhança de Deus», foi criado para não conhecer a morte, mas pelo pecado ficou sujeito à lei da morte, por isso o homem passou a “conhecer” o nascer, o viver e o morrer. Morrer que seria para sempre.
 
Mas o Pai, que ama o homem que criou com todo o seu infinito amor, quis libertá-lo do pecado, e, portanto, da morte.
Poderia tê-lo feito como muito bem Lhe aprouvesse, mas quis tornar-se sinal visível aos olhos e coração do homem, e por isso, enviou o seu Filho Jesus Cristo, para encarnar numa mulher e em tudo se tornar igual ao homem, excepto no pecado.
 
E quis ainda “ir mais longe”, permitindo a morte do seu Filho, para depois O ressuscitar, para que aqueles que acreditam percebam que a morte foi vencida, e que o homem não morre mais, mas passa da morte à vida, para a salvação ou condenação eternas.
 
 
 
Marinha Grande, 12 de Agosto de 2013
Joaquim Mexia Alves
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segunda-feira, 5 de agosto de 2013

CARTA ABERTA A JESUS

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Senhor Jesus Cristo,
Tu conheces-nos melhor do que nós nos conhecemos, por isso gostava de Te perguntar, ou melhor, ir falando contigo ao sabor da escrita, acerca de algumas coisas que vou pensando e me incomodam.
 
Sabemos, (pelo menos aqueles que Te seguem), que vieste até nós para nos libertar da lei do pecado e da morte, ensinando-nos um caminho todo ele de amor, e sendo de amor, um caminho de comunhão, pois só na comunhão aqui na terra poderemos, por Tua graça, chegar à comunhão com Deus, Pai, Filho e Espírito Santo.
Aliás, sabemos bem, (aqueles que acreditam), que o próprio Deus é a comunhão perfeita, sendo um só Deus em Três Pessoas.
Todos nós afinal, (assim acreditamos), fomos feitos à Tua imagem e semelhança, e assim sendo, fomos feitos em comunhão no amor e para a comunhão no amor.
Ensinaste-nos, Senhor, que devemos amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos, o que só pode e deve levar à comunhão contigo e com os outros, em Ti, por Ti e para Ti.
 
E depois deste-nos a Igreja, assembleia convocada por Ti, para que aqueles que em Ti são baptizados, façam caminho de comunhão contigo, para em Ti alcançarem a salvação.
A Igreja é assim também “lugar” de comunhão, como não podia deixar de ser, pois Tu és sempre comunhão e a Igreja sai de Ti.
É assim, por isso, tão bela a imagem de Paulo de que a Igreja é o Corpo Místico de Cristo, do qual Tu és a cabeça.
E o corpo é sempre também comunhão, pois o corpo não se divide a si próprio, não causa mal a si próprio, pois se assim proceder sofre dor e rejeição.
 
Ao pensar em tudo isto, ao pensar nesta comunhão que nos dás e queres de nós, só me ocorre perguntar-Te:
 
Como podemos nós homens dividir-nos “por causa” de Deus, que é amor e comunhão?
Como podemos nós homens dividir-nos “por causa” de Ti, Senhor, que és amor e comunhão?
Como podemos nós homens dividir-nos “por causa” da Igreja, que nos deste em amor e comunhão?
Como podemos nós homens dividir-nos “por causa” de um Papa, (seja ele qual for, fruto da Igreja), que é amor e comunhão?
Como podemos nós homens dividir-nos “por causa” da nossa humanidade, que criastes em amor e comunhão?
 
É que não entendo, Senhor, (não me entendo), quando servindo-nos do Teu Nome, servindo-nos do Nome de Deus, servindo-nos da Igreja, servindo-nos da Tua Doutrina, servindo-nos do Papa que escolheste, (este ou qualquer outro), acabamos por nos dividir, “criando” lados e facções, até por vezes ficarmos de costas voltadas, sem nos falarmos, sem nos sorrirmos, sem nos ajudarmos, sem sermos afinal “os” próximos uns dos outros.
 
Como é possível, Senhor, servirmo-nos do amor e da comunhão, para nos desamarmos e nos dividirmos?
 
Fracos que somos, Senhor, perdoa-nos e não desistas de nós, mas leva-nos ao amor e à comunhão, que será plenitude em Deus, por Tua vontade.
 
 
Monte Real, 5 de Agosto de 2013
Joaquim Mexia Alves
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domingo, 21 de julho de 2013

FESTIVAL JOTA, FESTIVAL DE JESUS!

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Quem me conhece minimamente sabe que eu sou, (hoje em dia), um sentimental, um emocional, um que não se contém, (apesar de alguma timidez), em expressar as suas emoções, as suas vivências, as suas alegrias.
Às vezes até serei um “chato”, porque não me calo, quando falo de Deus e das maravilhas que Ele fez e faz em mim, pelo menos como eu as sinto em mim.
 
Costumo pensar que ao fim de tanto tempo afastado d’Ele, Ele me agarrou de tal forma que me tornou, graças a Deus, totalmente dependente d’Ele.
Costumo pensar e dizer que Ele, servindo-se da minha emotividade, me quis conceder o dom das lágrimas, e costumo sentir e  dizer também que não precisava de “exagerar” em tal dom.
 
É que já faz parte de mim, quando falo d’Ele, deixar-me levar!
A maior parte das vezes, embarga-se-me a voz, humedecem-se-me os olhos, e se não respiro fundo, as lágrimas de alegria e de gratidão correm-me pela cara abaixo.
 
Tudo isto para dizer que as poucas horas, (poucas por vontade própria), que passei no Festival Jota, foram uma alegria, uma paz, uma certeza, uma comunhão, que eu não trocaria por nada que me pudesse acontecer neste Sábado que passou.
 
Podem perguntar-me: Porquê? O que é que se passou de tão relevante, de tão importante?
E eu desiludo-os e digo: Nada, rigorosamente nada, a não ser a alegria de estar com aqueles jovens todos, com aqueles sacerdotes próximos de nós, iguais a nós, despidos de conceitos e preconceitos, irmanados no fundo no mesmo Deus que todos procurávamos em cada palavra, em cada sorriso, em cada abraço, em cada conhecimento novo.
 
Confesso que enquanto esperava aqueles jovens que iriam ouvir e debater aquilo que tinha para lhes testemunhar, ia ficando um pouco “desalentado”, por não ver surgir uma “multidão” ansiosa de ouvir a minha tão “importante” pessoa.
 
Ah, como Deus faz as coisas bem feitas!!!
Poucos, seis ou sete, e um sacerdote, que não me “examinava”, mas antes ouvia, vivia e se deixava “enternecer” pela presença de Deus em mim, para além da minha fraqueza e orgulho.
E a meio de tudo o que ia dizendo e respondendo, apeteceu-me chorar de alegria, de emoção, de gratidão.
Apeteceu-me abraçar aquelas jovens que me ouviam e perguntavam coisas, e continha-me, porque neste mundo isso não se pode fazer, entendam-me!
 
Passadas mais de vinte e quatro horas, ainda vivo tão escassas horas, que me transportam para um Deus tão extraordinário, que se quer servir de mim, que se quer servir de todos, para se revelar aos outros.
Por isso tantas vezes a mensagem não chega, ou porque não a sabemos transmitir, ou porque não a sabem ouvir, ou melhor, ou porque não estão abertos para a ouvir.
 
E no entanto era tão fácil para Ele!
Derrubava umas montanhas, transportava umas árvores daqui para ali, curava uns paralíticos e uns cegos, mesmo à nossa frente, e não havia quem não se aproximasse d’Ele, quem não quisesse estar com Ele, quem não O quisesse como companheiro de viagem.
Pois, mas se assim fosse, muitos iriam a Ele por medo, ou por interesse, ou por “negócio”, e afinal Ele conhece apenas uma maneira de estar connosco e de nós estarmos com Ele: Amando e sendo amados, por Ele, com Ele, para Ele, nos outros e para os outros!
 
Por causa deste Seu amor é que eu vivo ainda o Festival Jota, que não me fez mais jovem na idade, mas me fez mais jovem no Amor, me fez mais jovem em Deus.
 
A Ti, Senhor, toda a graça e todo o louvor!
 
 
Marinha Grande, 21 de Julho de 2013
 
Nota:
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quinta-feira, 18 de julho de 2013

«JÁ E AINDA NÃO»

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Um dia destes, reflectindo em tantas coisas da minha vivência diária da fé, veio ao meu pensamento uma frase que ouvi repetidamente nas aulas de Escatologia e me ficou gravada na memória, ou melhor, no coração: «já e ainda não».
Tentei então, mais uma vez, apreender todo o sentido desta frase, que reflecte em palavras muito simples o gozo de Deus, «já», mas «ainda não» na plenitude.
 
Ocorreu-me então a seguinte comparação.
Quando se é criança, por vezes deseja-se muito algo que sabemos poder esperar que os nossos pais nos dêem. Por exemplo, uma bicicleta!
Um dia então, perto do nosso aniversário ou do Natal, os nossos pais podem dizer-nos que, se nos portarmos bem, teremos a tão desejada bicicleta.
O incentivo leva-nos a tentar ter um comportamento irrepreensível, para podermos alcançar aquilo que tanto desejamos.
Mas mesmo antes do dia aprazado para a entrega do presente, já “vivemos” a bicicleta, já dela usufruimos em pensamento, já com ela damos longos passeios, já mesmo sem a ter vivemos momentos intensos de alegria e gozo, como se a pudéssemos montar e pedalarmos por montes e vales em liberdade.
Ou seja, de algum modo «já» vivemos a alegria, o gozo de ir ter algo que ainda não temos, mas que «já» nos faz perceber que, se «ainda não» a tendo já é tão bom, como será quando a tivermos!
Obviamente que a comparação com o «já e ainda não» cristão é pobre, pois comparam-se coisas mundanas com coisas de Deus.
 
Mas a verdade é que este «já» cristão é vivido verdadeiramente por quem está em comunhão com Deus e se faz, por Ele, comunhão com os outros.
Quantas vezes não somos “atingidos” por momentos de intensa alegria e paz, quando vivemos com Deus e para Deus?
 
Mas mais ainda, porque se no caso da comparação da bicicleta o «já» é apenas imaginação, na vivência cristã o «já» faz-se realmente presente em Igreja, nos Sacramentos, muito especialmente na Eucaristia em que podemos viver realmente a presença do Deus vivo, que se faz alimento para nós.
E podemos também vivê-Lo no abraço sentido do irmão a quem ajudámos, no beijo amoroso daquela ou daquele que amamos, dos filhos, graças de Deus, e em tantas, tantas ocasiões em que Deus se faz presente, porque Ele está realmente no meio de nós e em nós.
É então, um «já» muito real, mas «ainda não» em plenitude, para sempre.
 
Mas voltando à comparação da bicicleta, lembremo-nos que há uma condição para obter o presente, e que é o nosso bom comportamento.
 
Para alcançarmos a promessa contida no «ainda não» cristão, também há, se assim quisermos dizer, uma condição, que é fazer a vontade de Deus.
Só que o julgamento de Deus é repleto de um amor que nós não compreendemos, não abarcamos, porque é misericordioso, e mesmo que tenhamos falhado algumas ou muitas vezes em fazer a vontade d’Ele, basta o nosso arrependimento para que tudo se concretize.
 
E de tal maneira Ele nos ama que, alcançar a promessa contida no «ainda não» cristão não depende só de nós, mas sim da sua imensa misericórdia, pois é graça sua conceder-nos essa promessa, porque Ele nos conhece como nós não nos conhecemos, e lê nos nossos corações aquilo que nós não sabemos ler.
Realmente, se o gozo de Deus «já» é tão intenso, “produz” tanta alegria e tanta paz, o que será então na concretização da promessa contida no «ainda não»?
 
Em Ti, Senhor, creio, confio e espero.
 
 
 
Monte Real, 18 de Julho de 2013
Joaquim Mexia Alves
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quarta-feira, 10 de julho de 2013

SEM NADA PARA DIZER?

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Porque me fazes isto, Senhor?
Queria escrever um texto,
esta semana,
e nada,
mesmo nada vem ao meu coração,
ao meu pensamento,
à minha inspiração.
Não queres que eu escreva?
Não queres que eu transmita nada da minha vida diária,
vivida conTigo e para Ti?
 
Devolves-me a pergunta, Senhor,
dizendo-me:
Porquê,
tens alguma a dizer sobre Mim,
sobre o que sou e faço na tua vida?
 
Oh, Senhor,
eu ter tenho,
mas não sei como transmiti-lo!
 
Como se descreve um amor sem limites?
Como se descreve uma alegria intensa,
que é paz e tranquilidade?
Como se descreve a certeza de ter comigo
Aquele que tudo pode
e a Quem nada é impossível?
Como se descreve a possível “impossibilidade”
de chamar o nome de Deus
e saber que sou ouvido?
Como se descreve esta incrível sensação
de me sentir acompanhado na travessia
dos “vales tenebrosos” da minha vida?
Como se descreve este sentimento
de querer ver nos outros irmãos,
filhos do mesmo Pai Criador?
Como se descreve a extraordinária vivência
de ser Igreja Santa,
mesmo sendo pecador?
Como se descreve o reconhecimento estonteante
de ser templo do Espírito Santo?
Como se descreve o saber-me capaz de amar
apesar de todas as imperfeições?
Como se descreve o saber-me capaz de perdoar,
porque me ensinaste o perdão?
Como se descreve o espanto desmedido
de saber que Deus,
o Todo Poderoso,
se faz pequeno e humilde
para me servir de alimento?
 
Vês,
Senhor,
que afinal não tenho nada para escrever,
porque não sei descrever
tudo o que me fazes viver?
 
Obrigado, Senhor!
 
 
Monte Real, 10 de Julho de 2013
Joaquim Mexia Alves
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quarta-feira, 3 de julho de 2013

A CATEQUESE (2)

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Com certeza que não se entenda pelo que escrevi no texto anterior, que o ensino da Doutrina não é importante e imprescindível.
Claro que é, porque não se pode amar aquilo que não se conhece, e para se amar Jesus Cristo é preciso conhecer o seu “todo”: o Deus, o Homem, o seu ensinamento, a sua Igreja.
 
Mas, nas nossas vidas, quando amamos os outros, não só precisamos de os conhecer, (o que são e o que pensam), mas também precisamos de privar com eles, conversando, convivendo, celebrando as datas importantes das suas e nossas vidas em conjunto.
E este viver, este conviver, este celebrar, tem sempre alguma emoção, (somos seres emocionais), pois se assim não fosse, como poderíamos nós expressar o nosso sentir no riso, nas lágrimas, e tantas outras expressões que cada situação contém.
Ora se a emoção sem controle pode ser perniciosa, a vida sem emoção não existe, é vazia e sem sentido.
Por isso é necessário também que desde o início da catequese as crianças sejam levadas a viver a emoção de sentir Deus próximo, que não seja um Deus longe e inacessível, mas um Deus perto, com Quem podemos rir, chorar e sentir que Ele ri e chora connosco.
 
E o sentir essa emoção do Deus próximo, tem a muito ver com essa oração pessoal, individual e colectiva, feita de palavras nossas, que constituem um diálogo com Deus contando as nossas vidas, as nossas preocupações e as nossas alegrias.
E ao habituarmos as crianças a rezarem, (falarem com Jesus), de quando em vez em frente do sacrário, não só as leva a esse encontro pessoal e intimo com Deus, mas também lhes dá a “dimensão” da presença de Jesus Eucarístico, “dimensão” tão importante para a Missa se “transformar” num encontro com Deus e não numa celebração “seca” como hoje em dia se diz.
 
Mas para isso, é necessário que nós catequistas tenhamos também essa intimidade com Deus, essa forma de orar dialogando, esse encontro tão pessoal com Jesus, que nos leva a falar d’Ele com paixão, com amor, com testemunho, de tal modo que leve os jovens a perceberem que há um Deus bem real e presente nas nossas vidas.
Com certeza que cada catequista tem a sua espiritualidade, a sua maneira de sentir e viver Deus, mas se por acaso essa vivência não é a de um Deus próximo e presente nas nossas vidas, como podemos nós transmitir a realidade da presença de Deus entre nós e em nós?
Sobretudo, se em casa os pais não são cristãos “activos”, e portanto não o sendo, não são os primeiros catequistas, a criança não terá a mínima ligação com Deus, e se não for levada a “perceber” Deus na sua vida, a catequese transforma-se em mais uma escola, em mais um estudo, em mais uma obrigação, em que é preciso decorar um certo número de coisas, que, ainda por cima, parecem não ter qualquer importância para vida do dia-a-dia.
 
Para se ser catequista não será, portanto, apenas necessário saber o guia de “fio a pavio”, conhecer muitas dinâmicas, “ter jeito” para ensinar, mas para além disso, ser um cristão de vivência diária da fé que testemunha Cristo na sua vida, nas suas atitudes, nos seus gestos, nos seus sentires, na sua entrega e, sobretudo, confiar que é Ele que transforma, que converte, que dá a graça da fé, servindo-se de nós, seus «servos inúteis».
 
Reparemos que muitos pais cristãos convictos e empenhados, podendo não saber muito de catequese, são no entanto aqueles que dão aos filhos os seus primeiros contactos com Deus, e fazem-no de tal forma e com tal paixão, (nas orações da noite, junto à cama, às refeições, etc.), que os seus filhos sentem que Deus faz parte das suas vidas, faz parte das suas famílias, e que é o Guia de amor sempre presente, que os conduz em cada momento alegre ou triste, dando-lhes razão de vida e razão de amor, e portanto vai perdurar para sempre nas suas vidas, mesmo que aconteçam afastamentos mais ou menos longos, como a mim aconteceu.
 
 
 
Nota:
Gostaria que estes textos não fossem entendidos como uma qualquer crítica ou “lição”, (para tal não tenho competência), mas sim fruto de uma reflexão pessoal que vou fazendo ao sabor do que vou escrevendo.
 
 
Marinha Grande, 3 de Julho de 2013
Joaquim Mexia Alves
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