quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007

A QUESTÃO DA DEFESA DA VIDA EM PORTUGAL

LISBOA, domingo, 4 de Fevereiro de 2007 (ZENIT.org).- «A oração e o sacrifício dos fracos, dos pequenos, dos humildes, das crianças, dos doentes, dos atribulados, dos pobres são a nossa força mais poderosa» na luta em defesa da vida.

Quem fala é o Pe. Nuno Serras Pereira, sacerdote franciscano, escritor e uma das lideranças mais expressivas do movimento em defesa da vida, em Portugal, como pensador e militante pro-vida.

Nesta entrevista, concedida ao professor e jornalista Hermes Rodrigues Nery (Coordenador da Comissão Diocesana em Defesa da Vida e do Movimento Legislação e Vida, da Diocese de Taubaté), Pe. Nuno Serras Pereira reflecte temas relevantes sobre o contexto pro-vida na actualidade, especialmente em Portugal, no período que antecede o referendo sobre o aborto, que acontecerá em 11 de Fevereiro.

--Em meio às grandes ameaças de hoje contra a família e a dignidade da vida, com os inúmeros ataques que buscam derruir o sentido e o valor da pessoa humana, o senhor publicou o livro "O Triunfo da Vida", cujo título expressa forte esperança de que o combate em favor da vida não apenas não é uma batalha sisífista, mas - o que é importante - trata-se de um combate espiritual cuja vitória sem dúvida será o da cultura da vida sobre a cultura da morte. Nesse sentido a sua obra (e sua acção pastoral) reforça sua fé no cristianismo como fermento permanente da vida, perspectiva sempre promissora da salvação de todos. Como o senhor vivencia esta esperança diante dos desafios actuais?
--Pe. Nuno Serras Pereira: Como a Revelação nos ensina, só em Jesus Cristo é que somos salvos. Pela Sua Ressurreição Ele triunfou, de uma vez para sempre, do pecado e da morte. Por isso, é preciso tornar presente essa vitória, anunciando, celebrando e testemunhando o Evangelho da vida, sem medo, nem ambiguidades, nem concessões. A Verdade celebrada, proclamada e vivida derruba todas as muralhas de egoísmo, de mentira, de destruição e de ódio - como nos ensina a narrativa sobre a conquista de Jericó. O poder de vida e de amor que brota da Paixão Redentora de Cristo é infinitamente maior do que as forças avassaladoras da fragmentação e da morte.

--A defesa da família e da vida humana é hoje uma causa urgente, de exigências cada vez mais intensas, que envolve a necessidade de informação e aprofundamento dos temas bioéticos, como também de recursos financeiros (sempre exíguos) e meios para uma acção conjunta, coordenada, com política de não-violência e que seja realmente eficaz. Tudo isso demanda esforços e apoios, mas o tempo corre veloz, não sendo mais possível enfrentar a problemática por métodos tradicionais, diante de situações que se tornaram muito complexas. E então? O que fazer? O senhor poderia pontuar alguns procedimentos indispensáveis para o êxito de uma acção pro-vida diante dos actuais desafios existentes?
--Pe. Nuno Serras Pereira: Perante os meios poderosos de desinformação e propaganda e tendo em conta a dimensão gigantesca dos ataques à vida e à família creio que é necessária uma formação urgente dos responsáveis da Pastoral na Igreja para que estes temas estivessem habitualmente presentes na catequese, nas homilias, na reflexão dos movimentos eclesiais, em retiros, na preparação para o matrimónio, etc. Parece-me que os tempos de ingenuidade e de falsas aberturas ao mundo têm de acabar. A consciência forte de uma identidade católica e a comunhão e obediência ao Magistério da Igreja são essenciais quer para o diálogo ad extra, quer para a Nova Evangelização. Só essa cultura verdadeiramente católica é que poderá gerar leigos que, nas várias profissões, na política, na cultura, etc., sejam agentes de transformação e transfiguração do mundo.

--Há iniciativas (de indivíduos e instituições, organismos da sociedade civil e até mesmo do poder público) que buscam convergir acções conjuntas em favor da vida. Mas ainda são iniciativas insuficientes e nem sempre com resultados capazes de fazer contraponto à lógica e á mentalidade antivida que prevalece, especialmente nos países ricos. A Igreja é chamada a ser "sinal de contradição", mas também se sente apreensiva e até mesmo tímida na acção. Com que forças a Igreja pode contar para fazer frente a tão grandes demandas?
--Pe. Nuno Serras Pereira: A oração e o sacrifício dos fracos, dos pequenos, dos humildes, das crianças, dos doentes, dos atribulados, dos pobres são a nossa força mais poderosa. Depois, haverá sempre a necessidade da relação interpessoal e o testemunho continuado da ajuda concreta a quem dela precise neste campo. É preciso também não procurar o sucesso, a honra e a fama e não ter medo de passar por louco aos olhos do mundo. É o “sinal de contradição” que acaba por gerar a comunhão. O mundo para se converter precisa de ter a certeza que acreditamos mesmo na verdade que anunciamos e a sua aversão só se transformará em conversão se permanecermos no amor.

--Como evitar a avalanche de falsos valores que vão estendendo a mentalidade anti-vida por toda a parte, corroendo assim lentamente a tessitura social, como percebemos pelas explosões de violências (em todos os níveis) por toda a parte? Como agir em meio a toda esta situação, em conformidade com o espírito do Evangelho, e à realidade que aí está, sem se deixar impregnar pelo utilitarismo, cepticismo, relativismo e todos os demais ismos que caracterizam a pós-modernidade, nesta espécie de globalização que se volta contra a humanidade?
--Pe. Nuno Serras Pereira: Todos esses antivalores que atacam a humanidade do próprio homem têm ultimamente origem “naquele que é homicida desde o princípio” que “é mentiroso e pai da mentira”, como nos diz Cristo no Evangelho de S. João. Na celebração dos sacramentos encontramos o próprio Cristo que nos purifica, fortalece e une a Si, tornando possível a resistência e a vitória sobre o Maligno. Toda a pessoa humana que injustamente a nós se opõe, na medida em que testemunhamos a verdade (já que pode haver uma justa oposição devida às nossas limitações e pecados), ultimamente, sem disso se aperceber, está-nos pedindo auxílio, socorro, libertação. Daí que, como dizia Santo Agostinho, importa muito distinguir o erro ou o pecado da pessoa do pecador. Nós ao atacarmos o erro e o pecado da pessoa, a ela nos estamos a aliar para redimi-la da escravidão em que se encontra. A pertença a Cristo e à Igreja, vivida numa experiência comunitária de amizade e interajuda fraterna cria um caldo de cultura sã que, evitando a contaminação, tende a irradiar formas de pensar e actuar salutares.

--Fale-nos da sua experiência como pensador e activista pro-vida. Como começou o seu trabalho de cristão militante em defesa da vida?
--Pe. Nuno Serras Pereira: A minha preocupação com este assunto começou, salvo erro, em 1976 ou 77 com as primeiras investidas abortistas em Portugal, dois anos depois da Revolução de Abril. Nos anos de 1982 a 1984, já entrado no Seminário Franciscano, comecei a estudar mais o assunto. A encíclica O Evangelho da vida, do Papa João Paulo II, em 1995, constituiu para mim um marco extraordinário, pela sua beleza, pela sua força, pela capacidade de mobilização que imprimia, pela clareza doutrinal, pelo desassombro. Li e reli tantas vezes esse texto singular que posso dizer que o mastiguei e engoli! Foi nessa altura que aperfeiçoei uma oração que tinha composto em 1984 e que é conhecida em Portugal por Oração pela Vida ou oração da Nossa Senhora do Ó. Até hoje já foram distribuídas, em Portugal, um milhão e meio dessas orações.
Estudei também diversos comentários a essa encíclica e desde então não deixei de aprofundar sempre cada vez mais esses temas acompanhando, até hoje, a bibliografia que vai saindo. Mais tarde entre 1996 e 1998 devido às novas investidas abortistas envolvi-me, já sacerdote, quase a tempo inteiro, em ligação com vários grupos de leigos formidáveis, dados à oração e à acção. Em Fevereiro de 1997 publiquei um livrinho, intitulado “Toda a Vida Pede Amor”. Nele procurei fazer um forte apelo à oração e à acção, sintetizando e salientando alguns aspectos da encíclica do Papa João Paulo II. Foi em 1998 que a minha mãe ao ver-me tão empenhado nestes combates me disse uma coisa que desconhecia.
Quando estava grávida de mim, eu sou o quarto de sete filhos, ela e meu pai foram pressionados para que eu fosse abortado… Poder-se-á explicar com esta ameaça experimentada no seio materno a minha dedicação a este campo de apostolado? Talvez em parte. Mas creio que antes disso se deve colocar a graça que Deus me tem concedido de entender a gravidade do que se passa e de contribuir com o que posso para lhe pôr remédio. Não é nada agradável estar continuamente observando e estudando as realidades da anticultura da morte para as denunciar e lhes dar resposta. De qualquer modo, isso obrigou-me a estudar filosofia do Direito, filosofia política, filosofia e teologia moral e bioética. Mas do que eu gosto mesmo é de teologia fundamental e sistemática, teologia bíblica, espiritualidade e literatura. Se pudesse era tão só a isso que me dedicava. Mas não posso. Quereria de algum modo descansar destas guerras, porém até agora não consegui, nem sei se algum dia conseguirei. O que se passa é mesmo demasiado grave para que alguém lhe possa ser alheio.
Em 1999 iniciei um boletim electrónico, Infovitae, composto de artigos e notícias respigados na Internet para ajudar a conscientizar e manter informados os seus leitores. Os textos que tenho escrito desde então foram publicados, em Junho de 2006, no livro que já referiu “O Triunfo da Vida”.

--O senhor poderia nos diagnosticar a situação de Portugal em relação à defesa da vida, especialmente no período entre o referendo de 1998 sobre a legalização do aborto e o que irá acontecer no próximo dia 11 de Fevereiro, quando os portugueses serão novamente chamados a se posicionar sobre esse tema? Por que essa questão voltou ao debate nacional? Quais os interesses em jogo?
--Pe. Nuno Serras Pereira: A mobilização dos pro-vida para o referendo de 1998 não acabou com este mas resultou num empenhamento continuado, com o apoio da Igreja, que se verificou num aumento substancial de associações de ajuda às mães grávidas em dificuldade e de auxílio às crianças abandonadas. Por outro lado, criou-se a Federação Portuguesa pela Vida que agrega a maior parte dos pro-vida. Apostou-se ainda na política com alguns deputados corajosos que foram muito activos no parlamento. Apesar de todo o trabalho heróico desenvolvido por tantos sofremos graves revezes ao longo destes anos. Desde logo, a introdução da chamada “educação sexual nas escolas” dominada quase exclusivamente pela APF que é a filial portuguesa da IPPF; a seguir um aumento exponencial da contracepção; depois a introdução da “pílula do dia seguinte”; em quarto lugar, todos os partidos políticos do Parlamento, pela primeira vez na nossa história, manifestaram o seu acordo com a legalização do aborto em 1984, e seus sucessivos acréscimos, aprovando uma resolução para que essa lei iníqua fosse efectivamente cumprida; finalmente a aprovação de uma lei de reprodução artificial absolutamente desastrosa. É muito preocupante que em todos estes casos houvesse políticos e médicos católicos, praticantes (!), responsáveis pelo que sucedeu. Pode-se dizer, sem medo de errar, que se não tivesse havido, ao longo do tempo, a cumplicidade de católicos não teríamos a anticultura da morte que hoje temos em Portugal.
«O aborto já é lícito, em Portugal, quando tem o consentimento da mulher grávida e é justificado: por razões "de morte, ou de grave e duradoura ou irreversível lesão para o corpo ou para a saúde física ou psíquica da mulher grávida"; por razão de "grave doença ou malformação congénita" do feto; por inviabilidade de vida do feto; por razão de gravidez resultante de crime contra a liberdade e autodeterminação sexual da mulher. Os prazos variam: conforme os casos, podem ser de 12 ou 24 semanas, ou até sem prazo. Mas são sempre prazos praticamente operativos - por exemplo, no caso de "constituir o único meio de remover perigo de morte ou de grave e irreversível lesão para o corpo ou para a saúde física ou psíquica da mulher grávida", não tem prazo.» (Prof. Mário Pinto).
O que agora se pretende com este novo referendo é alcançar a liberalização total do aborto até às dez semanas e, quer ganhem ou percam o referendo, criar uma mentalidade que admita sem resistência a abertura de “clínicas” privadas, convencionadas com o Estado, para praticarem o aborto. Mesmo que não ganhem o referendo, com a simples abertura dessas clínicas conseguirão o aborto livre até ao nascimento, invocando a saúde psíquica, como já acontece em Espanha, que tem uma lei praticamente igual à nossa.
Há grandes interesses políticos, económicos e ideológicos, muitos deles capitaneados pela APF/IPPF, que nunca deixaram que este tema esmorecesse e que nunca desistirão até alcançarem o que querem.


--Quais as expectativas dos movimentos em defesa da vida nesse momento histórico, que antecede o referendo de 11 de Fevereiro?
--Pe. Nuno Serras Pereira: Com os olhos postos em Deus e confiados na intercessão da Santíssima Virgem Maria combatem o bom combate, na Esperança que o Não ao aborto ganhe o referendo e seja ponto de partida para novos triunfos da vida. Providencialmente o referendo foi marcado para o dia de Nossa Senhora de Lurdes, e em peregrinação a Fátima fomos pedir à Mãe, que é a mesma, que nos conduza e nos ampare.

--Como tem sido a actuação da Igreja em Portugal, nesse período, especialmente o envolvimento dos padres e bispos na causa da vida?
--Pe. Nuno Serras Pereira: Eu creio que nós, como Igreja, temos graves culpas e que devíamos fazer uma acção de penitência pública pedindo perdão a Deus por elas. É demasiado fácil acusar um passado que mal conhecemos e que não vivemos, e ignorarmos os nossos próprios pecados. Para dar um só exemplo, basta referir que em nome de ideologias “pastorais” se profana a Santíssima Eucaristia, com gravíssimo escândalo público, admitindo à Sagrada Comunhão políticos e outras figuras conhecidas, que pública e obstinadamente fazem campanha por e votam leis que admitem o aborto.
Felizmente, o Conselho Permanente da Conferência Episcopal foi muito claro ao afirmar com todas as letras que os católicos “devem votar não”. Também o Senhor Cardeal Patriarca advertiu que a doutrina da Igreja “obriga em consciência todos os católicos”. Tem-se assistido, geralmente falando, a um empenho sério, determinado e constante dos Senhores bispos e dos sacerdotes. Mas o mais impressionante ainda é assistir a uma enorme mobilização dos fiéis leigos como há muitas décadas não se via em Portugal. Como escrevi num texto recente, a propósito deles, “são inúmeros os membros da resistência de quem nos devíamos aproximar com uma reverência semelhante à de Moisés diante da sarça-ardente. Neles, não obstante as suas fragilidades de barro, torna-se verdadeiramente presente Aquele que disse: Eu Sou Aquele que Sou – para vós; operando prodígios que confundem os adversários”.


--O Papa Bento XVI, em sua encíclica "Deus Caritas Est" afirmou que "quem reza não desperdiça o seu tempo, mesmo quando a situação apresenta todas as características duma emergência e parece impelir unicamente para a acção". Qual o papel da oração no bom combate em favor da vida?
--Pe. Nuno Serras Pereira: Desde sempre que o número 100 da encíclica O Evangelho da vida que faz um chamamento urgente à oração (e ao jejum) em ocasiões especiais mas também no dia a dia das comunidades cristãs e das famílias, foi para nós uma referência. Embora batalhemos com toda a determinação agindo sabemos bem que tudo depende da oração. Por isso, não só rezamos como pedimos a todos os mosteiros de contemplativos que, como Moisés orando de braços erguidos no monte, nos garantam o bom sucesso do combate como Moisés o garantiu às tropas comandadas por Josué contra as de Amalech.
O Papa Bento XVI com os seus contínuos e repetidos ensinamentos sobre a vida e a família tem sido uma fonte de enorme inspiração e encorajamento para todos nós.

--A partir da sua vivência, por que a mensagem da Igreja (o valor da sã doutrina) tem encontrado, ultimamente, grandes dificuldades de chegar à base da sociedade, principalmente em relação à moral sexual? Quais os factores que mais interferem? E que respostas a dar diante disso?
--Pe. Nuno Serras Pereira: Eu creio que o peso desmesurado da publicidade, dos meios de comunicação social e do ensino da escola estatal dificultam muitíssimo um ambiente são em que a verdade possa ser respirada e vivida. Penso, porém que há outros factores a ter em conta. Grande parte de dignitários na Igreja mais ou menos afectados pelos efeitos devastadores da revolução sexual, em nome de uma recusa do puritanismo em que porventura alguns terão sido educados, renuncia ao anúncio da verdade e do significado da sexualidade. Uns desistiram, outros são indiferentes e outros ainda cúmplices na deformação sexual. E, no entanto, a Igreja nos dias de hoje dispõe dum meio excelente e singular para se fazer ouvir e entender. Refiro-me às catequeses sobre a Teologia do Corpo do Papa João Paulo II. Onde esta verdade tem sido anunciada tem gerado conversões e transformações prodigiosas.
Depois importa muito lutar pelo ensino livre, para que possam ser as famílias a escolher livremente, sem serem penalizadas, o tipo de educação que querem para os seus filhos. Nos dias de hoje a salvação da vida e da família joga-se em grande parte na educação livre. O Estado totalitário procura subtrair os filhos à influência dos pais.
Finalmente, os pais têm o grave dever de velar para que os seus filhos não sejam expostos de qualquer maneira ao que passa na TV, ao que se encontra nos vídeos jogos e na Internet.

--Por que o relativismo parece ter mais força? Diante dessa mentalidade, tem sido muito difícil testemunhar os valores da família, num contexto de apologia explícita a modelos que contrariam os fundamentos da própria civilização. Muitos dizem que é falta de informação. Mas só isso é insuficiente. Faltam mais coisas. A família vem sendo agrilhoada, em todos os aspectos. Por que a evangelização, nesse sentido, tem sido cada vez mais difícil, e tem encontrado maior resistência?
--Pe. Nuno Serras Pereira: Há grupos minoritários e extremamente bem organizados dotados de enorme poder económico e político que pretendem destruir a família fundada no matrimónio entre um homem (varão) e uma mulher. A pessoa reduzida a indivíduo, sem uma teia de relações vinculantes, destituído das referências filiais/paternais e fraternas, torna-se presa fácil para qualquer manipulador. O homem sozinho torna-se indefeso e rende-se a tudo. Perde a noção da sua dignidade e abdica de toda a liberdade, prestando consentimento à sua própria escravatura. O poder de sedução desses grupos que dominam a propaganda encontra um aliado fácil na fraqueza ou fragilidade do coração humano ferido pelo pecado. O Papa Bento XVI tem indicado o caminho de redenção com toda a clareza, importa segui-lo.

--Poderia nos indicar dez propostas de políticas públicas em favor da família e da vida humana?
--Pe. Nuno Serras Pereira: Como sacerdote não é a mim que me compete dar soluções técnicas concretas para os problemas existentes. Isso faz parte das competências dos leigos.
No entanto, sempre posso adiantar que a política tem de estar centrada na dignidade da pessoa humana, desde o momento da concepção até à morte natural, e na família fundada no matrimónio entre um homem e uma mulher. As políticas não poderão penalizar os casais e as famílias, quer economicamente, quer facilitando o divórcio e as uniões de fato. O Estado deve garantir a liberdade de ensino e de educação. E subsidiariamente incentivar a natalidade.

--Poderia nos indicar, do mesmo modo, algumas propostas de acções pastorais, para uma promoção realmente mais eficaz da Igreja (religiosos e leigos) em sua missão de salvaguardar a família e a dignidade da pessoa humana?
--Pe. Nuno Serras Pereira: 1 - a) Garantir que ao longo de toda a catequese esteja presente o Evangelho da Vida, em particular no que diz respeito às questões do aborto e da eutanásia; b) Não admitir ao sacramento do Crisma qualquer jovem que não professe a verdade que a Igreja anuncia sobre estas questões; c) Por maioria de razão não aceitar nenhum catequista ou outro responsável eclesial que não adira ou tenha dúvidas sobre essa verdade.
2 – Que nos CPM e outro tipo de preparações para noivos ou casais se ensine a Teologia do Corpo do Papa João Paulo II e os métodos naturais de paternidade responsável.
3 – a) Que em todas as Missas em que se reze a Oração Universal, haja, pelo menos, uma intenção pela defesa da vida; b) Que as Paróquias, Congregações e Ordens Religiosas, e Movimentos organizem (em cooperação uns com os outros ou não) ocasiões excepcionais de oração pela vida); c) Que na catequese e noutras realidades eclesiais se reze habitualmente orações como a que o Papa João Paulo II na sua encíclica nos proporcionou ou a de Nossa Senhora do Ó ou qualquer outra adequada e aprovada.
4 – Que ao longo do ano os sacerdotes façam várias homilias sobre o tema, aproveitando festas como a da Anunciação, por ex, ou leituras que venham a propósito, ou, uma vez que a homilia também pode versar sobre isso, a antífona de entrada ou a oração da colecta, etc. Podem encontrar-se muitas sugestões em www.priestsforlife.org .
5 – Que as Dioceses ou a nível nacional se organizem acções de formação para o Clero sobre o Evangelho da Vida, em particular no que diz respeito à formação das consciências. Importa ainda dar uma formação específica sobre as relações entre a lei civil e a lei moral, sobre as leis intrinsecamente injustas, etc; sobre direitos humanos e sobre a verdadeira democracia.
6 – É necessária uma particular atenção aos políticos católicos. A maioria parece ter um conceito relativista da democracia, que é obviamente incompatível com a fé e a lei natural, Depois são de uma ignorância e de uma ingenuidade extraordinárias no que diz respeito às questões morais, às questões de defesa da vida, da sexualidade, da educação, etc. Não basta emitir notas pastorais ou outro tipo de documentos nem deixá-los à mercê de conselheiros espirituais ignorantes ou dissidentes, embora com grande projecção mediática, em relação à verdade anunciada pela Igreja para o bem de todos. Creio que seria indispensável um contacto personalizado da parte dos seus Pastores e propor-lhes formação adequada ao seu nível cultural apostando em encontros ou convénios especificamente dirigidos a eles e sem recear convidar gente estrangeira qualificada para conceder essa formação.
7 – Julgo que também seria urgente que em cada Diocese os Pastores convidassem os católicos de maiores responsabilidades políticas e sociais pedindo-lhes pessoalmente que se empenhassem, desde já, em acções concretas de defesa da vida, procurando organizar-se, não só para impedir alargamentos da lei actual do aborto, mas também para abolir a lei 6/84, o DIU, a contracepção de emergência, etc.: Pede-se «aos Pastores, aos fiéis e aos homens de boa vontade, em especial se são legisladores, um renovado e concorde empenho para modificar as leis injustas que legitimam ou toleram essas violências. Não se renuncie a nenhuma tentativa de eliminar o crime legalizado ... » (João Paulo II, Discurso aos participantes no encontro de estudos, pelo 5º aniversário da encíclica Evangelium Vitae (5º aniv. EV), 4) E ainda: Não «há nenhuma razão para aquele tipo de mentalidade derrotista que considera que as leis que se opõem ao direito à vida - as que legalizam o aborto, a eutanásia, a esterilização e os métodos de planeamento familiar que se opõem à vida e à dignidade do matrimónio - são inevitáveis e até quase uma necessidade social. Pelo contrário, são um gérmen de corrupção da sociedade e dos seus fundamentos.». (5º aniv. EV, 3).
8 – É preciso que se cumpra o cânon 915 do Código de Direito Canónico: Não se pode dar a Sagrada Comunhão a quem legisla, favorece, se conforma, vota ou faz campanhas por leis intrinsecamente injustas, como a que admite o aborto. É certo que qualquer Pároco tem o dever, depois de um juízo prudente, de negar a Sagrada Comunhão a quem perseverar obstinadamente nesse pecado, isto é a quem não se arrepender, retratando-se publicamente. No entanto, uma palavra autorizada dos Senhores Bispos, à semelhança do que têm feito alguns Arcebispos nos USA e em outros países, poderia ser de grande encorajamento e servir para a formação das consciências. Não se pode deixar de reconhecer que o respeito pelo culto e pela reverência devida a Deus e a Seu Filho sacramentado, o cuidado pelo bem espiritual dos próprios, a necessidade de evitar escândalo, e a preocupação pelos sinais educativos e pedagógicos para com o povo cristão e para com todos, pedem que se pare, de imediato, com este gravíssimo escândalo de admitir à Sagrada Comunhão políticos e outros com responsabilidades no aborto.
9 – As instituições e os meios de comunicação social da Igreja não devem convidar nem admitir para nelas trabalhar, palestrar ou conferenciar pessoas com responsabilidades públicas no aborto ou seus apoiantes.
10 – Os órgãos de Comunicação Social da Igreja têm de ser exemplares na fidelidade ao Evangelho da Vida. Não podem dar azo a ambiguidades. Devem conceder uma formação habitual e constante através de artigos ou de programas sobre as diversas vertentes do Evangelho da Vida. O critério de escolha para as pessoas a convidar, não deverá depender do peso mediático, dos títulos, mesmo eclesiais, mas da competência e da fidelidade à verdade que a Igreja anuncia. Basta de induzir os católicos em erro apresentando-lhes como verdade a doutrina adulterada e falsificada.
11 – Continuar o apoio às instituições de apoio às mães grávidas, às mulheres que abortaram e todos os que estiveram envolvidos nalgum aborto, às crianças em risco, aos idosos desamparados.
12 – Constituir equipas de leigos e padres que percorram o país de ponta a ponta, e não só as paróquias, dando formação sobre o Evangelho da Vida.
13 – É preciso que Fátima se transforme no centro do anúncio e da celebração do Evangelho da vida em Portugal e na Europa. Nossa Senhora, em 1917, advertiu que se não se fizesse o que Ela pedia a Rússia espalharia os seus erros pelo mundo inteiro. Ora a Rússia foi o primeiro país do mundo a legalizar o aborto. Além disso, como recorda João Paulo II, nas questões do aborto e da eutanásia dá-se uma “guerra dos poderosos contra os débeis”, e como todos sabemos a mensagem de Fátima está intrinsecamente ligada com a Paz. Também o Papa Bento XVI na sua última mensagem para a paz advertiu que “o aborto e as pesquisas sobre os embriões constituem a negação directa da atitude de acolhimento do outro que é indispensável para se estabelecerem relações de paz estáveis.”.
14 – Garantir uma formação fiel à verdade anunciada pelo Magistério da Igreja nos seminários e na Universidade Católica Portuguesa.


--No Brasil, o "Movimento Legislação e Vida" vem buscando uma actuação junto aos parlamentares para evitar a aprovação de leis antivida. As pesquisas dizem que 97% da população brasileira é contra o aborto, mas 70% dos nossos parlamentares são a favor. Isso quer dizer que os representantes do povo não estão em sintonia com o que realmente pensa a maioria da sociedade. Os lobbys anti-vida agem no Congresso, porque sabem que é mais fácil fazer a cabeça dos parlamentares do que de toda a população. Como o senhor vê essa situação? E como é essa realidade em Portugal?
--Pe. Nuno Serras Pereira: Quanto a mim, tem sido muito descuidada a formação dos católicos no respeitante à hierarquia de valores e ao comportamento na vida política. Para um discernimento verdadeiro em quem votar para nosso representante importa muito estudar a Nota Doutrinal da Congregação para a Doutrina da Fé “sobre algumas questões relativas à participação e comportamento dos católicos na vida política”.

terça-feira, 6 de fevereiro de 2007

AS MENTIRAS DO SIM

ROMA, terça-feira, 6 de fevereiro de 2007 (ZENIT.org).- Em uma entrevista concedida a Zenit, o Dr. Renzo Puccetti, especialista em Medicina Interna e secretário do Comitê «Ciência & Vida» de Pisa-Livrono, explicou quais e quantas mentiras foram contadas para fazer a população aceitar, sobretudo as mulheres, a liberação do aborto.
Tendo em conta que em Portugal será votado no dia 11 de fevereiro um referendo que tenta legalizar o aborto, o Dr. Puccetti reportou a trágica experiência vivida nos diversos países onde o aborto foi legalizado.
Dado o fato de que em poucos dias os cidadãos de Portugal serão chamados a exprimir sobre a legalização do aborto, o secretario do Comitê «Ciência & Vida» de Pisa-Lavorno comentou: «Reconhecê-los-ão por seus frutos», é uma máxima evangélica, tão densa de verdade que está penetrada com facilidade no senso comum».
«Elemento constante dos abortistas precisou Puccetti é a falsificação dos dados, da manipulação da verdade com fim de apresentar a supressão de uma vida humana inocente como necessária para a salvaguarda da vida, da saúde, da liberdade da mulher.
Nada é mais falso. Defesa da vida e defesa da mulher não estão absolutamente em antítese, afirmar isto da parte dos médicos que conhecem os dados é mentir, sabendo que está mentindo».
Zenit questionou quais são as mentiras apregoadas pelos abortistas, e o médico de Pisa respondeu: «Afirma-se que a legalização do aborto fará acabar o aborto clandestino, mas isto é falso. Na Itália, depois de 29 anos de aborto legal e mais de 4.600.000 abortos legais, o Instituto Superior de Saúde estima em 20.000 o número de abortos clandestinos por ano (Relatório do ministro da saúde sobre a atuação da lei sobre a tutela social da maternidade e a interrupção voluntária da gravidez (lei 194/78) no ano de 2006)».
A quem diz que legalizando o aborto e combatendo assim o aborto clandestino se evita que as mulheres morram por causa das complicações de tal prática que, por sua própria natureza, não assegura a mesma segurança de um aborto legal, o Dr. Puccetti respondeu: «Os dados da OMS referem que a mortalidade materna (a mortalidade da mulher no período do início da gravidez até o quadragésimo segundo dia depois do término da gravidez, conduzida ao término ou interrompida) em Portugal, Irlanda e Polônia, onde o aborto é ilegal, é em média mais baixa em relação a dos países vizinhos, respectivamente Espanha, Inglaterra e República Tcheca».
«Por outro lado acrescentou há um estudo que fez definitivamente cair o presumido rol salvífico do aborto em relação à mulher. Na Finlândia foram avaliados os falecimentos de todas as mulheres em idade fértil entre um ano do término da gravidez; o resultado é que as mulheres que abortaram voluntariamente tiveram uma mortalidade três vezes maior em relação àquelas que deram à luz, com uma taixa de suicídio de 700% (Gisler M, Berg C, Bouvier-Colle MH, Buekens P. Am J Obstet Gynecol. 2004 Feb; 190(2):422-7).
«O estudo do professor Fergusson, explicou o médico conduzido controlando um grupo de fatores, mostrou o aumento da incidência de depressão e dos distúrbios de ansiedade nas mulheres que abortaram (Fergusson DM et al. J Child Psychol Psychiatry. 2006 jan; 47(1):16-24)».
«Sobre a base das evidências sublinhou Puccetti está claro que o aborto é nocivo para a saúde da mulher; as verdadeiras feministas, aquelas que devem combater pela tutela da vida e da dignidade da mulher, não conheço muitas, são firmemente contrárias ao aborto, vendo como isto é simplesmente o primeiro passo de uma tecno-ciência que, prometendo à mulher maior liberdade, na verdade lhe tira do próprio corpo, roubando o know-how da mulher para confiá-lo a um técnico do corpo feminino».
Segundo o secretário de Ciência & Vida de Pisa-Livorno, «entre os frutos da mentalidade abortista não é estranho o inverno demográfico. Não são raros os casos que depois de um ou mais abortos, efetuados porque não era o momento oportuno para uma gravidez, voltam-se desesperados a buscar o tratamento pró-criativo com as técnicas mais invasivas, mas na maior parte falhas, de procriação artifical».
«Se se admite por lei que o direito a decidir o quando da maternidade prevalece sobre tudo, até poder sacrificar a vida humana, revelou o médico de Pisa é fácil que na sociedade prospere uma cultura de aniquilamento demográfico.
Também considerando as mães imigrantes que giram em torno de 12%, em geral têm dois filhos e antecipam a gravidez geralmente em quatro anos em relação às mulheres italianas, na Itália a natalidade está no limite mínimo».
Um dos argumentos utilizados pelos que sustentam a interrupção voluntária da gravidez é aquele de fazer acreditar que o aborto é bom para a mulher vitima de violência ou incesto. «Na verdade explicou Puccetti tais motivações entram em jogo em menos de 0,5% dos casos (Lawrence B. Finer Perspectives on Sexual and Reproductive Health Volume 37, Number 3, September 2005).
Também nestes dolorosos casos, de todas as formas, o aborto não constitui uma ajuda para estas mulheres, mas também pode acrescentar uma outra ferida a uma já aberta, como testemunhado por um documento específico redigido por mulheres americanas que ficaram grávidas apos um ato de violência (http://www.afterabortion.info/news/WPSApetition.htm).
Também a argumentação dos defensores da interrupção voluntária da gravidez, segundo os quais se diz que o recurso ao aborto é excepcional, é para Pucetti «uma motivação fraudulenta». O secretário de Ciência & Vida afirmou que «os dados desmentem esta tese».
Justamente «a abortividade há anos na Itália é estável em torno de 250 abortos entre 1000 nascidos vivos.
A legalização se associa a uma adição à prática abortiva: na Itália, somente no ano de 2004, 23.431 mulheres abortaram pela segunda vez, 6.861 pela terceira, 2.136 pela quarta e 1.433 por, pelo menos, a quinta vez».
«Todos os estudiosos, mesmo os abortistas, concluiu Puccetti admitem que aumentar o acesso ao aborto aumenta o recurso a esta medida. Entre os numerosos exemplos há o da Irlanda: é sabido que mulheres irlandesas vão abortar na Inglaterra, mas o fenômeno abortivo na Irlanda é um terço do inglês, onde o aborto é legal se requerido; é bom ter em mente que a tais áridos números correspondem 10.555 vidas humanas que nascem, vivem, se alegram e sofrem como todos nós, ao invés de ser jogadas no lixo entre os refugos especiais de um hospital».
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Retirado da ZENIT

sábado, 3 de fevereiro de 2007

NOTICIA?

No Diário de Noticias de hoje, o jornalista? Pedro Correia, escreve um artigo intitulado: "São católicos e militam na despenização"
Entre as os diversos erros que escreve, há este parágrafo que nos leva a perceber quem são os "católicos" que refere:
«A jurista Marta Rebelo, que também integra a Comissão Nacional do PS, sublinha que "Deus está na consciência de cada um que nele crê e a resposta ao referendo também está na consciência de cada um". Uma católica assumidamente "heterodoxa", casada pela Igreja mas não baptizada, esta socialista declara que "a penalização das mulheres é uma atitude desumanizadora". Nada mais natural em quem acredita num Deus que "impõe a todos os seres o respeito pelo semelhante".» (o destaque é meu).
Para além do resto que nem vale a pena comentar, reparemos que a Senhora não é baptizada, no entanto o jornalista? não hesita em chamar-lhe católica, o que no fundo está certo, porque a Senhora não é católica, visto não ser baptizada e não seguir a doutrina da Igreja Católica, e portanto apenas se poder apelidar, chamar, católica.
Lógicamente a Senhora tem todo o direito à sua opinião, tem todo o direito em considerar-se cristã, se acredita em Cristo, não pode é afirmar-se católica, se nem sequer entrou na Igreja Católica pela porta que é o Baptismo.
Acredito que o erro é do jornalista?, que mais uma vez faz confusão entre ser cristão e ser cristão católico.
É também interessante verificar que, se um católico afirma as suas convicções defendendo o não, está a tentar pressionar os outros e tal não é legitimo, mas se defender o sim, então já pode invocar essa condição.
Sem palavras!!!

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007

UMA VERDADE

"Um NÃO dito com convicção é melhor e mais importante que um SIM dito meramente para agradar, ou, pior ainda, para evitar complicações»
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Gandhi

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007

DOUTRINA DA IGREJA CATÓLICA SOBRE O ABORTO

Para que não haja dúvidas na mente dos Cristãos Católicos, sobre o que diz a Doutrina da Igreja Católica, acerca do aborto:
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«A Igreja afirmou, desde o primeiro século, a malícia moral de todo o aborto provocado. E esta doutrina não mudou. Continua invariável. O aborto directo, isto é, querido como fim ou como meio, é gravemente contrário à lei moral:
Não matarás o embrião por meio do aborto, nem farás que morra o recém-nascido. (Didaké 2,2)
Deus, Senhor da vida, confiou aos homens, para que estes desempenhassem dum modo digno dos mesmos homens, o nobre encargo de conservar a vida. Esta deve, pois, ser salvaguardada, com extrema solicitude, desde o primeiro momento da concepção; o aborto e o infanticídio são crimes abomináveis (GS 51).»
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Catecismo da Igreja Católica - 2271
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Didaké - significa "instrução" ou "doutrina".
É um escrito que data de fins do séc. I da nossa era.
É um manual de religião ou, melhor dizendo, uma espécie de "catecismo dos primeiros cristãos".
GS - Gaudium et Spes - Constituição Pastoral sobre a Igreja no mundo actual - Concílio Vaticano II
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Mais uma vez afirmo que falo para os Cristãos Católicos, e que não pretendo "impor" a minha Fé, as minhas convicções a ninguém, que não queira "ouvir".

terça-feira, 30 de janeiro de 2007

O DIREITO À VIDA

«O aborto não é um direito da mulher.
Ninguém tem o direito de decidir se um ser humano vive ou não vive, mesmo que seja a mãe que o acolheu no seu ventre.
A mulher tem o direito de decidir se concebe ou não.
Mas desde que uma vida foi gerada no seu seio, é outro ser humano, em relação ao qual tem particular obrigação de o proteger e defender.»
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Excerto da Nota Pastoral da Conferência Episcopal Portuguesa.

segunda-feira, 29 de janeiro de 2007

NÃO SOUBE DO MUNDO

Era tão pequeno
que ninguém o via.
Dormia sereno
enquanto crescia.
Sem falar, pedia
- porque era semente -
ver a luz do dia
como toda a gente.
Não tinha usurpado
a sua morada.
Não tinha pecado.
Não fizera nada.
Foi sacrificado
enquanto dormia,
esterilizado
com toda a mestria.
Antes que a tivesse,
taparam-lhe a boca
- tratado, parece,
qual bicho na toca.
Não soltou vagido.
Não teve amanhã.
Não ouviu "Querido"...
Não disse "Mamã"...
Não sentiu um beijo.
Nunca andou ao colo.
Nunca teve o ensejo
de pisar o solo,
pezito descalço,
andar hesitante,
sorrindo no encalço
do abraço distante.
Nunca foi à escola,
de sacola ao ombro,
nem olhou estrelas
com olhos de assombro.
Crianças iguais
à que ele seria,
não brincou com elas
nem soube que havia.
Não roubou maçãs,
não ouviu os grilos,
não apanhou rãs
nos charcos tranquilos.
Nunca teve um cão,
vadio que fosse,
a lamber-lhe a mão
à espera do doce.
Não soube que há rios
e ventos e espaços.
E invernos e estios.
E mares e sargaços.
E flores e poentes.
E peixes e feras -
as hoje viventes
e as de antigas eras.
Não soube do mundo.
Não viu a magia.
Num breve segundo,
foi neutralizado
com toda a mestria.
Com as alvas batas,
máscaras de entrudo,
técnicas exactas,
mãos de especialistas
negaram-lhe tudo
( o destino inteiro...)
- porque os abortistas
nasceram primeiro.

(Renato de Azevedo)

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Recebi por mail este perfeito poema, que aqui coloco.

sábado, 27 de janeiro de 2007

A LUTA PELA VIDA HUMANA

A história da humanidade é, para além de muitas outras coisas, uma longa luta pela vida humana.
Assim, já em tempos primitivos deixou de se comer carne humana.
Deixaram de se fazer sacrificios humanos a deuses ou por quaisquer outras razões.
Aboliu-se a escravatura.
Aboliu-se a pena de morte, e em todos os paises onde ainda existe é fortemente criticada.
Foram condenados pela história da humanidade todos aqueles que foram causa de exterminio de outros homens e recentemente alguns foram até levados a tribunal e condenados.
A ciência, a medicina, a cultura, lutam constantemente para descobrirem novas formas de estudar e preservar a vida humana.
E tantas, tantas atitudes e decisões são hoje tomadas para proteger e prolongar a vida humana.
Mas agora pretende-se dizer sim à morte, e à morte daqueles que ainda não nasceram e para os quais, os homens de hoje, com certeza, continuam a procurar todos os meios para protegerem a sua vida, a vida dos que continuarão a humanidade.
Se tal acontecer, que dirão os vindouros de nós, quando daqui a muitos anos olharem para o passado e verificarem, que depois de tantas gerações a defenderem a vida, existiu uma geração que liberalizou, que legalizou a morte.

quinta-feira, 25 de janeiro de 2007

A CERTEZA QUE QUEREM FAZER DÚVIDA

Olho para as fotografias dos meus filhos e penso:
«Seria possível ter “abdicado” deles, ter “desistido” deles antes de nascerem»?
Tal ideia é tão horrorosa que a afasto imediatamente do meu pensamento.
Então como é possível alguém pensar e agir assim?
Percebo assim que o argumento de que não há vida humana às 10 semanas tem de ser exaustivamente lançado e incutido nas cabeças de quem vai votar, sobre pena de que, perante a realidade da existência dessa vida humana, só aqueles que votam inconscientemente, ou egoistamente, poderem votar sim.
Reparemos que este argumento talvez seja o cerne de toda a questão, pois ninguém, verdadeiramente humano e lúcido, perante a realidade de uma vida, uma vida verdadeiramente humana nascente, colocará em causa essa vida, sejam quais forem os motivos.
Se essa vida é uma verdadeira vida humana, não colhem as razões, como por exemplo, a deficiência, seja ela qual for, porque senão estamos a fazer como Hitler fazia: eliminar os deficientes, e não me parece que alguém, verdadeiramente humano, tenha apoiado, ou apoie e desculpe agora tal prática.
Qual de nós, seres humanos, tem o direito de permitir, de dizer, quem deve viver e quem deve morrer?
E se uma razão tão forte como esta não colhe, como poderá qualquer outra razão ser aceitável, sobretudo se falamos em consentir toda e qualquer razão, seja ela qual for.
E se a vida de que falamos às 10 semanas é uma verdadeira vida humana, como pode alguém que a elimina não ser pelo menos recriminado por o fazer, como pode alguém que o faça não sentir que a sociedade é contra a eliminação daqueles que a constituem, daqueles que a vão constituir.
Então, coloca-se a pergunta:
Onde está confirmado, escrito, aceite por toda a comunidade científica e não só, de que não existe vida humana às 10 semanas?
É que, se não existe tal consenso, tal confirmação, a defesa da vida terá que pender sempre para o lado mais fraco, que é sem dúvida neste caso a vida humana em gestação.
E agora, pergunto eu, como é possível quererem afirmar que “aquilo” que deu origem aos meus filhos, que vejo nestas fotografias, não era uma vida humana às 10 semanas, ou em qualquer tempo depois da concepção?
Não é só Deus que diz ao meu coração que sem margem para dúvidas ali está uma vida humana, é também todo o meu ser humano que o grita bem alto à minha inteligência, ao meu sentimento, à minha própria existência.
Por isso e por tantas mais razões, reafirmo que no dia 11 de Fevereiro, votarei Não, no referendo.

domingo, 21 de janeiro de 2007

ARTIGO DO PADRE ANSELMO BORGES SOBRE O ABORTO

«O blastocisto, por exemplo, é humano, vida e vida humana, mas não um individuo humano e, muito menos, uma pessoa humana.»

«Antes da décima semana, não havendo ainda actividade neuronal, não é claro que o processo de constituição de um novo ser humano esteja concluído.»

Anselmo Borges publica hoje no Diário de Noticias o seu artigo semanal, a que intitula “Referendo sobre o aborto”.
Entre vários considerandos, coloca as duas frases acima referidas, para defender não sei muito bem o quê.
Não se poderá dizer que as frases estão retiradas de contexto, porque as mesmas são afirmações por si mesmas, produzidas pelo autor do texto.
E é isto que me espanta, porque Anselmo Borges é Sacerdote da Igreja Católica, como aliás faz questão de deixar expresso na coluna por si assinada, logo abaixo do seu nome:
“Padre e professor da Filosofia”.
«O blastocisto é humano, vida e vida humana».
Ora para mim, cristão e católico, a vida humana é Dom de Deus e como tal a Ele pertence, eu não posso dispor dela a meu belo prazer.
Foi assim que me ensinaram, e que ensina o Catecismo da Igreja Católica:
«A vida humana é sagrada, por que desde a sua origem, supõe a acção criadora de Deus e mantém-se para sempre numa relação especial com o Criador, seu único fim. Só Deus é Senhor da vida, desde o principio até ao fim: ninguém, em circunstância alguma, pode reivindicar o direito de destruir directamente um ser humano inocente.» 2258
Logo, se a explicação dada acima pelo autor do artigo, é para de alguma forma justificar o aborto, seja em que circunstância for, não está de acordo com aquilo que ensina a Igreja a que o mesmo pertence.
E digo isto, porque mais à frente o autor do artigo dá-nos a entender que concorda com o aborto em determinadas circunstâncias: «Não sem razão, pensam muitos (eu também) que, se fosse cumprida, a actual lei, permitida nos casos…, seria suficiente».
O Padre Anselmo Borges é com certeza um homem inteligentíssimo, profundamente culto, até teólogo, como muitos o reconhecem, (eu pessoalmente não tenho competência para isso), mas não é um homem simples, de humildade simples, com vontade de esclarecer o comum mortal.
Do alto da sua sabedoria escreve coisas que em vez de esclarecerem, baralham, que não estão de acordo com a Doutrina da Igreja a que pertence, e que, numa tentativa de justificar o injustificável, de apresentar uma abertura “politicamente correcta”, acabam por dar razão àqueles que não dando valor à vida concebida, a querem muito simplesmente eliminar.
«A sabedoria é o esplendor da luz eterna, o espelho puríssimo da actividade de Deus, a imagem da Sua bondade.» Sab 7,26
Tal como na outra frase que retirei do artigo:
«Antes da décima semana, não havendo ainda actividade neuronal, não é claro que o processo de constituição de um novo ser humano esteja concluído», faz uma afirmação que não está verdadeiramente aceite pela ciência, ou seja, que não há “actividade neuronal antes das décima semana”, partindo para a conclusão, de que “o processo de constituição de um novo ser humano esteja concluído”.
É lógico que não está concluído, nem estará aos nove meses!
Se Anselmo Borges não fosse Sacerdote não me preocuparia este seu escrito, mas sendo um Presbítero Ordenado na Igreja Católica, com a sublime missão de guiar o Povo de Deus, peço-lhe humildemente que não baralhe aqueles que acreditam que a vida humana é Dom de Deus e que portanto não está nas mãos dos homens retirá-la seja a quem for, sobretudo àqueles que ainda nem sequer se podem defender.
Reconheço humildemente que não tenho conhecimentos para suportar uma qualquer discussão com o Padre Anselmo Borges, sobre este ou outros assuntos, mas acredito que na abertura de coração, o Senhor nos dará a pureza simples da Sua vontade.

Saliento ainda que este escrito é dirigido àqueles que como eu acreditam em Deus Pai Criador, vivem a Fé no Senhor Jesus Cristo, se deixam guiar pelo Espírito Santo e vivem em Comunhão na Igreja Católica.
Não pretendo assim, exercer “pressão” sobre ninguém, (como para aí alguns afirmam), dando testemunho da Fé que vivo.

PENSAMENTOS INSPIRADOS NA PROCURA DE DEUS 30

Sendo todos Corpo Mistico de Cristo, como pode uma parte sofrer e outra ficar indiferente a esse sofrimento?

sexta-feira, 19 de janeiro de 2007

A VIDA NASCENTE

Excertos da homilia de D. António Marto, Bispo de Leiria-Fátima, na peregrinação de 13 de Janeiro.
«Embora sabendo que é fruto da sua fertilidade e do seu amor, os pais acolhem o filho como um dom que é confiado à sua solicitude, e não como uma coisa ou um objecto de que são proprietários e de que podem dispor arbitrariamente.
Qual o segredo último desta nova vida orientada a desabrochar na flor da consciência e na glória da liberdade? À luz da fé cristã, a geração do ser humano lança raízes no mistério de Deus Criador, fonte de toda a vida. Não é mero produto do acaso irracional e sem sentido da evolução. Traz em si a marca de criatura “à imagem de Deus”. “Cada menino que nasce, traz-nos o sorriso de Deus e convida-nos a reconhecer que a vida é dom Seu, a acolher com amor e a guardar sempre e em cada momento” (Bento XVI).
Qualquer homem ou mulher de boa vontade, mesmo não crente, intui que na vida humana que nasce, há um valor sagrado, que inspira respeito e pode ser captado à luz da razão. Um não crente, como Umberto Eco, afirma: “Julgo que o nascimento de uma criança é uma coisa maravilhosa, um milagre natural que devemos aceitar”! E, na mesma lógica, um outro filósofo italiano, Norberto Bobbio, laico e socialista, afirma que a defesa da vida humana, antes e depois de nascer, é “uma causa progressista, democrática e reformista”, que não deve ser deixada só aos crentes.»
«O fenómeno do aborto como chaga social é sintoma de um mal-estar mais profundo de cultura e de civilização, da própria sociedade. Alastra uma visão materialista que reduz o conceito de vida humana a um mero produto ou material biológico; e uma visão pragmático-utilitarista que remete por completo a sensibilidade moral para as fronteiras dos custos, do bem-estar, do conforto etc. E, então, a nossa sociedade torna-se simultaneamente frágil (face aos problemas da vida) e “dura” (nas soluções drásticas) em função da lógica utilitarista e competitiva.
Não ignoramos, nem podemos ignorar que, muitas vezes, a decisão de abortar é fruto de grandes sofrimentos e angústias (sem excluir as pressões), que é um verdadeiro drama para muitas mulheres. Mas pensamos que a um drama não se responde com outro drama: o de destruir uma vida humana que desabrocha e que é o elo mais fraco em todo este processo. A resposta verdadeiramente humana e humanista a este drama é um projecto solidário e galvanizador de todos os recursos da sociedade civil e do Estado, para oferecer todo o cuidado, acolhimento e protecção de ordem social, económica e psicológica tanto ao filho em gestação como à mãe que o gera. Não podemos considerar um sem o outro; e muito menos pôr um contra o outro. A liberalização do aborto, embora disfarçada sob a forma jurídica de despenalização, não é a resposta digna e condigna. É uma fuga em frente, para não atacar o problema nas suas raízes. Não é caminho de progresso, de futuro e de liberdade.»

quarta-feira, 17 de janeiro de 2007

DIREITO DE NASCER

Fico assim, meu Deus, a pensar naqueles que não nascem, porque não os deixam nascer.
Fico assim, meu Deus, a pensar que nasci, porque me deixaram nascer.
Fico assim, meu Deus, a pensar naqueles que tomam decisões sobre a vida dos outros que ainda não nasceram, mas podem tomá-las porque a eles os deixaram nascer.
Dizem-me que é assim, meu Deus, que a vida é feita de escolhas, de decisões que é preciso tomar.
Mas como posso eu, meu Deus, tomar decisões sobre a vida dos outros, dos que estão para nascer, se eles ainda não podem tomar decisões sobre a minha vida já nascida?
Dizem-me que é assim, meu Deus, que são os direitos de cada um.
Mas como posso eu, meu Deus, arrogar-me dos meus direitos, se não concedo aos que ainda não nasceram o direito básico à vida, que lhes dá o direito… a terem direitos?
E por isso, meu Deus, fico assim a pensar que o único direito, verdadeiramente direito, é o direito a nascer, é o Direito à Vida!

segunda-feira, 15 de janeiro de 2007

A VERDADEIRA CURA - A SALVAÇÃO

Sentia-se sozinho, triste, abandonado, desprezado, desesperado.
Já tinha experimentado tudo, médicos, tratamentos, “videntes”, médiuns, “bruxos”, enfim tudo o que estivesse ao seu alcance e ele pensasse que poderia resolver o seu problema.
Ele não sabia o que era pior, se a doença que minava todos os dias o seu corpo, se o afastamento, o desprezo, a condenação, enfim o medo dos outros em aproximarem-se de si, em sequer olharem para si.
Sim, porque aquela doença, para além das dores físicas e da certeza do desenlace fatal, trazia consigo a condenação humana de todos os que o rodeavam, não só por causa do medo do contágio, mas também pelos motivos que todos pensavam o tinham feito contrair a doença.
Para uns era homossexual, para outros um drogado, para outros ainda um libertino, enfim era para todos um individuo com quem não convinha ter qualquer espécie de relação, social ou outra.
Sentia-se um proscrito, um impuro.
E como isso doía na sua vida, mais ainda que o sofrimento físico.
O pior ainda, é que por causa desta reacção de todos os outros, o seu coração começava a alimentar sentimentos de rancor, de ressentimento, de ódio por todos os que não conseguiam ter para com ele uma palavra de alento, um gesto de ternura, um sorriso ao menos que fosse.
Se já era má toda a doença e tudo aquilo que os outros lhe faziam, ou melhor, não faziam, eram piores ainda estes sentimentos que envenenavam o seu coração, a sua vida, a sua maneira de estar, retirando-lhe a pouca paz que ainda ia conseguindo ter.
Não morria só da doença, morria também envenenado pelos seus próprios sentimentos.
E para este problema não havia médico, nem tratamento, nem medicamento que atenuasse ou curasse.
Estava desesperado, não tinha mais nada, nem ninguém a quem recorrer.
Um dia em que estava no hospital, para fazer mais uns intermináveis tratamentos e análises, (que ele apenas fazia por rotina, pois já não acreditava em nada), recebeu a visita de alguém que ele não conhecia, mas que com alguma ternura e sem insistência incómoda, lhe falava de alguém que gostava muito dele, que até o amava; pelo menos era isso que essa pessoa lhe dizia.
Prestou atenção e ouviu o outro dizer-lhe que havia ou tinha havido um tal Jesus Cristo, que amava todos os homens, muito especialmente os que sofriam. Aliás, dizia ele, amava-os tanto que até tinha dado a vida por eles.
Pareceu-lhe tudo aquilo uma grande fantasia, mas a delicadeza e carinho do outro impediram-no de ser malcriado e agressivo, como normalmente era e impeliram-no a aceitar um livro que o outro lhe oferecia, dizendo ser o grande livro da vida, que contava a história desse tal Jesus Cristo.
No meio das dores aceitou o livro, pedindo no seu intimo que o outro se fosse embora e o deixasse em paz com os seus pensamentos, com a sua vida.
Quando deixou o hospital, indo mais uma vez para casa esperar o inevitável, viu o livro em cima da mesa de cabeceira, mas de propósito deixou-o ficar onde estava, pois pensou que não tinha paciência para nada e muito menos para ler histórias irreais.
Estava a sair do hospital, quando apareceu uma enfermeira que lhe vinha entregar o livro esquecido no quarto e que ele a contragosto aceitou.
Chegando a casa, colocou o livro em cima duma mesa e foi descansar, pois aqueles exames deixavam-no exausto. Acordou passadas umas horas, com muitas dores e, sobretudo, com um desespero ainda mais profundo que o habitual, pois em seu entender todos aqueles tratamentos para nada serviam a não ser retardar o fim.
Sentia-se verdadeiramente sozinho, desesperado e quase suplicava a si próprio, que se ninguém gostava dele, que ele ao menos fosse capaz de gostar de alguém.
Ligou a televisão para se distrair, mas mesmo a olhar para as imagens que passavam não se conseguia abstrair dos terríveis pensamentos que o assaltavam.
Desligou a televisão e o seu olhar caiu sobre o livro colocado em cima da mesa.
Pegou nele e folheou-o.
Era um livro estranho, com um papel muito fino, impresso a duas colunas e que lhe pareceu nalgumas partes com um texto muito denso.
Decidiu abri-lo ao acaso e ler o que estava nessas páginas.
Aquela parte tinha um titulo que dizia: “A filha de Jairo e a mulher com fluxo de sangue”. (Lc 8, 40-56)
Chamou-lhe a atenção aquela história do “fluxo de sangue”, pois não entendia o que poderia ser aquilo e decidiu então ler pelo menos aquele episódio.
Parecia uma historieta simples, ainda por cima contada num português estranho. Eram coisas passadas há muito tempo.
Quando chegou à parte da mulher com o fluxo de sangue, perguntou-se, porque é que a mulher não falava directamente com o tal Jesus e vinha por detrás para lhe tocar no manto.
Viu que essa frase chamava a atenção para uma nota no fim da página, relatando que a doença de que a mulher sofria, a tornava impura perante a sociedade de então e assim sendo, a afastava do convívio dos outros.
Não pode deixar de estabelecer um paralelo entre ele e a vida daquela mulher sem esperança nos médicos, tendo já experimentado tudo e que ainda por cima, por causa da sua doença, não podia ter uma vida normal, social, pois os outros afastavam-se dela e, com certeza, inventavam histórias a seu respeito.
Decidiu ler com atenção toda aquela história e à medida que o foi fazendo, ia invejando aquela mulher, por que apesar de todo o seu desespero, ainda acreditava, ainda tinha esperança que tocando no manto daquele Jesus, podia ficar curada.
E a realidade é que era isso mesmo que a história contava. A mulher tinha tocado no manto de Jesus e tinha ficado curada.
Pensou então: «Não é mais que uma história bonita e para além disso, mesmo que fosse verdade, foi há tantos anos, que este Jesus já morreu com certeza há muito tempo».
Fechou o livro e decidiu não se preocupar mais com aquilo, até porque não valia a pena ter esperança naquilo que estava perdido no tempo passado e presente.
Passado algum tempo, deu por si curioso, querendo saber quem era aquele Jesus, donde tinha vindo, como vivera, o que lhe tinha acontecido.
Não se ia incomodar muito com isso, mas iria ler mais um pouco do livro para saber mais alguma coisa, sobre esse Jesus.
Mal não lhe havia de fazer, até porque, lembrava-se agora, já tinha ouvido vagamente falar dEle quando era criança.
À medida que ia lendo, toda aquela história lhe parecia estranha, embora houvesse qualquer coisa que o fascinava, ou melhor, que o tocava, que quase o obrigava a ler e a querer saber mais sobre aquele homem.
Havia uma mulher a quem aparecia um anjo, e lhe dizia que ela ia ficar grávida de um Filho de Deus e mais incompreensível ainda, apesar de grávida e da criança nascer, a mulher seria sempre virgem, pois nunca conhecera nem conheceria homem.
Tudo isto ia para além da sua imaginação, mas na fase em que estava da sua vida, se alguma coisa lhe poderia prender a atenção, seria algo que não fosse deste mundo, pois descrente como estava, só uma coisa assim lhe poderia dar alguma esperança.
Ia lendo e cada vez mais lhe parecia inconcebível toda aquela história.
Então aquela mulher estava grávida do Filho de Deus e a primeira coisa que fazia era ir servir para casa duma prima velha, que também estava grávida.
Então aquele menino era Filho de Deus e nascia numa qualquer gruta, numa qualquer manjedoura, tendo por testemunhas uns míseros pastores.
Então o Filho de Deus, que tinha com certeza um poder imenso, fugia dum rei qualquer, indo montado num burro para um país estrangeiro.
Que Deus era este que colocava o seu Filho a aprender o oficio de carpinteiro e a obedecer a uma família normal, a uma mulher e um homem iguais a tantos outros e até a ele próprio, atendidas, claro está, as diferenças óbvias.
Que sentido fazia este Filho de Deus, que em vez de reunir um exército e conquistar a terra, ou mais fácil ainda, fazer um gesto e acabar com os seus inimigos, andava a reunir-se com pescadores e homens simples, a percorrer o país a pé, falando com as pessoas, com os mais desgraçados e humildes e até com aqueles que pelos vistos, pelas vidas que viviam, mais afastados estavam de Deus.
Então e os milagres!!! Fazia milagres permanentemente e não aproveitava para ficar rico ou convencer a multidão do seu poder.
Parecia que se preocupava mais com a alma, com o coração do que com o corpo.
Dizia coisas estranhas tais como: Que devemos perdoar aos nossos inimigos e a quem nos quer mal, que devemos amar a todos por igual e até àqueles que não gostam de nós, que não devemos viver para o mundo pelo mundo, mas sim acreditar numa vida para além da morte.
Tudo isto era muito estranho, muito confuso, mas o que achava mais extraordinário, é que o seu coração batia mais forte quando lia a história daquele homem e mais espantoso ainda, nascia nele uma esperança simples que há muito tempo julgava morta.
Começava agora a compreender aquela mulher do fluxo de sangue.
Curiosamente, já nem lhe interessava saber o que era isso do fluxo de sangue, porque começava a entender que essa era a parte menos importante de toda a história.
Ao ler e reler o episódio daquela mulher, cada vez encontrava mais semelhanças com a sua própria história.
Também àquela mulher tinham falado daquele Jesus Cristo, tal como a ele no hospital.
Ainda bem, pensou ele, existirem pessoas que falavam daquele Jesus. Tinha sido bom para aquela mulher e estava a ser bom para ele.
Também aquela mulher era uma escorraçada da sociedade, tal como ele, ambos por causa duma doença que não era aceite pelos outros.
Aquela mulher tinha procurado tudo, tinha gasto todos os seus bens tal como ele, e não tinha encontrado cura para o seu mal.
Tudo era igual, com uma só diferença, que se tornava aos seus olhos incontornável.
A história daquela mulher tinha sido há muitos anos, aquele Jesus Cristo já tinha morrido e por isso não podia esperar encontrá-Lo para Lhe tocar no manto.
No entanto, uma força interior inexplicável animava-o a prosseguir a leitura.
Os milagres continuavam e aquele homem era continuamente amado por uns e desprezado e odiado por outros, mas a verdade é que nunca fazia valer os seus direitos de Filho de Deus a não ser para fazer bem aos que precisavam.
Chegou então a um ponto da história que não conseguia entender, pois para ele não fazia qualquer sentido.
Aquele homem, Jesus Cristo, o Filho de Deus, era preso por gente “normal”, (aliás atraiçoado por um dos seus), era humilhado, espancado, desprezado e nada fazia para acabar com tudo aquilo.
Pelo contrário, falava sempre com Deus, a quem chamava Pai e apenas lhe dizia: « Que seja feita a Tua vontade».
E todos O tinham deixado sozinho, com toda aquela multidão enfurecida, liderada por aqueles que, ainda por cima, estavam á frente do culto a Deus.
Para ele era incompreensível, mas mais do que isso estava indignado!!!
Então onde estavam aqueles que O seguiam, onde estavam aqueles que Ele tinha curado, onde estavam aqueles que Ele tinha ajudado?
Ah, se ele ali estivesse não teria deixado aquilo acontecer!!!
Quando este pensamento lhe veio à cabeça, pensou para si:
«Estou doido ou quê, isto é uma história, que para além do mais não faz grande sentido, porque não há ninguém assim, que seja ofendido e maltratado e só pense em perdoar àqueles que o ofendem e maltratam».
Continuou a ler e de repente foi como se um “balde de água fria” o tivesse atingido.
Afinal o Homem tinha morrido. Afinal o Filho de Deus tinha morrido.
Perguntava-se a si próprio:
«Para que serviu afinal tudo isto»?
Só então se deu conta da esperança que tinha depositado naquele Homem. Tanta esperança que ao fim de tanto tempo tinha renascido no seu coração e afinal o Homem tinha morrido.
Como no entanto a história continuava, recomeçou a leitura.
Deu por si com a boca aberta de espanto: O Homem tinha ressuscitado ao fim de três dias!!!
Não, não tinha sido ao fim de algumas horas, em que até podia ter estado cataléptico. Não, tinha sido ao fim de três dias, depois, aliás, de ter sido sepultado.
O que mais o espantou, no entanto, não foi o que ele tinha lido, mas sim o facto de em seu coração acreditar no que tinha lido.
Compreendia agora perfeitamente aquela mulher. Ela tinha-se desprendido de tudo o que era mundo, até da sua própria vergonha, e com a esperança daqueles que já nada esperam do mundo em que vivem, com a confiança daqueles a quem já só resta confiar, com a fé daqueles a quem já só resta acreditar, tinha-se aproximado de Jesus porque acreditava que seria curada, (com uma fé para além da razão), e percebia ele agora, curada mais do espírito do que curada do corpo.
Percebeu então que aquela mulher apesar de ter ficado curada do seu mal físico, (Lc 8,44), só ficou verdadeira e totalmente curada quando falou com Jesus e contando toda a verdade, (Mc 5,33), como numa confissão, foi mandada em paz pelo Filho de Deus.
Pois, pensou ele, Jesus ressuscitou, mas partiu para junto de Deus, Seu Pai, pois com certeza não quereria mais nada com este mundo e com estes homens que tão mal O tinham tratado, levando-O até aquela morte horrivel.
Como poderia ele agora falar-Lhe, contar-Lhe a sua vida, esperar o Seu perdão e a Sua cura.
Continuou a ler e uma intensa alegria invadiu-o!
Mesmo depois de ressuscitado e junto do Pai, Jesus Cristo continuava no mundo e a falar aos homens.
Tinha falado com aqueles no caminho de Emaús, tinha comido peixe com os Apóstolos e no fim tinha prometido que ficaria para sempre com a humanidade.
Promessa de Deus é para cumprir, pensou ele.
Uma paz e uma calma muito grande invadiram-no.
Percebeu que nesse momento algumas pessoas lhe pegavam e o transportavam para qualquer sitio que parecia um hospital, mas já nada lhe interessava, que estivesse ligado a este mundo.
Abriu os lábios e disse sem se importar se era ouvido por alguém:
«Jesus, fica aqui comigo. Dá-me a Tua mão, dá-me o Teu perdão. Ajuda-me e ensina-me a perdoar a todos aqueles que me fizeram mal e a quem eu ofendi. Perdoa-me todo o mal que fiz, porque, percebo agora, eu também estava com aquela multidão no dia da Tua morte. Aceita-me. Entrego-me conTigo à vontade do Pai».
Sentiu então que Jesus sorrindo o tocava e lhe dizia:
« Fica em paz meu filho, a tua fé te salvou».
Dos seus lábios saiu um grito esforçado: «Estou curado»!!!
Uma paz imensa invadiu-o. Um sentimento de perdão tomou conta de si. Estava em paz com o mundo. Sentia-se amado e sentia que amava, mesmo aqueles que o tinham desprezado. Sentia mais do que tudo que Jesus o amava.
Abriu os olhos e viu todos aqueles seus familiares à sua volta, chorando e ao mesmo tempo com um olhar de espanto e incredulidade estampado nos seus rostos.
Voltou a repetir:«Estou curado»!!!
A paz, a serenidade, a calma, um desprendimento de tudo, tomaram conta de si.
Olhou para dentro de si e disse:
«Obrigado Jesus, recebe-me agora para sempre, Senhor».
Naquele momento, ninguém entendeu o sorriso de felicidade com que morreu.

domingo, 14 de janeiro de 2007

DIA DE LOUVOR EM FÁTIMA

Estou cansado, muito cansado, mas feliz e muito cheio de amor de Deus.
Estar com 2.300 pessoas a cantar, a louvar a Deus, a celebrar a Eucaristia, a adorar o Santissimo Sacramento, a partilhar oração, a entregar-me ao serviço aos outros, só me pode encher de felicidade, de contentamento, de amor aos outros, os meus irmãos e irmãs em Cristo.
Apesar de estar cansado, estou cansado por amor.
Glória ao Senhor!!!

domingo, 7 de janeiro de 2007

NASCI NU

Nasci nu, sem nada de meu. Nasci apenas com algo que já me pertencia pela graça de Deus: a vida e o amor.
A vida já a vivia, mas o amor ainda não o entendia como meu, mas sentia-o dos outros para mim.
Não tinha nada, os meus bens eram a vida, os meus pais e o meu Deus que velava por mim.
Os bens não me faziam falta, porque rodeado de amor, criança simples, confiava que Alguém tomava conta de mim.
Os anos foram passando e os bens que ia obtendo, pensava eu muitas vezes, eram fruto do meu esforço, ou melhor ainda, eram-me devidos, por qualquer razão ponderosa que eu nunca aprofundava.
Uns bens, passaram de meus pais para mim, outros fui-os adquirindo, outros ainda caíam-me nas mãos muitas vezes sem eu entender porquê.
Passaram anos, bastantes anos e cada vez mais eu acreditava que aquilo que eu possuía, era meu por direito próprio e que nunca me seria tirado.
Nos últimos doze anos da minha vida, quando tocado por Deus, comecei a viver verdadeiramente o dom da vida e a perceber e a sentir o que era o amor, sobretudo o amor de Deus por mim, muito lentamente fui-me apercebendo que talvez os meus bens não fossem pertença minha, mas apenas colocados nas minhas mãos, como graça de Deus.
Não que muitos deles não fossem resposta a algum esforço da minha parte, mas que se esse esforço tinha sido feito é porque Deus me tinha concedido o talento para tal.
Começaram então os problemas com tudo aquilo que eu sempre tinha considerado como meu e que nunca me seria tirado.
Não entendia o que se passava, não entendia porque sendo agora a minha vida mais dedicada ao Senhor, como era possível estarem a acontecer todas aquelas provações, embora, claro houvesse alguma responsabilidade minha, pela vida que antes tinha levado.
Ter-me-ía Deus abandonado, agora que me tinha chamado para Ele?
Comecei a entender que o Senhor na Sua sabedoria me estava a chamar a atenção para alguma coisa da minha vida e que convencido e orgulhoso como eu era, só com grandes sinais, que me tirassem de mim próprio, me poderia fazer perceber o que queria que eu mudasse na minha vida.
Comecei a entender melhor o Livro de Job e perante o que me estava a acontecer, ia-me cada vez mais identificando com ele, não infelizmente na sua entrega e humildade, mas na similitude dos factos que iam ocorrendo.
Até que chegou o dia! O dia em em que fiquei sem nada daquilo porque tanto tinha lutado, a casa, a empresa, enfim tudo aquilo a que a minha vida estava agarrada.
Meu Deus, esqueceste-te de mim? Foi talvez a minha primeira reacção.
Não foi uma reacção zangada ou de raiva, mas uma reacção triste, a que se juntou uma outra muito intensa: não tinha sido merecedor.
Ai aqueles dias como custaram a passar. Como foi difícil suportar a humilhação, sentir os olhares, sentir até talvez o que o meu pai no Céu, junto de Deus, poderia pensar de mim.
Mas veio ao meu coração que, graças a Deus, os santos vivem na misericórdia e com certeza o meu pai no Céu apenas poderia ter compaixão e amor por mim.
Passou na minha cabeça o sacrifício último e pedi ao meu Senhor, que fosse apenas eu a sofrer, que poupasse os meus filhos, a minha mulher, a minha família, aqueles que comigo trabalhavam, aqueles que de mim dependiam.
Calmamente, como Deus sempre faz, foi instalando a paz e a serenidade no meu coração.
Uma certeza calou fundo no meu coração: Sou feliz porque conheço o meu Senhor. Sou feliz porque Ele olha para mim e me prova. Sou feliz porque Ele olha por mim e não me abandona. Sou feliz porque tenho algum merecimento aos olhos do meu Deus, para que Ele permita que tantas coisas me caiam em cima dos ombros, ao mesmo tempo.
O que é tudo isto, comparado com a Cruz do pecado do mundo, aos ombros do meu Senhor.
Lutar, lutar pela felicidade e bem estar dos outros, e deixar que Deus tome conta de mim, foi o que veio ao meu coração.
Obrigado Senhor porque me purificas, porque me provas, porque me amas com amor imenso.
Louvado sejas, Senhor, por tudo o que me acontece, porque acredito agora que é um bem para a minha vida.
Com os olhos levantados para o Céu, faço minhas as palavras de Job 1,25:
“Saí nu do ventre da minha mãe
e nu voltarei para lá.
O Senhor mo deu, o Senhor mo tirou;
Bendito seja o nome do Senhor!”

Novembro de 2004

______
Esta história, estes factos, são verdadeiros, aconteceram na minha vida.
Isto foi escrito no dia em que o meu mundo, desabou em cima de mim.
Graças a Deus, (isto não é interjeição), verdadeiramente pela graça de Deus, a minha vida estabilizou e continuo ligado à empresa criada por meu pai, embora noutras condições.
Porquê então agora este testemunho, esta exposição da minha vida?
Porque eu quero viver a minha vida dando testemunho do que Deus faz em mim e fazendo em mim, também faz naqueles que dEle se aproximam.
Testemunho não pelos bens, mas pelo amor, a paz, a serenidade, a alegria da Sua presença.
Porquê hoje?
Epifania é a manifestação do Rei-Messias a todas as gentes.
Embora Deus se tenha manifestado na minha vida muito antes e desde sempre, (eu estava "cego" e durante muito tempo não via), foi nestes factos que Ele se me revelou em toda a plenitude do Seu Amor.
Foi a Epifania na minha vida!

sábado, 6 de janeiro de 2007

PENSAMENTOS INSPIRADOS NA PROCURA DE DEUS 29

Os Magos depois de encontrarem Jesus e O adorarem, voltaram por outro caminho.
Também nós, se nos deixarmos guiar e encontrarmos Jesus nas nossas vidas, mudaremos de caminho, porque Ele é o Caminho.

PENSAMENTOS INSPIRADOS NA PROCURA DE DEUS 28

Os Magos não desistiram, apesar de Herodes, e pela sua perseverança encontraram Jesus.
E nós, também perseveramos, apesar dos Herodes deste mundo?

PENSAMENTOS INSPIRADOS NA PROCURA DE DEUS 27

Dar o que nos sobra é fácil.
Dificil e agradável a Deus, é dar o que nos faz falta.

quinta-feira, 4 de janeiro de 2007

quarta-feira, 3 de janeiro de 2007

PENSAMENTOS INSPIRADOS NA PROCURA DE DEUS 25

Se eu fosse um espelho, reflectiria Deus?
Se sim, estou no bom caminho!
Se não, é porque apenas me procuro a mim próprio!

terça-feira, 2 de janeiro de 2007

COMUNIDADE LUZ E VIDA

Dia de Louvor - Maio de 2006
A Comunidade Luz e Vida, a que eu pertenço, vai orientar um Dia de Louvor, em 14 de Janeiro, no anfiteatro do Centro Pastoral Paulo VI, em Fátima.
Desde as 9 às 18.30 horas, unir-nos-emos em oração, com Cânticos, Orações de Louvor, Ensinamentos, Eucaristia e Adoração ao Santíssimo Sacramento.
Todos estão convidados, bastando para tal telefonar para o 236931251 e pedir as entradas pretendidas. Serão, obviamente, dadas todas as explicações necessárias.
Pedimos as vossas orações para que o Espírito Santo nos conduza e tudo seja feito para a Glória de Deus Nosso Senhor.

segunda-feira, 1 de janeiro de 2007

Não vos esforceis para vencer as tentações, porque esse esforço as reforçariam; desprezai-as e não vos detenhais nelas.
Santo Padre Pio

domingo, 31 de dezembro de 2006

COMPROMISSO

Hoje na Missa mais uma vez reparei que a maior parte das pessoas que vão comungar levam um semblante fechado e quando vêm da Comunhão, ainda pior, para além do semblante fechado, trazem-no também triste, como se carregassem um peso.
Tenho tentado lembrar-me desde há uns tempos para cá, sempre que me aproximo da Mesa da Comunhão, levar um sorriso e trazê-lo maior ainda quando regresso ao meu lugar.
Pois este é um dos meus compromissos para o novo ano:
Dar testemunho da alegria, da paz, da serenidade, que Jesus Cristo coloca na minha vida, mesmo nos maus momentos, sobretudo nos momentos da Comunhão.

«Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve.» Mt 12, 30

sexta-feira, 29 de dezembro de 2006

ANO NOVO SEMPRE

“Naquele tempo...”, proclamava o sacerdote do ambão e ele ali sentado relembrava aquelas palavras tantas vezes ouvidas.
No seu tempo, quando era muito mais novo, ouvia outras palavras, numa língua distante mas que foi aprendendo a conhecer: “In illo tempore...”
Tanto tempo já passado e como tudo tinha mudado.
Lembrava-se bem do sacerdote de costas voltadas para as pessoas na igreja, vestido com umas “roupas” pesadas, uma “coisa” pendurada no braço, e que no inicio trazia o cálice numa mão e por cima dele uma espécie de “pasta” quadrada, forrada com o mesmo tecido da casula que vestia e que dentro trazia “coisas” que nunca chegava a entender o que eram.
Depois iniciava a Missa sempre naquela língua que ele não conseguia entender, mas que os seus pais, com alguma paciência e indo buscar uns resquícios de conhecimento sobre a dita língua, lhe iam explicando de modo a que alguma coisa fizesse algum mínimo sentido.
Mecanicamente ele ia repetindo as palavras, sem saber o que elas queriam dizer e que eram muito mais sons que verdadeiramente palavras.
As que ele mais gostava, perdoe-se-lhe eram: “Ite, missa est”.
Essas sim, ele sabia o que queriam dizer na sua tradução muito livre: “A missa acabou!”
Diziam-lhe que Jesus estava em todo o lado e era de todos e para todos, mas ele não percebia muito bem, porque é que Jesus estando assim em todo o lado, não se fazia entender na linguagem de cada um.
Ah! É que a Sua linguagem era a linguagem do amor, e por isso, linguagem universal, mas mesmo assim ele continuava a pensar que seria melhor se conseguisse entender o que diziam, porque talvez assim fossem mais interessantes aquelas cerimónias.
Parecia-lhe que era tudo muito misterioso, que talvez não quisessem que ele entendesse.
O tempo foi passando e cada vez era mais difícil convencê-lo a participar nas cerimónias religiosas e no seu pensamento uma certeza foi tomando corpo: quando eu puder decidir não venho mais à igreja.
Mais uns anos passaram e de repente tudo mudou, o sacerdote já se voltava para as pessoas, já não trazia todos aqueles “adereços” e melhor que tudo, já falava a língua de cada um.
Infelizmente o pensamento que se vinha desenvolvendo na sua cabeça tinha-se tornado em decisão, não só por todas as razões apontadas, mas também porque o comodismo e o desinteresse eram muitos.
Deixou-se então levar pelo mundo, era ali que estavam as certezas, era ali que estavam as alegrias e os prazeres, era ali que ele podia fazer o que lhe apetecesse e, pensava ele, guiar o seu próprio destino.
E os anos foram passando e nada de novo surgia, a vida parecia-lhe sempre igual, com muitos prazeres, cada vez mais curtos, e a certeza de que afinal, fizesse ele aquilo que fizesse, nada se modificava em relação à vida propriamente dita.
Não tinha um conceito de felicidade, não possuía uma razão forte para viver, parecia-lhe aliás que tudo o que fazia, se lhe trazia por vezes um prazer momentâneo, acabava por se transformar em mais desencanto, em mais tristeza, em mais frustração.
Que sentido tinha um ser tão perfeito como o homem, morrer e ficar transformado em pó, sem mais nada para além disso.
Tantos anos já passados, o tempo de criança e adolescente já tão longe e ele sem sentido para a vida, perdido no mundo que ele próprio tinha escolhido.
“In illo tempore...”, lembrava-se que naquele tempo em que ouvia essa frase havia mais qualquer coisa que ele não sabia definir, que os seus pais viviam intensamente a religião e ela lhes dava uma paz e um modo de proceder diferente de muitos outros, lembrava-se sobretudo que não os preocupava a morte, porque para eles depois da morte seria ainda melhor.
Começou a ir à igreja, sobretudo quando não estava lá ninguém, e deixava-se ali ficar sentado, muitas vezes a recordar a sua vida e a envergonhar-se de tantas coisas erradas que tinha feito, erradas ali naquele lugar, porque para o mundo uma grande parte delas eram perfeitamente aceites e até elogiadas.
Não sabia o que se passava, mas naquele lugar algo falava ao seu coração, algo o fazia sentir que a vida que tinha levado, não o levava a nenhum lado, não tinha sentido e nada acrescentava ao seu ser.
Começou também a “frequentar” a missa, fazendo-se passar despercebido, com medo que lhe dissessem que ele não tinha nada que estar ali.
As memórias regressavam e as coisas que ele tinha aprendido na catequese vinham ao seu pensamento.
Lembrava-se de que lhe tinham dito que Jesus, (que era Deus apesar de também ser homem, ou o contrário, não sabia bem), estava em todo o lado e que amava todos os homens.
Ali na igreja parecia-lhe que tudo fazia sentido, pois se Jesus era Deus e nos tinha criado a todos, era lógico que nos amava a todos e que sendo Deus podia estar em todo o lado, ao mesmo tempo.
Sentiu-se reconfortado com esta idéia que ia tomando conta de si.
Tenho de saber mais, tenho de conhecer mais, decidiu ele na sua mente, mas ao mesmo tempo ouviu, (assim lhe parecia), no seu coração uma voz que lhe dizia: “Não só conhecer e saber mais, mas sobretudo viver mais o que já sabes”.
Veio à sua cabeça uma frase já tão batida, mas que lhe deu vontade de rir, porque a mesma se aplicava perfeitamente à situação: “Seja o que Deus quiser”.
Procurou então um sacerdote a quem expôs as suas dúvidas, as suas incertezas.
Com uma paciência inigualável e sobretudo com entendimento e ternura, o sacerdote foi-o colocando perante aquilo que em criança tinha aprendido fazendo-o perceber que a vida que tinha vivido, tinha sido sempre de costas voltadas para Deus, que tinha afastado Deus da sua vida, por sua própria vontade.
Então perguntou: “E agora perante tudo o que tinha feito, como era possível Deus perdoar-lhe”?
O sacerdote só lhe respondeu: “Porque é Deus, porque te criou e te ama, como só Deus pode amar”.
De cabeça baixa confessou a sua vida de pecado e como um milagre, uma paz intensa, uma ternura perfeita, um amor calmo, tomou conta do seu coração.
Os seus olhos começaram a chorar, umas lágrimas calmas de felicidade e alegria.
Pensou então: “Tirei-te da minha vida tanto tempo Senhor, que agora quero viver o resto que me deres a falar de Ti”.
Percebeu até, que a sua vida passada tinha utilidade: Serviria para testemunhar que a mesma não levava a nada e que só com Deus a vida tem sentido.
Não lhe poderiam dizer que ele não sabia o que era o mundo, porque ele o tinha vivido intensamente e sabia bem agora, que só com Cristo o mundo era uma obra maravilhosa, que vivida no amor, nos leva a uma vida ainda melhor e para sempre.
Afinal, “In illo tempore” ou “Naquele tempo”, era exactamente igual, porque Jesus era o mesmo ontem, hoje, sempre, e sempre estaria em todo o lado, em todo o tempo, falando ao coração de cada um a linguagem do coração, a linguagem do amor.
Era um tempo novo para ele, o dia ou o mês não interessavam, porque Jesus lhe dava um Ano Novo para a sua vida, um Ano Novo sem nunca ter fim.


_____
Depois de escrever este "conto", li-o calmamente, e apercebi-me então, que de uma maneira muito simples, estava aqui a história da minha vida.
Um Bom Ano para todos os que me visitam, sobretudo um Ano com Jesus Cristo, para que seja um Ano sem fim.

quinta-feira, 28 de dezembro de 2006

SANTOS INOCENTES, MÁRTIRES

Hoje é o dia que a Igreja escolheu para a Festa dos Santos Inocentes, Mártires, dia em que o Evangelho nos fala da "matança dos inocentes", ordenada por Herodes.

Quero juntar a todos estes Santos Inocentes anónimos, todos aqueles a quem não foi permitido nascerem.

Junto ainda, a criança de que hoje foi dada noticia da sua morte por maus tratos e todas as que como esta sofreram o mesmo martirio.

Lembro a Gaudium et Spes (51):
«Com efeito, Deus, Senhor da Vida, confiou aos homens, para que estes desempenhassem dum modo digno dos mesmos homens, o nobre encargo de conservar a vida. Esta deve, pois, ser salvaguardada, com extrema solicitude, desde o primeiro momento da concepção; o aborto e o infanticídio são crimes abomináveis.»

quarta-feira, 27 de dezembro de 2006

terça-feira, 26 de dezembro de 2006

AINDA SOBRE O NATAL

Ontem, na Missa de Natal, durante a homilia, houve algo que me fez reflectir sobre todas as coisas que se dizem, falam, escrevem todos os anos sobre o Natal, comigo incluido, logicamente.
É que todos os anos nos vamos chamando a atenção para que o Natal se está a tornar "comercial", que não são os presentes que interessam, que é preciso olhar para os outros, sobretudo os que mais precisam, que é preciso perdoar e ser perdoado, que o Natal, não é o Pai Natal, etc, etc.
E tudo isto está, obviamente certo, sem margem para dúvidas.
Mas não será, que preocupados com tudo isto, nos "esquecemos" de viver a Festa do Amor de Deus pelos Seus filhos?
Chamo-lhe Festa do Amor, porque é de Amor que se trata, do verdadeiro Amor!
O Deus Criador, Senhor absoluto do Céu e da Terra, decide fazer-se igual, na mortalidade da carne, igual àqueles que criou, com um único objectivo: Trazer-lhes a Salvação.
E nasce não como um rei, rodeado de riquezas, mas como um, igual a todos os outros, na humildade dum nascimento de mulher, em que todos são iguais, por muito que possam estar rodeados seja do que for.
E é isto que eu quero exprimir, e talvez não consiga.
Lembro-me do que Jesus disse a Marta, que andava tão atarefada, tão preocupada em que tudo estivesse bem, que acabava por não gozar da presença de Jesus.
Será que perdidos nos afazeres, nas afirmações de querermos a "pureza" do Natal, de nos preocuparmos com os outros, (e muito bem), arranjamos tempo para nos deixarmos envolver no Mistério do Menino Deus feito Homem?
Arranjamos nós "tempo" para adorarmos o Menino Amor de Deus?
Teremos o coração tão cheio de coisas certas, sem dúvida, mas que não deixam espaço para a manjedoura onde nasce o Menino?
Tenho para mim, (por experiência própria, mea culpa), que por vezes neste tempo de festa é quando rezamos menos, quando meditamos menos, quando vivemos menos o nosso Deus de Amor.
Preocupados em fazer bem e o bem, quase não vivemos o Acto de Amor de Deus por todos e cada um de nós individualmente.
Mais que Bom Natal, vivamos um Santo Natal!

sábado, 23 de dezembro de 2006

NATAL ONTEM, HOJE E SEMPRE

TODOS SOMOS PASTORES
Mais uma noite no campo, pensou ele, em que tudo permanece igual.
As ovelhas dormem, os grilos cantam, as estrelas brilham no firmamento e ele ali estava, de sentinela, olhos abertos de guarda ao rebanho e pensando: «Nada acontece, tudo é igual, a minha vida é sempre a mesma, não durmo numa casa, mas tenho o céu como tecto e a natureza como companhia».
Qualquer coisa, no entanto, o fazia estar acordado, uma espécie de excitação calma que não o deixava adormecer. Reparou que a noite estava muito mais tranquila do que era habitual. Parecia que os elementos da natureza se uniam, para naquela noite se respirar paz e tranquilidade.
Ao olhar para o céu, reparou que uma das estrelas, (parecia-lhe), se tornava maior e avançava para ele e para os seus companheiros que dormitavam ao seu lado.
Tanto se aproximou que as trevas da noite foram rompidas e uma grande luz tomou conta de tudo envolvendo-o.
Uma criatura, a mais bela que até então tinha visto, olhou-o nos olhos e com muita ternura disse-lhe:
«Não temais, pois anuncio-vos uma grande alegria, que o será para todo o povo: hoje na cidade de David, nasceu-vos um Salvador, que é o Messias Senhor. Isto vos servirá de sinal: encontrareis um menino envolto em panos e deitado numa manjedoura». Lc 2,10-12
Quando acabou de dizer isto juntou-se-lhe uma multidão de criaturas celestes que cantavam alegremente: «Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens do Seu agrado». Lc 2,14
Quedou-se mudo de espanto.
O que era isto, quem era Este que tinha nascido e cujo anúncio do nascimento era celebrado com tanta alegria no Céu.
“Mais um rei” pensou, “mais um rei a quem teremos de pagar tributo, a quem teremos de obedecer, a quem não conheceremos a não ser de longe, a quem não poderemos dirigir palavra”.
“Mais um rei” pensou, “para apoiar ainda mais os ricos e poderosos”.
No entanto, ao recordar as palavras do Anjo: «Encontrareis um menino envolto em panos e deitado numa manjedoura», alguma coisa disse ao seu coração, que tudo era diferente daquilo que ele imaginava, que alguma coisa muito importante iria mudar na sua vida, no seu mundo e em toda a terra.
Aliás, o facto do Anjo se dirigir a ele e aos seus companheiros, pobres pastores proscritos numa sociedade de leis sem amor, alertava os seus sentidos para que algo de diferente se passava.
Foi a pensar assim que levantando-se, disse aos seus companheiros: «Vamos a Belém ver o que aconteceu e o que o Senhor nos deu a conhecer». Lc 2,15
Meteu pés ao caminho com os seus companheiros e de repente reparou que em vez de andar daquela maneira calma, típica dos pastores, corria numa ânsia que não conseguia entender, mas que lhe dava alegria, ânimo e forças para chegar mais rapidamente ao conhecimento do que o Anjo lhe anunciara.
Ao chegar deparou com uma cena, que não sabendo porquê, lhe enterneceu o coração.
Numa manjedoura estava deitado o menino mais lindo que alguma vez tinha visto e a Seu lado, Sua mãe e Seu pai sorriam embevecidos, perante aquele pequenino ser, que irradiava amor, ternura, carinho, paz e tranquilidade.
Não era possível contemplar aquela cena sem as lágrimas virem aos seus olhos. Mas eram lágrimas de calma, de júbilo, de alegria. Só lhe apetecia cantar e dançar.
Parou então um pouco para pensar, para meditar em tudo o que sentia, via e ouvia e a luz do entendimento abriu-se no seu coração: Este era o Rei por quem ele tanto ansiava, por quem tanto ansiavam os pobres e oprimidos. Este era o Rei de quem as Escrituras falavam.
Com efeito, só um Rei dedicado aos mais pobres e desprotegidos, àqueles que não têm “voz activa”, àqueles cuja esperança reside no Céu e não na terra, poderia nascer em semelhantes circunstâncias: Pobremente, na humildade duma manjedoura, Filho de uma mulher e um homem do povo, iguais a todos os outros e festejado no Céu e na terra pelos anjos de Deus.
E nascia no campo, sem paredes, nem estruturas a constrangi-Lo, nascia em liberdade, para reclamar a liberdade de viver segundo a vontade de Deus, para Si e para todos os Seus.
Percebeu então, que ele, tendo Aquele Menino como Rei, mesmo nada sendo aos olhos do mundo, era grande e importante aos olhos do seu Rei, porque pelo infinito amor de Deus, Aquele Menino de condição humilde, porque nascido humildemente, a todos olhava e acolhia com a simplicidade e a igualdade de quem não quer ser mais nem menos que os outros, mas sim igual e servidor.
Percebeu então, que a libertação que então se dava em si, era a do seu coração, da sua alma e que vivesse o que quer que vivesse neste mundo, nesta terra, nada disso teria importância, se seguisse para sempre Este Rei de amor.
Percebeu então, que a sua riqueza, o seu tesouro, estava em abraçar e seguir Este Rei, que tendo nascido pobre e humilde para todos, lhe pedia que também ele fosse irmão de todos os que cruzassem o caminho da sua vida, para que assim dando-lhes a conhecer as maravilhas deste Nascimento, deste novo Rei, todos pudessem ser livres, vivendo o amor de Deus para a eternidade.
Podiam prender o seu corpo, podiam cortar a sua língua para não poder falar, mas nunca mais poderiam calar o seu testemunho de vida, nem poderiam afastar do seu coração o amor que sentia por Aquele Menino e sobretudo, o amor que Aquele Menino lhe dava e fazia sentir.
A verdade surgiu como uma explosão de luz: NAquele Menino estava a Salvação!!!
Olhando para os seus companheiros, disse-lhes em tom de júbilo e decidido:
«Que esperamos para dar Glória e Louvor a Deus, que nos quis dar Este Menino! Que esperamos para dizer a toda a gente da terra, que hoje nasceu Jesus Cristo, o Messias Senhor, que é o nosso Salvador».
__________
Com este conto, quero desejar a todos quantos me visitam um Santo Natal.
Que o Menino Jesus derrame as Suas bençãos sobre as nossas vidas de sacerdócio, de religiosas/os consagradas/os, de pais, de filhos, de avós, de todas as condições de vida a que por Ele fomos chamados.
Que o Menino Jesus faça de nós pastores, para sempre O louvarmos e anunciarmos a Boa Nova a toda a gente da terra.

domingo, 17 de dezembro de 2006

CONTO DE NATAL - PARA REFLEXÃO

"ESTAVA TUDO PRONTO"
Estava tudo pronto.
Tinha dado muito trabalho, o presépio, a mesa posta com o melhor serviço, o melhor talher, o centro de mesa com uma decoração alusiva à época, a toalha bordada, já tão antiga, mas a família merecia e parecia-lhe por fim que nada faltava.
Relembrava todas as compras para que nada faltasse na feitura das refeições, o vinho, os doces e tudo quanto era necessário para a festa ser completa.
Passou mais uma vez os olhos pela lista dos presentes, porque nada podia faltar, para que tudo fosse perfeito.
Era apenas uma vez por ano, mas nessa noite e nesse dia, toda a família se reunia para celebrar o Natal.
Era a festa da família.
A sua cara exibia um sorriso, o seu olhar brilhava, tudo estava tão bem e no entanto no seu coração, um sentimento lhe dizia que faltava alguma coisa muito importante.
Tornou a passar em revista toda a casa, foi à cozinha certificar-se mais uma vez que nada faltava, contou os presentes um a um, atribuindo-os a cada familiar, e nada, estava tudo bem.
Então porque sentia aquela sensação que algo faltava, que algo estava mal.
Reviu também a sua vida, colocou-se perante a sua fé, mas nada também.
Tinha-se confessado e estava pronta para a Missa do Galo e nela receber Jesus naquela Noite Santa.
Mas então o que era, porque não parava o seu coração de a incomodar, de lhe chamar a atenção para uma falha na festa da família, na comemoração do Natal.
As pessoas da família, pensou: esqueci-me de alguém!
Era isso com certeza!
Foi buscar a lista, porque eram muitos, e reviu atentamente cada nome, cada família.
Não percebia, estavam todos lá, mas mais uma vez o seu coração dizia-lhe que era que estava ali o problema.
Leu vagarosamente toda a lista e quando chegou àquele nome a sua mente pensou num repente: Que bom seria se ele não pudesse vir.
Desde aquela vez em que ele tinha sido tão desagradável, tão ofensivo com ela, que não podia sequer pensar no seu nome.
E ele já lhe tinha telefonado a pedir desculpa, mas a ofensa tinha sido muito grande e ela não quis desculpar.
Abriu-se-lhe o coração, Jesus amoroso dizia-lhe:
«Ainda não percebeste o que falta? Como queres tu viver a festa da família, comemorar o meu nascimento que vos fez a todos irmãos e estares zangada com o teu próprio irmão?»
Fez uma prece para pedir coragem, dirigiu-se ao telefone, marcou o número e do outro lado ouviu a voz que tanto a tinha ofendido.
Uma força inexplicável, uma vontade que se fazia sua vontade, levou-a a dizer:
“Perdoa-me por não te ter perdoado. Vem mais cedo porque te quero abraçar”.
Do outro lado ouviu uma voz embargada que lhe dizia:
“Obrigado, vou a correr”.
Que paz extraordinária se instalou no seu coração. Agora estava tudo certo nada faltava.
No seu coração Jesus com um sorriso imenso dizia-lhe:
«Agora sim minha irmã, é Natal em tua casa, é Natal na tua família, é Natal no teu coração. Por tua causa é “maior” também a festa no Céu».

Escrito em 5 de Dezembro de 2005, mas sempre actual!
Fica aqui para reflexão de todos nós, para vivermos melhor o Natal!

sábado, 16 de dezembro de 2006

A BOLINHA AZUL

A Malu começou e pediu que a Xana, continuasse e depois passasse:
-
Há uma estrela no Céu
A brilhar o meu caminho:
Jesus Cristo que nasceu
Num lugar tão pobrezinho.

Esta pequena bola azul
Vai tomar o seu lugar
Levar-nos a Norte ou a Sul
Onde O formos encontrar!

De Blog em Blog vai passar
Levando consigo esta canção
Para cada um lhe juntar
Um pedaço do seu coração.

Xana, agora é contigo
Que Jesus quer brincar,
Apanha a bola, vou-ta chutar
Para o Portinho de Abrigo!
-
A Xana continuou e passou para o Joaquim:
-
Que bom é dizer:”Jesus,
Contigo eu quero brincar!”
Dás-me tanto Dessa Luz,
estendo as mãos pr’á agarrar!”
-
Que bom é depois passar
Essa Luz a um amigo
e dizer-lhe, a cantar,
“Toma, Jesus tá contigo!”
-
Vejo amigos em redor
tão importantes pr’a mim
"Vou passar-Te, meu Senhor
para o Bom Joaquim.
-
Que bom é passar-Te assim
E Tu sorris, adoras isto!
"Abre os braços, Joaquim,
sente Aquele abraço em Cristo!
-
O Joaquim continuou e passou para quem está escrito no fim:
-
Recebo-Te assim, Jesus,
Bem dentro do coração
O Teu amor me conduz
Vem dá-me a Tua mão.
-
Quero brincar e saltar
Com a bolinha, Senhor,
Amar, amar, só amar
Viver sempre do Teu amor.
-
Ser Santo como Tu,
Como o Espírito quiser,
Com a Xana e a Malu,
E quem connosco vier.
-
Tenho que Te dar, Senhor,
É para isso que eu existo,
Passar-Te ao Pedro, ao António,
Pra que brilhes no Pensar Cristo.
-
Refrão:
Este blog tem uma bolinha azul,
ó tem, tem, tem......
-
António, Pedro, agora recebei-O e enchei o Pensar Cristo da Sua presença, como sempre fazeis.

quarta-feira, 13 de dezembro de 2006

CONTO DE NATAL

Estava ali, deitado no chão frio daquele passeio.
A noite inclemente abatia-se sobre ele, indiferente ao seu frio, ao seu mal estar.
Mas também que interessava isso, se para ele a vida já não tinha nenhum sentido, nenhum interesse, nada que valesse a pena lutar.
Ainda tinha prometido a si próprio que não ia desistir, que não se ia dar por vencido, mas depois de tanto procurar, de tantas portas fechadas, umas mais abruptamente, outras com delicadeza hipócrita, a sua vontade, a sua força, tinham-se extinguido.
Para além do mais não ajudava nada ser Noite de Natal, ver as pessoas a caminharem em passos rápidos para casa, onde o calor do aquecimento e sobretudo o calor da família os esperava.
Já não estou cá a fazer nada, pensou, não tenho ninguém, ou melhor, ninguém se interessa por mim, passam por mim e já nem desviam a cara, olham através de mim, como se eu não existisse, e realmente, pensou, eu já não existo.
Vou-me deixar ficar aqui, ao frio, sem comer, (no seu interior ainda houve espaço para um sorriso, sem comer, como se ele tivesse alguma coisa para comer), à espera da morte, para si libertadora.
Não vou procurar vão de escada, nem protecção, fico aqui mesmo, para que seja mais rápido o fim.
Deixou-se assim ficar e apesar do frio adormeceu.
De repente sentiu alguém ao seu lado.
Uma mulher tão pobre e mal vestida como ele, deitara-se e encostara-se a si.
Ficou quieto e reparou que nos braços da mulher estava uma criança recém nascida, que dormia sossegada, com um sorriso nos lábios.
Depois de passado o espanto e um momento de silêncio, voltou-se para ela e perguntou:
- O que é que tu queres?
Com um olhar assustado, mas ao mesmo tempo doce, a mulher respondeu:
- Só quero calor, só preciso de calor. Não é para mim, é para ele.
E olhou a criança com uma ternura que ninguém desconfiaria nela.
Continuou a falar, numa voz baixa, mas forte.
- Disseram-me para não ter o bébé, que iria ser um desgraçado, um abandonado da vida, que mais valia não nascer sem amor, sem futuro.
Mas não, eu não fiz isso! Quem sou eu para decidir da vida de alguém, mesmo que pareça não haver presente, quanto mais futuro.
- Mas olha, continuou ela, tinha decidido acabar com tudo! Morria eu e morria ele, talvez assim fosse melhor. Mas depois pensei: Que culpa tem ele que eu seja assim? Quem é que me diz, que ele ainda não vem a ser um grande senhor, uma pessoa importante, se calhar até para fazer bem aos outros.
As palavras agora saíam mais fortes, quase empolgadas:
- Uma coisa já fez esta criança: Fez-me desistir da morte, fez-me lutar pela vida, fez-me encontrar o que eu achava que estava perdido, a vontade de viver, viver por ele.
Nessa altura ele levantou-se, ajudou-a a levantar-se e disse-lhe:
- Vamos procurar abrigo, seja aonde for. O bébé precisa de calor, de estar protegido, precisa que lhe dês o teu leite e aqui no meio da rua não pode ser.
Encontraram um vão de escada, uns cartões e sentaram-se, enquanto a mulher dava de mamar à criança.
- Chega-te mais para mim, disse-lhe ele, temos que o envolver no nosso calor, não podemos deixar que ele apanhe frio.
Dentro de si nasceu um compromisso forte.
Não iria deixar aquela mãe e sobretudo aquele bebé morrerem de frio ou de qualquer outra coisa, porque ele tudo iria fazer para que tal não acontecesse.
Foi então que veio à sua memória aquilo que há tão pouco tempo tinha decidido: Deixar que tudo acabasse, porque a sua vida já não tinha sentido.
Sentiu que lhe tocavam no ombro, que o chamavam e percebeu então que tinha estado a dormir. Eram uns jovens que percorriam as ruas à procura de gente como ele para os ajudarem com roupas e alimentos e naquela noite até um abrigo.
Levantou-se, seguiu-os e percebeu que dentro de si tinha nascido outra vez a vontade de viver, percebeu que uma vida não acaba assim, que tinha de lutar pois que apesar de nada ter, se calhar havia alguém que precisava dele.
Lembrou-se do sonho, da mulher, da criança, da Noite de Natal, da família que já tinha tido, do que os pais lhe tinham ensinado e percebeu então o sonho que tinha tido.
Levantou os olhos ao Céu, e disse de todo o coração:
- Obrigado Jesus, que quiseste precisar do meu calor, para me ensinares o valor da vida.

terça-feira, 5 de dezembro de 2006

O REFERENDO, O CRISTÃO, O TESTEMUNHO

Leio, releio, torno a ler, artigos, entrevistas, intervenções, postes e comentários em blogues, (de muita gente, ateus, agnósticos, religiosos, padres, leigos, políticos,etc), enfim, um não acabar de textos, que afirmam, que informam, que advertem, que o tema do aborto não tem nada a ver com a religião, que não tem nada a ver com aquilo em que acreditamos no campo da Fé, que não temos que utilizar argumentos baseados na nossa religião, (seja ela qual for, espero), que não temos que pressionar os outros com as nossas convicções religiosas, (esta para mim é a melhor), provavelmente que nem devemos afirmar-nos religiosos, ou com Fé, em Deus, claro!
Esclareço desde já: Sou cristão e católico, a minha Fé em Deus está acima de todas as coisas, e tento viver a minha vida segundo a Sua vontade, que para mim, à “falta“, (que não me faz falta), de uma revelação particular, é a Doutrina que me ensina a Igreja Católica Apostólica Romana, revelada por Jesus Cristo.
O Senhor Jesus Cristo, disse a todos e a mim, (quando Ele fala para todos, fala também para cada um individualmente), pelo menos duas vezes o seguinte:
«Ide pelo mundo inteiro, proclamai o Evangelho a toda a criatura.» Mc 16, 15 e «...sereis minhas testemunhas em Jerusalém, por toda a Judeia e Samaria e até aos confins do mundo.» Act 1, 8
Então é exactamente isto que eu quero ser: Testemunha.
Testemunha do que Ele nos ensinou: Que Deus nos criou à Sua imagem e semelhança, que todos somos desde sempre e para sempre amados por Ele, que nos deu a sublime missão de colaborarmos com Ele na criação do mundo, sobretudo pela extraordinária graça que nos concedeu de podermos gerar outros iguais a nós e que são também imagem e semelhança de Deus.
E é isto em que eu acredito, que cada ser concebido é, desde o primeiro momento, filho de Deus, criado à Sua imagem e semelhança, sejam quais forem as razões, ocasiões ou situações em que foi concebido.
E aqui, perdoem-me o “radicalismo”, (uns já lhe estarão a chamar “fundamentalismo”), perante a existência da vida a partir da concepção, não pode haver divergências entre aqueles que se afirmam cristãos, (já nem sequer falo em católicos), sob pena de professarmos uma qualquer religião, que não a cristã.
«Antes de te haver formado no ventre materno, Eu já te conhecia; antes que saísses do seio de tua mãe, Eu te consagrei e te constituí profeta das nações.» Jr 1,5
Deus não cria filhos diferentes, cria-os todos iguais e por isso aquilo que é para Jeremias, é para cada um de nós, nas diferentes vidas a que o Senhor vai chamando cada um.
Pois, bem sei, tudo isto não é muito intelectual, não é baseado na ciência, no conhecimento, dito racional, mas como para mim, pobre ignorante, Deus é a fonte da inteligência e da ciência, a Sua Palavra é assim a Verdade que eu quero viver e seguir na minha vida.
Onde estão as testemunhas da Fé? Onde estão os Reis Balduínos da Bélgica? Porque é que uns podem dizer em que votam e porquê, e os cristãos não podem exprimir livremente o seu voto e as suas razões, sobretudo quando são políticos, ou “líderes” da sociedade?
Têm medo? Vergonha? Respeito humano? Ou mais respeito por uma suposta lei de “laicismo vigente”, uma suposta imparcialidade, do que pela Fé que dizem professar?
E nós povo anónimo, povo de Deus, pais, avós, filhos, netos, professores, patrões, empregados, desempregados, ricos e pobres, todos enfim, que acreditamos em Jesus Cristo, calamo-nos, ou com o nosso testemunho de vida, com a afirmação da nossa Fé, quando a isso somos especialmente chamados, confirmamos verdadeiramente que somos filhos de Deus?
Ouvimos que grande parte do problema do aborto é atribuído aos cristãos, não sei porquê, e que portanto não nos podemos pronunciar, mas quando encontram alguém que se diz católico e é a favor do aborto, é um desfilar de elogios e de um apresentar das suas razões, como se dois ou três, representassem um todo.
Aqui, neste caso, já interessa a condição de católico!
Mas não o são, afirmo-o eu, que não sou ninguém.
Serão qualquer outra coisa, mas católicos não são!
Não se é católico porque se afirma essa condição. É-se católico porque se vive essa missão, de acordo com a vontade de Deus, que está expressa na Doutrina revelada por Jesus Cristo, e em nenhum momento Ele diz: “mata os filhos que concebeste.»
Mas haverá alguém que verdadeiramente no seu coração, aberto ao amor, duvide sequer que o ser concebido por um homem e uma mulher, é desde o primeiro momento uma vida, uma vida humana?
Em oração veio há dias ao meu coração esta reflexão:
Que mulher não quereria conceber Jesus?
Maria ao dizer sim ao Pai, diz a todos nós, diz a todas as mulheres: «O que geras dentro de ti, vem de Deus, é vontade dEle.»
A responsabilidade é grande, se ficarmos em casa por uma qualquer preguiça, por um qualquer motivo que não seja de total impedimento.
Só de pensar que no referendo, o sim poderia ser aprovado por um voto, e eu tinha ficado em casa a fazer “coisíssima” nenhuma, o meu coração estremece!
Levantai-vos cristãos e na paz de Jesus Cristo, sem crispações, cheios da serenidade de quem está revestido da Verdade, dai testemunho, nas conversas, na vida, no voto.
Que nem um só fique em casa, que ajudemos os que precisam de ser levados, que convençamos, (com a força do Espírito Santo), os que precisam de ser convencidos, porque é Cristo que nos pede que «sejamos testemunhas».
Corações ao Alto! O nosso coração está em Deus!
É Ele que nos dá forças, nos dá alento, nos ensina o que dizer e como fazer!
Esta é uma batalha, mas uma batalha de paz, de amor, de entrega.
Não há confronto, não o queremos, entregamo-nos, mas damos testemunho de vida!


Alguns fariseus disseram-lhe do meio da multidão: «Mestre, repreende os teus discípulos.»
Jesus retorquiu: «Digo-vos que, se eles se calarem, gritarão as pedras.»” Lc 19,40

Mas Pedro e João retorquiram: «Julgai vós mesmos se é justo, diante de Deus, obedecer a vós primeiro do que a Deus. Quanto a nós, não podemos deixar de afirmar o que vimos e ouvimos.» Act 4,19-20