segunda-feira, 13 de agosto de 2012

CAMINHO DE CRESCIMENTO

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Alguém amigo, comentava há uns dias comigo que não percebia porque é que no inicio da caminhada de fé, a oração era fácil, a alegria era sempre presente, as consolações eram muitas, o mundo, a vida, tudo lhe parecia tudo bom, e agora, passado um tempo, tornava-se difícil a oração, muitas vezes a tristeza atacava, em tantas coisas se deparava com o mal.
Às vezes quase apetecia desistir, porque a luta era muita, e se deixasse a vida prosseguir sem se preocupar com a comunhão com Deus e com os outros, tudo seria muito mais fácil.
Não entendia porque é que por causa de tudo isto, às vezes até se revoltava “contra” Deus!

Ao tentar responder a estas inquietações, foi-me inspirada a seguinte resposta que aqui deixo para reflexão.

O caminho de Deus é uma aprendizagem, com tudo o que implica aprender, desde a consolação, ao desânimo, passando muitas vezes por uma falta de acreditar em nós próprios, nos outros e até em Deus.

Quando uma criança nasce, é rodeada de carinho, de ternura, e tudo o que ela faz é objecto de compreensão, até de alegria, (até mesmo coisas que parecem “más”), ou seja, quantas vezes as mães não se alegram porque o bebé sujou as fraldas, o que é sinal que tudo está bem...
Assim o bebé é só consolações, tudo o que faz é bem aceite e fonte de alegria, está totalmente protegido para que nada de mal lhe aconteça. Tudo quanto sejam agressões ao seu bem-estar são imediatamente afastadas porque a sua ligação/comunhão com os pais é total e permanente.

Mas depois começa a crescer e já se aventura a decidir algumas coisas por si só, sem atender àquilo que os pais lhe dizem, e começam as "dores", (porque mexeu no lume e se queimou), porque fez isto ou aquilo e lá chegam também as primeiras reprimendas.
Continua a crescer e cada vez mais acha que já sabe tudo, há até um momento em que se quer afastar dos pais, por achar que aquilo que lhe dizem não serve a sua vida.
Agora muitas vezes os erros são maiores e as suas consequências mais pesadas.
Por vezes sente um desejo enorme de se recolher nos braços dos pais, mas o orgulho e muitas vezes uma sensação de culpa, de vergonha, impede-o de o fazer, ou de ser inteiramente verdadeiro com eles, acatando aquilo que eles lhe dizem para o seu bem.

E a vida vai continuando e as coisas boas vão alternando com as menos boas e vai descobrindo que afinal as coisas que os pais lhe diziam eram coisas boas, e até as vai ensinando aos seus filhos.
À medida que se vai aproximando da idade mais avançada vai-se dando conta de que tem de confiar naqueles que o amam e assim vai-se deixando conduzir, ajudar, e vai redescobrindo as alegrias e consolos de esperar e confiar em alguém que o ama verdadeiramente e o ajuda a viver a sua vida.

Claro que esta descrição é a de uma vida em termos gerais, que acontece, mais parecida ou menos parecida, com muitas pessoas.

Com certeza já reparaste na similitude daquilo que te quero dizer.

Nesta vida voltada para Deus, ao princípio tudo são consolações, alegrias, descobertas, sentimo-nos protegidos, parece que nenhum mal nos pode acontecer e isso porque a nossa vida é então uma descoberta e é sobretudo uma oração constante, uma constante comunhão com Deus, na Eucaristia, na Confissão, na entrega, enfim, não queremos viver mais nada.
Em tudo O queremos encontrar, em tudo seguimos a Sua Palavra, o mal nada pode contra nós, e espantamo-nos como é possível que os outros não percebam esta maravilha, não queiram viver esta descoberta, esta vida cheia e plena.
Mas depois há que descer do Tabor!

É Ele mesmo que quer que comecemos a enfrentar a vida do dia a dia, que enfrentemos o mal que corre o mundo, e então começamos a reparar em tanta coisa má que acontece e questionamo-nos, perguntamos-Lhe até: Como é possível, porque deixas isto acontecer!!!
E Ele na Sua bondade infinita vai-nos mostrando às vezes dolorosamente que não interfere na nossa liberdade e por isso aquilo que fazemos sem pensarmos tem as suas consequências.

É o tempo de crescimento, de percebermos que temos também a nossa parte para fazer, a nossa vida a construir.
Então por vezes o nosso arrebatamento já não é tão intenso, o nosso acreditar tão real, e assim isso reflecte-se na nossa entrega, na nossa oração, na nossa comunhão.

Ai as dores de crescimento!
Estou a ver os meus filhos a barafustarem quando mais pequenos começaram a comer a sopa com "coisinhas" como eles diziam, ou seja, com bocados de batata ou legumes...
Não queriam a sopa assim! Queriam-na sempre moída, mais fácil de comer, sem dar trabalho!

E nós também somos assim!
Antes a oração fluía, a alegria era constante, tudo era fácil e nós nem conseguíamos descortinar as coisas más, pois passavam-nos ao lado.
Mas agora, Santo Deus, parece que o mal nos entra pelos olhos adentro, parece que envolve a nossa vida, e temos dores e dificuldades e não conseguimos rezar, não queremos comer a sopa com "coisinhas"...

Mas Ele sabe que nós precisamos desse crescimento, para nos fortalecermos, para podermos enfrentar todas as dificuldades, contrariedades, provações que vão chegando conforme o mundo se torna mais egoísta e a nossa idade vai avançando e tornando mais penoso o nosso viver.

A Fé está lá, mas parece não querer dar sinais de vida, parece que o alimento que lhe damos não chega...
É o tempo de lutar, lutar contra nós próprios, lutar contar tudo aquilo que dentro de nós grita: Desiste, não vale a pena!
Lutar sempre! Se não consigo rezar o terço, digo apenas: Senhor Jesus Cristo, tem piedade de mim pecador!
E repito e volto a repetir sempre em todo o momento porque Ele me ouve, e sente a minha angústia, porque Ele não deixa de me responder!
Lembramo-nos então daquilo que Ele nos dizia quando começámos nesta vida e percebemos que já nessa altura Ele nos avisava dos perigos que estavam para vir, das dificuldades que havíamos de viver...
E procuramos mais comunhão, mais entrega, com mais perseverança, na confiança e na esperança de que Ele nos está a provar, porque nos ama com amor infinito e nos quer preparar para o que há-de vir: «Vigiai, pois, porque não sabeis em que dia virá o vosso Senhor. Ficai sabendo isto: Se o dono da casa soubesse a que horas da noite viria o ladrão, estaria vigilante e não deixaria arrombar a casa.» Mt 24, 42-43

E então louvamos!
Louvamos por estas dificuldades, por estas provações e acabamos por não as entender como um mal, mas sim como um bem que nos ajuda a crescer.
E Ele responde-nos e exorta-nos à luta constante, exorta-nos a darmos testemunho dessa luta para que aqueles que a estão a viver saibam e percebam que é na perseverança, na comunhão de oração que Ele responde, mesmo que pareça escondido de nós...

Então passada a luta, (quanto tempo demorará?), Ele vem, toma-nos ao Seu colo e diz-nos cheio de amor: Descansa agora nos meus braços de eternidade e goza o louvor e a alegria para sempre!


Monte Real, 4 de Fevereiro de 2008
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6 comentários:

Concha disse...

É bem verdade tudo o que dizes.Ao príncipio há como que uma "lua de mel" entre nós e Deus.Até ficamos surpreendidos, com tantas bençãos.Depois...há por vezes um caminho de deserto,cheio de grandes pedras que nos dificultam a caminhada,com alguns fugases oásis que aqui e ali vão surgindo,mas uma grande vontade de prosseguir,mesmo se não vislumbramos nada à nossa frente tal é o nevoeiro que também nos tolda o olhar.Há também alturas em que olhando para trás percebemos as inúmeras vezes em que estivemos à beira de verdadeiros abismos e como que do nada algo nos protegeu porque ficámos ali mesmo a um milimetro da queda.É este Senhor que tudo pode que nos vai num gesto de puro amor enviando alguns sinais à nossa liberdade de agir.
Um abraço na Paz de Cristo.

NUNC COEPI disse...

As imagens que dás são da vida real e, de facto, parece ser o nosso problema maior: nunca chegamos ao patamar onde pensaríamos poder ficar.
O caminho do conhecimento de Deus é como o desbravar uma floresta: depois de uma árvore abatida está sempre outra!
O que acontece, é que quanto mais nos aproximamos de Deus mais nos apercebemos de coisas que até então não víamos: imperfeições, vícios, rotinas e, também, descobrimos que podemos e devemos fazer coisas que, antes, nem nos ocorriam.
Caminhar, verdadeiramente, é para frente, mesmo que por cada dois passos dados recuemos um. Chegará o tempo, talvez breve, em que já não podemos recuar mais e, então... tudo valeu a pena.

Ailime disse...

Amigo Joaquim,
Absolutamente extraordinária esta comparação que faz entre a vida real e o preservar na Fé.
Li de um fôlego o que escreveu e agradeço-lhe profundamente este testemunho de verdadeiro Cristão que partilha.
Que o Espírito Santo continue a iluminá-lo.
Abraço fraterno.
Ailime

joaquim disse...

Gostei muito do teu comentário Concha. Obrigado.

A nossa confiança e esperança é que Ele caminha sempre connosco.

Um abraço amigo em Cristo

joaquim disse...

É verdade António!

Quanto mais nos aproximamos da Perfeição, do Perfeito, mais descobrimos as nossas imperfeições!

Mas só assim realmente podemos fazer caminho de conversão, como bem dizes.

Um abraço amigo em Cristo

joaquim disse...

Ailime, muito obrigado.

Deus é bom para mim e vai-me fazendo reflectir em tanta coisa que preciso melhorar em mim.

Um abraço amigo em Cristo