quinta-feira, 6 de abril de 2006

Passou recentemente um ano sobre o falecimento de João Paulo II.
Lembrei-me de algo que escrevi um dia sobre este Santo Papa que Deus nos quis dar.
Continua actual, por isso aqui fica.

“Por isso, não desfalecemos, e mesmo se, em nós, o homem exterior vai caminhando para a ruína, o homem interior renova-se, dia após dia. Com efeito, a nossa momentânea e leve tribulação proporciona-nos um peso eterno de glória, além de toda e qualquer medida. Não olhamos para as coisas visíveis, mas para as invisíveis, porque as visíveis são passageiras, ao passo que as invisíveis são eternas”.
2 Cor 4, 16-18

Ao ouvir esta passagem da Bíblia no Grupo de Oração, esta semana, senti no meu coração que esta Palavra podia definir inteiramente uma pessoa que nos últimos tempos, graças a Deus, nos tem entrado em casa, nas nossas vidas, todos os dias: o Papa João Paulo II.

Com efeito, tudo ali está “retratado”: a “ruína” exterior e o renovamento interior diário, a aceitação da tribulação, da dor e do sofrimento que levam à glória eterna para além de toda e qualquer medida, a procura das “coisas do alto”, invisíveis aos nossos olhos, em detrimento das visíveis, que pertencem a este mundo, como por exemplo a resignação tantas vezes falada, como se o descanso pudesse servir a vida de missão deste Homem, totalmente entregue ao serviço de Deus, servindo os outros homens.

Realmente se uma Palavra da Bíblia pode representar e mais do que representar ser modelo de vida de um cristão, então esta Palavra cabe inteiramente como definição e regra de vida de João Paulo II.

No dia seguinte, à noite, na televisão, passava um documentário sobre o pontificado de João Paulo II e mais uma vez, o testemunho deste Homem impressionante, me tocou profundamente.

Numa das imagens, o Papa em oração, mostrava uma cara de sofrimento profundo, embora tranquilo, e percebi então algo que ainda mais me tocou e aproximou deste Homem, a quem tive, no momento, um intenso desejo de fazer uma festa, um carinho: O Papa não sofria pela sua doença, pelas suas dores, o Papa sofria por mim, por todos nós.

Era como se João Paulo II me dissesse a mim, a todos nós: «Eu falo, eu entrego-me, eu desisto de mim, mas mesmo assim o mundo não me ouve, não me quer entender, não quer conhecer e viver o Senhor da vida que eu lhe aponto».

Fora daquela oração, afadigavam-se os homens em discutir a vida daquele Homem: Se devia resignar, se devia fazer assim ou de outra maneira, tentando interpretar, uns a vontade de Deus à sua conveniência, outros a vontade do mundo, incomodado com aquele testemunho.

E ele só na sua oração ia pedindo por todos nós, por esta humanidade, por este mundo, esquecendo-se totalmente de si próprio.

No seu olhar, no seu discernimento vivo, animado pelo Espírito Santo, brilhava com certeza este pensamento intimo: A vontade de Deus para mim, é enquanto Ele quiser.

Monte Real, 16 de Outubro de 2003

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