terça-feira, 18 de dezembro de 2012

CONTO DE NATAL 2012

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A tarde chegava rapidamente ao fim.
Era Inverno, e por isso mesmo, muito cedo o Sol baixava por entre as árvores.
Estava cansada, muito cansada!
Tinha passado todo o dia à beira da estrada, à espera, numa vida em que se tinha embrenhado e a envergonhava, mas da qual não arranjava forças para sair.
E diziam que a prostituição era uma vida fácil!
Pior ainda, pois tinha que à noite ir para aquele bar, fazer de conta que estava bem-disposta e gostava daquela vida!
 
Reconhecia que o enorme cansaço que sentia era muito mais psíquico, do que físico.
Há tempos que a ideia de sair daquela vida, era um constante pensamento, que em todos os momentos lhe tirava o descanso e o pouco bem-estar que ainda pudesse sentir.
 
Lembrava-se bem do namoro com aquele rapaz, que parecia ter tudo o necessário para acabar num feliz casamento. Depois engravidou, e começaram as complicações.
Ele apresentou-lhe aquele “amigo” e quando deu por si estava num bar a beber taças de suposto “champagne”, com homens que não conhecia. Daí até ao sexo pago foi um instante!
Vá lá, tinha resistido ao aborto, e aquela filha que estava em casa, era agora a sua única razão de viver.
 
Ao princípio tudo pareceu fácil, e até se convenceu que não fazia mal nenhum a ninguém, nem a ela própria. Já que tinha aquele corpo, aproveitava-o para ganhar dinheiro e depois …
Depois haveria de sair daquela vida.
 
Tantas promessas daquele patife!
Era preciso agora ganhar dinheiro, dizia ele, e depois quando tivessem um “pé-de-meia”, partiriam para outras paragens onde não os conhecessem, e haviam de viver felizes.
Mas não era possível fazer nenhuma poupança, porque ele tirava-lhe tudo o que trazia para casa, para gastar com os amigos. E quando o que trazia deixou de chegar para tudo o que ele queria, começou a obriga-la a ir para a estrada, onde ainda se sentia mais aviltada e destruída.
Há já há algum tempo que sentia vergonha de si própria e agora que os anos iam passando preocupava-se muito mais com o futuro da sua filha, e com o facto de um dia ela poder saber o que era a sua vida.
 
Veio-lhe à memória a casa dos seus pais.
Não era gente com dinheiro, mas era gente de amor e lembrava-se bem do carinho com que a tratavam, (era filha única), e dos exaustivos conselhos do seu pai acerca daquele namorado que, dizia ele, não prestava para nada. Mas a juventude que julga tudo saber, tinha-a levado a sair de casa para seguir o seu grande amor!
 
Grande amor???
Se pudesse agora ver-se livre dele, seria o melhor presente de Natal que alguém lhe podia dar, porque, lembrou-se, era dia 24 de Dezembro, véspera de Natal, a noite dos presentes em casa dos seus pais.
 
Uma tristeza profunda estremeceu-a!
Não, não iria passar mais esta noite de Natal naquele bar, vivendo aquela vida!
Tomou uma decisão e disse para si mesma: Vou passar por casa à hora que ele não está, (deixo um recado com uma desculpa qualquer), pego na menina, e vou passar a noite de Natal a casa dos meus pais, pois tenho a certeza de que me hão-de receber.
 
Tomada a decisão, pareceu-lhe sentir um alívio imenso no cansaço que a assolava.
Chegou a casa, tomou um banho rápido, desejando que mais do que o corpo, lhe fosse lavada a “alma” para se poder encontrar com os seus pais. Escreveu uma qualquer desculpa num papel, pegou na filha e saiu rapidamente para a casa da sua infância, que ficava numa terra muito próxima.
 
Passado pouco tempo já batia à porta da casa onde tinha crescido e brincado com tanta felicidade. A porta abriu-se, e, ao espanto inicial, sucederam-se quatro braços que a apertavam e esmagavam de amor!
Já na sala começou a ensaiar um discurso de desculpas, de justificação, mas os seus pais disseram-lhe com carinho para se calar, sentar no sofá, pôr os pés em cima da mesa pequena e descansar, porque se tinham apercebido do seu enorme cansaço.
Pegaram na neta e foram para o quarto ao lado.
 
Ela sentiu-se num casulo de amor!
Um calor inexplicável fazia-se sentir no seu coração e ela fechou os olhos desejando que aquele momento nunca mais acabasse.
Sem saber como, viu-se de repente no meio da praça da sua terra e muita gente à sua volta, gesticulando e gritando.
Percebeu que a insultavam, lhe chamavam prostituta e que a queriam expulsar da sua terra.
Cheia de medo e vergonha, as lágrimas corriam-lhe pela cara abaixo.
Viu então um homem que se destacou do meio de toda aquela gente, e com uma voz cheia de força, mas de carinho também, disse: Aquele que de vocês que nunca errou ou cometeu nenhum mal, pegue no braço dela e leve-a até aos limites aqui da terra.
 
E ao dizer isto, aquele homem olhava-os nos olhos, firmemente.
Lentamente deixaram de se ouvir gritos, todos aqueles homens e mulheres baixaram as cabeças e começaram a sair da praça, em silêncio.
Então o homem aproximou-se dela, enxugou-lhe as lágrimas com os seus dedos e disse-lhe:
Pelos vistos ninguém te expulsou! Também eu não te expulso, antes te abraço! Vai à tua vida, mas muda-a enquanto podes!
 
Pareceu-lhe que o homem lhe pegava no braço, mas quando acordou percebeu que era o seu pai que delicadamente lhe dizia: Anda, vem comer, a ceia de Natal está na mesa!
 
Lembrou-se da catequese em criança e da passagem bíblica em que queriam apedrejar a mulher adúltera, e percebeu que num sonho Deus lhe tinha “falado”, e dado uma nova oportunidade para a sua vida.
Tinha finalmente a força de que necessitava para pôr fim àquela vida!
 
Soube naquele momento que tudo tinha mudado e que não voltaria a fazer da sua vida a desgraça que até então vivia.
E alegrou-se, por ela, pela sua filha, pelos seus pais.
Feliz aproximou-se da mesa e a sua mãe disse-lhe: Como estavas a dormir, foi a tua filha que colocou o Menino Jesus no presépio.
 
Olhou para os seus pais com todo o carinho de que era capaz, pegou na sua filha ao colo e disse:
O Menino Jesus já não está no presépio. Está no meu coração!
 
 
 
Marinha Grande 10 de Dezembro de 2012
 
 
Com este Conto de Natal, desejo a todas as amigas e todos os amigos que lêem este blogue um Santo Natal, na paz e no amor de Deus em suas famílias.
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12 comentários:

Anónimo disse...

Obrigado Joaquim, por esta linda prenda de Natal. Que o Senhor esteja contigo e tua família. Santo Natal.

Mário

Anónimo disse...

Só um homem bom e solidário como o Joaquim poderia ter escrito um conto tão emotivamente belo!
Pena que não haja mais "casulos de amor" por esse mundo fora!

Vasco A.R.G.

joaquim disse...

Obrigado Mário.

Para ti e todos os teus um Santo Natal.

Um abraço amigo no Deus Menino.

Como tenho dois ou três amigos Mário, fico na dúvida qual será, mas o abraço, abraça-os a todos!!!

joaquim disse...

É verdade Vasco, vão faltando os "casulos de amor"!

Obrigado pelas tuas palavras que não mereço.

É boa a tua amizade, porque é cheia de sentimento!

Um abraço amigo no Deus Menino

Paulo disse...

Que lindo e sentido conto de Natal. Adorei-o, assim como a imagem nova que inseristes. Santo Natal

joaquim disse...

Obrigado Paulo!

Que Deus te abençoe.

Um abraço amigo no Deus Menino

Ailime disse...

Amigo Joaquim,
Hoje passo para lhe desejar e a sua Família um Santo e Feliz Natal.
Abraço em Cristo.
Ailime

joaquim disse...

Obrigado amiga Ailime.

Para si e todos os seus que o Menino Jesus vos cubra com as suas bençãos.

Um abraço amigo no Deus Menino

zedeportugal disse...

Venho deixar votos de um Santo Natal, amigo Joaquim.
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Nota: Vi que mudou a sua imagem do cabeçalho para uma bela cena de Natividade, mas que manteve a pergunta "de estimação". Tenho a certeza que sabe que a Verdade é Ele mesmo, O que nasceu em Belém há 2 milénios.
Não só a Verdade, como também o Caminho e a Vida. :)

joaquim disse...

Obrigado amigo zedeportugal

Para ti e todos os teus um Santo Natal.

A imagem ficará durante esta quadra de Natal.

É verdade que a Verdade é Ele, que também é para nós Caminho e Vida.

Sobre o título do blogue escrevi há tempos isto:
http://queeaverdade.blogspot.pt/2012/10/que-e-verdade.html

Um abraço amigo no Deus Menino

Concha disse...


Vim aqui, no intervalo da azáfama deste dia, com o propósito de desejar Boas Festas e deparo-me com uma imagem lindíssima e um Conto de Natal que me fez virem as lágrimas aos olhos.
"Um Santo e Feliz Natal para ti e família bem como para todos os que lêem este blog.

joaquim disse...

Obrigado Concha.

Obrigado por tantas palavras de incentivo que aqui deixaste ao longo deste ano.

Um abraço amigo no Deus Menino