Recentemente li um sermão de Santo António, sobre a Última Ceia, mais concretamente sobre o “Lava Pés”. (Jo 13,4-5)
De uma maneira geral, nós, cristãos entendemos o “Lava Pés”, como uma chamada à humildade, ao serviço aos outros, à caridade.
Santo António vem-nos recordar neste seu sermão, um outro episódio das Sagradas Escrituras, em que Abraão (Gen 18,4-5), lava os pés aos três homens, três mensageiros enviados por Deus, que lhe vêm anunciar o nascimento de Isaac, o filho esperado da promessa de Deus a Abraão, aquele com quem Deus irá estabelecer a Aliança.
Da similitude destes dois episódios, Santo António, chama-nos a atenção para que o “Lava Pés” da Última Ceia, não é apenas um acto de humildade, um acto de serviço aos outros na caridade, mas também e sobretudo um acto de “transformar” os pés dos Apóstolos, em pés de mensageiros, em pés de anunciadores da Verdade, em pés de portadores da Boa Nova.
Assim somos chamados a entender que o serviço aos outros, a caridade com os outros, a entrega aos outros, não é uma finalidade, mas sim uma parte do anúncio da Boa Nova, do anúncio da Palavra de Deus, do anúncio da Ressurreição de Jesus Cristo, que está vivo no meio de nós e que só com esse anúncio, esse serviço, essa caridade tem sentido e pode dar frutos.
Realmente, para nós cristãos empenhados, o que melhor temos nas nossas vidas e assim portanto, o melhor que podemos dar aos outros, é a nossa fé em Jesus Cristo, a nossa entrega ao amor do Pai, a nossa vivência no Espírito Santo.
Constatamos em nós próprios, que vivendo assim, nesta fé, nesta entrega, as dificuldades que se apresentam às nossas vidas, quer sejam espirituais, quer físicas ou materiais, são vividas de outra maneira, são vividas na aceitação e sobretudo no entendimento de que essas mesmas dificuldade ou provações, são caminho de crescimento na fé, são caminho de salvação.
Lembro-me, que há cerca de dois, três anos, vinha relatado nos jornais, que durante um encontro em Fátima, sobre o sofrimento, uma Professora deu o testemunho da sua doença, um cancro, e que essa mesma doença tinha sido a causa do seu encontro com Deus, com Jesus Cristo e como isso a fazia feliz. Este é um exemplo dum mal que provoca a morte da vida terrena, mas que neste caso como em tantos outros, provocou o encontro com a Vida Eterna.
Mas então não é necessário, ou não devemos ajudar fisicamente, materialmente os nossos irmãos em necessidade? Mas com certeza que sim, só que essa ajuda, essa caridade não terá sentido se não for inserida no anúncio da Boa Nova, no anúncio de Jesus Salvador, do Deus que nos ama, nos perdoa e nos quer salvar.
Com efeito que importa mais: dar saúde, dar roupas, dar alimentos, dar os bens necessários, satisfazendo as necessidades da vida física e perecível, deixando os irmãos nas trevas, sem horizonte de salvação, ou dar a conhecer a Luz que leva à Salvação, à Vida Eterna e em sintonia dar o que os nossos irmãos necessitados, precisam para uma vida digna aqui na terra?
Jesus Cristo diz-nos em Jo 6, 27: «Trabalhai pelo alimento que não perece, mas dura para a vida eterna», e ainda em Lc 9, 25: «Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro perdendo-se ou condenando-se a si mesmo»?
Donde, mais importante que tentarmos dar a felicidade na terra, é darmos o “conhecimento” para que os nossos irmãos possam alcançar a felicidade eterna, por graça de Deus, sendo que as duas não são incompatíveis, desde que vividas segundo a Sua vontade.
Se repararmos, na Sua vida pública, Jesus Cristo dá, digamos assim, mais importância ao perdão dos pecados, à conversão, à libertação do mal espiritual, do que à cura física. Basta lembrarmo-nos do episódio da cura do paralítico, (Lc 5, 17-26), em que Jesus perdoa os pecados ao homem, e só depois, satisfazendo a humanidade que precisa de sinais para acreditar, cura a doença física, a paralisia.
«Levanta-te e anda». O homem já pode andar, não só porque ficou curado da sua paralisia, mas sobretudo, porque depois daquele encontro com Jesus, foi-lhe dada a Luz e ele já pode ver o caminho da Salvação.
Para anunciarmos a Palavra, a Boa Nova, precisamos, como é óbvio, da nossa boca, da palavra que o Senhor, o Espírito Santo coloca em nós, como nos diz Jesus em Jo 14, 26: “Mas o Paráclito, o Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, esse é que vos ensinará tudo e há-de recordar-vos tudo o que Eu vos disse», mas precisamos para além disso de dar testemunho do que anunciamos.
E o Senhor serve-se, muitas vezes, mais do testemunho de vida de cada um, do que das palavras que podem ser de vez em quando, resultado da nossa inteligência, da nossa vaidade.
O testemunho do cristão tem, por isso, de ser permanente, não pode ter compartimentos, não pode ser dividido nas diferentes obrigações a que a vida nos chama, isto é, o testemunho tem de ser na Igreja, na família, no trabalho, na sociedade, no divertimento, no prazer, enfim em todas as vivências da nossa vida.
Certos políticos, por exemplo, conforme lhes interessa, ora estão em nome do Governo, ora em nome do partido, ora em nome pessoal. O cristão tem de estar sempre em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
O nosso testemunho de vida tem, portanto, de ser forte e coerente e muitas vezes temos de abdicar de certas coisas do mundo, para alcançar outras maiores no céu.
A democracia do cristão é a aceitação dos outros, tal como eles são, não é, com certeza o ir contra aquilo em que acredito, para agradar à maioria. Lembremo-nos, por exemplo, do Rei Balduíno, da Bélgica, que abdicou do trono, para não ser obrigado a assinar a Lei do Aborto.
Porque que é que nós cristãos havemos de ver, por exemplo, programas de televisão que ofendem, ou gozam com a fé em que acreditamos? Quando o fazemos, que testemunho damos aos nossos filhos, aos nossos familiares, aos nossos amigos e a quem nos conhece?
Hoje em dia, tanta gente se serve da objecção de consciência para não fazer certas coisas com que não concorda e não vemos os cristãos a servirem-se, por exemplo, da objecção de consciência, para serem coerentes com aquilo em que acreditam.
Diz-se que o nosso País é maioritariamente cristão e católico, no entanto a nossa sociedade, os nossos espectáculos, as nossas televisões estão cheias de factos, actividades e programas que ofendem a nossa fé. Se isto acontece, é porque tais programas e actividades têm audiências. Ora isto quer dizer, que nós, cristãos e católicos, consumimos isto que nos é oferecido.
Compete a nós cristãos, no silêncio do nosso testemunho de vida forte e coerente, mudar este panorama, porque se todas estas actividades e programas não tiverem espectadores, os organizadores de tudo isso irão à procura daquilo que agrada à maioria e então sim, se poderá dizer que no nosso País a maioria é cristã católica.
Com isto não queremos obrigar ninguém a ser aquilo que não queira ser ou a ser igual a nós, pois Deus deu-nos a liberdade de sermos salvos ou nos condenarmos, mas com certeza se dermos e vivermos esse testemunho, muitos se sentiram tocados e teremos então uma sociedade mais justa e fraterna, uma sociedade vivida no amor de Deus.
Se nós não dermos esse testemunho com a nossa vida, se não falarmos anunciando a Boa Nova, outros o farão por nós e deixaremos passar ao nosso lado, a missão que o Senhor nos deu, de colaborarmos na Criação, de colaborarmos no Seu plano salvifico para a humanidade.
Na entrada messiânica de Jesus Cristo em Jerusalém (Lc 19,40), que se vive no Domingo de Ramos, perante a exigência dos fariseus para repreender e mandar calar os discípulos que cantavam: “Bendito O que vem em nome do Senhor”, Jesus respondeu-lhes: “Digo-vos que se eles se calarem, gritarão as pedras”.
Que não seja preciso gritarem as pedras, porque nós seremos mensageiros da Boa Nova, cumprindo a missão que nos foi dada, pois a nossa vida e a nossa força estão no Senhor Ressuscitado, que vive connosco até ao fim dos tempos.
3 comentários:
* * *
Caro amigo Joaquim Mexia,
Estou plenamente de acordo com este teu poste, assinando-o por baixo (se me permites).
Infelizmente, nós Cristãos até parece que temos vergonha de sermos Cristãos!
Sobretudo nós, Católicos, ainda mais que os nossos irmãos Ortodoxos e Protestantes!
Que insensatez!
Jesus disse, a tal respeito, mais ou menos isto:
«Quem tiver vergonha de Mim, também Eu terei vergonha dele no Dia do Juízo»...
Quem leva a sério tal aviso do Filho de Deus, assim como tantos outros avisos semelhantes?
Quase ninguém, por mal dos nossos pecados!
Emendemo-nos, pois, e rezemos frequentemente uns pelos outros.
Rezemos e sacrifiquemo-nos, pois não há verdadeira oração sem sacrifício, sem humildade, pureza e caridade.
Aliás, quando Jesus Cristo e a Santíssima Virgem pedem oração, pedem sempre e simultaneamente penitência, inclusivamente a pessoas tão puras e inocentes como os Pastorinhos de Fátima...
E a melhor penitência começa necessária e naturalmente pelo reconhecimento e emenda dos nossos defeitos, vícios e paixões, pela nossa conversão permanente, que por si mesma já tanto custa...
Quem não faz isto antes de tudo o mais, por amor de Deus, nada faz de espiritual e positivo e engana-se a si mesmo.
E engana também os outros, mas jamais a Deus.
Será que não temos noção mínima da gravidade de tais comportamentos e procedimentos anticristãos?
Se não temos, devíamos ter; mas ai de quem tem e nada faz para mudar tão falsa e iníqua situação, quer em si mesmo, quer nos outros!...
«Ó Pai, que eles sejam santos, como Tu és Santo!» (Jesus).
«Sede unidos, como Eu e o Pai somos Um!» (Jesus).
«Sede quentes, ou então frios, pois vomito o morno» (Jesus).
+ A.M.D.G. - Tudo para a Maior Glória de Deus e Salvação das Almas!
+ Virgem Santíssima, não permitais que vivamos nem morramos em pecado mortal!
Cordiais saudações, em Jesus, Maria e José.
José Mariano
Lido hoje de manhã no comboio:
"repetir-se-ão os milagres de outrora e os homens virão ou regressarão ao catolicismo se nós, os Católicos, deixarmos Cristo viver plenamente em nós, e vivermos a fundo o evangelho"
Obrigado pelos comentários, dão-nos ânimo para continuar.
Enviar um comentário